Título: A Fofa do Terceiro Andar
Autora: Cléo Busatto
Editora: Galera Record
Gênero: Juvenil/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 144
Nota: ★★★☆☆
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Sinopse: A fofa do terceiro andar é a história de Ana, uma menina acima do peso, mas cheia de opinião, que se muda para uma escola nova e começa a sofrer bullying dos colegas - o que a deixa bem irritada, além de frustrada. Quando o ano recomeça, ela muda de turma e conhece um menino que não se importa com padrões de beleza. Francisco não é como os outros garotos que ela já conheceu. Ele enxerga o mundo de forma diferente e começa a ensinar Ana a fazer o mesmo. A focar nos aspectos positivos, a ser gentil com si mesma e, principalmente, a não tentar se encaixar em um molde que não é o seu. Afinal, imagina como seria chato se o mundo fosse visto por todos da mesma forma?
Resenha: Ana é uma adolescente de quatorze anos que sempre foi acima do peso. Quando criança ela não tinha muita noção e nem entendia como maldade os apelidos que recebia, mas o tempo passou e ela começou a enxergar as coisas de outra forma quando os colegas de sua nova escola passaram a praticar bullying contra ela. Descobrir que ser "fofa" nem sempre é algo positivo e todas as implicâncias que ela vinha enfrentando devido a ser gordinha desencadearam uma depressão na garota. Cada vez ela se sentia mais desanimada e sozinha, logo, a ansiedade fazia com que ela comesse mais e mais. Até que Ana, que sempre gostou muito de ler, resolveu que manteria um caderno como diário, um confidente, a fim de colocar pra fora seus medos e anseios, uma forma de terapia que poderia ajudá-la a lidar com o que estava passando. Mas um pequeno incidente na escola envolvendo um lanche, um tombo e muita humilhação virou um enorme constrangimento. Isso fez com que Ana ficasse mais arrasada ainda, mas foi o que fez com que ela mudasse de vida: ela iria se esforçar para acabar com todo aquele peso extra que, na cabeça dela, era o responsável por lhe fazer tão mal, por fazê-la ser uma garota tão melancólica e odiar sua vida e tudo o que tem nela. A mudança que ocorre é física, mas também psicológica pois ela se redescobre como pessoa e se mostra alguém determinada a alcançar objetivos.
Mas ao conhecer Francisco, um garoto diferente de todos aqueles que já conheceu, mesmo que Ana esteja mais confiante em si mesma, ela acaba percebendo que a beleza é algo subjetivo e que a vida é muito mais legal quando estamos em companhia de pessoas que aparecem para somar. A aparência realmente importa ou o que vale é quem somos por dentro?
Por ser escrito em forma de diário, o livro é narrado em primeira pessoa e a ideia é fazer o leitor ter acesso aos pensamentos mais íntimos e profundos da protagonista, acompanhando sua trajetória em busca da felicidade. A escrita é bem fluída, muitas vezes poética, e com uma riqueza sem tamanho no que diz respeito a referências culturais.
Apesar de retratar uma personagem que consegue superar os problemas com muita força de vontade mostrando seu progresso incrível e inspirador, o livro me soou como uma obra de autoajuda em vez de uma leitura ficcional comum devido a forma como foi escrito. A impressão é que as palavras de Ana são lições, um passo-a-passo de como encarar os obstáculos da vida em busca de superá-los.
Ana escreve em seu caderno o que vivencia, o que passa e o que pensa, mas tudo descrito com um teor muito maduro pra idade da personagem. Senti que Ana é uma adolescente com um espírito bem adulto, tanto pela forma como escreve, como pela sua percepção em descrever - e analisar - as pessoas a sua volta, quanto pelos seus gostos musicais e literários. Em vários momentos não senti que eu lia o que uma adolescente escreveu. Eu pelo menos não conheço nenhum adolescente na faixa dos quinze anos que seja fã de Beattles, Rita Lee e afins, mesmo que os pais tenham deixado esses gostos como herança...
Ana é uma personagem que, com certeza, fará com que muitas pessoas se identifiquem com ela pois é mais comum do que pensamos existir quem seja insegura e esteja infeliz por não se encaixar nos padrões de beleza que a sociedade impôs. Não só devido à sua característica física, mas também no que diz respeito a parte intelectual. Ana é muito caseira, prefere se aventurar pelas páginas de um livro do que sair com as amigas e tenho certeza que a maioria dos leitores também é assim. Eu mesma me identifiquei com ela, com seus gostos, atitudes e forma de encarar a vida, e pensem que já passei dos 30... logo, acredito que o livro cumpra com o tarefa e possa servir de inspiração para aqueles que têm inseguranças, medos e problemas de autoestima enquanto entram e enfrentam essa fase tão difícil e complicada que é a adolescência,
Talvez a história de Ana dê uma luz àquelas adolescentes que se encaixam nessa situação de desconforto e não saibam por onde começar a mudança em suas vidas. O exemplo dela é mais do que indicado para uma reflexão sobre superação, realização e felicidade, e mais importante do que isso: mostra que devemos correr atrás de mudanças pra sermos felizes, e não para agradar os outros. Quando estamos de bem com nós mesmos, a opinião do resto, principalmente as maldosas, se torna irrelevante.