Maternidades no Plural - Várias Autoras

14 de outubro de 2021

Título:
Maternidades no Plural: Retratos de diferentes formas de maternar
Autora: Annie Baracat, Deh Bastos, Glaucia Batista, Ligia Moreiras, Marcela Tiboni, Mariana Camardelli
Editora: Fontanar
Gênero: Não Ficção/Maternidade
Ano: 2021
Páginas: 236
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Não existe jeito certo de ser mãe: maternar é um amplo leque de possibilidades.
Annie Baracat, por exemplo, enfrentou resistência até de amigos quando adotou uma criança e se tornou mãe solo por opção. Já Ligia Moreiras nunca sonhou em ser mãe, mas aprendeu a percorrer o caminho da maternidade sozinha e hoje ajuda outras mulheres a fazerem o mesmo. Junto com seu primeiro filho, Deh Bastos nasceu como mãe e renasceu como mulher preta. Glaucia Batista não imaginava que teria que se adaptar à maternidade atípica, mas passou por esse processo duas vezes. Depois de abandonar o projeto hollywoodiano de família heteronormativa, Marcela Tiboni pôde vivenciar a dupla maternidade. Mariana Camardelli, por sua vez, aprendeu na prática que é possível maternar (e amar) filhos que não são seus.
Aqui estão algumas das muitas maneiras possíveis de cuidar e de ser mãe em um mundo cada vez mais diverso e aberto às diferenças.

Resenha: Como mãe, acredito que eu tenha um tico de propriedade pra falar sobre o que é a maternidade real e o quanto isso pesa na vida da mulher. Quem acompanha o blog já deve ter visto várias postagens onde faço desabafos sobre minhas dificuldades e sobre meu esgotamento físico e mental por ser mãe de quatro filhos e dona de casa em tempo integral. Não tenho com quem conversar sobre (talvez por isso use o blog pra escrever o que me deixa angustiada e isso acaba sendo de grande ajuda), não tenho rede de apoio, então tudo acaba sendo mais difícil do que eu acredito que deveria ser. Sempre que possível, procuro ler relatos de outras mães sobre suas experiências, e assim consigo ver que essas dificuldades não são só minhas, e foi por isso que resolvi ler esse livro.

Maternidades no Plural é um compilado de relatos sobre a experiências das autoras com a maternidade. Experiências estas que expõe os desafios de ser mãe, cada uma com a própria realidade, mostrando que não se tem e cria filhos somente dentro do conceito de "família tradicional". E ler esses relatos, vários deles contendo estatísticas de vários estudos sobre o tema, foi como ter uma conversa com as autoras, onde elas contam, cada uma a sua maneira, como elas vivem a maternidade, ao mesmo tempo que lidam com a sociedade atual, que não só romantiza a maternidade, como também não abre mão dos seus eternos julgamentos.

São relatos intensos e comoventes onde é impossível não se identificar com pelo menos um deles. Relatos que abordam as burocracias que parecem não ter fim e o preconceito dos outros quando duas mulheres casadas decidem ser mães; a conciliação da carreira com a maternidade solo e as conturbações da guarda compartilhada; os anseios, os desafios e os eternos aprendizados da maternidade atípica, por se ter um filho que está no espectro autista; a experiência de entrar num relacionamento onde o parceiro já tem filhos e a mulher além de passar a ter a posição de madrasta, aprende a amar incondicionalmente os filhos que não são seus mostrando que nem sempre a madrasta é aquela bruxa má dos desenhos infantis; a enorme mudança na vida de uma mulher que, solteira, decide adotar uma criança por ter o sonho de ser mãe mas não querer passar por um relacionamento e nem pela gravidez, mostrando a realidade da fila de adoção, das burocracias e dos anseios de acolher e criar uma criança que foi abandonada e já carrega esse trauma desde muito pequena; e, pra finalizar, a mulher que passou a vida inteira sofrendo preconceito por causa do racismo estrutural presente na sociedade, e que, ao se tornar mãe, viu a importância de lutar contra esse sistema e ensinar as crianças sobre o assunto, o que é um passo enorme para levantar inúmeros questionamentos e começar a fazer alguma mudança.
"Foi muito cedo que entendemos que parte da sociedade valida o abandono paterno diante da estatística de que mais de 6 milhões de cidadãos brasileiros não têm o nome do pai na certidão, mas recrimina um casal de mulheres por escolher ter filhos sem a presença masculina. Dois pesos, duas medidas, e nossa jornada só estaria começando." (Marcela Tiboni)
"Não há paz quando há sobrecarga materna. Pergunte para uma mãe solo cansada, exausta e invisibilizada se ela se sente em paz." (Ligia Moreiras)
"Misoginia é o ódio à mulher, tem a ver com sentimentos de repulsa e de aversão. Na nossa cultura, ela se manifesta de algumas formas: objetificação da mulher, comportamentos agressivos, depreciação, violência e feminicídio.
No caso das famílias recompostas, está ligada ao fato de admirarmos um homem que cria um filho de outro (padrasto), mas rechaçamos uma mulher que cria um filho de outra (madrasta). O primeiro é herói, merece crédito e honra. A segunda é apenas uma mulher competindo e tentando roubar o lugar da mãe. Essa narrativa ajuda a sustentar o sistema patriarcal, extremamente machista, sexista e desigual." (Mariana Camardelli)
Enfim, cada mãe falando da sua realidade na maternidade, e por mais que todos os casos sejam diferentes, com histórias de vida diferentes e experiências diferentes, todas têm em comum a jornada do aprendizado, o amor pelos filhos e a vontade de lutar de forma incansável pra fazer com que essas crianças sejam felizes. É necessário que a sociedade entenda que nenhuma mãe é igual a outra, que cada mãe tem sua própria realidade, e todas elas, juntamente com seus filhos, devem ser respeitadas e acolhidas em vez de serem inseridas em determinados estereótipos como se isso fosse legal e aceitável, como se a opinião alheia correspondesse à realidade quando a gente sabe que não é assim que funciona, principalmente quando se trata de uma mãe que se encaixa num desses modelos dos relatos.

Penso que esse é o tipo de livro com informações mais do que relevantes para se levar e se praticar na vida, que deveria ser lido por todos a fim de compreenderem não só o que é a maternidade real em todos os seus aspectos, e como ser mãe muda a vida da mulher pra sempre, mas também a importância do feminismo e desse tipo de ativismo para todas essas mulheres, que todo dia enfrentam essa sociedade que ainda não abandonou o patriarcado e nem os estereótipos construídos há séculos atrás.

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