Temporada: 1 | Episódios: 18
Gênero: Sci-fi/Fantasia/Terror
Ano: 2019
Duração: 6~17min
Classificação: +18
Nota:★★★★★
Sinopse: Uma coleção de contos animados que mistura ficção científica, fantasia e terror. Histórias sobre as aventuras de lobisomens soldados, caçadores de recompensas de cyborg e até mesmo de aranhas alienígenas (Sinopse do Adoro Cinema).
Love, Death + Robots é uma série antológica com vários contos independentes com temática pós-apocalíptica e futurista voltada para o público adulto e, a maioria, baseados em algum material já publicado que serviram de inspiração. A quantidade de sangue, violência, teor sexual e mortes, mesmo se tratando de animação, não é pra qualquer um, principalmente quando nos deparamos com tanta nudez gratuita, seja feminina ou masculina, mas a ideia de acompanhar alguns episódios curtos nesse estilo surpreende quem gosta do gênero, não só pela variedade gráfica, mas também por levantar questões relevantes. Pelos episódios serem independentes, não é nem necessário assistir na ordem (mesmo que exista uma teoria de que eles tem uma ligação), e embora alguns tenham alguma mensagem dignas de reflexão para passar, outros não parecem ter esse propósito. Não tem muito o que dizer de cada episódio sem dar maiores spoilers, afinal, eles tem em média 10 minutos cada. Não acho justo separar alguns episódios aleatórios sendo que todos eles tem seus méritos também, mesmo que sejam mais fraquinhos do que outros, então, mesmo que o post fique enorme, vou tentar fazer um apanhado geral, resumindo e dando minhas principais impressões.
Aqui podemos ver uma protagonista badass, mal encarada, com ar ameaçador e que tem seus motivos para jamais perder uma luta, e isso acaba rendendo uma animação realista e muito interessante, com toques de empoderamento feminino, e que traz uma reviravolta super inesperada. Porém, mesmo que o final seja surpreendente, usar de uma tragédia sofrida por ela, que a destruiu física e psicologicamente, para justificar o motivo dela ter se transformado em alguém tão fodona em busca de vingança, não foi algo que eu tenha curtido muito.
Em Três Robôs (11min), temos um cenário de ruínas, com cadáveres espalhados pra todo lado enquanto três robôs passeiam num tipo de "excursão", totalmente alheios aqueles horrores. Eles encontram objetos "interessantes", adentram em locais que lhes despertam curiosidade, e fazem suposições hilárias - e reflexivas - sobre a humanidade, até encontrarem um gato!
E o que dizer sobre gatos? São lindos. São fofos. Ronronam. E querem dominar o mundo!
A animação é diferenciada, com muitas luzes coloridas, "câmera trêmula" acompanhando a correria na cidade e nos corredores de prédios, e alguns efeitos sonoros também são animados visualmente. Além da adrenalina gerada por uma fuga frenética e desesperada, o episódio levanta a questão da sobrevivência, da curiosidade, do medo, e até da existência de paradoxos e loopings temporais completamente insanos.
No quinto episódio, Sugador de Almas (13min), um grupo de exploradores arqueológicos começa a ser perseguido por uma criatura voraz que não apenas chupa o sangue das vítimas, mas as estraçalha da pior forma possível. O diferencial é que o dito "vampiro" ganhou uma roupagem totalmente nova e que foge de qualquer clichê, desde a aparência até o próprio comportamento, e a forma como foi reimaginado foi bastante interessante, principalmente com relação a sua fraqueza... Não foi um episódio que me interessou tanto pois aborda a fuga dos tais exploradores e a vontade do monstro de matar pra se alimentar e/ou se divertir.
Quando o Iogurte Assumiu o Controle (6min) é o sexto episódio, e conta a história de uma cientista que, acidentalmente, desenvolveu um iogurte superinteligente que começou a dar instruções para o avanço da sociedade e soluções para seus maiores problemas financeiros, mas, claro, a atitude dos humanos e o caminho que vão seguir já é algo mais do que previsível e dispensa maiores comentários. Por mais nonsense que possa ser mostrando potes de iogurtes querendo "dominar o mundo", acaba transpassando a ignorância humana e o quanto é preciso evoluir em diversos aspectos, e o processo está longe de ser alcançado...
