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Inferno - Dante Alighieri

30 de dezembro de 2021

Título:
Inferno - Comédia #1
Autor: Dante Alighieri
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Clássico/Romance/Ficção
Ano: 2021
Páginas: 560
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Primeira parte da Comédia de Dante, Inferno é uma viagem às profundezas, para onde foram condenados os que não agiram de acordo com a ética cristã. O poeta romano Virgílio será o responsável por guiar Dante nesse trajeto.
Contando a história de uma alma cristã que parte da consciência do pecado (Inferno), passa pela purificação interior (Purgatório) e chega à visão de Deus (Paraíso), Dante dialoga com as tradições da poesia clássica greco-latina, dos textos bíblicos e até do pensamento árabe ― em uma obra de tal força que ainda hoje mantém o seu vigor literário e nos convoca a relê-la.

Resenha: Existem livros que marcam época e se tornam atemporais, e por esse motivo acabam se tornando clássicos da literatura. E se podemos falar de um poema épico que se tornou um clássico, e séculos depois, apesar de diversas interpretações e traduções ainda se mantém detentor de uma fagulha lírica e emocionante, esse poema é a Comédia do autor italiano Dante Alighieri, que recentemente recebeu uma nova e belíssima tradução e edição pela Companhia das Letras.
Comédia será relançada em três partes, e a primeira delas é Inferno.

 Acompanhamos Dante, que aqui além de autor é o próprio personagem (Dante gosta de fazer isso em seus trabalhos e esse, sem dúvida, é o mais pessoal). Em uma jornada onde busca se purificar dos pecados e ascender aos maiores ideais cristãos, ele usará a poesia para fazer críticas à sociedade da roça, a personagens famosos e principalmente aqueles que ele julga terem se entregado aos pecados e abandonado todos aqueles que contavam com eles. Ele é um andarilho e de tal forma, diante de um lugar perigoso e animalesco ele tem ao seu lado como guia o poeta Virgílio, por quem sempre teve admiração.

Dante passa pelos 9 círculos Infernais, cada um deles dedicados a um tipo específico de punição e contendo pecadores muitas vezes famosos, estes que ao longo da jornada ele encontra tanto de sua época (Florentinos famosos) como personagem clássicos. Como cada círculo do inferno é baseado nos pecados capitais e às crenças cristãs, fica o alerta para o tema.

A jornada de Dante é poesia, mas também critica, é uma jornada onde ele caminha guiado pelo pensamento racional, mas almejando um crescimento espiritual. Para a leitura ser mais agradável, é aconselhável já ter em mente que foi escrito séculos atrás, com bases morais que atualmente podem sequer mais serem aceitas como corretas, porém, ainda permanece sendo uma leitura inteligente e fascinante. Provavelmente não seria um conteúdo indicado para um iniciante no mundo lírico da poesia, mas indicado para quem já está familiarizado com o estilo de escrita e que gosta desse jogo de palavras que são expressões artísticas.

A obra é bilíngue, com tradução para o português lado a lado com a "original" em italiano 
O projeto gráfico é soberbo, todos os tons da paleta escolhida e gravuras pelo artista estão incríveis.
Comédia é composta por 14.233 versos que são divididos em três canções: Inferno, Purgatório e Paraíso, e cada canção tem 33 cantos.

Um ótimo livro clássico em edição de luxo e para colecionadores, também tem uma excelente tradução e texto apoio. Essa nova edição de Inferno entrega à nova geração um texto poderoso e que merece ser lido. Já quero as próximas duas partes!

Mestre das Chamas - Joe Hill

5 de julho de 2017

Título: Mestre das Chamas
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção/Suspense
Ano: 2017
Páginas: 592
Nota:★★★★☆
Sinopse: Ninguém sabe exatamente como nem onde começou. Uma pandemia global de combustão espontânea está se espalhando como rastilho de pólvora, e nenhuma pessoa está a salvo. Todos os infectados apresentam marcas pretas e douradas na pele e a qualquer momento podem irromper em chamas.
Nos Estados Unidos, uma cidade após outra cai em desgraça. O país está praticamente em ruínas, as autoridades parecem tão atônitas e confusas quanto a população e nada é capaz de controlar o surto.
O caos leva ao surgimento dos impiedosos esquadrões de cremação, patrulhas autodesignadas que saem às ruas e florestas para exterminar qualquer um que acreditem ser portador do vírus.
Em meio a esse filme de terror, a enfermeira Harper Grayson é abandonada pelo marido quando começa a apresentar os sintomas da doença e precisa fazer de tudo para proteger a si mesma e ao filho que espera.
Agora, a única pessoa que poderá salvá-la é o Bombeiro – um misterioso estranho capaz de controlar as chamas, e que caminha pelas ruas de New Hampshire como um anjo da vingança.

Resenha: Mestre das Chamas, escrito por Joe Hill e publicado pela Editora Arqueiro nos traz um enredo intrincado, num futuro próximo à beira do apocalipse.

O mundo está sofrendo com uma doença terrível chamada "Escama de Dragão". Quem desenvolve essa doença fica com marcas na pele que lembram escamas. Essas marcas, eventualmente, incendeiam fazendo com que as pessoas tenham uma espécie de combustão espontânea.

Harper é uma enfermeira que trabalha em uma escola infantil. Quando o caos se instala e as escolas deixam de funcionar, ela se voluntaria para trabalhar em um hospital. Visto que o mundo está acabando por causa de uma doença, um hospital não seria o lugar mais tranquilo para se trabalhar. Harper é casada com Jacob, um atencioso e carinhoso escritor, ou pelo menos era assim que ela o via...

Quando o hospital incendeia depois de mais uma vítima da doença sucumbir às escamas, Harper acaba ficando em casa com seu marido. Eles estão bem, tem provisões e não estão contaminados. Tudo está em ordem, até que ela descobre estar grávida. Em um mundo destruído por uma doença, uma gravidez não poderia ser a melhor notícia do mundo. Com um bebê a caminho, a enfermeira se descobre com a Escama do Dragão. Complicou? Claro que não! Como são nas adversidades que descobrimos a verdadeira face de quem nos rodeia, Jacob deixa cair a sua máscara de bom moço e se revela o pior dos homens. Egoísta, mesquinho e que, na verdade, nunca deu valor merecido à esposa, agora está decidido que ela não merece mais viver, e baseada nessa premissa, a história começa a se desenrolar.

No hospital, Harper fez algumas amizades, entre elas Reneé, uma senhora que estava com a escama e de repente, desapareceu e que foi embora sem maiores explicações, assim como o bombeiro John, que havia levado um menino para ser atendido lá. Depois que Jacob tenta matar a esposa, ela foge e reencontra seus antigos amigos, vai para um local onde todos estão contaminados, mas aprendem a controlar o fogo.

Mas gente, em um mundo onde não há mais justiça, onde a regra é matar todos os infectados sem punição, confiar em quem? Mesmo em um grupo onde supostamente estão protegidos pois, em princípio são iguais, tem discórdia, desunião, brigas e isso não é diferente na pacata colônia dos infectados.

Agora, além de ter que fugir do ex marido que quer matá-la, fugir do pessoal que quer exterminar os infectados, eles ainda têm que resolver os problemas que vão surgindo na Colônia, administrar uma gravidez que vai saber no que vai dar, ainda vai ter que fugir, com os poucos amigos que ela pode confiar... Para onde??? Ahhhh ela tem planos, tem sim!

Então, gostei da história e gostei, em parte, da narrativa. Achei-a muito arrastada, por mim, poderia ter metade das quase 600 páginas. Às vezes o autor detalhava demais, ou às vezes corria demais deixando alguns pontos meio superficiais. Tirando isso, o mundo apocalíptico criado pelo autor é incrível. Adorei os personagens, que são bem construídos, mas senti falta de maiores detalhes que os descrevessem fisicamente. No que diz respeito às emoções, comportamento e parte psicológica de forma geral dos personagens, achei tudo perfeito. O autor mostra de forma gradual as faces do ser humano, a forma como a humanidade pode se perder, ou como alguém é capaz de perder essa humanidade quando o pior acontece. Quando percebemos, conhecemos a maldade no seu âmago mais profundo, porém, assim como a maldade se mostra, a bondade e a amizade também, e assim como conhecemos o lado ruim num momento difícil, também conhecemos o lado bom de alguém que se doa por completo, sem esperar nada em troca.
Outro ponto interessante que eu adorei, foram as referências aos livros clássicos, às músicas e ao cinema, que quebraram um pouco o tom sombrio da leitura.

A parte física é perfeita. A capa linda e coerente com o contexto, as páginas são amarelas e a história é divida em nove "livros" (capítulos). Não encontrei erros durante a leitura.

Mestre das Chamas é um livro que traz em seu enredo um mundo em colapso, e mostra de forma crua e intensa o que as pessoas são capazes de fazer em nome da sobreviência quando tudo ao redor delas foi tomado pelo caos.

República de Ladrões - Scott Lynch

16 de março de 2017

Título: República de Ladrões - Nobres Vigaristas #3
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção
Ano: 2015
Páginas: 544
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas | Amazon
Sinopse: Envenenado e à beira da morte, Locke Lamora segue para o norte com seu parceiro, Jean Tannen, em busca de refúgio e de um alquimista para curá-lo. Porém, a verdade é que ninguém pode salvá-lo. Com a sorte, o dinheiro e a esperança esgotados, os Nobres Vigaristas recebem uma oferta de seus arquirrivais, os Magos-Servidores.
As eleições do conselho dos magos se aproximam e as facções precisam de alguém para fazer o trabalho sujo, manipulando votos. Se Locke aceitar, o veneno será purgado de seu corpo com o uso de magia – mas o processo será tão excruciante que ele vai desejar morrer.
Locke acaba cedendo ao saber que o partido da oposição contará com uma mulher do seu passado: Sabeta Belacoros, a única pessoa capaz de se igualar a ele nas habilidades criminosas e mandar em seu coração. Novamente em uma disputa para ver quem é o mais inteligente, Locke precisa se decidir entre enfrentar Sabeta ou cortejá-la, e a vida dos dois pode depender dessa decisão.

