Autor: David Duchovny
Editora: Record
Gênero: Fábula/Fantasia
Ano: 2016
Páginas: 208
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Elsie Bovary é uma vaca muito feliz em sua bovinidade. Até o dia que resolve sair sorrateiramente do pasto e se vê atraída pela casa da fazenda. Através da janela, observa a família do fazendeiro reunida em volta de um Deus Caixa luminoso – e o que o Deus Caixa revela sobre algo chamado “fazenda industrial” deixa Elsie e tudo o que ela sabia sobre seu mundo de pernas para o ar.
A única saída? Fugir para um mundo melhor e mais seguro. Assim, um grupo para lá de heterogêneo é formado: Elsie; Shalom, um porco rabugento que acaba de se converter ao judaísmo; e Tom, um peru tranquilão que não sabe voar, mas que com o bico consegue usar um iPhone como ninguém. Munidos de passaportes falsos e disfarçados de seres humanos, eles fogem da fazenda e é aí que a aventura deles alça voo – literalmente.
Elsie é uma narradora marrenta e espirituosa; Tom dá conselhos psiquiátricos com um sotaque alemão um tanto forçado; e Shalom, sem querer, acaba unindo israelenses e palestinos. As criaturas carismáticas de David Duchovny indicam o caminho para um entendimento e uma aceitação mútuos dos quais esse planeta tanto precisa.
Resenha: Holy Cow, escrito pelo escritor (ator, roteirista, produtor, diretor, compositor e também cantor) David
Elsie sente falta da mãe, que desapareceu assim como todas as outras vacas mais velhas, e sem saber o que realmente aconteceu ou sem poder questionar sobre esse misterioso destino, ela apenas se conforma que no fim todos "somem" sem deixar rastros. Mas a questão que realmente está mexendo com Elsie no momento é que ela e a amiga passaram a sentir interesse e atração pelos touros do outro pasto, e dar uma fugidinha para visitá-los quando o fazendeiro esquecesse a porteira aberta era algo irresistível. Na primeira chance que têm, Elsie e Mallory escapam pra ficarem mais perto daqueles seres encantadores e viris, mas enquanto a amiga flerta, Elsie, curiosa, vai bisbilhotar a casa da fazenda pois alguma coisa alem das janelas parecia muito mais interessante...
Eis que Elsie descobre que os humanos veneram o "Deus Caixa", a TV, mas o que ela não esperava era assistir um documentário que mostrava a realidade dos animais criados para abate em fazendas industriais, o que a deixou desesperada e fez seu mundo virar de cabeça pra baixo. Elsie, enfim, descobriu qual foi o real destino de sua pobre mãe desaparecida. Sem saber o que fazer para evitar um destino tão trágico, a vaca fica inconsolável, tentando arranjar maneiras de escapar de um futuro que até então era inevitável. Motivada pelo medo e pela raiva, ela planeja fugir da fazenda para um mundo melhor e mais seguro para se viver. Até que Elsie descobre, também através do Deus Caixa, que na Índia as vacas são sagradas e então ela não demora a decidir que esse país, cuja cultura é tão peculiar, seria seu novo lar. Em companhia de dois novos amigos, Shalon e Tom (um porco e um peru), munida de um mapa roubado, passaportes falsos e disfarces humanos em sua fuga, Elsie pegaria um avião para assim poderem partir para bem longe da morte certa.
Em primeiro lugar, acho importante ressaltar que ao iniciar a leitura desse livro é necessário abandonar completamente o senso de realidade. Imagine animações em que animais ou qualquer objeto ganhem vida e se tornem personagens, assim como as pessoas... Algumas fantasias possuem uma mitologia crível que faz com que o leitor considere que os acontecimentos irreais poderiam, de alguma forma, existir, mas esse não é o caso de Holy Cow. Logo, com essa ideia em mente, a leitura se tornará mais divertida sem que você fique pensando que a fantasia passou dos limites.
O livro é narrado em primeira pessoa onde acompanhamos as inúmeras divagações de Elsie sobre tudo o que a cerca. Alguns trechos são escritos em forma de roteiro, com inserções de várias referências seguindo as recomendações da sua "editora", alegando que tais elementos colaboram para o sucesso do livro, e as menções que Elsie faz são hilárias. Inclusive seria perfeitamente possível que fosse feita uma animação baseada na hitória, tanto pela forma como foi escrita quanto pela ideia fantasiosa de animais pensantes e cheios de atitude.
A protagonista é cômica e divertida, está por dentro das últimas tendências e embora se encaixe em estereótipos adolescentes, sua personalidade e suas motivações realmente deram vida à história.
Tom é um peru que não sabe voar e é o único fisicamente capaz de usar um IPhone para fazer ligações durante a execução do plano de fuga. Movido pela ideia de não ser assado no Dia de Graças ele se junta a Elsie.
Shalom é o porco mau humorado que resolveu se converter e virar judeu, pois de acordo com a crença religiosa na região, se ele estivesse em um lugar onde é considerado "impuro" jamais teria problemas já que as pessoas o evitariam.
Não achei Tom e Shalom tão cativantes quanto Elsie ou até Mallory, mas cada um deles tem papéis importantes na mensagem da história.
"E fiquei me perguntando se eu seria o último animal na Terra a se dar conta de que os humanos não só nos comem, mas também jogam muitos de nós fora sem nem nos comer. Nos jogam fora como um lixo desprezível. Se vou ser morta para virar comida, pelo menos me coma e me cague e me deixe reingressar no ciclo da natureza. Não me mate sem motivo. E foi aí que vi - um hambúrguer pela metade. E foi minha vez de perder a cabeça. Comecei a mugir como uma banshee. O país inteiro era louco e estava me deixando louca. E pensei, isso é que é ser vaca louca."Holy Cow é uma fantasia recheada de aventura e através dessa história hilariante, o autor conseguiu passar uma mensagem social ignorada por muitos sem forçar uma opinião a ninguém. Os animais são mais do que as pessoas imaginam, não são meras criaturas irracionais que estão alí única e exclusivamente para servir as necessidades dos humanos que parecem ainda não terem percebido o quanto estão esgotando os recursos do planeta. Assim, o livro faz a gente pensar e refletir sobre a situação em que vivemos atualmente e o que estamos fazendo com o mundo.
- Pág. 119
A versão impressa é super caprichada. A capa mostra Elsie numa ilustração bastante cômica e as cores branco e preto são propositais para fazer referências as suas cores. A parte interna da capa tem manchas pretas, as páginas são brancas e alguns capítulos possuem ilustrações de alguma cena da história. Os capítulos são curtos e devido a fluidez da escrita, o livro é bem fácil e rápido de se ler.
Não há erros na revisão e até a adaptação em diálogos em que o personagem tem algum sotaque e fala errado de forma proposital está ótima e super original.
Pra quem gosta de fantasias malucas e engraçadas é livro mais do que recomendado. Enxergar o mundo através de personagens tão singulares que tiveram coragem e a oportunidade de seguir seus sonhos e irem além é uma forma de mostrar uma realidade que muitos fingem não existir.