Autor: Bill Konigsberg
Editora: Arqueiro
Gênero: Romance/Jovem adulto
Ano: 2016
Páginas: 256
Nota: ★★★★★
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Sinopse:Rafe saiu do armário aos 13 anos e nunca sofreu bullying. Mas está cansado de ser rotulado como o garoto gay, o porta-voz de uma causa. Por isso ele decide entrar numa escola só para meninos em outro estado e manter sua orientação sexual em segredo: não com o objetivo de voltar para o armário e sim para nascer de novo, como uma folha em branco. O plano funciona no início, e ele chega até a fazer parte do grupo dos atletas e do time de futebol. Mas as coisas se complicam quando ele percebe que está se apaixonando por um de seus novos amigos héteros.
Resenha: A palavra aqui é "tolerância". A história de Rafael, ou Rafe, como o garoto gosta de ser chamado, é um prato cheio de lições sobre ética, aceitação, rotulagem e tolerância. O jovem de dezessete anos está prestes a se mudar para uma escola nova só para meninos, onde ninguém sabe que ele é gay. Ele está cansado das pessoas verem somente isso nele, sua sexualidade. A mudança para Natick traz novos ares, novos amigos - que não sabem a preferência de Rafe - e um problema: ele acaba se apaixonando por um dos seus novos colegas héteros.
Atualmente, os livros do gênero LGBT têm retratado de uma forma leve alguns temas mais sérios. Dessa forma, é possível embarcar em histórias divertidas que trazem um quê de lição e reflexão. O protagonista de Apenas um Garoto, Rafe, é bastante peculiar: ele é gay mas não quer ser mais visto assim. Estranho, não é? A percepção que muitos podem ter, logo de cara, é de que o garoto não consegue se aceitar como é, mas não chega a ser isso. Conforme a leitura avança, fica evidente o incômodo parte da rotulação que ele sofre das pessoas. Geralmente, os gays são vistos como melhores amigos das mulheres, entendedores de moda, bons ouvidos para confidências sobre namorados e é isso. Mas e o resto? O personagem criado por Bill, que também é homossexual, quer apenas ser visto como um adolescente qualquer e isso não pode ser considerado um defeito. Às vezes, tudo que uma pessoa quer é se sentir parte de uma tribo, e ele desejava isso.
Rafe pode ser entendido de várias formas. Ele é um pouco retraído, e tem apenas uma amiga. A mudança para a nova escola trouxe a ele novos colegas e com isso um possível amor. Esse bromance, como o próprio autor descreve, é um romance que envolve "brothers". Um dos amigos novos da Natick começa a ter uma proximidade maior com Rafe e isso evolui para uma relação mais íntima. Por mais que esse tipo de amizade seja um tanto incomum aos olhos de muitos leitores, a história do envolvimento dos dois é muito agradável. Os diálogos entre eles são divertidos e a forma que o desenrolar das coisas se dá não é forçado, mas crível e muito fofo. Aos gays, esse cenário de se apaixonar pelo amigo hétero é mais do que comum e Bill traduziu em páginas uma situação da vida real.
Os personagens secundários foram essenciais para dar mais humor ao livro. A mãe de Rafe é irreverente e muito divertida, enquanto seu pai é o tipo de homem que faria qualquer um morrer de vergonha pelos grandes momentos nonsense que causa, como querer gravar o filho em qualquer momento, por mais constrangedor que fosse. Toby e Albie, os amigos de Rafe na nova escola, são divertidos com personalidades bem distintas, e foram de grande ajuda para Rafael nos seus dilemas pessoais. Um ponto a mais para Toby, que também é gay.
O mais bacana no romance de Bill é o enredo que parte totalmente do contrário ao usual: um gay que não quer ser visto assim. Pode parecer estranho, mas os detalhes colocados no livro vão montando um entendimento sobre quem Rafe é de verdade. O garoto não tem preconceito, mas sim uma vontade de ser apenas ele, sem a fachada de "gay" piscando em letras néon. Várias situações colocadas na história podem ser identificadas pelos leitores homossexuais como "puxa, é isso mesmo que eu senti", e para quem tem um amigo ou conhece alguém homo, vale a pena mergulhar de cabeça na história de Rafe. Com um final muito coerente, Apenas um Garoto exemplifica de uma forma muito clara que nós nunca podemos fugir de quem realmente somos.