Título: A Herdeira - The Selection #4
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Juvenil
Ano: 2015
Páginas: 392
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Vinte anos atrás, America Singer participou da Seleção e conquistou o coração do príncipe Maxon. Agora chegou a vez da princesa Eadlyn, filha do casal. Prestes a conhecer os trinta e cinco pretendentes que irão disputar sua mão numa nova Seleção, ela não tem esperanças de viver um conto de fadas como o de seus pais… Mas assim que a competição começa, ela percebe que encontrar seu príncipe encantado talvez não seja tão impossível quanto parecia.
Resenha: "A trilogia como um todo vale muito a pena ser lida, mesmo que o desfecho não tenha sido tão empolgante como esperei, mas vou sentir falta e queria muito que a história fosse além do 'felizes para sempre'..."
Foi assim que finalizei a resenha de A Escolha, que até então havia imaginado ser o último livro da trilogia The Selection. Agora, Kiera Cass presenteia seus leitores e fãs com A Herdeira, o quarto volume do que acabou se tornando uma série, então, sim, a história realmente foi além do "happy end".
Recapitulando a trama, a história da Seleção se passa num mundo pós guerra e entre países dominados e reerguidos, surgiu Illea. O novo país tinha um esquema de castas a fim de identificar os cidadãos e suas hierarquias na sociedade e a Seleção era um sistema para a escolha da nova princesa. Numa disputa em forma de reality show entre mais de 30 jovens, o príncipe Maxon deveria escolher sua futura esposa. Eis que surge America, uma jovem da casta 5, considerada inferior, que, claro, entra na Seleção e balança o coração do príncipe. E a partir daí uma história de amor complexa em meio a conflitos relacionados ao governo do país se desenrola até eles conseguirem superar os obstáculos, se casarem e fim.
Vinte anos se passaram desde então e Maxon e America são rei e rainha. O sistema de castas e da Seleção foi abolido buscando a igualdade social entre os cidadãos mas ainda há conflitos devido aos resquícios do governo anterior além dos costumes do povo com os quais o rei precisa lidar. As pessoas ainda sentem que fazem parte das castas e há bastante discriminação e preconceito quando não deveria ter, e isso continua causando revoltas, rebeliões e até mesmo desaparecimentos e morte. Diante disso, o rei Maxon busca por algo que distraia o povo até que tome medidas que tragam uma solução para os problemas que estão saindo de controle, e sua única ideia é trazer a Seleção de volta. Porém, dessa vez a Seleção é inversa, pois não se trata de um príncipe com 35 garotas lutando para se tornar sua esposa, mas sim uma princesa que deverá escolher um marido em meio a vários jovens. A herdeira do trono é Eadlyn, a filha mais velha do casal que por mais que tenha sido criada para se tornar uma líder de pulso firme, nunca teve intenção de viver um conto de fadas como seus pais viveram. Ahren é seu irmão gêmeo e ele é quem deveria ser o herdeiro, mas por Eadlyn ter nascido sete minutos antes dele, o título, por direito, é dela.
Contra sua vontade e fazendo um "acordo" com o pai, Eadlyn inicia a nova Seleção descrente que poderia encontrar alguém digno de ser seu marido, mas quando a competição começa ela talvez perceba que as coisas não seriam como imaginou...
"Eu era Eadlyn Schreave. Nenhuma pessoa era tão poderosa quanto eu."E com esse lema de que Eadlyn é a pessoa mais poderosa e importante do país, a história de A Herdeira segue, narrada em primeira pessoa numa escrita fácil e fluida, com um pano de fundo que foge à distopia, já que as pessoas estão livres das castas, mas não necessariamente com uma protagonista agradável e fácil de se aturar. Ela é diferente de qualquer personagem que já me deparei e faz o tipo ame ou odeie. Não há meio termo.
-Pág. 25
Eadlyn foi criada para ser líder, mas suas atitudes são dignas de uma adolescente rebelde sem causa. Ela é mimada, quer passar a impressão de ser forte e decidida, quando na verdade é egoísta, petulante, atrevida, infantil e com um complexo de superioridade que é de matar e que, no fundo, tem medo do fracasso. Ela demonstra claramente que por mais que ame seus pais, não tem o menor respeito por eles, nem por quem são, e se acha no direito de desobedecer, gritar, responder mal, dar as costas, bater a porta na cara e por aí vai... A ideia de seguir ordens não lhe agrada, a ideia de se submeter a alguém muito menos, mas mesmo sendo assim, ela ainda não é má pessoa. Ela foi criada assim, aprendeu a ser assim e pensa que é correto fazer o que faz.
