Desenvolvedora: Nomada Studio
Plataforma: PC/Nintendo Switch
Categoria: Indie/Aventura
Ano: 2018
Classificação Indicativa: Livre
Nota: ★★★★★♥
Sinopse: Gris é uma jovem esperançosa, perdida em seu próprio mundo, que lida com uma dolorosa experiência.
Considerando algumas resenhas de games que fiz aqui no blog, acho que já deu pra perceber que gosto bastante de jogos de plataforma. E com este não foi diferente. Logo que bati o olho na thumb dele na Steam, já coloquei na minha lista de desejos sem nem saber direito do que se tratava. Fiquei encantada com o visual e afirmo com toda a certeza do mundo que valeu cada centavo investido. Com um design minimalista e toques delicados de aquarela, Gris foi umas das experiências mais intensas que tive com qualquer jogo nos últimos tempos e assim que finalizei tive que vir correndo aqui contar.
É difícil falar sobre um jogo quando a experiência com ele é tão pessoal e cada um é livre pra ter a própria interpretação do que vê, mas ainda posso afirmar que apesar de ser divertido e necessário usar a lógica para sair de alguns pontos particularmente difíceis, é impossível não lidar com um misto de emoções durante a jornada de Gris, principalmente quando entramos no tema da perda, do luto e da superação.
Gris é uma garota que, aparentemente, sofreu uma perda trágica e agora não está sabendo lidar com essa terrível situação. Ela está quebrada em milhões de pedaços, não tem mais forças, não tem mais voz, está perdida e se encontra num vazio total, sem vida e sem cor. Sendo assim, Gris vai abordar o luto e seus cinco estágios de uma forma tão sutil quanto sublime, por isso, se forem embarcar nessa (o que recomendo muito), preparem os lencinhos.
O cenário em si representa a própria mente e os sentimentos de Gris, e a medida que ela avança, vai mudando de cor, toma forma mas se quebra novamente, se afunda num abismo escuro e sombrio cada vez mais fundo, vira de cabeça pra baixo, mas sempre existe aquela luz, aquela estrela que está escondida em algum lugar que vai dar a ela forças e abrir o caminho, basta que ela se esforce pra encontrá-la e, assim, poder escapar dessa escuridão que está literalmente a engolindo. E enquanto Gris enfrenta alguns desafios, ela vai se recompondo enquanto adquire ou recupera habilidades que haviam sido perdidas nesse processo. O mais incrível é que às vezes ela precisa usar ou enfrentar exatamente aquilo que a assusta ou a persegue para conseguir superar um determinado desafio e conseguir avançar.
Sobre as mudanças de cores, é bem legal acompanhar os estágios pelos quais Gris está passando. O cenário começa cinza, que representa a negação, o vazio que ela sente pela perda sofrida. Logo em seguida muda para vermelho, a raiva, que lembra um deserto, árido e cheio de tempestades de areia que a empurram pra longe e tentam impedir que ela siga em frente. Nessa parte ela adquire uma habilidade nova que vai ajudá-la a enfrentar esse turbilhão de sentimentos sem se deixar ser levada pelo vendaval, e a cada nova fase, as cores associadas a sentimentos vão mudando e novas conquistas e habilidades vão sendo desbloqueadas.
Ela inclusive descobre a depressão, que é perfeitamente ilustrada por um oceano escuro, desconhecido e profundo onde ela mergulha. E cada vez mais que ela adentra a escuridão, parece que será cada vez mais difícil dela sair, mas ela percebe que tentar sozinha é muito difícil, e que sem ajuda e sem ter uma luz pra guiá-la, escapar dessa é impossível.
O intuito do jogo não é fazer com que a protagonista passe por perigos a ponto dela morrer ou coisa do tipo, mesmo que ela caia da maior altura que existe ou se enfie no buraco mais fundo ever. Não há nenhum fator aqui que faça com que Gris perca a vida ou fique presa sem ter como escapar, mesmo que a gente dê mil voltas, sempre vai ter uma saída, basta ter atenção pra resolver o quebra-cabeças. Talvez o ponto que não agrade tanto seja o fato de não haver muitos caminhos a serem explorados e o jogo ser bastante linear, ou seja, você vai pra frente, pra trás, pra cima ou pra baixo, o lugar onde se deve chegar sempre vai ser o mesmo, mas ainda assim, a arte faz com que todos os sentimentos dela sejam bastante evidentes e a jornada seja incrível.
Não dá pra deixar de falar da trilha sonora desse jogo. Sem ela eu tenho certeza que a experiência e a imersão não seriam as mesmas. As músicas se adaptam linda e perfeitamente ao cenário e vão se transformando conforme o progresso, e quando Gris finalmente recupera a voz e consegue cantar, minha gente, é difícil controlar as emoções...
Eu finalizei esse jogo emocionada, cheia de lágrimas nos olhos, tanto pela arte que passei contemplando durante essa jornada quanto pela forma sensível de superação de todas essas adversidades. E talvez essa experiência ainda seja mais intensa caso o jogador já tenha passado por algo do tipo. Em diversos momentos eu enxerguei a mim mesma e acredito que esse tenha sido o motivo de ter mexido tanto comigo.
Gris é uma obra de arte, a experiência é única, e a sensação que vai aflorar aqui vai fazer desse jogo algo simplesmente inesquecível.
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