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A Serpente & As Asas Feitas de Noite - Carissa Broadbent

27 de agosto de 2024

Título: A Serpente & As Asas Feitas de Noite - Nascidos da Noite #1 / As Coroas de Nyaxia #1
Autora: Carissa Broadbent
Editora: Suma
Gênero: Fantasia/Romance
Ano: 2024
Páginas: 448
Nota:★★★★☆
Sinopse: Oraya é a filha adotiva do rei dos vampiros Nascidos da Noite. Humana em meio a predadores naturais, ela passou a vida lutando em um mundo que desafia sua existência. A única chance que tem de sobreviver é vencendo o Kejari, um lendário torneio promovido pela própria deusa da morte. Mas derrotar seus adversários, vampiros das três casas do reino, não será um desafio simples e, para resistir à brutalidade das batalhas, Oraya será obrigada a se aliar a um rival misterioso.
Raihn é um vampiro atroz, inimigo do rei e o oponente mais poderoso que Oraya encontra. Ainda assim, o que mais a assusta é a inesperada afeição que sente por ele. Quando a Casa da Noite é ameaçada, Raihn parece ser o único capaz de entender e ajudá-la, mas, em um mundo em que nada é mais mortal que o amor, essa relação pode colocar tudo a perder.

Resenha: A Serpente & As Asas Feitas de Noite é o primeiro volume da duologia Nascidos da Noite, que faz parte da série Coroas de Nyaxia, escrito pela autora Carissa Broadbent e publicado no Brasil pela Suma. Serão três duologias e cada uma delas vai abordar uma três das Casas de Obitraes: Casa da Noite, Casa de Sangue e Casa das Sombras.

Antes de iniciar a resenha, já adianto que, pra um melhor entendimento da trama, vou contextualizar como funciona esse universo porque a sinopse não dá maiores detalhes e não quero apontar nada que fique vago demais, então, mesmo que eu tente resumir ao máximo, a parte que vem antes da opinião pode ficar um pouco longa.

Mapa de Obitraes

Num mundo dominado e governado por vampiros, os humanos que restaram passam a vida na luta pela sobrevivência, vivendo em pequenos assentamentos, e conformados que, vez ou outra, precisam fornecer seus sangues para os vampiros quando necessário. A Casa da Noite é dividida em duas linhagens rivais de Nascidos da Noite, os Hiaj e os Rishan, e o que os diferencia fisicamente é a característica das suas asas. Os Hiaj possuem enormes asas escuras como de morcegos, e os Rishan possuem asas cobertas por penas. Vincent é o rei Hiaj da Casa da Noite, muito poderoso e odiado pelos Rishan por tê-los derrotado e assumido o trono.
Nesse universo, não é tão simples transformar um humano em vampiro e o índice de morte numa tentativa é bem grande, logo os humanos acabam sendo "preservados" nesses assentamentos para não serem extintos, ou essa era a ideia...

Num passado não tão distante, Vincent resgatou uma garotinha na cidade de Salinae, sozinha e presa em meio a escombros, que estava prestes a ser atacada por outros vampiros. Era uma criança humana chamada Oraya e, na época, ela tinha apenas oito anos de idade e que, carinhosamente, passou a ser chamada por ele de "serpentezinha" quando ele decidiu adotá-la.
Agora, com vinte e três anos, Oraya continua sendo vista como uma presa fácil por viver em meio a predadores tão vorazes, mas Vincent conhece o meio em que vive e, durante todo esse tempo, a treinou muito bem para se proteger e também a se preparar para o famigerado Kejari.