Resenha: República de Ladrões é o terceiro volume da série Nobres Vigaristas do autor Scott Lynch e publicado pela Arqueiro.

Depois de se envolverem com o ardiloso Stragos para servirem seu plano de tomar a cidade de Tal Verrar, Locke Lamora e Jean Tannen conseguem fugir para Lashane, mas a principal preocupação de Tannen, que está desesperado, é encontrar um alquimista para curar o amigo, que está morrendo após ter sido envenenado e não ter mais acesso ao antídoto. O problema é que naquela cidade ninguém parece ter conhecimento o bastante para ajudá-lo até a salvação surgir da forma mais inesperada que eles poderiam imaginar. Locke e Jean são abordados pela Maga-Servidora que lhes oferece a cura através de magia, porém eles teriam que fazer algo sujo em troca: Fraudar as eleições do Conselho dos Magos, subornando eleitores e manipulando seus votos, para que seu partido, o Raízes Profundas consiga vencer seu oponente, o Íris Negra. O que Locke não esperava era que o Íris Negra tivesse contratado Sabeta Belacoros, ex-integrante dos Nobres Vigaristas que possui habilidades equiparadas as do próprio Locke. E como se não bastasse Sabeta ser um grande obstáculo nessa tarefa, mesmo depois de tanto tempo, ela ainda é dona do coração de Lamora...

Narrado em terceira pessoa, o livro é dividido da mesma forma que os demais da série. Partes denominadas "Livros", divididos por capítulos subdivididos por cenas e interlúdios que intercalam passado e presente tanto de Locke, quanto dos Nobres Vigaristas e do mistério que gira em torno de Sabeta a quem não sabemos quase nada, para que tais acontecimentos preencham as lacunas da história dos personagens, evidenciando o que aconteceu até que eles tenham se tornando as pessoas que são hoje e, de certa forma, tornando o enredo mais rico e completo. O diferencial é que alguns dos personagens marcantes do primeiro livro apareceram de uma forma mais interessante, como o lendário Correntes (o antigo líder e fundador dos Nobre Vigaristas), o Aliciador (antigo "dono" de Locke) e a própria Sabeta. Inclusive o autor dá muito espaço para desenvolver a relação que Lamora e Sabeta construíram no passado, coisa que não havia sido nada aprofundada até então. Algumas cenas dos capítulos são apresentadas inteiramente em forma de diálogos, sem maiores descrições feitas pelo narrador. Alguns dos diálogos são entre os magos e através do que é dito o leitor fica a par dos reais motivos da eleição que envolve facções rivais e seus objetivos.

Enfim, neste livro, ficamos sabendo mais sobre o passado misterioso que envolve as origens de Locke, e também de Sabeta, mas isso não significa que seja algo bom... Ela é uma trapaceira nata, que não hesita em fazer o que for necessário para se dar bem sobre quem ou o que estiver em seu caminho, e tem uma habilidade sem igual de virar o jogo a seu favor. Tudo isso seria muito bom no contexto da história em si, se não fosse pelo fato de ela usar os sentimentos de Locke como se fossem descartáveis. Confesso que me irritei inúmeras vezes com o comportamento dele ser tão inconstante na presença dessa mulher, pois ser retratado como alguém perdidamente apaixonado a ponto de isso poder ser considerado uma fraqueza de alguma forma, não foi nada legal de se ver, mesmo que ele não parecesse se importar...
Então, por mais que esse livro tenha sido uma adição empolgante para a série e, assim como os demais, ter sido um dos melhores livros que já li do gênero, não me empolguei tanto quanto gostaria como foi com os livros anteriores, principalmente por que, embora haja vários vilões pimpões ao longo da trama, o vilão verdadeiramente maligno, aquele que espreme suas vítimas na mão e depois sopra só o pó, está guardado para aparecer no final, então a ansiedade fica pela espera do próximo livro, socorro.

A capa combina com os volumes anteriores no que diz respeito aos tons, a fonte utilizada e aos detalhes, mas por ter um ar maior de mistério achei a mais bonita das três até então.

No mais, a história é super bem construída, bem escrita, cheia de ação e reviravoltas, muitas surpresas e revelações bombásticas de fazer o queixo cair, e claro, o típico bom humor que consegue equilibrar a tensão e o desespero das situações malucas ou perigosas que os personagens se encontram.


Mares de Sangue - Scott Lynch

15 de março de 2017

Título: Mares de Sangue - Nobres Vigaristas #2
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção
Ano: 2014
Páginas: 512
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Após uma batalha brutal no submundo do crime, o golpista Locke Lamora e seu fiel companheiro, Jean Tannen, fogem de sua cidade natal e desembarcam na exótica Tal Verrar para se recuperar das perdas e feridas. Porém, mesmo no extremo ocidental da civilização, não conseguem descansar por muito tempo e logo estão de volta ao que fazem de melhor: roubar dos ricos e embolsar o dinheiro.
Desta vez, eles têm como alvo o maior dos prêmios, a Agulha do Pecado, a mais exclusiva casa de jogos do mundo, onde a regra de ouro é punir com a morte qualquer um que tente trapacear. É o tipo de desafio a que Locke não consegue resistir... só que o crime perfeito terá que esperar.
Antigos rivais dos Nobres Vigaristas revelam o plano a Stragos, o ambicioso líder militar verrari, que resolve manipulá-los em favor de seus próprios interesses. Em pouco tempo, a dupla se vê envolvida com o mundo da pirataria, um trabalho inusitado para ladrões que mal sabem diferenciar a proa da popa de um navio.
Em Mares de sangue, Locke e Jean terão que se mostrar malabaristas de mentiras, enganando todos ao seu redor sem a mínima falha, para que consigam sair vivos. Mas até mesmo isso pode não ser o bastante...

Resenha: Marés de Sangue é o segundo volume da série Nobres Vigaristas escrita pelo americano Scott Lynch e publicada pela Editora Arqueiro aqui no Brasil.

Ao final de As Mentiras de Locke Lamora os Nobres Vigaristas são postos em uma situação sofrível, mas Locke e seu melhor amigo, Jean Tannen, conseguem fugir de Camorr em busca de vida nova e recomeço, e partem rumo a exótica Tal Verrar, uma cidade portuária aparentemente tranquila em que poderiam ter várias oportunidades para continuarem praticando crimes e trapaças para se darem bem. Ao se depararem com a mais exclusiva casa de jogos da cidade, a Agulha do Pecado, frequentada somente pelos mais endinheirados e poderosos, Lamora não consegue resistir e, usando sua mente brilhante, já começa a bolar um plano mirabolante para botar as mãos em toda aquela fortuna, mesmo sabendo que a punição pra quem trapacear é a morte.
Locke e Jean, disfarçados, tentam passar despercebidos, mas não demoram a chamar a atenção de Stragos, o Arconte de Tal Verrar que descobre sobre o passado dos Nobres Vigaristas e quer usar isso de alguma forma. Stragos é esperto e impiedoso e faz com que a dupla de amigos trapaceiros se encontrem numa intriga política onde, além de serem ameaçados de morte, são obrigados a partir num navio para uma viagem em alto-mar se envolvendo com piratas salafrários e saindo totalmente da zona de conforto da qual estavam acostumados. Tal Verrar acaba se revelando um local cheio de segredos, armadilhas e perigos, e a dupla descobre isso da pior maneira possível... Duas facçoes rivais estão numa guerra silenciosa pelo comando da cidade e seus comandantes não se importam com os meios utilizados para chegarem ao fim...

A narrativa, assim como no primeiro livro, é feita em terceira pessoa e a divisão dos capítulos também foi feita da mesma forma. A escrita do autor continua bastante envolvente, com toques de requinte e ainda assim muito fluída. O bom humor e o sarcasmo nas situações e nos diálogos inteligentes continuam presentes no enredo, equilibrando os momentos de ação e tensão da trama.
Mesmo que Locke Lamora e companhia tenham sido muito bem apresentados no volume anterior, neste o autor se aprofunda ainda mais nesse mundo de trapaças além de trabalhar de forma muito rica os detalhes de uma cidade nova cuja cultura é diferente daquela apresentada anteriormente e com suas próprias particularidades.

Neste volume, acompanhamos Locke e Jean seguindo em frente depois do ocorrido, aprendendo a lidar com o que aconteceu, com o que perderam e que precisaram deixar pra trás, e o período de dois anos que se passaram desde que deixaram Camorr acaba tornando tudo ainda mais realista já que se acostumarem com uma vida nova e diferente não é feito da noite pro dia.
Apesar de ter adorado acompanhar Locke Lamora e Jean Tannen em uma aventura improvável e recheada de elementos novos, minha única ressalva é que em alguns momentos eu senti que o autor quis inserir um espírito de Robin Hood no protagonista como forma de justificar alguns de seus atos para que ele pudesse ser interpretado como alguém com alguma moral, como se isso fizesse dele um ladrão melhor ou superior do que os outros canalhas da cidade. Mesmo sendo um criminoso eu já tinha uma grande simpatia por Locke justamente por ele ser um protagonista que foge de estereotipos. Um criminoso é um vilão, mas nem por isso deve ser obrigatoriamente odiado, e o autor já tinha conseguido atingir esse objetivo nos presenteando com Locke. Não havia necessidade de tentar mudar nada ao meu ver... Não desgostei mais ou menos do livro por esse motivo, só não entendi onde o autor quis chegar mudando esse ponto.
Algumas cenas também não parecem muito originais e lembram filmes como Piratas do Caribe e Onze Homens e um Segredo, mas da forma como foram descritas acabaram tendo o toque especial do autor e combinaram com a trama de forma geral.

