Título: O Espadachim de Carvão
Autor: Affonso Solano
Editora: Fantasy - Casa da Palavra
Gênero: Fantasia
Ano: 2013
Páginas: 256
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Filho de um dos quatro deuses de Kurgala, Adapak vive com o pai em sua ilha sagrada, afastada e adorada pelas diferentes espécies do mundo. Lá, o jovem de pele absolutamente negra e olhos brancos cresceu com todo o conhecimento divino a seu dispor, mas consciente de que nunca poderia deixar sua morada. Ao completar dezenove anos, no entanto, isso muda. Testemunhando a ilha ser invadida por um misterioso grupo de assassinos, Adapak se vê forçado a fugir pela vida e se expor aos olhos do mundo pela primeira vez, aplicando seus conhecimentos e uma exótica técnica de combate na busca pela identidade daqueles que desejam a morte dos Deuses de Kurgala.
Resenha: Adapak é um rapaz (ou seria uma criatura?) jovem, com a pele da cor do carvão, dotado de uma ingenuidade, bondade e inocência fora do comum e uma incrível habilidade com espadas. Ele vive em Kurgala, um mundo fantástico, cuja cultura é própria, cheio de seres peculiares, estranhos, curiosos e bizarros.
Adapak foi criado na Casa de Enki'Nar, seu pai e um dos deuses de Kurgala, mais conhecidos como os "Quatro Que São Um", e lá ele aprendeu tudo o que precisava aprender, porém, seu conhecimento não faz com que ele se sinta pronto para os perigos que iria enfrentar...
Acreditar em qualquer coisa que as pessoas dizem é fácil para Adapak, porém, o difícil é entender o motivo de assassinos passarem a persegui-lo. Após uma luta com quem o caçava vorazmente, ele passa a fugir para salvar sua vida e vai em busca de respostas para o que anda acontecendo e percebe que na maioria das vezes o que se encontra nos livros é apenas fantasia, e isso é bem diferente de sua realidade.
Enfim, O Espadachim de Carvão tem uma narrativa muito boa, porém, devido aos nomes esquisitos e com pronúncia difícil dos personagens, dos lugares, das criaturas, e etc, tive uma certa dificuldade para deixar a leitura fluir. Eu realmente não curto histórias com esses nomes "difíceis" (gosto muito de Senhor dos Anéis, mas morro de antipatia dos nomes de todos e foi a mesma sensação que tive aqui). Entendo que é um mundo novo e achei a ideia do autor brilhante em ter criado tudo aquilo, mas eu particularmente, por mais que goste de fantasia, achei tudo muito complexo.
A narrativa é intercalada com acontecimentos atuais e outros do passado, e eu não tive uma boa experiência com a forma como foi narrado porque muitas coisas aconteciam e a explicação só aparecia muito depois, e muitas vezes senti que eu estava deixando algo passar, ou que estava lendo um volume posterior a um primeiro em que perdi toda a introdução pois tudo é jogado como se tivéssemos a obrigação de saber do que se trata. Depois que li, tudo fez sentido, mas enquanto lia, me senti perdida.
Um dos pontos da narrativa que contou como positivo pra mim, é que enquanto as coisas acontecem e vão sendo descritas, tanto cenários quanto personagens e as descrições das situações, Adapak sempre pára pra pensar em algo, e isso me fez lembrar jogos estilo Resident Evil ou Final Fantasy, em que durante a jornada/missão paramos pra esperar, ou pensar se aquilo é certo ou errado e qual o próximo passo que devemos dar. Como Adapak não conhece praticamente nada, às vezes me colocava em sua pele porque também me sentia no escuro junto com ele, precisando de mais informações pra prosseguir e avançar na história.
Fiquei extremamente incomodada com descrições de animais "exóticos" defecando em alguns momentos enquanto Adapak fica olhando vidrado, o que soou desnecessário e nojento pra mim, e de todos os personagens só usarem a palavra "bosta" pra xingarem a todo instante. Acho que eu teria aceitado melhor se fosse uma característica singular, mas não.
A trama é interessante, a história dos Quatro Que São Um e o motivo de eles serem ausentes me fizeram lembrar muito a história da própria criação divina, pois esses deuses criaram o mundo mas ao verem que suas criaturas começaram a avacalhar com tudo, desistiram e recuaram, e um tempo depois, aparece Adapak e é perseguido quase como o próprio Jesus Cristo (maluca, eu? é bem provável, mas associei isso à história desse livro e fiquei bem envolvida enquanto tudo era explicado). Os diálogos são interessantes e sempre muito inteligentes.
A diagramação do livro é a coisa mais perfeita! A revisão está impecável, as folhas amareladas e a fonte tem um tamanho ótimo, cada início de capítulo tem uma ilustração curiosa e muito bacana. A capa com toda sua arte é maravilhosa mas juro que senti falta de um glossário por simplesmente não conseguir imaginar algumas das criaturas e suas características.
Fiquei orgulhosa pelo autor e da sua capacidade incrível por ter criado tudo isso, principalmente por ser nacional, o que prova que mundos e criaturas fantásticas de qualidade não estão presentes somente em histórias famosas da literatura estrangeira. Muitos autores aqui também são muito capazes e Affonso provou isso ao criar Kurgala, e confesso que tenho que parabenizá-lo por essa genialidade.
Como um todo, é uma história fascinante e fantástica, digna de Tolkien, mas senti que o livro foi destinado ao público masculino. Acho que os meninos, sim, vão aproveitar melhor e se interessarem mais por esse tipo de leitura. É uma boa e válida leitura, mas que não me conquistou por completo por falta de identificação.