O sétimo episódio, Para Além da Fenda de Áquila (16min) depois de viajarem por anos luz fora de curso, a tripulação de uma nave acorda e tenta entender o que aconteceu. Logo de cara já percebemos que algo está errado, e tudo se torna bem tenso. O protagonista se encontra numa enrascada em que ele precisava rever os próprios conceitos sobre realidade e ilusão, e talvez a ideia de fim possa estar mais relacionada ao fracasso do que à morte propriamente dita. Nesses momentos recorremos a qualquer coisa para amenizar o sofrimento, mesmo que de forma inconsciente. Com certeza, merecia alguns minutos a mais, uma continuação, ou coisa do tipo pra deixar a mensagem sobre a situação da tripulação e do que aconteceu com a nave mais clara. Sério.
O oitavo - e melhor - episódio da série, pra mim, é o Boa Caçada (17min). Ele foge do gênero sci-fi futurista e espacial e adentra em temas envolvendo mitologias orientais com toques de fantasia e steampunk. O episódio trata da história de um vilarejo bastante simples que era "atacado" por criaturas metamórficas que se transformavam em belas mulheres e "seduzia" os homens, e por isso elas eram caçadas e mortas. Mas o filho de um desses caçadores não consegue enxergar o perigo que seu pai tanto alertava e faz amizade com uma delas, e é essa empatia que fará com que eles se aproximem e tenham uma forte ligação que, consequentemente, mudará o destino de ambos. O tempo passa, a sociedade começa a ter muitos avanços tecnológicos, inclusive afetando a natureza e, agora, já adultos e inseridos nesse meio, os dois precisam lidar com todas as mudanças, além da ganância e do preconceito dos homens. Ele trabalhando com suas invenções, e ela servindo aos ricos e poderosos para sobreviver. Esse episódio me marcou e agradou mais devido aos traços que lembram os desenhos clássicos da Disney, que são de encher os olhos, então, a princípio, parece que vamos assistir a um quase "conto de fadas", mas além de abordar de uma forma não muito sutil como uma espécie pode ser limitada e dizimada devido a colonização e a esses avanços repletos de engenhocas e bastante fumaça, a forma como aborda o machismo e a violência contra as mulheres revolta e causa uma tristeza tão grandes, que é impossível não se emocionar, e a única coisa que fazemos é torcer para que a protagonista consiga sua vingança.
O Lixão (10min) conta a história de um velho acabado que mora entre várias montanhas de lixo, e ao ser intimado por um inspetor de que precisa assinar uns documentos para sair de lá devido a uma enorme construção de edifícios (impossível não lembrar do Sr. Fredericksen, de Up! Altas Aventuras com sua casinha fofa e colorida no meio da selva de pedras que construíram ao seu redor) começa a lhe contar uma história tão macabra quanto inacreditável. No final das contas, a única mensagem que importa é que nada é como o nosso lar, doce lar.
Trazendo uma temática sobrenatural e que não envolve robôs e tecnologia, é Metamorfos (16min), o décimo da série. Há uma guerra acontecendo no Afeganistão e dois fuzileiros com poderes sobrenaturais fazem parte do batalhão. Apesar de terem superforça e várias vantagens sobre os demais soldados, eles sofrem preconceitos pelos outros soldados por não serem humanos, mas ainda assim estão ali para lutar, até enfrentarem um inimigo que tem muito em comum com eles. Eu não entendi bem como esse episódio se encaixou nessa série, mesmo que envolva companheirismo, amizade, amor fraternal e morte, mas gostei da forma como o racismo e o bullying que os dois protagonistas sofreram, apesar de revoltantes, assim como a ideia de vingança, só os tornou mais fortes.