Embora Mares de Sangue tenha mais de 500 páginas, a leitura pode ser feita de forma bastante rápida pois além de ter uma escrita ágil, as descrições feitas parecem estar mais enxutas para que o foco fique sobre a trama em si e não sobre detalhes que acabam não sendo tão relevantes para a cena em questão.
Um ponto positivo é que o prólogo já deixa o leitor surpreso e morto de curiosidade pois envolve uma situação inesperada que praticamente o obriga a se agarrar nas páginas seguintes para ter maiores explicações sobre o ocorrido, e posso dizer que foi um artifício utilizado pelo autor que funcionou muito bem, mesmo que soe meio falso... Mas o que esperar de personagens trapaceiros e mentirosos? A sensação é de que o leitor é enganado, mas de uma maneira boa.

Enfim, com mais personagens para movimentar o enredo, a história se desenrola abordando pontos distintos e intrigantes. A amizade sincera e fraternal entre Locke e Jean é posta a prova em várias situações, mas é perceptível o quanto é uma parceria sólida, que faz com que eles se tornem brilhantes quando estão juntos, mas vulneráveis quando se separam. A ideia de que suas habilidades funcionam em conjunto, onde um depende do outro para que o plano possa ser bem sucedido, é algo bastante satisfatório de se acompanhar e, pra mim, são esses elementos os maiores responsáveis pelo sucesso da história, pois cativam o leitor que só tende a torcer pelos personagens. A amizade deles é épica, memorável e perfeita, por mais que tenha todos os defeitos possíveis e eles vivam querendo se matar.
A história é cheia de reviravoltas das mais loucas possíveis que com certeza vão abalar estruturas, e tais acontecimentos não são exclusivos dos personagens principais, mas também dos demais que movimentam a trama como poucos fazem. Destaque para a capitã do navio, Zamira Drakasha, e sua tenente, Ezri Dalmastro. Elas são inteligentes e sagazes e mostram que num universo predominado por homens, na maioria das vezes machistas e grosseirões, as mulheres também podem roubar a cena quando são capazes de fazer o que eles fazem, e até de forma melhor, sem deixar nada a desejar!

Enfim, Mares de Sangue traz um arco próprio no que diz respeito a aventura da vez, mas As Mentiras de Locke Lamora não deve ser dispensado devido a introdução de mundo, apresentação de personagens e outros detalhes que são importantes para a compreensão de algumas cenas deste volume (e do próximo também).

Pra quem não recusa uma aventura frenética com personagens cativantes e engraçados, que enfrentam situações cheias de ação e perigos, e ainda se metem nas piores enrascadas que alguém já viu, com certeza vai curtir a leitura da série Nobres Vigaristas.

As Mentiras de Locke Lamora - Scott Lynch

14 de março de 2017

Título: As Mentiras de Locke Lamora - Nobres Vigaristas #1
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção
Ano: 2014
Páginas: 464
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: O Espinho é uma figura lendária: um espadachim imbatível, um especialista em roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da excêntrica cidade de Camorr acredita que ele seja um defensor dos pobres, enquanto o restante o considera apenas uma invencionice ridícula.
Franzino, azarado no amor e sem nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem por trás do fabuloso Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada. Ele de fato rouba dos ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os pobres não veem nem a cor do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo para os bolsos de Locke e de seus comparsas: os Nobres Vigaristas.
O único lar do astuto grupo é o submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser assolado por um misterioso assassino com poder de superar até mesmo o Espinho. Matando líderes de gangues, ele instaura uma guerra clandestina e ameaça mergulhar a cidade em um banho de sangue. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.

Resenha: As Mentiras de Locke Lamora é o primeiro volume da série (de sete) Nobres Vigaristas, do autor americano Scott Lynch e publicada no Brasil pela Editora Arqueiro.

A história é ambientada na fictícia cidade de Camorr, com toques clássicos que lembram os detalhes de uma Veneza medieval. Camorr é uma cidade dividida entre nobres e membros de gangues, e a Paz Secreta é um acordo entre eles que garante proteção da nobreza enquanto os criminosos podem cometer seus crimes contra o povo sem que o governo intervenha.

Em meio a esse cenário, conhecemos Locke Lamora, um garoto pobre, órfão e franzino cujas habilidades giram em torno de farsas e furtos. Treinado pelo Aliciador, um dos líderes de gangues que comanda um grupo de ladrões mirins, Lamora demonstra estar além do nível das outras crianças provando que cometer pequenos furtos não é nada diante do que ele seria capaz de fazer, e o Aliciador, incapaz de conter o garoto e percebendo que ele traria mais problemas do que qualquer outra coisa caso nada fosse feito, resolve ofertá-lo para o Padre Correntes, um farsante e trapaceiro que é fundador e líder do grupo intitulado Nobres Vigaristas, composto por ladrões astutos que vivem confortavelmente abaixo da Igreja de Perelandro, roubando dos ricos para encherem os próprios bolsos e não estão nada de acordo com a Paz Secreta...
Como membro dos Nobres Vigaristas, Locke conhece Sabeta, Jean Tannen, além dos irmãos gêmeos Calo e Galdo, e posteriormente o garoto Pulga, e cada um deles possui uma habilidade especial que os tornam únicos e importantes durante as missões.
Após tamanha apresentação, o início da história traz um golpe orquestrado pelos Nobres Vigaristas contra Dom Lorenzo Salvara, um dos mais ricos nobres de Camorr, porém, em meio a preparação da missão, uma figura misteriosa, que se autointitula Rei Cinza, pretente acabar com toda e qualquer atividade clandestina e começa a atacar todos os líderes das gangues da cidade. Lamora e os Nobres Vigaristas acabam se encontrando numa situação delicada e se veem presos a uma batalha que não querem adentrar, e resta a eles descobrirem uma forma de solucionar o problema enfrentando um inimigo improvável e correndo o risco de terem a reputação arruinada, a própria vida em perigo ou ainda perdendo grande parte do que já juntaram em seus cofres, o que é pior.

A narrativa é feita em terceira pessoa, o que amplia bastante a visão de mundo do leitor, e se alterna em presente e passado, o que de início pode soar um pouco confuso já que o autor não parece ter muita preocupação em situar o leitor diante dos acontecimentos.

O enredo se divide em quarto partes, denominadas de "Livros". Cada Livro se divide em capítulos intitulados, que são subdivididos em cenas numeradas do presente e interlúdios que apresentam os acontecimentos passados do protagonista. Toda essa organização, apesar de parecer confusa, acaba sendo importante não só para transitar entre presente e passado, mas para apresentar os acontecimentos, mudar o foco ou o rumo do personagens ou ainda fornecer um outro ponto de vista para o leitor. Acompanhamos Lamora e seus feitos atuais, assim como os momentos de quando ele ainda era criança, passando pelas mais diversas situações até que ele tenha se tornado o líder dos Nobres Vigaristas. Talvez seja necessário ter paciência e persistir na leitura até que ela realmente comece a fluir e faça maior sentido, mas essa alternânancia é importante para que alguns acontecimentos sejam melhores esclarecidos nos permitindo compreender algumas das escolhas feitas ou o que motiva os personagens a terem certos tipos de atitudes, ou ainda que possamos entender melhor e com mais detalhes como a trapaça e as mentiras fazem parte do íntimo do protagonista e sua gangue, sendo possível, inclusive, não confiar ou não acreditar em tudo que nos é dito.... Os diálogos são dinâmicos, naturais, alguns são recheados de palavreados, e se encaixam perfeitamente com os personagens ou o momento em questão. E embora os personagens sejam criminosos e vigaristas, é perceptível que eles realmente se importam uns com os outros.

O cenário é muito rico e detalhado, o que permite o leitor visualizar o local que parece realmente existir. Os detalhes inclusive colaboram para a construção do enredo, que muitas vezes depende dos locais e suas particularidades para se desenvolver. O autor não poupa o leitor de detalhes envolvendo violência, muito sangue, coisas bem nojentas ou mortes repentinas de pessoas queridas, logo a ideia de ler com a mente mais aberta esse tipo de conteúdo é mais do que bem vinda nesse caso.
Um ponto super positivo a favor do livro é que mesmo sendo o primeiro de uma série, a trama é fechada e o próximo livro, Mares de Sangue, trará uma aventura diferente da que se desenrolou neste.

A capa corresponde bem ao conteúdo do livro e é bastante bonita. As páginas são amarelas, a diagramação é simples, a fonte é pequena e não percebi erros de revisão. A tradução inclusive foi feita e adaptada de forma muito inteligente e alguns nomes ficaram hilários.

Pra quem procura por uma história intrigante e inteligente, que traz personagens super divertidos, com aventura, mistério, suspense e ainda é recheada de muito bom humor, o livro é mais do que recomendado.


O Código da Vinci - Dan Brown

22 de novembro de 2016

Título: O Código da Vinci (Ed. Especial para Jovens)
Autor: Dan Brow
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção/YA
Ano: 2016
Páginas: 312
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Americanas
Sinopse:Um assassinato dentro do Museu do Louvre traz à tona uma sinistra conspiração para revelar um segredo protegido por uma sociedade secreta desde os tempos de Jesus Cristo. Com a ajuda da criptógrafa Sophie Neveu, o professor de Simbologia Robert Langdon segue pistas ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci e se debruça sobre alguns dos maiores mistérios da cultura ocidental – do sorriso da Mona Lisa ao significado do Santo Graal. Mesclando os ingredientes de um envolvente suspense com informações sobre obras de arte, documentos e rituais secretos, O Código Da Vinci consagrou Dan Brown como um dos autores mais brilhantes da atualidade e agora chega em nova versão, especialmente preparada para o público jovem, com fotos coloridas que enriquecem ainda mais o livro.

Resenha: O famoso livro de Dan Brown, O Código da Vinci, agora chega em uma versão para jovens. Nessa aventura, Robert Langdon embarca com Shopie Neveu para desvendar diversos códigos e um segredo sobre o Santo Graal. Se Brown se consagrou como um escritor e vendeu milhares de cópias ao redor do mundo com suas obras mais adultas, essa releitura veio para angariar novos leitores e "simplificar" a trama que envolve segredos milenares que podem mudar o curso da sociedade para sempre.

