Juntando os Pedaços - Jennifer Niven

16 de novembro de 2016

Título: Juntando os Pedaços
Autora: Jennifer Niven
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/YA
Ano: 2016
Páginas: 392
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Jack tem prosopagnosia, uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas. Quando ele olha para alguém, vê os olhos, o nariz, a boca… mas não consegue juntar todas as peças do quebra-cabeça para gravar na memória. Então ele usa marcas identificadoras, como o cabelo, a cor da pele, o jeito de andar e de se vestir, para tentar distinguir seus amigos e familiares. Mas ninguém sabe disso — até o dia em que ele encontra a Libby. Libby é nova na escola. Ela passou os últimos anos em casa, juntando os pedaços do seu coração depois da morte de sua mãe. A garota finalmente se sente pronta para voltar à vida normal, mas logo nos primeiros dias de aula é alvo de uma brincadeira cruel por causa de seu peso e vai parar na diretoria. Junto com Jack. Aos poucos essa dupla improvável se aproxima e, juntos, eles aprendem a enxergar um ao outro como ninguém antes tinha feito.

Resenha: Juntando os Pedaços é o mais recente livro jovem adulto da autora Jennifer Niven publicado no Brasil pelo selo Seguinte, da Companhia das Letras.

Jack Masselin é um garoto popular da escola e sempre chama atenção por onde passa. Bonito, estiloso, descolado, em companhia de sua linda, porém esnobe e fútil, namorada, Caroline, ou cercado por seus amigos, ele desfila pela escola cheio de admiradores. O que ninguém sabe, já que ele faz questão de esconder a sete chaves, é que Jack sofre de prosopagnosia, uma doença neurológica que impede que ele reconheça as pessoas, por mais próximas que elas sejam. Ele é cercado por várias pessoas, mas não tem a menor ideia de quem são. Então, ele tenta memorizar algumas caracteristicas físicas, marcas, sinais, ou gestos particulares e individuais que o ajudem a identificar cada uma das pessoas que está a sua volta. O que importa é que Jack deve fingir, sempre, devido a depedência dos tais amigos, então por mais que tenha que suportar brincadeiras idiotas, o melhor é ignorar e ser a pessoa que os outros esperam que ele seja.

Libby Strout não teve uma vida muito fácil também... Aos onze anos ela perdeu a mãe e o trauma a afetou de uma forma bastante negativa. Ansiosa e inconsolável, Libby encontrou consolo na comida e chegou a pesar quase 300kg, deixou de sair de casa por não conseguir levantar da própria cama e ficou conhecida como a garota mais gorda dos EUA chegando inclusive a aparecer na mídia. Agora, aos dezesseis anos, Libby está mais de 130kg mais magra e está disposta a recuperar o tempo perdido. Ela decidiu voltar pra escola e só precisa lidar com seus problemas com ansiedade a fim de evitar ataques de pânico e tentar levar a vida da forma mais normal possível.
Porém, logo no primeiro dia de aula, Libby se torna vítima de uma "brincadeira" terrível e preconceituosa e vai parar na diretoria junto com Jack. A partir daí, uma amizade extremamente improvável vai nascer.

Narrado em primeira pessoa de forma muito fácil e fluída, e com os pontos de vista de Jack e Libby se alternando, acompanhamos uma história crua que retrata problemas muito delicados, como os protagonistas levam suas vidas ao lidar com eles e como eles aprendem a se enxergar por trás do que demonstram ser para os outros.
Jack tem aquela pose de fodão mas além de fingir ser quem não é, é muito inseguro e instável. E enquanto Libby quer mostrar que é inabalável, mesmo que esteja acima do peso, por dentro ela está desmoronando.

Por um lado eu gostei de ver esses temas sendo abordados numa história pois, de certa forma, foi interessante aprender mais sobre a prosopagnosia e as limitações que ela dá ao indivíduo, assim sobre como as pessoas podem ser intolerantes e cruéis com quem está acima do peso (mesmo que isso tenha vindo de um trauma extremamente doloroso e ninguém dê a mínima). O bullying ainda é um tema delicado e que gera grandes polêmicas, e se não fosse pela enorme dificuldade e mente fechada dos outros em aceitar e respeitar as diferenças, haveria mais respeito e empatia com o próximo e as coisas não seriam tão ruins. Mas, por outro lado, fiquei me questionando sobre o quê, de fato, o livro trata. Seria as consequências dos efeitos trágicos do bullying e da gordofobia e sobre como levar a vida com uma doença neurológica que causa uma desordem cognitiva, ou sobre o amor adolescente tão necessário - ou quase obrigatório - para um tipo de autoaceitação para algumas condições socialmente nada favoráveis ou pouco aceitas por estar fora dos padrões? É como se Libby só pudesse chegar ao fim de sua jornada rumo ao amor próprio e solucionar seus problemas se no meio do caminho encontrar alguém que goste dela, e mesmo sem química nenhuma, eis que surge Jack.
Ele se encontra numa prisão interna, com receios e incertezas sobre a própria vida e sua capacidade de ser aceito como alguém normal está sendo prejudicada, como se ele estivesse perdendo a própria identidade e deixando de viver, mas ainda assim ele consegue enxergar por trás da fortaleza que Libby construiu em volta de si mesma e, dessa forma, eles vão juntando os pedaços, se reerguendo, se completando e buscando conquistar não só espaço, mas amor próprio.

A autora nos presenteia com um enredo sensível, original e cheio de ousadia, que fará o leitor refletir e se emocionar, e, quem sabe, crescer junto com os personagens, tentando enxergar sempre o interior das pessoas já que a aparência ou certos tipos de limitações não necessariamente definem quem alguém é.

Um comentário

  1. Olá Flavia!
    Achei muito interessante o tema abordado nessa trama. Gosto bastante de ler sobre esses assuntos e ver com os autores tratam com delicadeza e sensibilidade.
    Parabéns pela resenha!
    Beijos!

    http://www.booksimpressions.com.br/

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