Título: Em Busca de Abrigo
Autora: Jojo Moyes
Editora: Bertrand Brasil
Gênero: Romance
Ano: 2015
Páginas: 434
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Na noite da Coroação da Rainha Elizabeth II, em 1953, a comunidade de expatriados de Hong Kong se reúne para celebrar o evento com uma festa. Enquanto os convidados tentam ouvir a cerimônia em um rádio antigo, Joy, uma jovem de 21 anos, se apaixona. Menos de vinte e quatro horas depois da festa, ela já está prometida em noivado ao rapaz, mas só tornará a se encontrar com o noivo um ano depois. Em 1980, um ato de rebeldia faz Kate, aos 18 anos, fugir do Condado de Wexford, na Irlanda, com sua filha ilegítima. Quinze anos mais tarde, Sabine deixa Hackney, o elegante bairro onde mora, em Londres, para visitar os avós que jamais conheceu e descobre que Wexford parece ter parado no tempo. Quando Sabine, sua mãe e sua avó voltam a se encontrar, um segredo de família cuidadosamente guardado é descoberto, bem como algumas verdades importantíssimas: o conflito entre o amor e o dever, as escolhas que as mulheres são obrigadas a fazer e o relacionamento entre mães e filhas.
Resenha: Em Busca de Abrigo foi o romance de estreia da autora Jojo Moyes. O livro já havia sido lançado pela Bertrand em 2004 mas agora foi relançado com novo projeto gráfico que tornou a obra mais atrativa visualmente aos leitores.
A historia se inicia em 1953, na noite de coroação da Rainha Elizabeth II. A jovem Joy Leonard conhece o oficial da Marina Edward Ballantyne e o que sentiram um pelo outro foi intenso o bastante para que ficassem noivos. Ao pedir a benção dos pais dela, a mãe de Joy não aprovou a ideia do noivado pois ela própria estando presa a um casamento infeliz, deixara de acreditar no amor. Edward, sendo um marinheiro, precisaria zarpar em breve e só voltaria em no mínimo 9 meses, e este seria o tempo em que Joy deveria esperar para que pudessem, enfim, se casar.
Em seguida a história já nos leva para Londres em 1997. Kate estava se separando do companheiro mais recente e por mais que Sabine já não se importasse mais com essa situação por já ter se acostumado, sua mãe decide enviá-la para a casa dos avós, no interior da Irlanda. Edward ficara doente e o momento poderia ser ideal para que todos pudessem se encontrar. Assim a garota de dezesseis anos não teria que presenciar o inconveniente do divórcio e nem "sofreria" com outra separação da mãe. Mas saindo de Hackney e ao chegar na casa da avó que ela jamais havia conhecido, Sabine é obrigada a se adaptar a uma rotina que parece não ter saído dos anos 50. Viver numa fazenda de cavalos de forma regrada - e ainda sem a praticidade da tecnologia - era completamente o oposto da vida que levava com a mãe e as coisas seriam mais difíceis do que pensou. Mas quando Sabine, Kate e Joy, se encontram um segredo de família acaba vindo a tona assim como algumas verdades há muito tempo escondidas e sentimentos reprimidos também.
O livro é narrado em terceira pessoa e podemos acompanhar a história através dos pontos de vista de Joy, Kate e Sabine com foco principal na garota. Dessa forma temos uma visão mais ampla do que se passa mas também mais longa, e isso pode tornar a leitura um pouco monótona em alguns pontos já que o ritmo é bem lento.
As personagens foram muito bem caracterizadas e bem construídas e tiveram a história bem desenvolvida até certo ponto. Kate fugiu da Irlanda quando era jovem para escapar das tensões de casa mas é notável que os problemas de relacionamento se repetem com Sabine. Ela não tem sorte quando o assunto é amor e Sabine está cansada da sucessão de relacionamentos falidos da mãe que acabam lhe trazem uma figura paterna que logo estará fora de sua vida.
Sabine odeia a Irlanda, odeia a fazenda e não consegue lidar com a avó muito bem. A comunicação com o avô é difícil, ela é afetada pela saudade que tem dos amigos que ficaram em Londres e ainda nutre um sentimento de amargura contra sua mãe.
Mas a medida que a história se desenrola e acompanhamos e aprendemos um pouco mais sobre essas três gerações de mulheres, podemos compreender que a fragilidade da relação que elas possuem parecem se conectar, mesmo que pra que isso acontecer seja necessário reconstruir pontes e relevar segredos que até permitiam um julgamento infundado entre elas. Isso, de alguma forma, me fez ver que até o nosso próprio julgamento com os outros nem sempre é correto pois nem sempre sabemos o outro lado da história ou o que motiva alguém a tomar determinadas atitudes.
A história não se prende apenas ao relacionamento das três. Os personagens secundários que cercam a propriedade dos Ballantyne tem papéis fundamentais que contribuem para enriquecer o enredo com suas histórias que acabam se entrelaçando com a principal por terem alguma influência sobre as personagens principais.
Pelo foco maior estar em Sabine, quando as revelações sobre Joy e Kate começaram a aparecer eu não estava tão empolgada. Por mais que elas tenham sido importantes e fundamentais na história. senti que a real protagonista era Sabine e me apeguei mais a ela e a seus problemas.
Em Busca de Abrigo retrata a história de uma família com as estruturas abaladas, cuja realidade é contraditória e afetada por muitos segredos. O leitor é transportado para o mundo de cada uma delas, as descrições detalhadas do ambiente, das situações e dos sentimentos soam muito verdadeiras e intensas e é possível até mesmo visualizar o que se passa. A autora aborda questões que podem prejudicar e até destruir uma família, mas sobretudo evidencia a segunda chance como algo importante e necessário, mesmo que pra isso seja necessário engolir o orgulho e ceder para ouvir o que o próximo tem a dizer, afinal, errar é humano e não custa nada tentar entender o que levou alguém a fazer uma escolha errada... Pode não ter sido com a pior das intenções...
Comecei o livro com uma perspectiva das personagens mas a medida que a história avança, elas vão sendo moldadas a partir das revelações que são feitas ou fatos que ocorreram no passado que acabam interferindo e refletindo no presente. Me irritei, tive pena, tive compaixão, e esse misto de sensações cruas que a leitura me proporcionou me fez enxergar que as mudanças surgem de acordo com a experiência, mesmo que o final não seja cor-de-rosa, afinal, a vida não para e sempre vai existir desafios e obstáculos, grandes ou pequenos, a serem enfrentados.
A capa, como eu mencionei no início, está bastante atrativa e combina com os outros sucessos da autora publicados pela Intrínseca. Encarei isso como uma enorme consideração pelos leitores e fãs da autora que gostam de manter a coleção toda combinando ♥ Bertrand, sua linda! O diferencial é que o título é em alto relevo e tem aplicação em verniz. As páginas são amarelas, a diagramação é simples e a revisão está impecável.
Posso afirmar que por ter sido o primeiro livro da autora, é perceptível que os mais recentes são mais bem escritos e mais envolventes, mas isso não desmerece esta obra. Fiquei satisfeita em saber que a autora evoluiu pra melhor e que suas histórias conseguem ser marcantes e inesquecíveis.
Para quem procura por um bom drama familiar vivenciado por personagens reais e narrado sob um estilo de escrita sutil mas ainda assim bastante memorável, recomendo.
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