Autora: Mary Shelley
Editora: Penguin/Companhia das Letras
Gênero: Clássico
Ano: 2015
Páginas: 424
Nota: ★★★★☆
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Sinopse: O arrepiante romance gótico de Mary Shelley foi concebido quando a autora tinha apenas dezoito anos. A história, que se tornaria a mais célebre ficção de horror, continua sendo uma incursão devastadora pelos limites da invenção humana. Obcecado pela criação da vida, Victor Frankenstein saqueia cemitérios em busca de materiais para construir um novo ser. Mas, quando ganha vida, a estranha criatura é rejeitada por Frankenstein e lança-se com afinco à destruição de seu criador. Este volume inclui todas as revisões feitas por Mary Shelley, uma introdução da autora e textos críticos de Percy B. Shelley e Ruy Castro. Há ainda um apêndice com textos de Lorde Byron e do dr. John Polidori.Resenha: A Editora Companhia das Letras, através do selo Penguin, trouxe aos leitores uma edição inesperada de um clássico da Literatura Inglesa. Com uma introdução de quase 60 páginas, conhecemos um pouco mais da jovem autora, sua vida, motivação e inspiração para escrever sobre essa história que se tornou um ícone mundial.
Mary Shelley escreveu a obra enquanto viva com seu marido nos Alpes franceses e sofreu as consequências de ver seu personagem se tornar mais famoso que ela própria ainda que, pela época, a obra tenha recebido diversas e pesadas críticas, principalmente por Mary ser uma escritora mulher.
Temos aqui uma rica história atemporal que relata a vida de Victor Frankenstein, filho de um abastado homem que dedicou a vida às questões nacionais e de Caroline Beaufort, filha de um amigo íntimo de seu pai e mercador que caiu em pobreza extrema.
Proveniente de uma família completamente feliz, Victor era extremamente inteligente e um apaixonado pelas ciências naturais, metafísica e pelos mistérios do céu de da terra. Depois de muito tempo dedicado aos estudos e pesquisas, inclusive no que tange à busca pela pedra filosofal e o elixir da vida, Victor obstinou-se a tentar banir a doença do corpo humano e tornar o homem um ser invulnerável a todo mal que não fosse a morte violenta.
Esse desejo se tornou uma obsessão ainda maior após a morte de sua mãe e sua ida à faculdade. Depois de muito estudo e completo afastamento de casa, Victor se dedicou à fisiologia e ao estudo da deterioração do corpo humano, passando dias em câmaras mortuárias e necrotérios. Até que ele logrou êxito em descobrir a causa da geração da vida, tornando-se capaz de reanimar matéria morta.
"Quem poderá conceber os horrores de minha labuta secreta, a resolver o pântano profanado das sepulturas ou torturar um animal vivo pela possibilidade de reanimar o barro sem vida? (...) Coletava ossos de casas mortuárias e, com dedos profanos, perturbava os mistérios mais assombrosos do corpo humano. Numa sala solitária, ou melhor, numa cela, no sótão da casa, isolado de todos os outros aposentos por um corredor e uma escada, mantinha minha oficina de criações imundas."Após dois anos de tanto empenho e isolamento, Victor obteve sucesso e a criatura estava pronta para receber a fagulha de existência. Contudo, agora que sua criatura existia e estava viva, o horror e a repulsa o dominaram, sem conseguir suportar a aparência do que criara, Victor correu para muito longe, assustado com a aberração a que fora capaz de conceber, e à partir daí começa a coletar as consequências de brincar de Deus.
- Pág. 127
Mary Shelley foi minha introdução nos Clássicos da Literatura Estrangeira. Escolhi Frankenstein para começar a sair um pouco da zona de conforto e por achar ser um clássico com um quê de ficção científica. Para minha surpresa o livro se mostrou muito mais profundo e filosófico que isso.
A narrativa é fluída, ainda que com uma linguagem não coloquial e com grandes expressões que transmitem o mesmo significado que apenas uma palavra cumpriria bem o papel. Confesso que foi uma leitura extremamente difícil e demorada uma vez que exigiu uma atenção absurda. As pausas são necessárias, assim como leituras paralelas.
O início é excessivamente lento, mais arrastado, ainda por conta de relatos epistolares do Capitão do navio que resgatou Victor e que resolveu ouvir e contar suas mais terríveis confissões. Por essa razão, o livro é narrado em primeira pessoa tanto na visão do criador quanto na visão da criatura (que achei um tanto quanto prolixa e repetitiva).
A autora trouxe lá em 1800 uma de muitas reflexões válidas até os tempos de hoje, sobre ética e moralidade e em como é tênue a linha que as separa. O conhecimento e o avanço tecnológico, ao mesmo tempo que é ansiado, é temido, queremos ultrapassar e vencer a morte, mas não sabemos lidar com o desconhecido. Frankenstein fala sobre a natureza humana da forma mais intrínseca possível e em como as relações humanas influenciam em nossas atitudes e em nossos destinos.
Frankenstein é uma excelente leitura, contudo, nossas experiências cinematográficas tiram um pouco da graça e genialidade eis que temos na história escrita um jogo inteligentíssimo de narrativa de forma a mexer com nosso psicológico. Ora achamos que a criatura é essencialmente má, ora percebemos e nos questionamos se não foi a convivência humana e na sociedade que o transformou no verdadeiro monstro, e a mesma coisa acontece com Victor. No fundo percebemos que todas as pessoas não são totalmente boas nem más.
O final que Mary Shelley deu a ambos os protagonistas é bastante interessante e comovente, mas previsível, não fiquei surpresa com o final que teve aquele que desejou brincar de Deus e mas sim o da criatura diante do que se tornou e perante seu Criador.
É uma leitura que recomendo para ser feita em doses homeopáticas, mas que com certeza irá lhes marcar profundamente.
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