Ajudinha (10min) mostra uma astronauta que tem problemas com o equipamento e acaba ficando à deriva numa zona de gravidade zero no espaço. Correndo contra o tempo, ela precisa escolher entre sacrificar uma parte do seu corpo a fim de criar impulso na tentativa de se salvar, ou desistir e ser engolida pela imensidão. É quase um 127 Horas narrado em 10 minutos e no espaço em vez de num buraco. Esse episódio traz reflexões sobre escolhas e como, às vezes, é preciso fazer sacrifícios para seguir em frente quando não se tem com quem contar além de nós mesmos.
Noite de Pescaria (10min) é outro episódio que não envolve o tema sci-fi, mas sim algo voltado à fantasia, e conta a história de dois vendedores que ficam presos no meio do deserto devido a um problema no carro que os impede de seguir em frente. Até que no meio da noite eles se deparam com um cenário psicodélico e um deles embarca numa "viagem" incrível sem saber o que lhe espera no final, mostrando que não é lá muito vantajoso ser arrogante. Alguns episódios acabam desconstruindo os clichês de finais felizes, mostrando que a realidade muitas vezes é bem mais amarga do que parece, mas talvez esse tenha sido o mais chocante de todos, mesmo que se trate de uma metáfora. É uma pena que, embora possa ter algumas poucas referências com a lenda de Ícaro, da mitologia grega, a abordagem foi superficial demais, e no final das contas os efeitos visuais têm o maior mérito.
13, Número da Sorte, tinha que ser o décimo terceiro episódio, e conta a história de uma piloto novata que não tem escolha quando fica encarregada de pilotar uma aeronave evitada por todos os outros pilotos depois que a tripulação foi dizimada por duas vezes seguidas. Mas nas mãos dessa piloto, milagrosamente, as coisas vão além do esperado e o que antes era azar, se tornou muita sorte e a nave passou a mantê-la viva e segura. Talvez o que mais chama atenção nesse episódio é o nível de realismo da animação. Geralmente nos CG's os personagens são totalmente desprovidos de expressões faciais, é como se tivessem feito uma plástica que os impedisse de piscar sem que a perna levante, e isso acaba limitando suas reações frente aos seus sentimentos, mas esse episódio, minha gente, é impressionante! O nível de realismo chega a ser insano. Mesclando isso com a boa história envolvendo determinação, coragem, força e superação, o resultado não poderia ser mais incrível.
Zima Blue, décimo quarto episódio da série, tem um toque "intelectual" e artístico maravilhoso, não só pelos traços da animação, mas pelo próprio enredo da história que aborda a arte como um todo, como forma de ser e agir, com toques poéticos e melancólicos que trazem uma beleza ímpar à essa narrativa tão singular, porém distante. Zima Blue é um artista mundialmente reconhecido e famoso pelos seus quadros peculiares que passaram a trazer um pequeno quadrado azul simbolizando algo que ninguém sabe do que se trata. Com o passar do tempo, e entre vários quadros, Zima prepara uma apresentação ao vivo que traria um grande clímax aos seus fãs, ligada diretamente às suas origens misteriosas e à sua história de vida, mas justamente devido a ser tão solitário e à distância que o próprio artista mantém dos outros, a grande surpresa que ele reserva causa choque em sua plateia, mas pouco impacto no espectador. É um episódio curioso que aborda o ponto de vista do artista vs o mundo ao seu redor, mas narrado por alguém que o admira, e as novas informações, até então desconhecidas, que ela descobre sobre ele, fazem com que a medida que o mistério acerca de Zima é revelado, a sensação de conforto, gratidão e libertação é inevitável.
Ponto Cego (8min), traz o típico gênero heist, onde uma gangue de ciborgues, com direito a um novato inexperiente, faz um ataque a um comboio a fim de roubar um microchip, mas, ao detectar a ameaça, a inteligência artificial da máquina não hesita em contra-atacar. O plano vai por água a baixo e é preciso improvisar no melhor estilo Velozes e Furiosos. O episódio é curto, e é ação do início ao fim, com um ritmo frenético, muito sangue, mortes e violência gratuita, e por mais que haja baixas, o final, que parece ser triste, acaba sendo recompensador.
