Edward St. Aubyn vem de uma família inglesa de “pedigree”, cujas origens nobres remontam ao século XVII. Ele cresceu em Londres e viveu a separação dos pais quando ainda era criança, e logo foi mandado para um colégio interno de elite. Seu vício em heroína desde muito jovem, assim como a conturbada história familiar, inspiraram em grande medida a vida do protagonista de seu excepcional ciclo de romances, Patrick Melrose. Alternando cenas de profunda angústia e tragédia com momentos hilários, os cinco romances dissecam a classe alta inglesa ao narrar a história de Patrick, dos abusos na infância ao vício e, por fim, à reabilitação. Neste volume estão reunidos os três primeiros livros. Não importa, o primeiro deles, se desenrola ao longo de um dia e uma noite na casa da família no sul da França, em que a figura sádica e tenebrosa de David Melrose assombra a vida do filho de cinco anos, Patrick, e de sua mulher Eleanor, uma americana tão rica quanto infeliz. Migrando dos traumas da infância ao vício nas drogas, o segundo romance, Más notícias, começa com a ida de Patrick, agora aos 22 anos, a Nova York, com o intuito de buscar as cinzas do pai. Ele passará 24 horas ensandecidas na cidade, totalmente entorpecido. De volta à Inglaterra, a terceira narrativa, Alguma esperança, apresenta uma chance de recuperação ao protagonista, agora sóbrio e livre das drogas. Publicados ao longo de quase vinte anos, entre 1992 e 2011, os livros de St. Aubyn são uma espécie de espelho da vida trágica do escritor, num exercício literário brilhante de exorcizar os próprios demônios. Em um mundo de tantos privilégios e aparente glamour, o que se revela são relações doentias e esfaceladas, que levam muitas vezes à autodestruição e ao ódio.
Um passo Atrás - Henning Mankell
Da série protagonizada pelo adorado inspetor Kurt Wallander, que deu fama a Henning Mankell, autor sueco com mais de 40 milhões de exemplares vendidos no mundo e intitulado “rei do crime” pela revista The Economist. Suécia, solstício de verão. Três amigos se encontram numa reserva natural fantasiados com trajes do século XVIII para celebrar a noite mais longa do ano. O que não sabem é que estão sendo observados. Cada um deles acaba assassinado com um único tiro. Quando um dos mais confiáveis colegas de Kurt Wallander - alguém com quem ele contava para resolver o caso - também aparece morto, o inspetor logo desconfia de uma relação entre os dois crimes. Recuperando-se da morte de seu pai e obrigado a encarar o declínio da própria saúde, Wallander tenta desvendar os planos do assassino. Desesperado para encontrá-lo antes que ele ataque outra vez, o inspetor, no entanto, sempre parece estar um passo atrás.
41 Inícios Falsos - Ensaios sobre artistas e escritores - Janet Malcolm
O trabalho da jornalista norte-americana Janet Malcolm já foi descrito como uma mistura de reportagem, biografia, crítica literária e psicanálise, com pitadas do romance realista do século XIX. Nesta coletânea, essa junção única - marca registrada de uma das maiores escritoras de não ficção de nossos tempos - pode ser verificada a cada página. O volume reúne ensaios publicados ao longo de várias décadas, sobretudo na New Yorker, berço do jornalismo literário, e na New York Review of Books, bíblia da intelectualidade nova-iorquina. São textos que refletem o interesse da autora por pintores, fotógrafos, escritores, críticos, e pelas particularidades do ofício criativo. Malcolm explora a obsessão dos integrantes de Bloomsbury - o célebre grupo a que pertenceram Virginia Woolf e Lytton Strachey - com a construção do efeito “literário”; as apaixonadas colaborações por trás dos nus retratados pelo fotógrafo Edward Weston; ou a “banalidade” que tanto incomodava J. D. Salinger. Sob seu olhar, o pintor Julian Schnabel tem o ar modestamente satisfeito de um empreendedor bem-sucedido. O fotógrafo alemão Thomas Struth, flagrado ao citar Proust sem tê-lo lido, percebe que sua declaração será presa inevitável do oportunismo jornalístico. No perfil que dá título ao livro, o artista David Salle ganha 41 versões para sua trajetória declinante. A cada ensaio, como diz o crítico Ian Frazier na introdução, Malcolm demonstra que a não ficção - um livro-reportagem, um artigo em uma revista, o que lemos todos os dias - pode ser alçada à literatura de mais alto nível. Não à toa, Janet Malcolm vem estimulando gerações de jornalistas e escritores a romper com as convenções dos textos não ficcionais. Seu trabalho caminha no sentido contrário às crenças estabelecidas sobre as artes e a escrita, com olhar arguto para o detalhe inesperado e a disposição constante para surpreender o leitor.
