Serotonina - Michel Houellebecq

4 de fevereiro de 2020

Título: Serotonina
Autor: Michel Houellebecq
Editora: Alfaguara
Gênero: Romance
Ano: 2019
Páginas: 240
Nota:★★★★★
Sinopse: Florent-Claude Labrouste tem 46 anos, detesta seu nome e toma antidepressivos que liberam serotonina e causam três efeitos colaterais: náusea, falta de libido e impotência.
Seu périplo começa em Almeria (Espanha), segue por Paris e depois pela Normandia, onde os agricultores estão em luta. A França está afundando, a União Europeia está afundando, a vida de Florent-Claude está afundando. O sexo é uma catástrofe. A cultura não é mais uma tabua de salvação – nem mesmo Proust ou Thomas Mann são capazes de salvá-lo.
Nesse contexto, Florent-Claude descobre vídeos pornográficos assombrosos em que sua atual companheira aparece, e isso é a gota d'água para que ele deixe o trabalho e passe a viver em um hotel. Perambula pela cidade, visita bares, restaurantes e supermercados. Repassa suas relações amorosas, marcadas sempre pelo desastre, que transitam entre o cômico e o patético. Ao se reencontrar com um velho amigo aristocrata, que parecia ter uma vida perfeita, mas que foi abandonado pela esposa e se vê falido, Florent-Claude aprende a manejar uma arma de fogo – que vai mudar sua vida para sempre.
Em um espiral de problemas, Florent-Claude se torna um hábil analista da contemporaneidade, de seus anseios, inseguranças e problemas. Sua vida, um reflexo do desinteresse pelo mundo, será o espelho das mais cruéis agruras da vida.

Resenha: A Serotonina é um o hormônio que atua no cérebro regulando o humor, apetite, sono, frequência cardíaca, temperatura corporal, libido, sensibilidade, funções intelectuais, e também tem papel na coagulação sanguínea e na saúde óssea. O baixo nível desse hormônio no organismo pode desencadear não só irritabilidade, insônia e algumas compulsões alimentares e emocionais, mas também ansiedade e depressão de forma que, de acordo com a gravidade do caso, é necessário a introdução de medicamentos para que o corpo volte a funcionar em equilíbrio.

Dito isto, Serotonina foi o título do mais recente livro escrito pelo autor francês Michel Houellebecq, publicado pelo selo Alfaguara da Editora Cia das Letras, que conta a história de Florent-Claude Labrouste, um homem que odeia seu nome de quarenta e seis anos que após descobrir estar sendo traído pela namorada, embora não tenha ficado totalmente surpreso, talvez por saber que seu relacionamento falido beirava o fracasso, decide sumir sem dar satisfações pra ninguém. Sem amigos e sem família, ele pede demissão no trabalho inventando que recebeu alguma proposta de emprego melhor, e vai embora levando consigo apenas uma única mala, mas, mesmo que ele pudesse viver confortavelmente com a herança deixada pelos falecidos pais, as coisas não acontecem da forma como deveria ser, pois Florent está num abismo de depressão pela falta da bendita serotonina, que fez com que ele tenha perdido o interesse pela vida.

Narrado em primeira pessoa, cheio de ironia, acidez e sem pudor algum, Serotonina faz uma análise sobre a existência do ser e da sociedade, mas não uma existência repleta de alegria e plenitude, mas uma existência a beira de um colapso. Florent não é um exemplo de cidadão politicamente correto. Ele se preocupa com status social, gosta de aparecer com coisas caras, faz julgamentos alheios como se fosse o dono da razão e não sabe lidar com relacionamentos amorosos. Seus pensamentos subversivos não causam somente a reflexão nos leitores sobre quem ele é ou como se sente, mas sobre a própria ruína da sociedade moderna que cada vez mais parece estar se afundando e dependendo de comprimidos a perder de vista para ajudá-los a empurrarem suas vidas quando a desgraça parece cercar a todos. Desemprego, caos econômico, a qualidade de vida despencando, e outros inúmeros fatores que desestabilizam o ser humano, que busca sobreviver antes de desistir, enquanto a vida está em ruínas.

A medida que a leitura avança, as vidas cheias de frustrações de outros personagens, e a própria vida de Florent, começam a ser mais aprofundadas, o que agrava a situação do personagem que está cercado de desgraças. Depender de antidepressivos que aumentam os níveis de serotonina no organismo, o "Captorix" (acredito que o verdadeiro protagonista da história), o deixa prisioneiro. A ideia de esperança, de luz no fim do túnel pra tirá-lo dessa situação parece muito distante, e é impossível não sentir aquela angústia pela trama ser desprovida de alegria, por saber que a depressão levou Florent a desistir, e que ter partido era só um meio dele reconhecer e constatar que a vida já não reservava mais nada pra ele. Carregado de arrependimentos, colecionando fracassos, frustrado amorosa e sexualmente, e totalmente deprimido, Florent é um retrato ácido, caótico e real do homem contemporâneo numa sociedade à deriva, que com certeza vai fazer com que vários leitores se identifiquem.

Serotonina é uma leitura insana, mas tão desconfortável quanto necessária sobre as consequências desencadeadas pela falta desse hormônio, e sobre a dependência da "pílula da felicidade".

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