Autora: Aprilynne Pike
Editora: Bertrand Brasil
Gênero: Jovem adulto/Sobrenatural
Ano: 2015
Páginas: 264
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Kimberlee Schaffer talvez fosse linda de morrer... só que ela acabou morrendo mesmo, há mais de um ano. Agora, precisa da ajuda de Jeff para resolver alguns assuntos pendentes. E não vai aceitar um "não" como resposta. Quando estava viva, Kimberlee não era apenas uma menina maldosa; era, também, cleptomaníaca. Portanto, se Jeff não quiser ser assombrado pelo fantasma dela até o dia de sua formatura, terá de ajudá-la a devolver tudo que roubou. Rapidamente, porém, ele descobre que é muito mais fácil roubar do que devolver. Pagar pelos erros cometidos adquire um significado completamente novo nesta versão moderna e inteligente do clássico Pimpinela Escarlate, criada por Aprilynne Pike.
Resenha: Jeff não estava nada feliz com a escola nova, estava odiando tudo alí, mas em seu primeiro dia de aula ele acaba vendo uma garota deitada no meio do corredor, despreocupada com tudo e mascando um chiclete. Preocupado com o bem estar dela, Jeff oferece ajuda mas o que viria a seguir era algo que ele jamais imaginaria... Kimberlee Schaffer ficou chocada por Jeff tê-la visto, incrédula, pois, até então, ninguém mais podia. Ela havia se afogado acidentalmente há um ano e meio e morreu, e desde então se manteve presa no mundo dos vivos, um fantasma, completamente solitária, acreditando que não havia atravessado por ter pendências a serem resolvidas. Jeff se recusou a acreditar no que estava acontecendo, por mais que Kimberlee tivesse provado. Pra ele tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto da qual ele estava ficando de saco cheio. Mas como Jeff era o único que podia vê-la e ouví-la, para seu tormento, Kimberlee passou a seguí-lo em todos os cantos sem a menor intenção de deixá-lo pois ele era o único que podia ajudá-la com seus assuntos pendentes. Quando era viva, além de maldosa, Kimberlee havia roubado várias e várias coisas dos estudantes de Whitestone e, acreditando que este era o motivo que a mantenve presa, afinal, nos livros e filmes quando um fantasma não vai embora é porque tem assuntos pendentes, sua ideia era convencer Jeff a devolver as coisas aos seus verdadeiros donos, e, obviamente, ela não iria aceitar um "não" como resposta.
Mas quando as sacolas começam a aparecer "misteriosamente" para que fossem entregues aos donos, Jeff percebe que as coisas não poderiam ser tão simples e fáceis quanto ele pensou...
O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Jeff, e isso já foi um ponto diferente e bastante positivo pois geralmente esperamos que num Young Adult a versão dos fatos seja dado pelo ponto de vista feminino.
A escrita é muito leve e divertida e flui muito bem, cheia de sarcasmo nos diálogos enquanto acompanhamos Jeff em sua rotina adolescente, sua adaptação numa cidade nova, seu interesse amoroso por Serafina, a "Menina Linda", que avistou na escola e logo lhe chamou atenção, e tudo isso enquanto ele é obrigado a lidar com a esnobe garota fantasma que enche seu saco.
As situações em que Jeff e Kimberlee se encontram são bem críveis e realistas, exceto pelo relacionamento entre Jeff e seus pais. Achei que, talvez por eles serem jovens, eles eram despreocupados demais com os assuntos do filho revelando ideais que não condizem muito com a realidade. Sei que devem existir pais e mães malucos e que acham tudo normal, mas não consigo ver isso com muita naturalidade. Eu até cheguei a comparar algumas características dos pais de Jeff com a mãe da personagem Regina George do filme Garotas Malvadas.
Já o sobrenatural não foi algo que eu tenha considerado algo como um fator de destaque visto que ao que parece, a abordagem tende pro caminho da crença no desconhecido e do questionamento da fé.
