Autora: A.J. Betts
Editora: Novo Conceito
Gênero: Sick-lit/YA
Ano: 2015
Páginas: 288
Nota: ★★★★☆
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Sinopse: A última pessoa que Zac esperava encontrar em seu quarto de hospital era uma garota como Mia - bonita, irritante, mal-humorada e com um gosto musical duvidoso.
No mundo real, ele nunca poderia ser amigo de uma pessoa como ela.
Mas no hospital as regras são diferentes. Uma batida na parede do seu quarto se transforma em uma amizade surpreendente.
Será que Mia precisa de Zac? Será que Zac precisa de Mia? Será que eles precisam tanto um do outro?
Contada sob a perspectiva de ambos, Zac e Mia é a história tocante de dois adolescentes comuns em circunstâncias extraordinárias.
Resenha: Zac & Mia é um sick-lit voltado ao público jovem adulto escrito pela autora A.J. Betts e publicado no Brasil pela Editora Novo Conceito.
Zac Meier é um jovem de dezessete anos e tem leucemia. Ele já luta contra a doença há vários meses e a rotina do hospital se tornou algo comum pra ele. Dessa vez em que foi internado, Zac foi submetido a um transplante de medula e, enquanto se recuperava, ficava de olho em seu tablet procurando informações sobre estatísticas, expectativa de vida e afins para pessoas transplantadas. Soa melancólico, mas por ser uma pessoa extremamente lógica, era com isso que Zac passava o tempo e lidava com sua doença. Ele quer sair do hospital e quer lutar por sua vida, que voltar pra casa logo, mas por enquanto não tem outra alternativa a não ser fazer suas pesquisas. Ele então compartilha sua história de superação com seus amigos e familiares no Facebook.
Sua estadia no hospital parecia ser como todas as outras, mas uma nova paciente é sua vizinha do quarto ao lado. Mia. Uma garota bonita, mas furiosa e revoltada por não se conformar em ter que ficar presa ali enquanto a vida passa. Ela acha que está perdendo tudo o que poderia aproveitar. Mia vivia discutindo e brigando com a mãe e fazendo de tudo para esconder a situação dos amigos, fazendo parecer que tudo estava bem com ela quando na verdade não estava. Mia quer fugir da realidade em que se encontra a todo custo.
Zac decide então se aproximar... batidas na parede, um pedido de amizade do Facebook, conversas durante a madrugada... Ele encontra alí uma missão: ajudá-la a passar por essa fase tão difícil.
Se você pensa "lá vem mais um livro que vai me fazer chorar litros sobre um casal que está morrendo de câncer", pare - agora -. Se compararmos com outros livros do gênero, a única coisa em comum é a doença e nada mais. O comportamento dos personagens e o rumo que eles dão à história é simplesmente incrível e único. Zac e Mia possuem perspectivas e vibrações diferentes, seja na forma de encarar a doença, na forma de verem as coisas ou de agir diante do que está a frente.
O livro é narrado em primeira pessoa e isso permite ao leitor uma proximidade maior com os personagens, com seus medos, anseios e seus dilemas. Dividido em três partes, os capítulos se intercalam entre os protagonistas, assim podemos saber dos pontos de vista de cada um deles para cada situação que eles enfrentam. Ainda que o tema seja delicado, a leitura é leve e flui muito bem.
Foi adorável acompanhar os encontros desajeitados de Zac e Mia e como as diferenças que eles possuem foram as responsáveis por fazer surgir uma grande amizade entre os dois. É comum que em história do tipo surja um romance que vem a partir da amizade, mas neste livro as coisas permanecem da mesma forma, a amizade ganha força e ultrapassa todas as barreiras.
Eu gostei da construção dos personagens, não apenas por eles serem o total oposto um do outro, mas porque eles estão no mesmo barco, lutando pela vida, ainda que exista um preço a pagar...
A escrita da autora também é ótima pois ela construiu diálogos espirituosos dentro de um drama que envolve e desperta a esperança em qualquer um.
Zac é um expert no que diz respeito ao tratamento contra o câncer. São muitos meses indo e vindo do hospital e ele acabou adquirindo uma inevitável experiência no assunto. Além de tolerante e muito amável, ele é muito lógico, tem facilidade com números e uma memória incrível. Todas as pesquisas que ele faz sobre o câncer, taxas de sobrevivência e afins lhe são úteis e servem de argumento - e esperança -. Sua família e todos que estão a sua voltam sabem de sua doença e não hesitam em apoiá-lo, e sua situação acaba contrastando com a de Mia, pois ela é curta e grossa, egoísta, irresponsável e não é má somente com os outros que estão a sua volta, mas com ela própria. Ela não aceita muito bem sua condição e acha que só sua mãe deve saber da doença, insiste que sua vida não deveria mudar, além de parecer não se dar ao respeito e quer agir com agressividade, talvez para mascarar sua fragilidade. Esse comportamento dela é irritante mas, até certo ponto, compreensível visto que ela precisa lidar com um câncer terrível que, querendo ou não, pode despertar o pior que há nela.
E por mais que Mia seja tão intragável, Zac decide salvá-la. E o melhor é que ele não a salva do câncer propriamente dito, mas ele a salva de si mesma... As decisões que ele toma são sempre impulsionadas pela lógica, mas quando se trata de Mia, ele age com o coração. Ela tenta afastá-lo mas é inútil pois não havia pessoa que pudesse entender melhor o que ela estava passando do que ele. E Zac queria estar lá, pra ela e por ela. É muito bacana saber que uma vida tão amarga pode se tornar doce a partir de pequenas atitudes e incentivos vindos de quem não se deixa intimidar...
Um ponto que acho válido destacar é o assunto do câncer e a forma como ele é abordado pelas pessoas no Facebook, e um trecho em especial em que Mia pergunta o que acontece com perfis de pessoas mortas. É algo válido para se refletir acerca da perda, da morte e do luto na era digital em que vivemos, onde tudo é movido via redes sociais.
A capa do livro é muito bacana e chamativa e o trabalho gráfico do livro em geral está muito bem feito. A página de cada início de capítulo tem as pétalas da capa e a mesma fonte descolada. As páginas são amarelas e o tamanho da fonte é agradável. Percebi alguns erros na revisão do livro, mas nada que interferisse na leitura a ponto de incomodar.
O livro é ótimo, sem dúvidas. A história mostra realidades bem parecidas, porém vistas sob olhares diferentes. Zac é lógico e realista, e Mia se deixa levar pelo momento, pela emoção da vez, geralmente a raiva, e isso sempre causa conflitos. Como dois adolescentes que são o oposto um do outro podem conviver numa boa?
Pra quem quer ler sobre uma história muito bonita e comovente sobre sofrimento e superação, mas principalmente sobre amizade verdadeira de dois jovens que encontram um ao outro sob as piores circunstâncias, recomendo!