Corpos Divinos - Guillermo Cabrera Infante
Memórias romanceadas ou, nas palavras do autor, “biografia velada”, este livro singular reconstitui de modo vívido e inventivo dois anos decisivos da vida do cubano Cabrera Infante e da história de seu país. Entre o início de 1957 e os primeiros meses de 1959, a existência do autor sofreu várias reviravoltas, e Cuba experimentou sua mais profunda revolução. A maneira como são narradas as turbulências do período põe em evidência todas as qualidades que tornaram Cabrera Infante admirado mundo afora: a elegância da escrita, que flui entre a dicção refinada e o registro popular, os saborosos jogos de palavras, as referências literárias, musicais e cinematográficas, o humor irônico e um onipresente erotismo. Trabalhando em Havana como jornalista, o narrador, nunca nomeado, participa lateralmente do movimento clandestino pela derrubada da ditadura de Fulgencio Batista, enquanto nas serras Fidel Castro e seus companheiros avançam com sua guerrilha. Mas, de início, os fatos políticos são apenas o pano de fundo das aventuras e desventuras amorosas e profissionais do protagonista. Conforme se aproxima a queda de Batista, com a consequente tomada de poder pelos revolucionários, a história política vai assumindo o primeiro plano, uma vez que o protagonista-narrador é engolfado pelos acontecimentos, chegando a dirigir a revista de cultura do jornal oficial do novo regime, Revolución, e a acompanhar a delegação de Fidel Castro em sua primeira viagem internacional como governante, aos Estados Unidos, ao Canadá e à América Latina. No relato lúdico e saboroso do autor, vemos flagrantes nem sempre muito lisonjeiros de personagens ilustres, como Hemingway, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Alec Guinness e o próprio Fidel, a par de retratos líricos ou impiedosos de jornalistas, cineastas, prostitutas, escritores, guerrilheiros, cantoras de cabaré e toda a fervilhante fauna humana de Havana.
Isso também vai Passar - Milena Busquets
Um dia, um poderoso imperador convoca os sábios do reino e pede uma frase que sirva a todas as situações possíveis. Depois de meses de deliberação, os sábios aparecem com uma proposta: “Isso também vai passar”. Quando Blanca era pequena, sua mãe contou essa história para ajudá-la a superar a morte do pai, e acrescentou: “A dor e o pesar passam, assim como a euforia e a felicidade”. Agora, com a morte da mãe, Blanca fala da dor da perda neste romance que começa e termina em um cemitério. Diante da ausência, restam as memórias de tudo o que a narradora viveu ao lado de quem a trouxe à vida, e o desejo de reafirmar a existência por meio do sexo, do convívio com as amigas, dos filhos e dos homens do passado. Tudo isso no transcurso de um verão em Cadaqués, com suas paisagens indômitas e sua intensa luz mediterrânea. Milena Busquets parte de seu âmago e combina profundidade e leveza para nos falar de temas universais: a dor, o amor, o medo, o desejo, a tristeza, o riso, a desolação e a beleza de uma paisagem em que se entrevê a mãe falecida passeando junto ao mar, porque aqueles que amamos não desaparecem de um dia para o outro.
