A Bússola de Ouro - Philip Pullman

25 de outubro de 2017

Título: A Bússola de Ouro - Fronteiras do Universo #1
Autor: Philip Pullman
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Aventura
Ano: 2017
Páginas: 344
Nota:★★★★★
Sinopse: Lyra Belacqua e seu daemon, Pantalaimon, vivem felizes e soltos entre os catedráticos da Faculdade Jordan, em Oxford. Até que rumores invadem a cidade – boatos sobre sequestradores de crianças, os Papões, que estão espalhando o medo pelo país.
Quando seu melhor amigo, Roger, desaparece, Lyra inicia uma perigosa jornada para reencontrá-lo. O que ela não desconfia é que muitas outras forças influenciam seu destino e que sua aventura a levará a terras congeladas do norte, onde feiticeiras e ursos de armadura se preparam para uma guerra.
Embora tenha a ajuda do aletiômetro – um poderoso instrumento que responde a qualquer pergunta –, nada a prepara para os mistérios e a crueldade que encontra durante a viagem. E, mesmo que ainda não saiba, Lyra tem uma profecia a cumprir, e as consequências afetarão muitos mundos além do seu.

Resenha: A Bússola de Ouro é o primeiro volume da trilogia Fronteiras do Universo escrita pelo autor britânico Philip Pullman. Os livros foram publicados no Brasil entre 2001 e 2002 pela Editora Objetiva e agora foram relançados pela Suma de Letras, selo da Companhia das Letras.

Lyra Belacqua é uma garotinha de doze anos que, desde que nasceu, junto com Pantalaimon, seu deamon, vive entre os catedráticos e está sob os cuidados do seu tio Asriel na Faculdade Jordan em Oxford, numa Inglaterra de um universo paralelo muito parecido com o que conhecemos.
Quando boatos de que as crianças da cidade estavam sendo sequestradas pelos temíveis Papões, e Roger, o melhor amigo de Lyra, desaparece, a garota embarca numa jornada cheia de aventuras e perigos para reencontrá-lo com a ajuda do aletiômetro, um objeto mágico que responde qualquer pergunta e somente pode ser interpretado pela garotinha. O que ela não esperava era descobrir não só sobre si mesma e suas origens, mas que existe uma força oculta e misteriosa que está ligada aos desaparecimentos das crianças e ao destino de todos desse universo, e que isso a levaria a terras muito distantes onde os seres mágicos, o povo gípcio dos pântanos, as bruxas enigmáticas e as criaturas destemidas estão se preparando para uma guerra.

A primeira vez que tive contato com essa trilogia foi a alguns anos atrás, na versão em que o título ainda era A Bússola Dourada. Lembro que me empolguei tanto que li os três livros em menos de uma semana. Nem preciso dizer o quanto curti a ideia da trilogia ser relançada, pois assim ela ganha mais visibilidade e atrai mais leitores para terem a oportunidade de conhecerem o universo mágico e deslumbrante através desses livros que ficaram um tempo esquecidos mas que deveriam ser leitura obrigatória para os fãs de fantasia, assim como a saga Harry Potter. Só lamento pela versão cinematográfica da obra, que, além de ter sido uma completa decepção, acabou dando uma impressão errada sobre a história. O fiasco foi tanto que nem arriscaram a continuação... Dito isso, não julguem o livro pelo filme ruim. A leitura é infinitamente melhor.

Narrado em terceira pessoa, o livro é dividido em três partes que correspondem aos locais por onde a protagonista passa: Oxford, Bolvangar e Svalbard. Em meio a uma trama impecável e maravilhosamente instigante e bem escrita, o autor levanta questões éticas e morais relacionadas não só aos personagens e as ligações que eles possuem entre si, mas também à política, ciência, fé, religião e espiritualidade, assim como na forma que esses elementos influenciam e interferem em suas vidas. É uma crítica crua e nada sutil à religião e à igreja, no livro representada pelo Magisterium, tanto que o próprio Vaticano criticou o autor e a adaptação cinematográfica alegando se tratar de algo anticristão (assim como foi feito com O Código da Vinci).
Como se isso já não fosse interessante o suficiente para despertar o interesse de qualquer mortal, principalmente os mais céticos, e manter o leitor vidrado em cada página, a trama, que claramente é uma fantasia voltada ao público adulto devido as questões abordadas, está repleta de personagens cativantes, bem construídos e interessantes, mistérios, perigos, aventuras, batalhas de tirar o fôlego e vários momentos tão emocionantes quanto dignos de reflexão.

Lyra tem apenas doze anos e é uma das heroínas mais verossímeis e com uma das jornadas mais incríveis que já acompanhei, pois, além de inteligente e sagaz, ela mostra que a capacidade individual de cada um em se esforçar para atingir os próprios objetivos e superar as adversidades é algo crucial que se deve ter, muito mais do que depender dos outros e esperar que as coisas aconteçam ou se resolvam sozinhas. E para ajudar o amigo, ela faz o possível e o impossível.
Não é possível falar de Lyra sem falar de Pantalaimon, já que, como os demais deamons, ele é a personificação física da alma da garota em forma animal e não pode se distanciar muito dela para não sofrerem terríveis dores físicas e mentais. Eles se completam como se realmente fossem um só corpo, mesmo que sejam literalmente o oposto um do outro durante a infância. Enquanto Lyra é conhecida por ser mentirosa e destemida, Pan é medroso e muito tímido, mas isso muda no decorrer da história pois num determinado ponto da adolescência, os deamons deixam de mudar de forma para se fixarem como um único animal, que representa e reflete a personalidade de suas metades humanas. Um exemplo disso é que os deamons dos criados são cães, representando fidelidade e obediência aos seus patrões.
Não vou me alongar falando sobre todos os personagens pois são muitos. Todos são importantes para o desenvolvimento da história e são admiráveis a sua maneira, mas não posso deixar de falar de Iorek Byrnison, o urso de armadura mais leal que já existiu. Ele é um personagem complexo e cheio de camadas, e sua história acaba sendo uma das melhores subtramas do enredo, principalmente quando seu destino se entrelaça com o de Lyra.

A abordagem sobre os gípcios também é algo bastante interessante e a forma como são apresentados não deixa de ser uma crítica do autor sobre aqueles que sofrem diversos tipos de preconceitos. Levando o termo ao pé da letra, eles são ciganos, uma "raça" menosprezada e considerada inferior pela sociedade a ponto de serem obrigados a viverem em pântanos isolados, mas claramente são grandes sábios e acrescentam muito quando o assunto é auxiliar e orientar Lyra em sua jornada.

A capa dessa nova edição é a mais bonita e que mais tem a ver com a história até então, pois além de exibir o aletiômetro (a bússola), mostra a silhueta de algumas das várias formas animais que os deamons podem ter em meio a ornamentos floreados e com detalhes metálicos. A diagramação é simples e a revisão impecável, e eu só senti falta das pequenas ilustrações a cada início de capítulo que vieram na primeira edição da obra. Inclusive na edição com a capa do filme, o termo deamon (cuja pronúncia é dêmon) foi substituído por "dimon" sabe-se lá Deus porquê. Então, obrigada a Suma por ter resgatado o deamon nessa edição!

A Bússola de Ouro é o início de uma aventura épica que nos presenteia com um universo paralelo único, incrível e inesquecível, e com certeza faz parte do seleto top 3 de melhores séries de fantasia que já li na minha vida.

Bônus: What Would Your Dæmon Be?
Faça o teste e descubra qual seria seu deamon (em inglês).

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