O Código da Vinci, assim como outros títulos do autor, Robert Langdon é o protagonista e em todas suas aventuras é garantido que haverá muitos mistérios, códigos e segredos a serem desvendados pelo personagem e por quem lê. As histórias, que têm um teor bem adulto, trazem muitos traços de violência e até tortura. Nessa versão revisada, que contém cerca de cento e vinte páginas a menos, muito do que se era "pesado" demais foi retirado, deixando apenas o que era necessário para a compreensão do enredo.

O livro, que tem capítulos bem curtos e diretos, começa com um assassinato e acusações recaindo sobre Langdom. Todos os acontecimentos são detalhados, e a dinâmica dada a narrativa é atraente para o público que está iniciando seus passos na literatura e quer ter contato com uma história escrita por Dan Brown. Os personagens, que são devidamente aprofundados sem tomar o foco da trama para si mesmos, são parte fundamental para o enriquecimento da obra. Robert, um historiador e simbologista que já protagonizou mais aventuras, é, com certeza, merecedor dos fãs que conquistou ao redor do mundo.

Apesar da edição ser voltada ao público jovem e ter sofrido uma "enxugada" em relação à original, o texto não perdeu a essência. Muito dos mistérios e códigos estão presentes na narrativa, que é dinâmica e não abre espaço para que a história se torne entediante. O conteúdo brinca muito bem com hipóteses e "e se isso fosse verdade?". O enredo fala muito sobre Jesus Cristo, Maria Madalena e todos os acontecimentos retratados na Bíblia. Porém, com uma roupagem diferente, Dan Brown colocou dois protagonistas em busca de descobrir segredos que a igreja escondia e isso torna tudo muito empolgante. É possível que, no transcorrer da leitura, qualquer leitor possa se questionar sobre o que sabe de verdade sobre a história de Jesus.

O Código da Vinci, nessa nova versão, é mais do que satisfatória e cumpre o que um leitor jovem pode esperar. Iniciar no mundo da literatura, por vezes, requer o tipo de livro certo que possa despertar em alguém a vontade de continuar se aventurando em páginas e mais páginas. Aqui, temos uma história já conhecida com um teor mais leve, muito indicado para adolescentes. A aventura de Robert Langdon e Sophie Neveu, que já fez e faz muito sucesso entre os adultos, agora pode ser vivida por um público mais seleto e com uma faixa etária mais baixa. A leitura é indicação perfeita, que pode ser o pontapé inicial ideal para o avanço por tramas mais complexas.

Winter - Marissa Meyer

18 de novembro de 2016

Título: Winter - As Crônicas Lunares #4
Autora: Marissa Meyer
Editora: Joves Leitores/Rocco
Gênero: Distopia/Juvenil/ Ficção
Ano: 2016
Páginas: 688
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Americanas
Sinopse: Depois de Cinder, Scarlet e Cress, inspirados, respectivamente, nas histórias de Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Rapunzel, Marissa Meyer entrega a eles o último capítulo da série, em que reconta a história de Branca de Neve com tintas distópicas. Na trama, a princesa Winter vive subjugada por sua madrasta, Levana, que inveja sua beleza e não aprova os sentimentos da jovem pelo amigo de infância e belo guarda real Jacin. Mas Winter não é tão frágil quanto parece, e, junto com a ciborgue Cinder e seus aliados, a jovem princesa é capaz de iniciar uma revolução e vencer uma guerra que já está em andamento há muito tempo. Será que Cinder, Scarlet, Cress e Winter podem derrotar Levana e encontrar seus finais felizes?

Resenha: No quarto e último volume da série Crônicas Lunares, Marissa Meyer traz ao leitor uma releitura distópica baseada no conto de fadas de Branca de Neve, e, dessa vez, Winter é a personagem principal.

A história se passa pouco tempo após as reviravoltas em Cress, em que Scarlet é levada para Luna se tornando escrava, e só continuou viva por causa da proteção de Winter, e Cinder sequestra Kai para provar seus motivos para seguir com sua revolução e retomar o trono de Luna, se aproveitando do que Levana usou para controlar o povo contra ela mesma: o glamour.

Winter é a linda princesa de Luna, amada por todos os súditos do reino e a rainha Levana é sua madrasta. Levana inveja a beleza de Winter, e odeia que o povo a admire quando ela não possui sangue real. Winter reprimiu seu poder lunar. Ela fez uma promessa de que nunca usaria o glamour para manipular as pessoas e por isso é a protegida de Jacin, um dos guardas do palácio. Porém, por ela não usar seus poderes, eles começam a afetá-la mentalmente de forma negativa: Winter é louca e constantemente sofre de alucinações. Sua loucura a impede de dar uma chance ao amor que sente por Jacin, enquanto ele acredita que ele não a merece por ela ser da realeza. Eles não nutrem somente uma relação muito forte de amizade e companheirismo, mas também um amor secreto que não poderia vir à tona para que Levana não pudesse usar isso contra os dois.
Quando Winter descobre sobre os planos de Cinder, ela decide se juntar ao grupo para ajudar a tripulação da Rampion na revolução...

Narrado em terceira pessoa e trazendo vários pontos de vistas diferentes, Winter traz o desfecho perfeito para uma história revolucionária envolvendo a busca pela libertação de dois povos que se encontram nas garras de uma rainha tirana. Se trata de uma guerra travada contra a opressão, em prol da liberdade, rumo ao felizes para sempre.
A maior qualidade da série é manter a fluidez e um ritmo constante, e dessa forma a conclusão é que em momento algum a autora se perdeu na própria trama, nenhum dos livros são inúteis, tudo o que acontece é importante e todos os personagens representam papéis fundamentais para o desenrolar da história até seu final. Eles são únicos! Uma mecânica habilidosa e um imperador, uma camponesa armada e um soldado destemido, uma hacker e um contrabandista, uma princesa louca e um guarda humilde, e uma andróide hilária e inteligente. Um time de personalidades que aparentemente não tem nada em comum, mas que juntos fizeram toda a diferença.

Há romance, sim, mas este acaba ficando em segundo plano diante da grandeza da guerra iminente.
As subtramas que envolvem cada personagem, e cada casal que se formou ao longo da série, são inteligentes e funcionam como um complemento valioso dentro do enredo em geral.

A capa é linda demais, a mais bonita entre as quatro, e os detalhes também não ficam atrás. O título é prateado e a aplicação em verniz sobre a ilustração dão um toque mais do que especial ao livro. A diagramação é simples, as páginas são amarelas, a fonte segue o mesmo padrão dos outros livros e não encontrei erros de revisão.

Assim como nos livros anteriores, eu pude me envolver com tudo o que a autora criou, desde a ambientação, a escrita viciante, os personagens memoráveis e a conclusão épica! É uma das melhores séries que tive o prazer de acompanhar.

Porno - Irvine Welsh

22 de julho de 2016

Título: Porno - Trainspotting #2
Autor: Irvine Welsh
Tradução: Galera & Pellizzari
Editora: Rocco
Gênero: Ficção/Romance
Ano: 2016
Páginas: 480
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Livraria Cultura
Sinopse: As anfetaminas, os ansiolíticos, a metadona, o ácido lisérgico, nada disso faz mais efeito. Morfina, adeus! Novos vícios para novos tempos. E, agora, eles estão em todos os lugares. Em qualquer cinema pulguento, nos classificados dos jornais, nas esquinas, ao alcance de um único clique no mouse. Todos os dias. Vinte e quatro horas. Toda a perversão, todo o desespero e toda a doença em troca de um único barato: pornografia. Quem precisa de heroína quando nunca foi tão fácil obter um orgasmo?
Resenha: Porno foi lançado pela primeira vez em 2006 no Brasil, dando continuidade a Trainspotting, onde conhecemos a história de Mark Renton, Sick Boy, Spud e Begbi, jovens inconsequentes, desajustados e viciados em drogas que viviam no suburbio de Edimburgo, se envolveram em várias confusões e arruinavam as próprias vidas enquanto ansiavam pela próxima onda. Dez anos se passaram desde então, eles estão na casa dos trinta, têm responsabilidades de pessoas adultas, filhos e estão diversificando os próprios interesses, até toparem com o assunto do momento: a indústria pornográfica.
O livro do autor escocês Irvine Welsh foi relançado pela Editora Rocco nessse ano de 2016 sob novo, muito mais bonito e menos sugestivo, projeto gráfico.

Sick Boy, ou melhor, Simon, ganha o foco maior nessa sequência. Ele se tornou um empreendedor ambicioso e oportunista que não mede esforços para ganhar muito dinheiro, nem que para isso ele execute falcatruas ou qualquer outro projeto arriscado e que ainda sirva para alimentar seu próprio ego. E então, sem deixar de lado a ideia de que quer se vingar de Renton por algo que aconteceu no passado, ele decide produzir um filme pornô e todos os seus antigos compaheiros se envolvem no dito projeto. E enquanto isso, Begbie está prestes a ser libertado da prisão e quer descontar sua raiva em todos os outros.

A narrativa é feita em primeira pessoa e assim como acontece em seu antecessor, não há nenhum indicativo sobre quem é o personagem com a voz ativa da vez, mas a medida que vamos nos acostumando com as particularidades de cada um, fica fácil saber quem é quem e considero isso como sendo um ponto super favorável ao autor, que demonstra sua incrível habilidade de diferenciar personagens lhes dando personalidade própria, cada qual com sua narrativa individual e única, sendo possível conhecermos cada um deles apenas pelo modo de falar e/ou agir. O ritmo da escrita é constante, mais focado e não apresenta tantos elementos caóticos deixando a estrutura da trama menos confusa já que é linear, mas ainda seguindo quase o mesmo padrão de diálogos coloquiais e formas de expressão simplistas e abreviadas.
Essa ideia de "amadurecimento" dos personagens onde eles agora aparecem em sua versão adulta pode até fazer com que o leitor pense que a trama está tendendo para algo totalmente novo e diferente do que foi visto anteriormente, mas no fundo os personagens ainda conservam suas características marcantes, por piores e mais depravadas que sejam, que os tornaram inesquecíveis.
Não posso deixar de falar sobre Spud, que tem que lidar com seus pensamentos insanos e autodestrutivos, mas agora tem uma família pra cuidar. A forma como seu personagem é retratado faz com que o ele seja alguém muito próximo a realidade, com problemas pertinentes e preocupantes que cercam a vida de muita gente por aí.