A Espiral da Morte - Como a humanidade alterou a máquina do clima - Claudio Angelo
Um dos mais respeitados jornalistas de ciência do Brasil, Claudio Angelo passou os últimos quinze anos acompanhando o debate em torno das mudanças climáticas. De um lado, centenas de cientistas têm alertado sobre como o impacto do homem na natureza já começa a transformar o planeta e as nossas vidas. De outro, políticos passaram décadas resistindo a agir para solucionar o problema, embalados por argumentos de que essas transformações eram parte de um ciclo natural e que tudo não passava de alarmismo. Este livro conta a história do aquecimento global a partir do ponto de vista de duas de suas vítimas iniciais: o Ártico e a Antártida, os radiadores da imensa máquina do clima da Terra. As alterações climáticas nessas duas regiões no último século, sobretudo nas últimas décadas, aproximam-se do nível crítico. Elas têm implicações sociais, geopolíticas, econômicas e culturais profundas, mesmo para a imensa maioria da população mundial que vive longe dos polos. Para desvendar o quebra-cabeça do aquecimento global, o autor passou os últimos anos viajando por todo o planeta e conversando com dezenas de cientistas, políticos, ambientalistas e nativos das áreas afetadas. Leu inúmeros trabalhos acadêmicos e esteve em conferências que tentaram buscar um acordo político para mitigar o problema, finalmente selado em 2015 em Paris. Perseguindo obstinadamente todas as hipóteses, o autor tem três perguntas que norteiam seu trabalho: por que o gelo dos polos está derretendo?; isso está sendo causado ou acelerado pelo homem?; e, por fim, que impactos podemos esperar nas próximas décadas, se falharmos em atacar o problema na escala necessária? Atrás dessas respostas, Claudio Angelo irá conversar com caçadores de ursos-polares, analisar o gelo ancestral da Antártida, viajar num barco do Greenpeace, estudar a florescente agricultura da Groenlândia e testemunhar a redução assustadora das geleiras do Ártico. Por fim, faz uma eletrizante reconstituição do incêndio que destruiu a estação antártica brasileira Comandante Ferraz, ao mesmo tempo que mostra a importância das pesquisas polares para o Brasil entender melhor seu novo clima e adaptar-se ao que vem por aí.
Memória por Correspondência - Emma Reyes
Em 23 cartas enviadas entre 1969 e 1997 a seu amigo e confidente Germán Arciniegas, a artista plástica Emma Reyes relata as adversidades que viveu durante sua infância na Colômbia. Emma era filha ilegítima e, nesta autobiografia epistolar, conta desde suas lembranças mais antigas até o momento em que deixou o convento onde passou sua juventude, sem ao menos saber ler. Estes textos não só expõem um belíssimo relato pessoal, mas também descrevem o contexto da sociedade colombiana na década de 1930. Emma Reyes foi vítima de uma sociedade hipócrita e do mundo sombrio das comunidades religiosas, mas isso não impediu que ela construísse uma reconhecida carreira artística na França quando adulta.
Memórias de um Casamento - Louis Begley
Memórias de um casamento é um mergulho profundo nos meandros de uma classe e seus privilégios, numa trama que se desenrola entre Paris e Nova York, Long Island e Newport. Vivendo o luto da perda da esposa e da filha, o octogenário Philip reencontra uma mulher deslumbrante de seu passado: Lucy de Bourgh, a herdeira que foi uma jovem apaixonante e conquistou muitos homens, incluído o próprio Philip. Porém, à medida que ela revela os detalhes sórdidos de seu casamento falido com Thomas Snow, um homem de origem simples que ascendeu na vida, Philip irá descobrir verdades que o levarão a rever suas concepções sobre as pessoas que conheceu, admirou e desejou.
Depois a louca sou eu - Tati Bernardi
Em Depois a louca sou eu, Tati Bernardi escreve sobre a ansiedade com um estilo escrachado, ágil, inteligente e confessional. As crises de pânico, a mania de organização, os remédios tarja-preta e os efeitos da ansiedade em sua vida aparecem sob o filtro de uma cabeça fervilhante de pensamentos, mãos trêmulas, falta de ar e, sobretudo, humor. Tati consegue falar de um tema complicado, provocar gargalhadas e ainda manter o pacto de seriedade com o leitor. A capacidade de rir de si mesma confere a tudo isso distância, graça e humanidade. Depois a louca sou eu é a entrada em cena de uma escritora que ombreia com os melhores da nova literatura brasileira.
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