Autora: Richelle Mead
Editora: Galera Record
Gênero: YA/Fantasia
Ano: 2016
Páginas: 280
Nota: ★★★★★♥
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Pelo que Fei se lembra, nunca houve um ruído em seu vilarejo - todos são surdos. Na montanha, ou se trabalha nas minas ou na escola, e as castas devem ser respeitadas. Quando algumas pessoas começam também a perder a visão, inclusive a irmã de Fei, ela se vê obrigada a agir e a desrespeitar algumas leis.
O que ninguém sabe é que, de repente, ela ganha um aliado: o som, e ele se torna sua principal arma. Ao seu lado, segue também um belo e revolucionário minerador, um amigo de infância há muito afastado em função do sistema de castas.
Os dois embarcam em uma jornada grandiosa, deixando a montanha para chegar ao vale de Beiguo, onde uma surpreendente verdade mudará suas vidas para sempre. Fei não demora a entender quem é o verdadeiro inimigo, e descobre que não se pode controlar o coração.
Resenha: Há muitos séculos um pequeno povoado habita o alto de uma montanha, um vilarejo conhecido como Paço do Pavão, onde, todos são surdos e vivem em absoluto silêncio. O lugar é cercado por pedras que impedem os moradores de saírem dalí os tornando dependentes de um sistema de trocas com as pessoas que vivem no vale de Beiguo, ao pé da montanha. Através de uma tirolesa, eles enviam os minérios coletados das minas e recebem mantimentos para sobreviverem, pois o solo não é fértil e eles não conseguem cultivar plantas nem criar animais. A pequena sociedade foi dividida em castas e as pessoas só poderiam ter três tipos de trabalhos: os artistas, os mais respeitados na hierarquia que são responsáveis por representar os acontecimentos cotidianos através das pituras a fim de deixarem tudo registrado na História; os mineradores, responsáveis pela escavação e extração dos minérios que são enviados a troco dos alimentos; e os fornecedores de suprimentos, responsáveis por dividir de forma justa a comida que recebem.
Fei é uma das aprendizes de artista mais promissoras e habilidosas do povoado. Ela e a irmã, Zhang Jing, vieram de uma família de mineradores que morreram bem jovens, mas por possuirem o dom da arte conseguiram uma posição melhor na sociedade ao se tornarem aprendizes. O problema é que algumas pessoas começaram a perder a visão, se tornando dependentes da caridade alheia e sendo obrigadas a viverem as margens por deixarem de ser "úteis", e quando Jing começa a ser afetada e sua visão começa a falhar, Fei se desespera com medo da irmã perder o posto e ter um destino sofrido e miserável e não hesita em enganar os tutores fazendo o trabalho de Jing quando ela não consegue executá-lo com a perfeição exigida.
A cegueira que afetou os mineradores acabou trazendo problemas para todo o povoado, pois em consequência da produção ter caído muito, os mantimentos que chegavam pela tirolesa também diminuiram proporcionalmente, e com a ideia de que isso mais cedo ou mais tarde levaria os habitantes à morte, Li Wei, um jovem minerador que foi amigo de infância de Fei mas foi obrigado a se afastar devido ao sistema de castas, decide se rebelar e descer a montanha numa tentativa desesperada de reverter a situação. Porém, em meio a aflição do povoado, Fei, inexplicavelmente, começa a ouvir, e o que inicialmente a assusta, acaba sendo seu maior aliado quando ela resolve ajudar Li Wei nessa jornada cheia de perigos em busca de ajuda e de respostas para a sobrevivência de seu povo.
Richelle Mead utilizou da mitologia e do folclore chinês para construir uma história original e envolvente o bastante para causar uma das maiores ressacas literárias que já enfrentei até então. Nem sei quanto tempo faz que um livro não me prendia desse jeito. É o tipo de livro que me animou a ponto de me fazer sair comentando dele pra todo mundo que via pela frente feito uma louca.
A escrita é fluída, gostosa de se acompanhar, descritiva na medida certa e intinstigante a ponto de ter me feito devorar cada página sem vontade nenhuma de parar.
