Título: Uma História de Amor e TOC
Autora: Corey Ann Haydu
Editora: Galera Record
Gênero: YA/Sick-lit/Romance
Ano: 2015
Páginas: 320
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Bea foi diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo. De uns tempos pra cá, desenvolveu algumas manias que podem se tornar bem graves quando se trata de... garotos! Ela jura que está melhorando, que está tudo sob controle. Até começar a se apaixonar por Beck, um menino que também tem TOC. Enquanto ele lava as mãos oito vezes depois de beijá-la, ela persegue outro cara nos intervalos dos encontros. Mas eles sabem que são a única esperança um do outro. Afinal, se existem tantos casais complicados por aí, por que as coisas não dariam certo para um casal obsessivo-compulsivo? No fundo, esta é só mais uma história de amor... e TOC.
Resenha: Uma História de Amor e TOC, escrito pela autora Corey Ann Haydu e lançado no Brasil pela Galera Record conta a história de Bea, uma adolescente diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo e que, segundo a definição dela própria, é alguém muito peculiar. Devido ao seu problema, ela perseguiu e acabou afastando o primeiro namorado que teve de sua vida, Kurt. Sua obsessão saiu fora de controle após ter sido dispensada por ele e Bea começou a fazer sessões de terapia.
Há um tempo atrás, enquanto esperava mais uma de suas sessões com a Dra. Pat, Bea, sem querer, ouve a conversa conturbada do casal Sylvia e Austin. Isso despertou o interesse da garota e, de certa forma, acaba ajudando-a a controlar sua ansiedade a mantendo calma, principalmente porque tudo parecia uma grande novela... Traição, mágoa, sentimento de culpa, falta de amor próprio e outros problemas de relacionamento do tipo são abordados pelo casal em conversas sórdidas, pesadas e carregadas de rancor, mas eles ainda tinham esperanças de fazer o casamento dar certo com ajuda da terapia. Mas a partir daí, Bea não consegue mais viver se não puder chegar mais cedo na sessão só para ouvir a conversa do casal, pois só assim ela pode ter certeza que tudo ficará bem e o mundo não vai se autodestruir matando a todos. Ela ainda precisa registrar tudo que ouve num diário cor-de-rosa com uma estrela enorme super cafona que ganhou do pai, para poder eternizar aqueles momentos e jamais esquecer do caso deles. E, além de ser uma completa stalker, Bea ainda tem outras "manias"...
Ela vive beliscando as próprias pernas em momentos de nervosismo, fala o que pensa pra estranhos mesmo que aquilo soe ofensivo, não consegue dirigir a mais de 50km/h, sente uma necessidade enorme de passar na mesma rua duas vezes para se certificar de que não atropelou nenhuma criança, e garantir a segurança ficando sempre alerta para que não haja nada pontiagudo e perigoso por perto que a faça acabar matando alguém... E Bea vai levando sua vida aprendendo a lidar com essa neura até que numa festa ela consegue acalmar um garoto desconhecido que teve um ataque de pânico após todos ficarem no escuro devido a uma queda de energia, mas, o que ela não esperava era que após a Dra. Pat sugerir que ela participasse de terapia em grupo, reencontraria Beck, o garoto que ajudou na festa, e tão problemático quanto. Beck tem compulsão por malhar e é obcecado por limpeza e pelo número 8. TUDO que ele faz se repete por exatas 8 vezes ou tem duração de 8 minutos.
E essa aproximação vai render alguns momentos tão loucos quanto adoráveis quando ao mesmo tempo em que encaram o tratamento, descobrem que se entendem e que irão encontrar um no outro a única esperança de terem algum progresso.
Ao iniciar a leitura desse livro, a primeira coisa que me chamou atenção foi a capa linda linda. A frase "não vou stalker esse cara" parece algo engraçado e dá ideia de alguém tentando controlar seu comportamento mostrando bem a questão da obsessão. Antes de ler, levei a sinopse em consideração e acreditei se tratar de um livro cômico que fizesse algum tipo de piada com a ideia de um casal com transtorno obsessivo-compulsivo manterem um relacionamento fofo mas maluco, com manias mais malucas ainda, mas não foi bem isso o que encontrei aqui...
Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Bea acompanhamos de forma lenta e gradual uma garota muito problemática, e, a medida que o tempo passa, só se torna pior no que diz respeito às compulsões e obsessões que tem. Bea enxerga problemas nos colegas de terapia e acredita que, mesmo sendo louca, ou melhor, peculiar, não há nada de errado com ela e que tudo está sob controle. Foi fundamental que a narrativa seguisse sob os olhos da protagonista, pois assim o leitor acaba sentindo na própria pele todas as sensações de Bea, mesmo que sejam incômodas.
