Autora: Connie Willis
Editora: Suma de Letras
Gênero: Sci-Fi/Romance
Ano: 2018
Páginas: 464
Nota:★★★★☆
Sinopse: Em um futuro não muito distante, um simples procedimento cirúrgico é capaz de aumentar a empatia entre os casais, e ele está cada vez mais na moda. Por isso, Briddey Flannigan fica contente quando seu namorado, Trent, sugere que eles façam a cirurgia antes de se casarem — a ideia é que eles desfrutem de uma conexão emocional ainda maior, e que o relacionamento fique ainda mais completo. Bem, essa é a ideia. Mas as coisas acabam não acontecendo como o planejado: Briddey acaba se conectando com outra pessoa, totalmente inesperada. Conforme a situação vai saindo do controle, Briddey percebe que nem sempre muita informação é o melhor, e que o amor — e a comunicação — são bem mais complicados do que ela esperava. Mais complicado do que ela esperava.
Resenha: No embalo dos temas que envolvem o avanço tecnológico nas formas de interação e comunicação com os outros, a autora construiu uma história que aborda uma evolução a nível hard: num futuro não tão distante, a sociedade chegou num ponto onde é possível conectar casais através de uma cirurgia cerebral não invasiva para aumentar a empatia e para que se sintam mais próximos um do outro, podendo compartilhar seus sentimentos. Eles, literalmente, são capazes de sentir o que o outro está sentindo. E como toda novidade vira moda, todos os casais agora querem entrar na onda e se conectarem com seus parceiros para mostrarem como o amor é lindo e suas ligações são intensas.
Assim, Briddey acaba cedendo quando Trent, seu namorado, sugere que eles façam a cirurgia antes de se casarem para potencializarem ainda mais a conexão emocional que possuem. O que ninguém esperava era que ela, sem querer, se conectasse a outra pessoa e, a partir daí, começasse a perceber que nem sempre o excesso do uso dessas modernidades é algo simples de lidar ou até mesmo benéfico para a vida, principalmente quando fica evidente que é impossível abrir mão desses recursos... A situação, claro, vai sair do controle e resta acompanhá-la para descobrir o que vai acontecer...
Narrado em terceira pessoa, o livro tem aquela pegada bem envolvente e descontraída ao mostrar um relacionamento comum, porém com o diferencial da tecnologia como fator chave para o desenvolvimento tanto da história como dos próprios personagens, ao mesmo tempo que acaba fazendo uma crítica social e inteligente sobre os malefícios da exposição e excesso do uso dos meios de comunicação. É impossível não nos colocarmos do lugar da protagonista, ou pelo menos não se lembrar de alguém que conhecemos, que passa pelos mesmos mau bocados absurdos e exagerados que ela. A cobrança e a impaciência pela espera de uma resposta que não chega, a dependência e a necessidade de se trocar mensagens com outra pessoa como se a vida dependesse daquilo.
A família de Briddey é um completo Deus nos acuda. Por prezarem pelo tradicionalismo, ai da filha que não seguir os passos que a mãe acha ser o melhor pra ela, inclusive se casar com um bom partido para garantir uma vida confortável, mesmo que aquilo não seja o que a fará feliz ou o que ela quer. Pior que sabemos que famílias tão intrometidas e invasivas como a de Briddey, que acham que podem tomar decisões pelos outros ou que suas opiniões são a verdade absoluta, existem a solta por aí em todo lugar do mundo. Eles não respeitam o espaço nem a privacidade da coitada/ e precisam saber de cada passo dado por todos. Isso, somado aos estilos engraçados e cativantes dos diversos personagens, rende alguns momentos de bom humor na trama, mas não deixa de ser incômodo, principalmente por ser algo que foge da ficção. O que acaba agravando a situação toda é que a protagonista não parece ter voz e aceita tudo o que lhe é imposto de forma muito fácil, ignorando o que ela mesma quer, e até o romance se torna algo surreal, forçado, clichê, e acaba não convencendo.
De forma geral, a premissa é interessante e aborda um tema relevante nos dias de hoje que é digno de reflexão, mas o desenvolvimento da história em si, as soluções que a autora encontra para resolver as coisas, as várias situações repetitivas, as reviravoltas que deixam várias pontas soltas, e o excesso de descrições e informações que parecem só estarem ali para aumentar a quantidade de páginas do livro e estendendo a história além do necessário, acabaram não me fazendo gostar tanto dele como eu imaginei que fosse. Não é um livro ruim, longe disso, mas uma enxugada no que estava sobrando seria algo bem-vindo.
Interferências é uma comédia romântica com toques de ficção científica que mostra como a era digital acaba por interferir - e substituir - o contato pessoal. A experiência com a leitura é válida e mesmo tendo seus pontos negativos é recomendada.