A narrativa é feita em primeira pessoa a partir do ponto de vista de Fei, mas pelo fato de todos no povoado serem surdos, os diálogos são feitos através da linguagem de sinais e aparecem em itálico para se diferenciarem do restante do texto, e este é um dos pontos mais incríveis que a história apresenta, pois a partir disso o leitor adentra um universo diferenciado e entende melhor as reações daqueles que desconhecem o que é ouvir qualquer tipo de som, assim como as limitações que eles possuem e como são afetados por isso, e como a própria Fei lida com a ideia totalmente nova de ter sido acometida pela audição.
Sobre os personagens, não há muito o que comentar pois o que fica mais evidente são os sentimentos em vez da personalidade propriamente dita, e a situação em que Fei se encontra explica bem isso. Ela e a irmã conseguiram um posto na casta dos artistas, mas isso teve um preço. Ela sempre amou Li Wei e nunca o esqueceu, desde quando era criança, mas ao mudar de posição na hierarquia social foi impedida de se relacionar com ele e até foi prometida para outra pessoa a quem ela jamais amaria. Fei viveria numa posição melhor, daria conforto e segurança à irmã (a quem ela sentia necessidade constante de cuidar e proteger), mas abriu mão de sua felicidade em nome disso.
"Você não deveria ter que se casar porque outra pessoa quer que seja assim, ou porque parece ser a melhor escolha. Tem que se casar com alguém que ame você. Alguém que a ame a ponto de ser capaz de mudar o mundo por sua causa."A medida que Fei e Li Wei descem a montanha e se deparam com um mundo totalmente novo, o leitor acompanha uma trama recheada de aventura e mistério, assim como embarca num romance doce que faz com que torçamos pelos dois ficarem juntos, e também pra tudo ficar bem e que todas as injustiças que eles descobrem que existem alí tenham um fim.
- Pág. 122
"Acho que somos bons nessa coisa de fazer o impossível."A abordagem sutil que a autora utilizou para criticar a desigualdade social e a exploração alheia foi fantástica, e por mais inaceitável e cruel que seja, serve para abrir nossos olhos para enxergarmos que situações assim não ocorrem somente na ficção.
- Pág. 189
O livro foi classificado como sendo do gênero fantástico, mas posso dizer que esse elemento só aparece mesmo no desfecho da história. O foco maior recai sobre a estrutura da sociedade e como cada um tem um papel específico a desempenhar nela, assim como as descobertas que Fei e Li fazem acerca de seu povo ao se aventurarem para fora dos limites do vilarejo. As lendas locais sobre criaturas míticas sempre são mencionadas ou são perceptíveis de alguma forma, mas nada aprofundado o bastante até descobrirmos que estes elementos são as respostas para todos os questionamentos levantados durante a leitura. Num primeiro momento fiquei com a impressão de que as coisas saíram do contexto e foram muito convenientes, mas depois pensei bem e considerei que o folclore faz parte da história do povo desde os primórdios e nada mais justo do que ele ser a solução para os seus problemas.
A capa ilustra bem a protagonista e o alto da montanha como pano de fundo. Os detalhes em dourado também dão um destaque maior fazendo com que o trabalho gráfico tenha ficado muito caprichado e bonito. A diagramação é simples, as páginas são amarelas, os capítulos são curtos, a fonte e a margem possuem um tamanho agradável e encontrei alguns poucos erros na revisão, mas nada que tenha atrapalhado minha concentração e meu envolvimento com a história.
No mais, Silêncio é uma história única e intrigante com romance, aventura e mistério, e traz uma abordagem nova e original sobre os aspectos da vida humana e sobre o que as pessoas são capazes de fazer, uns pelo bem estar de quem amam, e outros por se manterem no poder.
Quero muito ler algo dessa autora!
ResponderExcluirApesar de querer começar pela série Academia de Vampiros, penso em ler Silêncio algum dia, pois a trama parece interessante, principalmente por trazer a questão da surdez e o envolvimento com a mitologia chinesa, pois sempre gostei bastante de mitologia, principalmente a grega, e gosto de conhecer outras.
Preciso dizer que essa capa é muito bonita!
Abraço!
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