Uma coisa que pude perceber é que a história, em geral, faz uma crítica sobre o funcionamento da cultura do sexo na sociedade e o autor consegue evidenciar todos os absurdos desse meio através dos personagens, incorporando características únicas em cada um deles para que eles possam fazer uma representação fiel do que acontece quando o assunto é sexo e o que se pode tirar de vantagens dos outros por meio dele.
A sensação ao ler e finalizar Porno foi de uma enorme nostalgia, aquela satisfação em poder saber o destino daqueles garotos deliquentes e o que mais o autor tinha a dizer sobre eles, e de quebra ainda conhecer novos personagens numa trama tão inteligente e bem construída quanto a primeira, com o diferencial de ter um toque de humor muito maior.
Porno é um retrato realista das facetas humanas, das melhores até as piores, trazendo elementos como sexo, vingança, drogas e violência misturados de forma bastante satisfatória. Confesso que alguns podem considerar várias cenas bastante incômodas, seja pelo teor sexual explícito ou sobre as duras verdades acerca da podridão da sociedade e daqueles que parecem pensar que o mundo funciona na base predadores ou presas, mas o livro superou minhas expectativas e é umas melhores sequências que já acompanhei com um tema pertinente e que proporciona diversão na medida certa. Chega a ser cômico que persnagens tão imorais consigam trazer reflexões sobre moralidade e valores aos leitores, e o que posso dizer sobre isso? É genial!

P.S. É possível ler esse livro mesmo sem ter lido o primeiro, mas eu particularmente recomendo que a leitura seja feita na ordem a fim de conhecermos o íntimo e as experiências vividas por esse grupo de jovens irresponsáveis e desajustados. Com certeza a leitura será mais proveitosa e valerá muito mais a pena.

Trainspotting - Irvine Welsh

21 de julho de 2016

Título: Trainspotting - Trainspotting #1
Autor: Irvine Welsh
Tradução: Galera & Pellizzari
Editora: Rocco
Gênero: Ficção/Romance
Ano: 2016
Páginas: 288
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Livraria Cultura
Sinopse: Para que ter um emprego? Para que ter uma casa de dois andares em uma rua arborizada? Para que uma cafeteira, uma máquina d elevar, um bilhete de metrô? Abrir uma conta no banco, ter um cartão de crédito, assinar contratos? Despertador, TV a cabo, férias na Riviera? Crianças na escola, carro do ano, comida na geladeira? Quem disse que a vida precisa ser só isso? É essa vida que você escolheu? Tem certeza de que você precisa disso? Relaxe. Sinta o sangue correndo em suas veias. Feche os olhos. E prepare-se para a viagem.
Resenha: Trainspotting, escrito pelo autor escocês Irvine Welsh, ganhou uma grande repercussão devido a temática junkie/trash utilizada que engloba o submundo das drogas e de como era a vida de jovens que usavam a heroína de forma impensada e inconsequente (como qualquer viciado em drogas faz). O livro é de 1993, foi lançado no Brasil em 2004 e Editora Rocco relançou a obra nesse ano de 2016 sob novo - e infinitamente melhor - projeto gráfico.

A história se passa nos anos 90, no subúrbio de Edimburgo, Escócia, e retrata a época com bastante fidelidade através de jovens amigos que se perdem na vida ao fazerem escolhas erradas por não quererem viver de acordo com os moldes impostos pela sociedade considerados como "corretos".
É um livro de conteúdo explícito, sórdido, vulgar e sujo que mostra como alguém pode arruinar a si próprio, degradando-se lentamente em meio a marginalidade, passando o dia deitado numa poça da urina ou merda e ainda correndo riscos de contaminação por doenças incuráveis como a AIDS, que teve seu auge na época, devido as práticas nada higiênicas que são adotadas pelo grupo dos drogados.
A história é contada por um grupo de amigos, Mark Renton, Sick Boy, Spud, Tommy e Begbie, dentre outros, cada um com características únicas mas com uma coisa em comum: Eles são viciados e contam como chegaram ao fundo do poço pelo uso desenfreado da heroína.

O livro é dividido em partes - que pelos títulos resumem bem a vida de um viciado (Largando, Voltando, Largando de novo, Cagando tudo, Exílio, Lar, Saída) - e cada uma delas possuem capítulos sem sentido e aleatórios que parecem não ter ligação nenhuma com o anterior ou o seguinte, principalmente por não serem lineares e nem respeitarem uma ordem cronológica certa, e a narrativa em primeira pessoa se alterna sem que fique claro quem é o personagem da vez. Somente após o leitor se familiarizar com a forma de falar de cada um deles é possível se atentar a essas características particulares e saber a quem pertence a voz ativa que narra o capítulo em questão. Vamos ficando íntimos deles, sabendo de seus medos e anseios quando eles compartilham suas opiniões acerca da vida e do que lhes acontecem, sendo possível conhecer a essência de cada um deles. De início parece muito confuso e a impressão é de que a própria estrutura narrativa é um amontoado desconexo, mas posteriormente fica claro que a ideia foi genial levando em consideração que a vida desses jovens e como suas cabeças funcionam num estado de torpor (ou da falta dele) é a personificação do próprio caos.

Embora o tema seja pesado, há muitas passages cômicas e até despretenciosas que dão espaço para que o leitor "respire", fugindo um pouco de tanta tragédia, mas as críticas à sociedade estão lá, em trechos reflexivos que nos colocam pra pensar sobre as consequências de nossas escolhas além de dar uma visão sobre alguns fatores que pode levar alguém a ir pelo caminho das drogas. A sociedade fede, é hipócrita, preconceituosa, e a desilusão que as pessoas nutrem por esperarem por um futuro sem perspectivas de coisa alguma acaba fazendo com que alguns procurem por válvulas de escape como forma de distração. O problema é que algumas delas são ilegais, levam esses sujeitos à marginalização e na grande maioria das vezes, é um caminho irreversível e sem volta, logo qualquer indício de que o futuro poderia ser promissor, acaba sendo destruído por uma escolha ruim.

Penso como a tradução dessa obra deve ter sido um trabalho árduo para os tradutores pois o autor recria a linguagem oral falada pela população da classe baixa de Edimburgo e a passa para a forma escrita, procurando escrever da mesma forma que se fala, focando em sotaques e entonações. É uma mistura de inglês clássico com o dialeto usado do sul da Escócia e por mais que a grafia seja "incorreta" é possível entender o que se fala pela através da parte fonética. Na tradução e adaptação para o português, a forma para evidenciar esse linguajar pobre e chulo foi usando uma escrita bem informal e com erros ortográficos propositais, e ao mesmo tempo descartando o uso de gírias regionais, pois dessa forma qualquer um pode ler sem maiores dificuldades no entendimento. Porém, em outros casos onde são utilizados termos mais complexos relacionados a elementos específicos da região onde os personagens vivem, foi necessário a criação de um glossário para não fugir dos padrões da escrita traduzida e facilitar nossas vidas, além das notas de rodapé com observações sobre alguns termos usados pontualmente.
O título também foi mantido em inglês de forma proposital já que além do significado literal (conferindo os trens), ele faz uma referência ampla a atividades sem sentido ou sem utilidade que implique em uma total "perda de tempo", o que na minha opinião não poderia ser mais adequado visto que a vida que esses pobres coitados escolheram não os leva a nada... Acho que inclusive o livro deveria ser de leitura obrigatória em escolas a fim de conscientizar e abrir os olhos dessa geração que não é tão diferente daquela que viveu nos anos 90...

Em suma, Trainspotting é uma obra ácida, recheada de obscuridade, agressiva e muito, muito suja, mas tráz uma história contada de forma única, intrigante, agradável, divertida e despretenciosa e que vai se tornar inesquecível e trazer questionamento e reflexões devido a profundidade com que os dilemas daqueles que possuem vícios são abordados.

Nova Ordem - Chris Weitz

19 de maio de 2016

Título: Nova Ordem - Mundo Novo #2
Autor: Chris Weitz
Editora: Seguinte
Gênero: Ficção
Ano: 2015
Páginas: 266
Nota: ★★★☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Jefferson, Donna e seus amigos descobriram que os adolescentes não são os únicos que sobreviveram ao vírus e, em meio ao caos do resgate da Marinha, eles se separam. Jefferson volta para Nova York e tenta levar a Cura para a tribo da Washington Square, enquanto Donna vai parar na Inglaterra, onde se depara com um mundo pós-Ocorrido inimaginável. Mas um desastre ainda maior que a Doença está prestes a acontecer, e Donna e Jefferson só poderão evitá-lo se acharem o caminho de volta um para o outro.

Resenha: Depois de um final bombástico em Mundo Novo, Chris Weitz me convenceu a ler a sequência. Eu juro que estava quase desistindo de continuar a série porque o desenvolvimento do primeiro não foi lá essas coisas, mas que cliffhanger, cara! Então fui pro segundo com a cara e a coragem. (Perdão, mas é impossível não falar desse sem soltar spoiler do primeiro)

Nova Ordem começa no ponto em que Mundo Novo acaba. Jeff, Donna, Peter, Crânio, Capitão e Theo são capturados pelo helicóptero da Marinha e levados a confinamento, isolados em quartos separados e interrogados sobre o período em que o vírus dizimou as crianças e a população adulta. Eles têm acesso a informações limitadas, mas conseguem descobrir que o vírus atingiu apenas a cidade de Nova York, deixando o restante do mundo bem fragilizado. Como resultado disso, os demais povos entraram em conflitos de opiniões e acabaram criando inimizades entre si, gerando uma busca por controle.

Esses adolescentes já passaram por muito sofrimento, amadureceram rápido demais, aprenderam a se virar para sobreviver e para isso tiveram que desconfiar de tudo e todos. Mas em meio a tantas surpresas, o que eles não esperavam é que fossem receber um bilhete misterioso.