Jeff é um personagem ótimo pois é exemplo de bom filho, bom aluno mas tem o pé no chão e não se deixa influenciar tão facilmente por nada nem ninguém. Ele faz o estilo meio nerd mas não é bobo nem se deixa fazer de bobo, ele só está tentando se adaptar ao novo estilo de vida que tem após ter vivido dificuldades e agora ser rico, pois seu pai conseguiu fazer um grande negócio na carreira e acertou uma bolada. Jeff sempre dá sua opinião sincera, e, às vezes, de forma debochada, tornando-o um personagem bastante agradável. Ele é engraçado e descontraído e sempre tenta enxergar o que há de melhor nos outros, por mais que não pareça existir nada de bom. Ele percebe que precisa ajudar Kimberlee e acaba gostando de ajudar as pessoas que foram roubadas por ela.
Kimberlee é o completo oposto. Ela faz o estilo patricinha, a típica menina rica e bonita, cheia de não me toques e sua arrogância passa dos limites, tanto que por ser insuportável em vida, ninguém sentiu sua falta quando morreu. Mas mesmo tendo morrido ela não aprendeu com seus erros e não mudou em nada seu jeito de ser, continuava se desfazendo dos outros e se comportando como uma eterna bitch. Ser cleptomaníaca era algo que a fazia infeliz, ela reconhecia que era sua fraqueza, mas Kim precisava manter a pose a qualquer custo. Ela tentou parar de roubar mas não conseguiu, e isso resultou em uma caverna cheia de coisas roubadas que jamais poderiam ser devolvidas depois de ela ter morrido, pelo menos não sem a ajuda de Jeff. E pra isso precisou engolir o próprio orgulho. Ela é bastante irritante e vive de ironias e sarcasmo, mas não posso negar que com o desenrolar da história sua aproximação maior com Jeff faz com que ela acabe tendo seus momentos de redenção aprendendo que ser controladora, manipuladora e mentirosa nunca a levaria a lugar algum na vida, e muito menos na morte...
O enredo fica ainda mais legal quando Jeff começa sua tarefa de devolver as coisas. Ele ganha aliados que não esperava e, claro, conquista a inimizade de alguns, mas em meio a essa missão ele descobre um sentimento bem forte. Uma coisa que me agradou bastante é que o romance não acontece entre os protagonistas, o que faz com que a história fuja completamente do clichê. Há sim momentos do tipo, mas não são reservados a Jeff e Kim, e é aí que entra Serafina. O problema é que a garota começa a demonstrar sinais de que não está sendo muito honesta, e Jeff chega a ficar em conflito com seus sentimentos acreditando que as garotas não são confiáveis.
A capa ilustrada é linda e bastante significativa pois o reflexo dos óculos escuros de Kimberlee mostram um local bastante importante da história. Ela é fosca com aplicação de verniz nas lentes do óculos e no título.
As páginas são brancas, a fonte tem um tamanho agradável e não percebi erros na revisão.
Vida Após o Roubo foi uma das leituras mais divertidas e com umas das melhores mensagens passadas que tive o prazer de ler. O enredo trata de um tema delicado com leveza e espirituosidade, os personagens são muito bem construídos e memoráveis e, apesar de um pouco previsível, a história reserva muitas surpresas ao leitor.
A autora consegue abordar o dilema da adolescência ao que se refere a amor, amizade, a descoberta da sexualidade, assim como o bullying, o abuso de drogas e a dificuldade da adaptação a uma vida totalmente diferente do costume, mas o principal é a ideia de que pra todas as nossas escolhas tomadas, há consequências que não afetam somente o indivíduo principal, mas também as pessoas que o cerca. A mensagem fica nas entrelinhas e é perfeita pois mostra que por mais que possamos vir a cometer erros, sempre temos escolhas e sempre podemos voltar atrás para recomeçarmos e reparamos o que fizemos de mal pra alguém, de forma intencional ou não, a fim de sermos pessoas melhores.