Autora: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2016
Páginas: 350
Nota: ★★★★☆
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Sinopse: “- Acorde, gênio.”
Assim King começa a história de Morris Bellamy. O gênio é John Rothstein, um autor consagrado que há muito abandonou o mundo literário. Bellamy é seu maior fã e seu maior crítico. Inconformado com o fim que o autor deu a seu personagem favorito, ele invade a casa de Rothstein e rouba os cadernos com produções inéditas do escritor, antes de matá-lo. Morris esconde os cadernos pouco antes de ser preso por outro crime. Décadas depois, é Peter Saubers, um garoto de treze anos, quem encontra o tesouro enterrado. Quando Morris é solto da prisão, depois de trinta e cinco anos, toda a família Saubers fica em perigo. Cabe ao ex-detetive Bill Hodges e a seus ajudantes, Holly e Jerome, protegê-los de um assassino agora ainda mais perigoso e vingativo.
Resenha: Um fã maluco. Um escritor assassinado. Uma trama atemporal envolvendo uma pacata família americana após a crise de 2009. Na sequência de Mr Mercedes, Stephen King apresenta aos leitores a história de Bellamy, um fanático que matou um escritor famoso na década de setenta. Já no século XXI, conhecemos Peter Saubers, que de uma forma inesperada acaba tendo sua vida ligada aos fatos que ocorreram no passado. É ai que entra o detetive Bill Hodges, juntamente com Jerome e Holly, para resolver esse mistério. Achados e Perdidos é uma continuação inusitada e cheia de tensão, que me fisgou do começo ao fim.
A primeira parte do livro, exatamente cento e trinta e duas páginas, conta todo o decorrer dos fatos que envolvem Morris Bellamy, o assassino de John Rothstein, o gênio. Ao mesmo tempo, em capítulos intercalados, conhecemos Peter Saubers, um garoto de apenas 13 anos que descobre o tesouro enterrado pelo assassino do escritor da famosa trilogia O Corredor. Neste começo da trama, há uma introdução do que virá na segunda parte, e diga-se de passagem, foi tudo feito de maneira excelente. A narrativa de Stephen, mais uma vez belíssima, transcorre de forma natural ao apresentar os personagens. Ambos, o menino e o assassino, são trabalhados de forma a entregar somente um pouco da personalidade, deixando o melhor para depois. É como se o autor estivesse fazendo uma breve apresentação, inclusive à família de Peter. É dessa maneira que descobrimos também que Tom, o chefe da família Saubers, estava no massacre do City Center e que há uma relação. Sim, o incidente que tirou a vida de algumas pessoas, deixou uma dezena de feridos e do qual Bill Hodges foi responsável por prender o criminoso. Em um primeiro momento, pude jurar que o segundo livro traria uma história independente, mas me enganei.
A segunda parte começa com a aparição do ex-detetive aposentado, Bill. Junto com ele surgem Holly e Jerome. O dissabor começa aí, com uma trama que corre feito um foguete e não tem tempo hábil para mostrar um pouco mais do lado bom desses três personagens. Tudo transcorre de uma maneira acelerada, os mistérios são solucionados de forma fácil, como somar um mais um. É como se Holly, a mulher de meia idade que acompanha Hodges em suas investigações, tivesse uma intuição capaz de desvendar qualquer mistério. Desse modo, o que poderia se tornar uma boa charada e um quebra-cabeça, se dissolve totalmente. Jerome, o garoto negro, gosta de fazer umas piadas que não se encaixam no contexto. O trio por si só não consegue capturar totalmente a atenção para eles, e todos os holofotes são voltados para o vilão. Ele foi o responsável por me fazer ficar sentado na beira da cadeira, de fazer meu coração bater muito rápido com a sucessão de acontecimentos e de sua insanidade, tal como Brady, o vilão de Mr. Mercedes. Quem dá nome a trilogia, Bill Hodges, se mostra muito apático e sem brilho. É como se ele fosse um mero coadjuvante, deixando o espaço para Morris e Peter brilharem.
As motivações que levam Morris a matar o escritor e roubar os manuscritos não ficaram tão claras para mim. Acredito que aqui, é possível fazer uma comparação com casos conhecidos como John Lennon, que foi assassinado a tiros por um fã, ou a cantora Selena, que foi morta pela presidente de seu fã-clube oficial. Nessas situações a maior pergunta que nos fica é como funciona a mente de quem comete tais ações. Os demais acontecimentos que resultam no ato final são um pouco contraditórios, e Peter, que no começo me ganhou pelas atitudes nobres, acabou se mostrando completamente incapaz de pensar racionalmente, em vista da situação de perigo em que sua família estava.
Achados e Perdidos é uma ótima continuação para uma trilogia que se iniciou com Mr Mercedes. Aqui, infelizmente, não há um personagem principal louvável: Bill cumpre seu papel, mas está longe de ser o melhor mocinho que já conheci. Em compensação, King trouxe o melhor que há em termos de vilões e que me faz torcer desesperadamente por eles (será que tem algum mal nisso?). O primeiro volume foi o pontapé inicial de Stephen no gênero policial, que para mim parece mais um thriller, e a expectativa era grande sobre isso. Neste segundo, posso dizer que é um livro de altos e baixos. O autor pode não ter tido êxito na criação do detetive, mas ele com certeza é um bom contador de histórias e sabe como prender a atenção do leitor. O final, que com certeza me deu um bom susto, traz uma pitada do sobrenatural (característica marcante de King) e reforça a ideia que O Último Turno, o encerramento da trilogia, será o mais inusitado de todos.
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