Seus amigos estão seguros. Não coopere com os investigadores. Eles não estão do seu lado. Estamos tentando libertar vocês.

No primeiro livro senti falta de um elemento muito presente em distopias - o governo opressor - e aqui ele aparece, tanto que até existe um grupo de resistência. E são essas pessoas que planejam a fuga secreta de Jeff e seus amigos. E agora, em quem eles podem confiar? A Marinha está falando a verdade? Ou seria melhor acreditar na Resistência? A ideia de fugir é atrativa, e eles até tentam, mas acabam se separando de Donna no meio da confusão. Jeff não desiste da ideia inicial de resgatar os adolescentes e acaba voltando para NY com o intuito de juntar todas as tribos e estabelecer uma nova ordem. Já Donna vai para Inglaterra e se depara com uma realidade totalmente diferente e a oportunidade de uma nova vida, mas isso terá um preço.

O romance estava prestes a engrenar quando o casal se separa - e aí meu lado romântico ficou frustrado, porque era uma das poucas coisas emocionantes do livro pra mim. Só que essa relação ainda tem muito mais pra dar, porque só eles - juntos! - podem evitar um grande desastre.

Novamente Donna e Jeff se revezam na narrativa da história, mas agora temos uma novidade: alguns poucos capítulos são narrados por outros personagens no decorrer do livro, de maneira pontual, nos permitindo entender seus pontos de vista, sentimentos e motivações. E de novo achei que havia um excesso de personagens (e sim, minha previsão na resenha anterior se confirmou, mal lembrei dos personagens depois de tanto tempo entre uma leitura e outra), mas dessa vez foi mais fácil me acostumar a eles.

Infelizmente não posso negar que essa foi apenas uma sequência qualquer. O autor soube mudar o rumo dos acontecimentos, inserir novos personagens e cenários, suscitar mais conflitos e trabalhar mais as personalidades. Pena que não soube como fazer isso. :/

Eu queria acreditar que todos iriam abandonar suas armas e se abraçar, deixando de lado as questões da guerra e da coerção para voltar à maneira que viviam antes. Mas meu coração me disse que não seria tão bonito assim. Ele me disse que o novo contrato social seria escrito com sangue.

A editora manteve a identidade visual, escolhendo dessa vez um verde-limão para a capa para combinar com o laranja fluorescente do primeiro livro. Vale lembrar que a capa brasileira é totalmente diferente das demais, inclusive da original, e, na minha opinião, é muito mais atrativa e combinativa com a história. Em termos de diagramação e revisão, eles sempre dão um show, e aqui não foi diferente.

Mais uma vez prometo que é a última coisa que vou repetir da primeira resenha o livro tinha tudo pra ser bom, com uma ideia fantástica, mas acabou se perdendo em meio a detalhes inúteis e narrativas longas e desnecessárias. A vontade de ler o 3º só existe por conta do final, da curiosidade em saber como o autor irá amarrar todas as pontas soltas.


Guerra Civil - Stuart Moore

24 de janeiro de 2016

Título: Guerra Civil - Marvel #2
Autor: Stuart Moore
Editora: Novo Século
Gênero: Juvenil/Ficção
Ano: 2015
Páginas: 398
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: A épica história que provoca a separação do Universo Marvel! Homem de Ferro e Capitão América: dois membros essenciais para os Vingadores, a maior equipe de super-heróis do mundo. Quando uma trágica batalha deixa um buraco na cidade de Stamford, matando centenas de pessoas, o governo americano exige que todos os super-heróis revelem sua identidade e registrem seus poderes. Para Tony Stark o Homem de Ferro é um passo lamentável, porém necessário, o que o leva a apoiar a lei. Para o Capitão América, é uma intolerável agressão à liberdade cívica. Assim começa a Guerra Civil. 

Resenha: Guerra Civil, o livro, é uma adaptação escrita por Stuart Moore da HQ de Mark Millar e Steve McNiven, que traz uma das maiores e mais famosas histórias que separou os notáveis super heróis do universo Marvel através de um dos maiores confrontos já vistos até então.

Tudo começa quando os Novos Guerreiros, um grupo composto por heróis adolescentes e inexperientes, decidem estrelar um reality show onde mostravam o seu dia-a-dia de combate ao crime. A ideia era terem uma chance de transformar o time fracassado de terceiro escalão em estrelas, mas as coisas não estavam indo conforme o planejado... Até que em Stamford, em um dia aparentemente comum de gravações, eles descobrem o paradeiro de quatro vilões que fugiram da prisão estadual da Ilha Rykers três meses atras. Liderados por Speedball e seguidos pela equipe de filmagens, eles tentar capturar os vilões em plena luz do dia, no meio de um bairro típico onde os moradores e todas aquelas crianças jamais imaginariam o que estava por vir... Nitro, um dos vilões foragidos, ao se ver encurralado, se transformou numa enorme bola de fogo que espalhou terríveis ondas de choque ao seu redor, causando uma explosão cuja devastação não deixou precendentes...

"Oitocentos e cinquenta e nove moradores de Stamford, Connecticut, morreram naquele dia. Mas Robbie Baldwin, o jovem herói chamado Speedball, não chegou a saber disso. O corpo de Robbie ferveu até evaporar, e enquanto a energia cinética dentro dele explodia pela última vez no vazio, seu último pensamento foi:
Pelo menos, não terei que ficar velho."
- Pág. 17

Devido a tragédia de Stamford, as pessoas não se sentiam mais seguras diante de mascarados que usavam seus poderes mas deixavam rastros de destruição e mortes de inocentes. Há revolta e indignação após o ocorrido, e é iniciada uma grande comoção pública contra a prática irresponsável e desenfreada do "heroísmo". Logo, o senado dos Estados Unidos decide implementar a Lei do Registro de Super-Humanos, a LRS, que dita que todo super-herói deve se dirigir a um posto do governo para, além de se registrar, revelar sua identidade. A partir daí, eles seriam devidamente registrados no seguro social e passariam a trabalhar para o governo na proteção dos civis, tendo direito a benefícios e até mesmo salário.
Eis que Tony Stark, o Homem de Ferro, (que inclusive, há tempos, já revelou sua verdadeira identidade para o mundo sem a menor preocupação) apoia a estratégia do governo e acredita que o melhor a fazer é recrutar e convencer o maior número de super-humanos que conseguir a aderir ao plano, começando por todos aqueles que integram os Vingadores, mas, em contrapartida, a ideia de super-heróis revelarem suas identidades não é tolerável para o Capitão América, pois, dessa forma, além de serem privados da liberdade cívica, eles estariam expondo a si mesmos e as pessoas próximas a eles tornando todos vulneráveis ao perigo.
A partir dessa divergência de ideias e interesses, e após um grande desentendimento que causa uma baixa de alguém importante, o universo dos super-heróis é dividido entre os que apoiam e os que são contra a LRS, e os dilemas que eles irão enfrentar são colocados a prova quando a liberdade do povo e o dever para com a pátria são colocados frente a frente.

Narrado em terceira pessoa numa escrita ágil, fluída e super empolgante, Guerra Civil é um livro que traz uma história política e ideológica dentro do universo dos super-heróis tão conhecidos e queridos pelos fãs dos quadrinhos.
Não é necessário ter conhecimento prévio com relação aos quadrinhos para ler e entender o que se passa, pois o autor introduz tudo de forma gradual e sutil para que até os leigos não fiquem perdidos. Talvez o excesso de personagens possam confundir alguns leitores, pois muitos não são tão conhecidos quanto os demais, mas Wolverine e os X-Men, Homem Aranha, Homem Formiga, Demolidor, Quarteto Fantástico, Thor, Hulk, Viúva Negra, Miss Marvel, Justiceiro são alguns dos nomes citados e/ou que compõem os eventos que se desenrolam em Guerra Civil e todos são aprofundados na medida certa para os conhecermos bem e entendermos suas escolhas.
Homem Aranha/Peter Parker tem grande destaque, pois, inicialmente, ao decidir ficar do lado do Homem de Ferro e aceitar o convite para ser integrante dos Vingadores, suas escolhas lhe trazem consequências que transformam sua vida de cabeça para baixo e ele acaba ficando com a lealdade dividida entre Tony e Capitão. Por tudo que ele passa a enfrentar desde então, Peter pode ter sido um dos mais prejudicados nessa história...
Durante a leitura tentamos entender o que motiva cada um dos líderes dos dois grupos que se formam pois os personagens ganham bastante profundidade ao terem as intenções reveladas, assim como as consequências de suas escolhas, então não é possível acreditar que nem Homem de Ferro e nem Capitão América fiquem com o papel de "vilão", pois eles estão tentando defender o que acreditam ser o melhor no momento para preservar o bem estar de todos, mas até onde é possível ir para garantir a integridade das pessoas que só querem levar suas vidas de forma normal?

"Sue se deu conta do que aquilo se tornara: uma batalha irreconciliável entre Homem de Ferro e Capitão América, cada um deles absolutamente convencido de que sua causa era justa. Nada podia detê-los, nem deuses, nem vilões, nem mesmo seus amigos heróis. Essa batalha continuaria até que um dos dois estivesse morto."
- Pág. 170

O projeto gráfico do livro é ótimo. A ilustração da capa é característica e a diagramação é bastante caprichada. A parte interna da capa também tem ilustrações de conflitos e destruições que já dão uma prévia ao leitor do que será encontrado. As páginas são amarelas, as destinadas a numerar os capítulos são pretas para diferenciar das demais e sempre nos deparamos com os símbolos dos personagens principais. Encontrei alguns erros de revisão, mas nada que tenha prejudicado minha empolgação com a leitura.