Era do Gelo (10min) é o único episódio com atores reais, Topher Grace e Mary Elizabeth Winstead, cuja animação se concentra apenas no interior de um freezer para ilustrar a dita evolução. Ao se mudarem pra um novo apartamento, um casal descobre que há uma minúscula civilização perdida dentro do freezer da pequena geladeira muito velha que já estava lá, e eles passam a observar e acompanhar o desenvolvimento e a evolução dessa pequena sociedade, que vai desde a era pré-histórica, passando pela era medieval, a revolução industrial, até o momento presente, onde cada minuto representa um avança de séculos a frente. O desenvolvimento não pára, e a tecnologia e o uso da energia chegam num nível tão extraordinário que a cidade atinge o ápice, até que o ciclo se repita. Se por um lado o episódio levantou questionamentos com a forma despreocupada e natural com que o casal lidou com tamanha descoberta, não posso negar que por outro foi bastante interessante ter o vislumbre de uma civilização passando por diversos estágios do passado, presente e futuro, e fiquei imaginando se esse poderia ser o futuro da humanidade, mesmo que para se alcançar tal tecnologia seja preciso muitos outros milhões de anos até ter um possível "novo Big Bang". O que será que vai acontecer se um dia não houver mais nada para se descobrir?
Talvez o episódio Histórias Alternativas seja o mais engraçado e criativo da série devido a ideia de se utilizar um incrível aplicativo chamado "Multidiversidade", que permite fazer alterações em fatos históricos enquanto cria simulações visuais sobre como a história poderia mudar, mostrando suas várias versões. Assim, o episódio decide abordar um fato absurdo, mas de uma forma bastante divertida de se acompanhar, mostrando vários tipos de mortes malucas para o próprio Adolf Hitler, antes que ele tivesse a oportunidade de chegar ao poder, mudando o curso dos acontecimentos e impedindo a Segunda Guerra Mundial, mas causando outras mudanças. Dessa forma, o episódio diverte não pela ideia de se poder mudar o passado causando um grande impacto no futuro, mas nos fazendo pensar no "e se".
Por último, o décimo oitavo episódio que aborda terror e sobrevivência é A Guerra Secreta, que se passa na década de 20 e traz a história de um batalhão de elite do exército russo que se encontra nas gélidas e remotas florestas da Sibéria para enfrentar criaturas malignas e sanguinárias. Este episódio lembra jogos de guerra onde a missão é sair metendo bala nos inimigos desembestadamente enquanto se tenta localizar o "covil" para acabar com o problema, então é cheio de ação, mortes, sangue, explosões e claro, sacrifícios para um bem maior.
Acho que cada episódio ofereceu uma boa diversidade à temporada e que vai atender a vários tipos de gostos e expectativas. O espectador pode encarar cada um deles de uma forma diferente e de acordo com o gosto, seja pela mensagem que a história passa, pelo seu "peso", ou pelo estilo dos gráficos, da arte em si, e dos efeitos visuais. A ideia dos episódios serem curtos e, aparentemente, não terem ligação, acaba fazendo com que o consumo seja rápido, principalmente entre aqueles que vivem na correria e não tem tempo para se dedicarem a acompanhar episódios longos de séries intermináveis. Todos os episódios tem alguma referência ao título da série, alguns são mais focados em um tema do que outros, e alguns nem possuem robôs. Logo penso que o nome nada mais é do que a combinação do que a própria humanidade fez no passado e está destinada a fazer no futuro enquanto demonstra seus sentimentos, seja eles a amizade, afeto, empatia, o desdém, ou o próprio amor, e, de forma inevitável, tem que lidar com a morte, mesmo que sejam coisas irrelevantes frente à tecnologia que existe e aquela que ainda será descoberta. No mais, a série é uma excelente - e sangrenta - diversão, e surpreende bastante, principalmente pra quem adora o gênero sci-fi, e gatos!
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