Me questionei por que Maxon e America deixaram a situação chegar a esse ponto, qual a intenção de permitirem tal comportamento sendo que Ahren e os outros dois irmãos, Kaden e Osten, não são assim, muito pelo contrário. Eles são obedientes, tem senso, respeito e sabem distinguir o certo do errado e são personagens que conquistam e despertam a simpatia do leitor logo de cara. Prefiro pensar e espero que por trás dessa "falha" há um propósito e uma explicação plausível que ainda virá no quinto volume. Talvez a ideia de superprotegê-la tenha partido do que Maxon viveu com seu pai tirano, como se quisesse evitar que ela jamais passasse por nada de ruim, mas as pessoas não aprendem se não tiverem o mínimo de exemplo ou experiência a se seguir, e dentro da Seleção, tendo que lidar com os mais variados tipos de jovens com personalidades e atitudes distintas, Eadlyn acaba se deparando com o desconhecido, e isso a assusta muito já que não está acostumada com nada que saia fora de sua rotina. Ela continua sendo o centro das atenções, mas dessa vez precisa interpretar e ainda lidar com quem não conhece. Exceto por Kile, o jovem que vive no palácio com ambições de sair de lá e viver a própria vida, mesmo que tivesse que deixar sua irmã e sua mãe, madame Marlee (sim, a própria!). Mas, contra seus interesses, ele acaba entrando na Seleção e se torna o ponto de apoio de Eadlyn. E o garoto que cresceu com ela como amigo agora passa a despertar novas sensações na princesa...
Ao comparar as situações presentes na história com os livros anteriores, achei muitas delas floreadas e bem exageradas, algumas cômicas que até me fizeram gargalhar, principalmente ao levar em consideração a reação de Eadlyn com o que lhe acontece, fora a forma espantosa como trata os pais que já mencionei. Ela pode ter sido criada de outra forma já que sua responsabilidade é infinitamente maior do que a dos seus irmãos, mas não fez sentido pra mim eles terem sido criados pelos mesmos pais e terem uma visão de mundo totalmente diferente, principalmente porque enxergam os defeitos e as falhas dela.
Gostei da construção dos demais personagens: Kile e Erik, o intérprete de Henri, um dos selecionados que não fala muito bem a língua de Illéa, e os três irmãos de Eady, principalmente Ahren, que é um exemplo de pessoa.
Acho que pela história ter mudado de protagonista mas ainda concentrar personagens antigos dentro do universo de Illea e da Seleção, A Herdeira deveria ser considerado um spin-off da trilogia pois a história realmente poderia ter terminado no livro anterior tranquilamente. Mesmo que não sendo tão necessária assim, foi uma continuação que me agradou. Uma das mais gratas surpresas que tive foi me deparar com personagens antigos dos quais eu gostava e torcia tanto pra serem felizes: Marlee, Aspen, conhecido por general Leger, e até Lucy continuam fazendo parte da história e mesmo que sem um aprofundamento maior, já que esbarram esporadicamente com Eadlyn, foi muito bom saber um pouco sobre o que aconteceu com cada um deles e o que estão fazendo após tantos anos. Maxon e America não são mais os mesmos e acredito que o tempo foi o responsável por essa mudança, além da enorme responsabilidade de governarem o país, serem pais de quatro filhos e ainda terem que preparar a filha para reinar. Eadlyn não sabe muitos detalhes da vida deles no que diz respeito ao que aconteceu na Seleção passada nem a real ligação e importância de Marlee, Lucy e Aspen tem alí, mas não formei uma opinião sobre essa questão de terem optado manter o passado em segredo assim. Quem sabe revelações sobre isso virão a tona futuramente...
Senti uma mudança na escrita da autora nesse livro. Enquanto há frases de impacto com enorme significado (vide quotes abaixo), percebi alguns diálogos que me soaram rasos, outros bobos e desnecessários, mas acabei associando isso à completa imaturidade e falta de senso da protagonista.
O final, mesmo que repentino e corrido, é de deixar qualquer um agoniado, clamando pelo próximo volume. Só posso dizer que por mais que eu tenha achado Eadlyn antipática e intragável, torço pra que ela amadureça e tenha consciência de tudo o que ela tem reservado para si, e mude, mesmo que pela dor.
Sobre o projeto gráfico, nem preciso dizer que a capa é um luxo só. Ela mantém o estilo dos livros anteriores mas, na minha opinião, é a mais bonita de todas. Páginas amarelas, capítulos curtos, cada início de capítulo traz a figura da tiara da capa e fonte de tamanho agradável. A edição ficou ótima.
A Herdeira vai despertar as mais diversas sensações no leitor, mas é uma leitura que, para os fãs da série, é, de fato, obrigatória.
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