Título: Um Dia de Cada Vez
Autora: Courtney C. Stevens
Editora: Suma de Letras
Gênero: Romance/Drama
Ano: 2014
Páginas: 232
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Alexi Littrell era uma adolescente normal até que, em uma noite de verão, sua vida é devastada. Envergonhada, a menina começa a se arranhar e a contar compulsivamente uma tentativa de fazer a dor física se sobrepor ao sofrimento que passou a esconder de todos. Ela só consegue sobreviver ao terceiro ano do ensino médio graças às letras de música que um desconhecido escreve em sua carteira. As canções parecem adivinhar o que o coração de Alexi está sentindo. Bodee Lennox nunca foi um adolescente normal, mas agora é o menino que teve a mãe assassinada pelo pai. Em seguida, ele vai morar com os Littrell, e Alexi acaba descobrindo que o Garoto Ki-Suco, o quieto e desajeitado menino de cabelos coloridos, pode ser um ótimo amigo. Em Um dia de cada vez, Alexi e Bodee, ao mesmo tempo em que fingem para o resto do mundo que está tudo bem, passam a apoiar um ao outro, tentando viver um dia de cada vez.
Resenha: Alexi Littrel é uma adolescente de dezesseis anos e com uma vida normal, mas numa noite passou por uma situação trágica da qual ninguém jamais deveria passar... Seu sentimento era de dor, vergonha, angústia, e como tentativa de diminuir seu sofrimento emocional, ela desenvolve um transtorno compulsivo por contar e se ferir, como se a dor física pudesse se sobrepor a dor emocional. Ela guarda seu segredo pra si, não confia em mais ninguém e seu único refúgio é um desconhecido que se comunica com ela através de letras de músicas deixadas em sua carteira no colégio.
Paralelamente, também temos outro adolescente da mesma idade de Alexi, Bodee Lennox, mais conhecido por Garoto Ki-Suco pelo cabelo colorido, um menino quieto e desajeitado que também teve a vida marcada por uma tragédia da qual presenciou e agora ficou conhecido como "o menino que teve a mãe assassinada pelo pai". Ele é convidado a ir morar na casa da família de Alexi e eles, que antes não tinham nada em comum, se tornam grandes amigos, fingindo para o mundo que tudo está bem enquanto se apoiam um ao outro.
"Não importa o quanto eu arranhe, as palavras continuam na minha cabeça."
- Pàg. 20
"Agora entendo todas as meninas da minha escola que se cortam. Eu pensava nelas como idiotas que não sabiam lidar com as coisas. Agora, percebo que elas estão lidando. Só que não tão bem quanto eu."Narrado em primeira pessoa, a trama vem com uma bagagem emocional intensa e envolve o leitor de forma que a ideia seja desvendar o segredo que Alexi mantém, segredo este que a abalou psicologicamente, fazendo com que se sinta envergonhada e culpada. Desde o início eu já suspeitei - e acertei - o que houve para ter traumatizado a protagonista, então continuei a leitura a fim de saber como ela iria se comportar com o desenrolar da história até que sentisse que a hora pra falar havia, enfim, chegado.
- Pág. 21
Cada personagem foi construído com uma personalidade forte,o que, de certa forma, lhes deram vozes distintas. Alexi ainda é uma adolescente que só queria sua vida normal de volta e por mais que demonstre que tenha aceitado o que aconteceu, internamente ela vive em conflito por estar em negação e isso a deixou em pedaços.
Bodee é tão traumatizado quanto ela e ainda continua a enfrentar o fardo de ser filho de um assassino e se encontrar em constantes conflitos quando o assunto é testemunhar conta o pai, mas consegue ser amável, generoso, protetor, bondoso e realista e é justamente essa cumplicidade que eles possuem que fizeram a história se tornar tão comovente e bonita.
A ideia de Alexi se comunicar com o "Capitão Letra de Música" através de trechos musicais é genial. Trata-se de alguém cuja identidade ela desconhece, mas que é o responsável por ajudá-la a seguir em frente. Ele deixa trechinhos de músicas pra ela completar e vice versa, e as músicas parecem lhe dar vida, é o momento do dia do qual ela anseia, quando pode pôr um pouco do que a consome pra fora. Esta pessoa, através destas letras, se torna um tipo de santuário psicológico para Alexi.
Talvez alguns se sintam incomodados com a forma como Alexi lida com suas frustrações, mas acredito que a autora soube passar com bastante eficiência, de forma realista e crível, que alguém fragilizada devido à uma experiência trágica nem sempre irá ser tão racional quanto quem vê a situação de fora.
Acompanhamos de forma gradual como ela chega num acordo sobre sua situação e como lidou com os relacionamentos que tem em família ou com amigos enquanto se escondia e fingia estar tudo bem
A capa é singela, bonita e retrata bem alguém como a protagonista. A diagramação é simples, as páginas amarelas e a fonte é pequena. Os trechos de música que Alexi troca com o Capitão tem fonte diferente, manuscrita, para ilustrar a ideia de que são eles mesmos que escreveram.
Traduzir "Faking Normal", título original que faz muito mais juz à história, seria complicado pois acredito que algo como "Fingindo ser normal" não chamaria atenção dos leitores nem daria a menor ideia da complexidade e grandeza da história. O título escolhido pela editora foi bem adequado pois acredito que quando nos deparamos com um problema trágico e que deixa marcas que parecem que nunca irão se curar, somente o tempo dará jeito, e resta ao indivíduo viver "um dia de cada vez" em busca da superação.
A história é forte mas muito bem equilibrada, e possui um olhar realista sobre um tema pesado e que ainda é mal interpretado por alguns. Um Dia de Cada Vez é uma história que nos mostra várias facetas da dor, que apresenta dois personagens marcados por ela de forma distinta mas que juntos se dão a força e a coragem de que precisam de forma recíproca para fazer crescer um romance doce, bonito e inesquecível.
Uma história emocionante de recuperação e superação que com certeza deve ser lida por todos.