Mesmo sendo fã, não vou considerar os quadrinhos. Não costumo fazer resenhas comparativas já que prefiro me limitar somente a opinião da leitura em questão. O livro é uma ótima adaptação que contém partes fiéis e outras com alterações, algumas inclusive foram bem superiores ao original ao meu ver, mas posso dizer que a Guerra Civil, de forma geral, é um livro empolgante, que coloca o leitor a par da situação fazendo com que ele tenha um lado para o qual torcer (sempre fui #TeamTonyStark, obrigada XD), e foi responsável por mudanças relevantes e consequências irreversíveis na vida dos super-heróis, levantando questões que nos fazem refletir sobre opressão, direitos e liberdade, além de tocar no ponto crucial da amizade entre dois grandes amigos que, por divergência de opiniões, pode ter as estruturas abaladas para sempre.
Para aqueles que gostam do gênero e querem entender o quê, de fato, aconteceu com mais profundidade, é leitura obrigatória.



Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie

22 de janeiro de 2016

Título: Americanah
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Ficção
Ano: 2015
Páginas: 516
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela se depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.

Resenha: A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie é bem conhecida por suas publicações que abordam o feminismo de uma forma bastante direta, e Americanah, um romance político publicado no Brasil pela Companhia das Letras, não é exceção.

A Nigéria de 1990 enfrentava tempos difíceis sob um regime militar bastante rígido que fazia inclusive com que as universidades ficassem em greve por períodos indeterminados, prejudicando estudantes e impedindo que realizassem seus sonhos. Ifemelu, em busca de melhores oportunidades, resolve deixar sua família e seu primeiro amor pra trás, e parte para os Estados Unidos. Mas anos depois, formada em comunicação e blogueira de sucesso, ela decide voltar às raízes, e, secretamente, para Obinze.

O livro é narrado em terceira pessoa através das memórias da protagonista que se desenrolam de forma não linear além de capítulos intercalados que se referem a Obinze, que namorava Ifemelu no ensino médio antes dela deixar seu país. A escrita da autora é bastante fácil e fluída e através das ironias e dos toques de humor podemos perceber as diversas formas de preconceito, mesmo as mais sutis. O que move a trama é a ideia de Ifemelu voltar a Nigéria e os motivos que a leveram a tomar tal decisão.
Em suma, a vida de Ifemelu, desde a infância até a fase adulta, é descrita com perfeição no que diz respeito a detalhes e situações que ela viveu, pois a personagem é aprofundada de tal forma que não nos limitamos a conhecer somente ela, mas também seus pais, sua cultura e estilo de vida que levava no cotidiano até ter decidido deixar tudo pra traz, desfazendo laços e abrindo mão do amor em nome de um sonho que pra ela era maior, mas ao ir embora, Ifemelu se depara com uma realidade totalmente diferente da qual estava acostumada, pois enquanto na Nigéria ela era uma jovem comum que não era tratada com nenhuma distinção em meio as demais pessoas, nos Estados Unidos ela acaba se "descobrindo" negra, e que diante dos outros, isso a tornava diferente, inferior ou pior já que a cor de sua pele ou o aspecto de seu cabelo são fatores determinantes para definí-la. Como ela mesma diz, ela nunca havia pensado nela como uma pessoa negra por nunca ter levado a raça em consideração. Ela "se tornou" negra quando pós os pés na América e percebeu que lá as pessoas tem outros conceitos que até então ela desconhecia.

Um ponto a ser destacado é sobre o blog mantido por ela, o Racenteeth. Lá ela escrevia crônicas irônicas e bem humoradas sobre situações que envolviam o racismo e como tais casos causam impacto. Alguns posts do blog podem ser lidos ao longos dos capítulos para que o leitor fique por dentro do que exatamente Ifem trata, e tais posts são ótimos já que acabam até tornando a escrita mais dinâmica ao ter esse diferencial.

Devido à narrativa que se alterna entre passado e presente, conhecemos diferentes versões dos personagens, ora mais jovens e ora mais velhos, o que possibilita ainda mais conhecê-los a ponto de entendermos suas motivações.
Ifemelu é uma personagem complexa, mas demonstra ser forte, daquele tipo que corre atrás do que quer sem medo de arriscar, e passei a admirá-la bastante. Nos EUA ela não tem estabilidade, e além de imigrante e negra, ainda é mulher, o que colabora ainda mais para julgamentos alheios.
Os personagens secundários também são ótimos e bem construídos, têm profundidade e realmente fazem diferença na representação dos menores detalhes.

Posso afirmar que Americanah é um livro notável, reflexivo e cheio de verdades. Ele aborda questões que envolvem a desigualdade social e o preconceito, a imigração e o racismo, a autoaceitação, a mudança e até mesmo a identidade cultural. É aquele tipo de livro que abala estruturas, quebra conceitos e fica na memória mesmo que tenha chegado ao fim, e permanece com a gente, nos fazendo refletir sobre o mundo em que vivemos.

O livro é muito realista e apesar de abordar um assunto sério e polêmico, ainda tem toques de muito bom humor. Os diálogos são ótimos e remetem à pessoas comuns tornando tudo muito próximo à realidade. Podemos acompanhar Ifem se adequando às condições que lhe são impostas, sendo obrigada, por exemplo, a abrir mão de seu penteado afro e alisar o cabelo para conseguir emprego. E tais cenas nos fazem refletir, nos colocam na pele dos personagens de forma que tenhamos a oportunidade de enxergar a situação pelo olhar de quem é negro e vive (e atura) tudo aquilo.
A autora também faz descrições perfeitas acerca das cidades onde Ifemelu vai sendo possível até mesmo visualizar tais lugares.

A capa é simples, mas já dá ideia do que se trata ao trazer uma silhueta (e branca) de uma mulher com uma enorme cabeleira crespa. As cores dos EUA na capa também tem significado, e o próprio título representa a adequação aos padrões americanos. A parte intrna da capa traz figuras geométricas na cor laranja que lembram a cultura africana completando e dando um toque super especial à obra.
As páginas são amarelas e a diagramação é simples. Os diálogos são apresentados com aspas e não encontrei erros de revisão.

Americanah explora a estrutura das classes americanas, trata das questões raciais e das críticas sociais com maestria e é um verdadeiro tapa na cara que nos abre os olhos para o funcionamento do mundo, principalmente aqueles que ainda se recusam a enxergar ou a entender, mas também traz uma história de amor que, apesar de não ser o fator principal, serve como um verdadeiro fio condutor, aquele verdadeiro e bonito que apesar de todos os obstáculos, perdura e se fortalece.


Cress - Marissa Meyer

8 de janeiro de 2016

Título: Cress - As Crônicas Lunares #3
Autora: Marissa Meyer
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Distopia/Juvenil/ Ficção
Ano: 2015
Páginas: 496
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Neste terceiro livro da série Crônicas Lunares, Cinder e o capitão Thorne estão foragidos e agora levam Scarlet e Lobo a reboque. Juntos, eles planejam derrubar a rainha Levana e seu exército. Cress talvez possa ajudá-los. A garota vive aprisionada em um satélite desde a infância, com a companhia apenas de telas, o que fez dela uma excelente hacker. Coincidência ou não, infelizmente ela também acabou de receber ordens de Levana para rastrear Cinder e seu bonito cúmplice. Quando um ousado plano de resgatar Cress dá errado, o grupo se separa. Cress enfim conquista a liberdade, mas o preço a se pagar é alto. Enquanto isso, Levana não vai deixar que nada impeça seu casamento com o imperador Kai. Cress, Scarlet e Cinder talvez não tenham a intenção de salvar o mundo, mas muito possivelmente são a última esperança do planeta.

Resenha: Quando iniciei a série As Crônicas Lunares, confesso que, inicialmente, fui fisgada pela capa de Cinder, mas não esperava nada grandioso que me fizesse ficar maluca pela história. Obviamente minhas expectativas foram totalmente superadas e me tornei uma enorme fã da série, da autora e das personagens únicas que ela criou ao se basear em personagens vindas de contos de fadas.
Afinal, o que esperar de uma versão meio ciborgue da Cinderela que trocou o sapatinho por uma perna biônica e muita graxa? Como não amar uma versão de Chapeuzinho Vermelho que trocou a cesta de doces por um revólver e caiu nas graças de um lutador chamado Lobo? Cinder e Scarlet, as protagonistas, me conquistaram a primeira vista e por mais que cada livro seja destinado a uma personagem diferente, a vida de todas estão entrelaçadas devido as questões políticas que envolvem a iminente guerra entre Luna e o planeta Terra.
Eis que a autora conseguiu inovar ainda mais no terceiro livro da série. Depois de tantas questões envolvendo política e poder, temos Cress, baseada em Rapunzel.

Enquanto o príncipe Kaito está em apuros devido ao seu casamento nada desejado com a rainha Levana estar próximo, há sete anos Cress vive presa em um satélite servindo como instrumento para ajudar na dominação da Terra. Sua única companhia, além de si mesma, é seu protótipo com inteligência artificial que ela chama de Pequena Cress. Ela é uma hacker e frequentemente obtém informações da Terra para Sybil, a taumaturga braço direito da terrível rainha Levana. Com Cinder sendo procurada, sua missão principal é encontrá-la através dos rastros deixados em quaisquer vias de comunicação online além de fornecer qualquer tipo de informações que colabore para a conquista.
Mas sua curiosidade pela Terra e pela cultura do povo vão além dos interesses que a mantém hackeando sistemas e, devido aos últimos acontecimentos, e por não ser nada ingênua, ela acaba ajudando Cinder e seus aliados, Scarlet, Lobo, Thorne e Iko (Iko ♥) que estão a bordo da Rampion em segredo. Ela sempre soube a localização da tripulação, mas escondeu tudo o que sabia de Sybil passando algumas informações inúteis que não a levava em lugar algum.

Após um contato breve, Cress dá sua localização e espera ser resgatada por Cinder, mas o plano ousado acaba não saindo conforme deveria... Apesar de ter conseguido fugir do satélite, o grupo fica desfalcado de alguns membros que, por motivo de força maior, acabam seguindo por um outro caminho... Agora, ao lado Cinder e Thorne, Cress mostra que sua disposição para entrar na batalha não vai ser perdida tão facilmente e, mesmo que pareça frágil, toda a sua força virá a tona.