A cada 100 anos acontece o Kejari no Palácio da Lua, um torneio lendário organizado pela Casa da Noite e os acólitos que servem a deusa Nyaxia, a deusa dos vampiros e da morte. O torneio dura quatro meses, onde cada etapa ocorre numa fase da lua diferente, e nele os vampiros (e quem mais tiver interesse) das três casas de Obitraes podem competir entre si. O vencedor do Kejari terá um desejo - qualquer desejo - realizado pela própria Deusa Nyaxia. Cada casa participa do torneio já com um desejo determinado, pois cada casa tem seus objetivos que precisam ser superados
Oraya e Vincent já tinham planejado o que fariam quando ela vencesse o Kejari: ela desejaria ter um vínculo Coriatis com o pai, de forma que os dois teriam um poder compartilhado tão grande que seu trono jamais poderia ser ameaçado por outros vampiros que pudessem vir a reinvindicá-lo.

Quando Oraya ingressa no torneio, mesmo desconfiada, ela acaba se aliando a Raihn e Mische, dois vampiros que foram transformados no passado. Raihn é um Rishan, e seu maior desejo é se vingar de Vincent. A aproximação com Oraya não é a mais fácil já que ela é muito esperta e treinou a vida toda para reconhecer o perigo, mas o que nenhum dos dois esperava era ter uma ligação forte o bastante para que alguns planos fossem mudados.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Oraya, e a construção de mundo em si é bastante detalhada mas, apesar da história ter seus pontos interessantes e ter vários elementos que a deixam bastante rica, achei a narrativa bastante arrastada e com detalhes desnecessários, e demorei séculos pra terminar a leitura, porque o que andava acontecendo simplesmente não prendia minha atenção como eu achei que fosse prender. Não sei se ter intercalado a leitura com as milhões de páginas dos livros do George R.R. Martin interferiu na leitura desse aqui, me fazendo ficar com a impressão que a escrita da autora é mais "amadora", mas chegou num momento que achei muitas cenas, descrições e diálogos totalmente descartáveis, e a vontade era de pular algumas páginas pra passar aquilo logo e chegar na parte que realmente interessava.

Outro ponto é que, no início, não há muitas explicações sobre a origem do Kejari e a necessidade de existir esse evento, ou como o treinamento pelo qual Oraya passou fez dela alguém tão letal a ponto de enfrentar vampiros que são muito mais fortes do que ela. Senti falta, nem que fosse através de flashbacks, de trechos desse treinamento para entender melhor como ela chegou onde chegou. Claro que no final do livro a autora traz algumas explicações mas, até lá, o leitor não tem nada de concreto sobre a motivação dos personagens e isso pode acabar gerando uma certa frustração durante a leitura.
Mas vou ser sincera e admitir que o romance não foi só bem construído, como também teve um equilíbrio ótimo entre toda a ação da competição, além de fazer um contraste com o relacionamento entre Oraya e Vincent, que é o que faz com que ela reavalie suas motivações e prefira agir com o coração do que com a razão.

Sobre os personagens, Oraya é uma das personagens mais fodonas que já acompanhei. Embora ela reconheça que seja uma presa em meio a um universo tão hostil, ela não deixa que isso transpareça e sempre se mostra forte e corajosa. Ela tem pensamentos e sentimentos complexos sobre seu lugar neste mundo, e acompanhar sua saga, sua luta e a forma como ela foi se rendendo aos seus sentimentos foi algo admirável.
Raihn é aquele tipo de personagem que arranca suspiros. A forma como ele se revela aos poucos para Oraya, a protege e demonstra que, por ele já ter sido um humano, ele consegue compreendê-la como nenhum outro, já é suficiente para amá-lo.
Vincent é um mistério absoluto. Seu papel como pai e rei às vezes o coloca em conflito em algumas situações que envolvem a filha, mas ele consegue separar as coisas como o verdadeiro lider que ele é. Senti falta de mais explicações sobre ele, ou talvez um capítulo com seu próprio ponto de vista, pra saber o que se passa naquela cabeça.

Enfim, é uma história que superou as expectativas, com personagens cheios de virtudes mas também com suas falhas, com sistemas políticos cheio de intrigas e conflitos de interesses, com competições brutais no melhor estilo dos "Jogos Vorazes", reviravoltas e traições, e com aquela pitada de romance que se constrói aos poucos, mas que envolve o bastante para torcemos por um final feliz.