Na terapia, Bea convive com outros adolescentes, cada um com seu próprio TOC, e saber um pouco mais sobre esses personagens foi algo que me causou agonia e gastura extrema, mas, ainda que tenha sido um sofrimento acompanhá-los, a autora consegue descrever com maestria a obsessão bizarra de cada um deles. Isso foi algo que me deixou agoniada por saber que mesmo fora da ficção, existem pessoas tão problemáticas quanto, ou até piores, e como deve ser terrível viver dessa forma. Imagine alguém como a personagem Jenny, que simplesmente arranca tufos do próprio cabelo!
O que mais me chamou atenção nessa história foi o fato de que fica claro que as pessoas que têm TOC acreditam que seus comportamentos lhes trarão a sensação de segurança, ordem e tranquilidade quando na verdade estão muito distantes de alcançarem isso... Outro ponto que percebi foi a ideia das pessoas serem capazes de reparar os erros alheios ou apontar o dedo para os outros em forma de julgamento, sem enxergar os próprios defeitos, ou não levar em consideração a ideia de que ninguém é perfeito. Não que Bea seja hipócrita, afinal, ela sofre de um transtorno que teve início a partir de um grande trauma e, teoricamente, ela não percebe essa compulsão e obsessão justamente por não ter conseguido superar seus problemas. Apesar de ela, aparentemente, ser alguém normal, ela é uma pessoa doente e que precisa de muita ajuda por pensar e fazer coisas completamente absurdas. E justamente por isso alguns leitores podem não aceitar bem sua construção e acabarem não sentindo a menor simpatia por ela. Mas pelo exemplo dela é possível perceber que nem sempre é necessário que alguém sofra de TOC, ou tenha sido diagnosticado com qualquer outro problema psicológico ou ainda que tenha vivenciado algum trauma para deixar que a hipocrisia reine criticando os outros sem olhar pra si mesmo e para os próprios erros.
Talvez a intenção da autora tenha sido mostrar de forma crua e verdadeira como é a vida de uma pessoa obsessiva para vermos esse lado complexo de quem sofre desses transtornos. Talvez a ideia seja mostrar como isso interfere na vida de quem a cerca de forma que seja possível entender um pouco sobre como é difícil pra todos os envolvidos lidar com esse problema. Bea persegue o casal e acha isso algo normal e que faz bem a ela... mas como deve ser a sensação de descobrir que alguém que você nunca viu sabe seus segredos mais íntimos?
Uma História de Amor e TOC é um daqueles livros que beiram o brilhantismo e que só ao final paramos pra analisar se realmente gostamos ou não. Com ele é possível aprender sobre TOC quase de forma didática. Ele retrata de forma real, honesta e sensível como funciona a cabeça de uma pessoa obsessiva e do que ela, de forma consciente ou não, é capaz de fazer só para tentar seguir em frente, ou dar passos cada vez maiores pra trás...
Antes eu pensava que tinha algum TOC por ter mania de organização, mas essa leitura me pôs no meu devido lugar... Meu caso é frescura perto do que encontrei aqui...
Pra mim o livro não mostra necessariamente uma história de amor feliz, pois por mais que Bea e Beck se entendam e consigam, do jeito deles, ajudar um ao outro, não acredito que nada de bom, pelo menos a longo prazo, possa vir de um romance entre duas pessoas cujas mentes não estão sãs. Entendo que mesmo na dificuldade eles descobrem a paixão e se completam de acordo com seus problemas e necessidades emocionais, mas isso ainda é diferente de amor. O amor é um sentimento que vai além do que eles são capazes de administrar no momento...
Talvez a história de amor em questão não seja necessariamente a de Bea e Beck, mas de Austin e Sylvia, que mesmo sendo personagens secundários tendo a vida explorada por quem os está perseguindo, buscam ajuda para reascender a chama de um relacionamento que foi estragado por alguns erros cometidos, afinal, é válido tentar consertar as coisas antes de desistir de vez...
Não acho que seja um livro indicado a todos pois só quem é dotado de muita sensibilidade e paciência vai conseguir aceitar, entender ou ter afeição por Bea pela forma como ela é, mesmo que não concorde ou se assuste com suas atitudes desagradáveis... O tema abordado é sério pois a obsessão não é algo saudável. É uma leitura que causa desconforto e pode ser emocionalmente dolorosa, confesso, mas posso dizer que, a partir do que absorvi, vai trazer reflexões profundas e intensas sobre a tentativa de compreensão do comportamento das pessoas ao nosso redor.
Ai, ai, agora vou ter que ler, né? Adorei sua resenha!
ResponderExcluirBjks e boas leituras!
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