Narrado em terceira pessoa em capítulos curtos e alternados, Cress é um tipo de leitura completamente viciante. A fluidez da escrita somada à criatividade e à originalidade da trama surpreendem. A sensação é de puro êxtase do início ao fim. Os capítulos se alternam de forma que os personagens, independente de onde tenham ido parar, ganhem foco e destaque.
Eu adorei Cress, ou como é seu nome verdadeiro, Lua Crescente. Cress não é apresentada como uma jovem inteiramente sã. Por mais inteligente que seja, os anos em confinamento e solidão meio que foram responsáveis por deixá-la meio maluca e desajeitada. Em suas horas livres seu passatempo era ler romances, buscar informações sobre os tripulantes da Rampion, ler mais romances, stalkear Thorne, ler mais, e idealizar uma vida pra si mesma longe daquele satélite, longe de Sybil, sonhando como seria se fosse livre e pudesse estar nos braços de um cara forte e corajoso, como Thorne... É claro que ela tem consciência de que um "anti-herói do bem" como Thorne jamais poderia ser considerado um príncipe encantado e esses pontos construíram uma personalidade que fez dela uma personagem única e divertida, que deu um ar leve e descontraído para que a história não fosse totalmente sangrenta, sombria e pesada.

A autora mantém as personagens dos livros anteriores e dá espaço a todas elas sem que nenhuma fique de lado ou com menos importância. Cada uma das protagonistas tem um papel distinto e a cada nova descoberta aprendem mais, ganham mais experiência e amadurecem.
A série, de forma geral, parece estar numa fase diferente da que encontramos nos outros livros, já que é possível perceber que devido a situação política, a realidade está mudando e se tornando ainda pior do que antes, e é isso que dá o ar sombrio à história. As Crônicas Lunares é um conto de fadas sangrento, a questão da Letumose ganha uma nova abordagem e as coisas estão bem piores do que imaginavámos...

Os personagens são ótimos, suas personalidades são marcantes e os tornam únicos. Ao lermos os pontos de vistas de cada um deles, podemos distinguir um do outro com facilidade pois a personalidade e o jeito de ser parece estar entranhado em cada atitude ou modo de falar.
É um livro rápido de ser lido pois tudo é muito ágil e dinâmico, sempre está acontecendo algo com alguém em algum lugar e não há brechas para tédio. As caminhadas no deserto parecem ser cansativas a princípio, mas acabam sendo uma grande aventura, perfeita para nos aprofundarmos um pouco mais nos personagens e conhecê-los e admirá-los ainda mais já que se metem em situações não muito favoráveis.

Achei Kaito um tanto idiota pois a rainha parecia sempre estar dez passos a frente dele. Ele deveria ter mais maturidade para governar e bolar estratégias de guerra, ou pelo menos algo que pudesse ser usado para impedir ou atrapalhar o glamour dos lunares (o poder de "hipnose" que eles tem, resumindo a ideia). Se não sabe nada ou tem medo, chame alguém que saiba e possa ajudá-lo! Mas não... É completamente angustiante acompanhar o desespero dele e perceber o quanto ele está despreparado quando o assunto é a rainha, o casamento e o que tal golpe iria implicar para o império caso ela tomasse o poder na Terra, e em vez de ele tomar uma atitude digna da posição que ocupa, prefere ficar encolhido pelos cantos. Vamos crescer e aparecer, amigo.
Um ponto hilário é o sarcasmo de Thorne. O que é esse cara, gente? As cenas dele com Cress são impagáveis e dignas de risadas altas. Ele se tornou um dos meus personagens preferidos por ser tão impossível.

A capa dispensa maiores comentários. É linda de viver e ilustra até a mania de Cress ao enrolar o próprio cabelo no braço. A diagramação é caprichada. O livro é dividido em quatro partes e cada uma delas tem ornamentos e uma frase que serve de entrada para o capítulo que vem a seguir separando bem a história. As páginas são amarelas e a revisão está impecável.

Posso dizer que Cress deu um up na série e é o melhor dos três até agora. O livro tem ação, consegue emocionar, causa indignação devido as injustiças que acontecem e ainda nos arranca risadas!
Eu estou simplesmente morta feat. enterrada com essa série viciante que consegue misturar tantas questões sérias sem tornar nada confuso, e não vejo a hora da Rocco lançar a sequência, Winter. A capa consegue ser ainda mais linda do que as dos outros livros juntas, espiem:


Série mais do que recomendada!

O Círculo - Dave Eggers

24 de dezembro de 2015

Título: O Círculo
Autor: Dave Eggers
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção/Suspense/Thriller
Ano: 2014
Páginas: 522
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Encenado num futuro próximo indefinido, o engenhoso romance de Dave Eggers conta a história de Mae Holland, uma jovem profissional contratada para trabalhar na empresa de internet mais poderosa do mundo: O Círculo. Sediada num campus idílico na Califórnia, a companhia incorporou todas as empresas de tecnologia que conhecemos, conectando e-mail, mídias sociais, operações bancárias e sistemas de compras de cada usuário em um sistema operacional universal, que cria uma
identidade on-line única e, por consequência, uma nova era de civilidade e transparência.
Mae mal pode acreditar na sorte de fazer parte de um lugar assim. A modernidade do Círculo aparece tanto na sua arquitetura arrojada quanto nos escritórios aprazíveis e convidativos. Os entusiasmados membros da empresa convivem no campus também nas horas vagas, seja em festas e shows que duram a noite toda ou em campeonatos esportivos e brunches glamorosos. A vida fora do trabalho, porém, vai ficando cada vez mais esquecida, à medida que o papel de Mae no Círculo torna-se mais e mais importante. O que começa como a trajetória entusiasmada da ambição e do idealismo de uma mulher logo se transforma em uma eletrizante trama de suspense que levanta questões fundamentais sobre memória, história, privacidade, democracia e os limites do conhecimento humano. 

Resenha: Louca pela temática trazida por este livro, eu embarquei em uma viagem ao mundo das redes sociais e da ausência de privacidade que caminha com elas. A cada página eu ficava ainda mais chocada com a proximidade da realidade de fatos narrados.
Imagine-se trabalhando em uma das maiores corporações de tecnologia social do mundo... Imaginou? Pois bem, Mae, a personagem principal desta obra conseguiu seu tão sonhado espaço na empresa "O Círculo" que comanda todas as redes sociais, sites e os interliga sob o princípio básico da transparência. Sim, Imagine Google, Facebook, Instagram, Twitter sob um mesmo comando e totalmente interligados, assustador não?!

Mae que tanto sonhou em sair de seu cargo público agora faz o atendimento ao cliente da empresa, com uma meta de 100% de eficiência na resolução das questões trazidas pelos usuários. Essas metas resolvidas através do conhecimento geral de dados particulares dos clientes envolvem e obrigam Mae a cada vez se ver mais e mais envolvida nestes projetos e programas da corporação.
A partir daí inevitável o questionamento da protagonista, enquanto ser humano, das reais intenções e do sigilo das informações alí compartilhadas. O que você faria quando não é mais possível deletar informações? Quando privacidade é confundida com segredo e este significa mentir?
Sem ler você não saberá da profundidade destes questionamentos que me fiz, não entenderá quando um amigo diminuir ou se ausentar das redes sociais, sem ler, você se envolverá, até não conseguir mais sair deste círculo!

Este é um dos livros mais intrigantes e psicologicamente assustadores que já li neste ano. Fui arrebatada pela idéia da quebra de privacidade causada pela internet dos dias atuais e da proximidade com a realidade da exposição das redes sociais de nossa juventude. Ao terminar de ler, sentei no sofá e me peguei contemplando o horizonte pela janela por horas pensando na feiura desta maravilha chamada internet.

Sou apaixonada por livros que me fazem pensar e "aplicar" sua ideologia em minha vida. Este livro me tocou em particular por conta do uso exagerado e desregrado do Facebook, onde a cada dia se adiciona mais e mais ferramentas capazes de tornar público cada ato, cada passo, cada pensamento de seus usuários, sabemos onde estão comendo, o que estão assistindo, ouvindo, fazendo.
Me assustei e recuei quando percebi que estava sendo manipulada a compartilhar momentos privados de meu dia a dia através de um "convite inocente" da rede ("O que você gostaria de escrever agora?" "O que você está fazendo? sentindo? ouvindo? etc"). Decidida e definitivamente me vi desintoxicada dessa necessidade de selfies, compartilhamentos e claro, curtidas, porque sem aprovação geral, para que postar?

O uso das redes é completamente grátis, exigindo-se tão somente interação. Em excesso. sempre. O que assusta é a naturalidade dessa "interação" em excesso. Qualquer incidência é mera coincidência.
Meu único problema com o livro foi a personagem principal que foi, até a metade do livro, extremamente insossa, não me cativando e não me fazendo entender suas motivações, escondendo-se na grandiosidade da empresa que lhe foi apresentada. Fui além do choque cultural, inerente da literatura estrangeira, eu realmente tentei me colocar no lugar dela e percebi que agiria de forma completamente diferente e isso desanima um pouco a leitura.

Mae estava mergulhada em um enredo riquíssimo abordando a conectividade em excesso, o compartilhamento em excesso e a constate "vigilância" que intencionalmente era vendida como transparência pela empresa e permaneceu inerte, é desanimador, se não fosse pelo enredo em si.
Ainda assim, o que me fez gostar do livro foi sua capacidade de retratar algumas situações que vivemos e nos fazer questionar o futuro da privacidade em um mundo que possui tantas redes sociais e em como são reais as pretensões das empresas em liderar através de suas ferramentas interativas e conexas, fazendo com que você use indefinidamente seus produtos.

Eggers não pretende agradar com o final que escolheu para seu livro. Sinceramente, acho que o ser humano não está caminhando para nada diferente deste final. Vale lembrar o alerta trazido pelo autor, ainda que não seja para extirpar a interação social pela internet, que seja para nos fazer pensar sobre seu uso demasiadamente irrestrito.
Curti e super recomendo!