A Busca Sofrida de Martha Perdida - Caroline Wallace

20 de junho de 2017

Título: A Busca Sofrida de Martha Perdida
Autora: Caroline Wallace
Editora: Fábrica 231/Rocco
Gênero: YA
Ano: 2017
Páginas: 304
Nota:★★★★☆
Sinopse: Liverpool, 1976. Martha tem 16 anos e mora numa estação de trem desde que se entende por gente. Mais especificamente, desde que foi encontrada, ainda bebê, em uma mala na estação Lime Street, ficando sob os “cuidados” da dona da loja de achados e perdidos do local. Proibida de deixar a estação, sob a ameaça de uma maldição, Martha espera diariamente que alguém venha buscá-la. Enquanto isso, passa seus dias atendendo os passageiros que circulam por ali, conhece todos os segredos da estação e acaba se envolvendo em alguns mistérios, entre eles o aparecimento de uma mala que talvez tenha pertencido aos Beatles e que coloca a cidade em polvorosa. Mas o maior mistério começa quando ela passa a receber livros com cartas de um desconhecido que parece saber tudo sobre a sua vida. Martha precisará correr contra o tempo se quiser encontrar respostas e não se perder novamente.

Resenha: Martha Perdida mora e trabalha na Estação Lime Street desde que se entende por gente. Ainda bebê, Martha foi deixada no Achados e Perdidos e nunca foi reivindicada por ninguém. Desde então, a responsável pelo escritório, mais conhecida como "Mãe", foi obrigada a reinvindicar a menina para si, e a criou para que ela acreditasse que, caso fosse embora, Lime Street desmoronaria, destruindo o único lugar que ela poderia chamar de lar.
Mãe é uma mulher fanática que não só tenta converter os outros com baldes de água benta, como também acredita que tudo é obra do diabo, e por mais que essa mulher seja abusiva e manipuladora, Martha é um doce de menina que vive para obedecê-la. Ela é ingênua, iludida ao acreditar em tudo que dizem, adora rodopiar pela estação, gosta de cumprimentar as pessoas em francês e, embora a Mãe diga que livros são demoníacos, Martha adora ler, principalmente os livros perdidos. Apesar de ter se conformado com aquela vidinha limitada a qual foi submetida, Martha também tem vontade de conhecer o mundo lá fora e espera que alguém apareça para buscá-la, mas enquanto isso não acontece, e por medo de por os pés pra fora da estação e ela perecer, ela passa os dias atendendo os passageiros que circulam pela estação, e dá atenção aos poucos amigos que fez no local: Drac, o carteiro que vive sendo perseguido pela Mãe, Elisabeth, a garçonete do café ao lado que parece uma atriz de Hollywood, e Stanley, o faxineiro.
Seria difícil para Martha sair de sua zona de conforto e quebrar essa redoma sobre si mesma, mas em determinado momento, ela precisa descobrir como quebrar a maldição para, enfim, poder encarar a realidade do mundo lá fora.
Martha quer saber sobre os primeiros capítulos de sua vida, de onde veio, quem são seus pais verdadeiros e, principalmemte, quem ela é. E com a ajuda de Elisabeth e outros amigos que faz, Martha parte numa jornada de descobertas, aprendizados e autoconhecimento que ela jamais imaginou.

Posso dizer que a primeira coisa que me chamou atenção nesse livro foi o título grande e sugestivo seguido pela capa, e só depois fui me atentar a sinopse. No decorrer da leitura, que é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista de Martha (onde alguns pontos não soa muito confiável), fui fisgada pelo universo criado pela autora em transformar uma simples estação de trem em um lugar tão peculiar e convidativo a ponto de parecer um personagem a parte em vez de mero pano de fundo. Até então a única autora que me fez ver uma estação de trem de forma tão mágica foi J.K. Rowling em King's Cross e a plataforma 9 ¾.

Martha é uma protagonista que amamos ou odiamos. É impossível ficar num meio termo e o sentimento com relação a ela vai depender de como a enxergamos. Como ela é extramente ingênua, sensível e inocente, pode ser muito irritante acompanhar uma personagem tão frágil e manipulável que em alguns pontos parece ser irreal pelo tipo de comportamento que ela apresenta. Compreendo que ela cresceu num espaço limitado, com uma megera que a criou de forma totalmente absurda, e que a levou a acreditar em coisas irreais e sem sentido as quais a menina ouvia desde pequena, mas penso que o mínimo de contato com outras pessoas seria o bastante para que ela não fosse tão paspalhona. Em alguns momentos fiz algumas comparações e imaginei a mãe psicótica de Carrie, a Estranha, ao lado de Matilda, aquela garotinha pura e autodidata interpretada nas telinhas pela atriz Mara Wilson. Tal contraste chega a ser meio assustador, convenhamos.
Não odiei Martha pra ser sincera. Apesar de ter minhas dúvidas com relação ao funcionamento de sua cabeça, eu adorei o fato dela amar livros e ter uma conexão emocional com eles, tanto que foi através dos livros que ela, enfim, desperta para a busca da verdade sobre si mesma.

Os demais personagens preenchem o mundo de Martha e a maioria deles é adorável e de grande importância para o desenrolar do enredo e amadurecimento da protagonista. O romance presente na história é questionável e de cara já causa aversão. Pra mim quando amor se mistura a oportunismo e interesse a coisa desanda e esse elemento só me fez revirar os olhos e querer evitar as páginas destinadas a essas cenas.

Pela época em que a história se passa e elas referências musicais presentes, é possível que o leitores um pouco mais velhos se deparem com algumas cenas nostálgicas ou frases memoráveis, mas eu particularmente não dei muita importância para essa parte por não considerar fundamental para o desenvolvimento da trama, apesar de ser interessante.

A capa tráz uma ilustração simples, mas o título em dourado dá um toque todo especial ao livro. A diagramação é simples, os capítulos não possuem títulos ou numeração, somente o espaço superior da página que fica em branco. Cartas, bilhetes, artigos, e pequenos questionamentos que a protagonista escreve por aí se intercalam com a narrativa tornando a história mais dinâmica e divertida com essas informações extras.

De forma geral, A Busca Sofrida de Martha Perdida é um livro bem poético e que funciona, sim, como um conto de fadas, mostrando que as pessoas de boa índole, apesar de escassas nesse mundo, ainda existem e podem ter finais felizes.

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