Título: O Mendigo
Autor: Edson Jose da Silva Santos
Editora: Baraúna
Gênero: Literatura Nacional
Ano: 2010
Páginas: 235
Nota: ★★☆☆☆
Sinopse: Herbert é um mendigo que, como tantos outros, passa por dificuldades e sente na pele o peso do preconceito. Porém, a sua forma peculiar de comunicação e a sua desenvoltura em transmitir paz através de palavras otimistas faz dele uma personalidade única nos lugares por onde passa. É um homem que usa a sua experiencia de vida, os seus conhecimentos e a sua própria mendicância para acalentar os corações mais aflitos.Resenha: Em "O Mendigo", somos apresentados a um grupo de adolescentes que moram numa vila de classe média e que estavam reunidos batendo um papo descontraído enquanto algumas crianças jogavam bola. Acidentalmente a bola atinge um homem que passava por ali e o derruba no chão, e Marcos, o mais sensato da turma, vai ajudá-lo na maior boa vontade. E assim os jovens conhecem Herbert que apesar de ser um mendigo, é um homem muito inteligente, sábio, bondoso, gentil e com muita experiência de vida. Ele consegue enxergar além do que as pessoas são ou demonstram ser e sempre tem uma explicação ou conselho pra todas as coisas e atitudes erradas que os outros fazem. E através dele, os jovens ficam tocados e resolvem ajudar a comunidade a que ele pertence. Todos ficam impressionados ao saberem como funciona a distribuição dos donativos e a organização entre o pessoal da favela caindo aos pedaços, com exceção de Sandra, a patricinha da turma que o repudia por ele ser um mendigo pobre e imundo. Mesmo sendo admirado pela sua atitude e forma de pensar por alguns, Herbert também é criticado por quem se acha superior a ele, mas mesmo assim, não carrega raiva no coração, perdoa essas pessoas por mais maltratado que seja, e segue a vida continuando sua jornada de mendicância e ajudando os outros através de sua sabedoria. Ele também desperta a curiosidade desses jovens a respeito de sua origem e o que o levou às ruas já que é tão inteligente.
O livro aborda o preconceito, a amizade verdadeira, o amor, a intolerância, a futilidade, o egoísmo, o mal julgamento, os bons valores, etc... Enfim, aponta vários pensamentos sobre atitudes erradas que as pessoas têm e que não vão levá-las a lugar nenhum, mas para ser bem sincera, apesar de concordar com o ponto de vista do que é certo e errado e o que a pessoa precisa fazer para ser alguém melhor, eu não gostei da forma como a proposta deste livro foi apresentada, pois não há uma história propriamente dita.
Senti que as situações e os personagens foram criados de forma muito forçada, só com a finalidade de demonstrar quem ou o que corresponde ao que é certo ou errado para logo em seguida vir a lição de moral do mendigo. A mensagem não está nas entrelinhas, mas sim escrachada, e isso me incomodou porque são ensinamentos e pontos de vista que pelo menos a maioria que tem senso está cansada de saber.
A personagem Sandra, por exemplo. Uma mocinha linda, loira e dos olhos azuis, super preconceituosa, antipática e esnobe, que detesta pobreza. Ela acredita que não tem que estudar pra ser alguém na vida, mas sim, encontrar um marido rico para sustentá-la e lhe proporcionar uma vida cheia de status e luxo, então, quando tem oportunidade, mesmo sendo menor de idade, se veste de forma provocante a fim de tentar fisgar o tal bom partido se jogando pra cima dele. É o tipo de pessoa que absorve o que lhe convém, e faz julgamentos precipitados, sem saber se correspondem a verdade ou não. Todas as características que resumem uma pessoa intragável, ridícula e pobre de espírito, estão em Sandra. Porém, o que acontece é que uma situação foi criada e ela faz algo errado, como um julgamento por exemplo, e logo em seguida aparece alguém para lhe dar lição de moral, falando que tal atitude não é certa. Muitas vezes a fala ultrapassa uma página inteira! Não é um diálogo, é um sermão inteiro!
Acho que todos sabem que pessoas fúteis e que têm o pensamento atrasado, até que caiam na real, não chegam em lugar nenhum, então, a lição de moral que é dada a cada atitude ou julgamento que Sandra (ou qualquer outro) faz pra apontar que esse tipo de comportamento é errado, é totalmente desnecessária. Mesmo que depois venha a explicação do motivo que levou Sandra a se comportar assim, achei forçado demais! Tão forçado, que até os adolescentes fazem faculdade de algum curso que de alguma forma tem a ver com a própria personalidade, como Marcos, que faz Direito e tem um grande senso de justiça... Inclusive todos os cursos que eles fazem na faculdade são "tops", como Medicina, Psicologia, etc...
Outra coisa é que tudo é narrado da forma mais informal e simples possível, talvez para nos aproximarmos das personagens e sentirmos que podem ser pessoas do nosso cotidiano que falam e se comportam como nós, mas uma coisa é a pessoa conversar casualmente, de forma descontraída e ao vivo, outra coisa é a pessoa colocar a conversa em forma de narrativa num livro. Por um lado até pode ser bacana se se tratasse de uma característica linguística de um personagem em particular, mas muitas vezes não senti que se tratava de uma narrativa de um livro, mas de alguém contando um caso qualquer, principalmente por causa do uso constante de artigos antes dos sujeitos, como por exemplo "O Carlos abraçou a Sandra". Isso pra mim empobrece completamente o texto ainda mais pelo fato de o artigo ser usado e outras vezes não, ainda que na mesma frase! Além de alguns erros ortográficos, palavras como "tô" e "tava" estão muito presentes nas falas. Termos como "pegou uma queda por causa da bola", "deu formiga na cama", "para de fazer vergonha", "que marmota é aquela lá dentro?" e "abestado" também aparecem muito e por mais que as pessoas entendam, acredito que são expressões regionais e nem todos estão acostumados ou por dentro do que significam... Senti que a narrativa foi feita com sotaque do próprio Nordeste!
Muitas vezes aparecem personagens que nem são apresentados direito. Quem são, de onde vem... Eles surgem do nada!
Enfim, gostei da capa desse livro e acho que a ideia de falar a respeito desses problemas da sociedade é válida, mas a forma como foi exposta em forma de livro, não me agradou.