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Na Telinha - Velma

4 de fevereiro de 2023

Título: Velma
Temporada: 1 | Episódios: 10
Distribuidora: HBO Max
Elenco: Mindy Kaling, Constance Wu, Glenn Howerton, Sam Richardson
Gênero: Aventura, Comédia, Policial, Animação
Ano: 2023
Duração: 25min
Classificação: +16
Nota: ★☆☆☆☆
Sinopse: Velma é uma série de comédia animada para adultos que conta a história de origem de Velma Dinkley, o cérebro subestimado por trás da gangue de Scooby-Doo.

Quando a HBO anunciou que lançaria uma animação para contar as origens da Velma, era mais do que óbvio que os fãs da franquia Scooby-Doo, criada por Hanna-Barbera em 1969, ficaram super animados com esse spin-off.
De todos os desenhos animados desse estúdio, eu particularmente gostava mais de Tom & Jerry (tanto que assisto até hoje), mas nunca rejeitei Scooby-Doo e admito que, quando criança, eu gostava daquela fórmula clichê dos mistérios que sempre eram solucionados depois de um perrengue tão mirabolante que os pobres dos personagens passavam, e me divertia com o óbvio.

Agora, depois de décadas, o que era pra ser uma série que, até onde se esperava, proporcionaria nostalgia e diversão, com um design de arte e efeitos bonitos e descolados, e com informações sobre a origem da Velma e a motivação dela pra juntar os amigos e começar a resolver mistérios, virou uma aberração total que sequer tem noção da essência da animação e nem tem um pingo de consideração pelos fãs que esperavam flores mas receberam tiros. Joe Ruby e Ken Spears, os criadores do Scooby-Doo original, devem estar se revirando no túmulo de tanto desgosto e tristeza. Os primeiros minutos já me fizeram revirar os olhos num looping infinito. Já assisti muitas animações adultas com humor ácido e pesado, que fazem piada com temas sensíveis, que são paródias de outras obras e ainda assim funcionam e são muito boas, mas com Velma não foi muito bem assim.


O mistério em si começa quando o corpo de Brenda, cuja cabeça foi literalmente desmiolada, cái de dentro do armário da Velma fazendo com que ela, inicialmente, se tornasse"suspeita" pelo crime. As detetives encarregadas de investigarem o caso, mães adotivas da Daphne, são a personificação da incompetência e precisam da ajuda dela pra descobrir quem é o assassino que anda matando as garotas populares do colégio para provar para o xerife que Velma é inocente. O problema é que Velma tem alucinações e ataques de pânico que a deixam a beira de um infarto cada vez que ela pensa em solucionar algum mistério, pois associa isso ao sumiço de sua mãe, Diya Dinkley. Velma desde criança gostava de resolver mistérios e ela acredita, sabe-se lá por que motivo, que sua mãe a abandonou por causa disso, e não consegue ficar livre dessa culpa. Assim, para tentar provar sua inocência, ela começa a seguir algumas pistas para investigar o caso do assassinato, mas ela também quer desvendar o mistério do sumiço de sua mãe numa tentativa de se curar desse trauma e parar com as alucinações. Mas outras garotas começam a aparecer mortas, outros suspeitos começam a surgir, e o caso fica pior do que já era.


Partindo dessa premissa, o primeiro ponto problemático é que, mesmo sendo sobre personagens adolescentes no ensino médio e classificação +16, a série é voltada ao público adulto. Há bastante violência gratuita e exagerada (quase no estilo Happy Tree Friends onde, por exemplo, "sem querer" um estudante aleatório tem um pé decepado), palavrões e incontáveis cenas e piadinhas infames de cunho sexual ou de estereótipos, que além de serem repetidas por milhares de vezes, não tem a menor graça e são extremamente forçadas. A primeira cena já mostra duas baratas transando do nada (???) antes de vermos um grupo de garotas adolescentes, nuas e hipersexualizadas tomando banho no vestiário do Colégio da Baía Cristal. A partir daí, já começam a utilizar do recurso da metalinguagem de forma desenfreada e completamente sofrível. O que poderia ter de relevante é completamente ofuscado pelas piadinhas esdrúxulas que se estendem ao longo dos episódios de forma repetitiva e insistente, sempre envolvendo sexo, drogas, violência, sangue, saúde mental e etc, e também por personagens secundárias, menores de idade, extremamente sexualizadas, assumidamente "vadias", que vivem fazendo caras, bocas e poses sugestivas de graça.

Quem for assistir esperando encontrar os personagens típicos com suas personalidades e características vai se frustrar. Não digo isso pela mudança de nacionalidade, etinia ou orientação sexual deles, isso é o que menos importa e inclusive acho que, às vezes, é até interessante esse tipo de mudança em prol da representatividade e afins, mas o problema é que, pelos acontecimentos se passarem antes de formarem a Mistérios SA. é muito esquisito acompanhar os personagens sob outras personalidades totalmente diferentes das quais estávamos acostumados. É como se durante esses acontecimentos eles estivessem passando por um período de amadurecimento de acordo com essas experiências que tiveram, mas o contraste é tão gritante que não fui capaz de assimilar como um personagem com características x conseguiu virar outro totalmente diferente. Por exemplo, aquela Velma esperta e sagaz do clássico deu espaço pra uma Velma incoerente, hipócrita e irritante que, mesmo traumatizada, mal dá pra ter pena, e que fica mendigando a atenção de quem ela gosta mesmo que seja desprezada, e despreza quem gosta dela no maior descaso possível.


Daphne agora é uma asiática patricinha que faz parte do grupinho de garotas populares da escola e tem um comportamento mui questionável. Ela foi a melhor amiga de Velma no passado, mas depois que se tornou popular passou a tratá-la como lixo e agora elas se odeiam. Ela namora Fred já faz um ano e não se conforma com ele evitando todas as suas investidas mais calientes, mas não desiste do boylixo pois ele também é popular na escola e eles formam um casal "bonito", até ele ser afastado dela a força.


Fred, o "galã adolescente", é o típico cara branco, rico e privilegiado que ninguém aguenta. Ele é aquele playboy inconveniente, mimado, imbecil, preconceituoso e enrustido que além de não ter amadurecido ainda fica fazendo de tudo pra conseguir a aprovação do pai, que nunca está satisfeito com nada. Ele também tem uns faniquitos disfarçados de ataque de fúria quando alguma coisa não sai conforme ele quer, e mesmo que Velma saiba o quanto ele é ridículo, ela ainda gosta dele baseado em nada, só pra rolar aquele conflito de sentimentos forçado entre o bonitão da escola, o amigo desprezado e a amiga que virou inimiga que "movimenta e traz mais emoção à trama", só que não.

E o pobre do Salsicha que era o sujeito mais good vibes  de todos, virou um streammer dependente emocional chamado Norville, engajado com terapia e causas anti-drogas (pois é) e apaixonado pela Velma. O problema é que ela o enxerga como irmão e quanto mais ele tenta se declarar e demonstrar esse sentimento pra tentar ganhar o coração da menina, mais ela ri (???). E o Scooby? Ninguém nunca nem viu.


Eu até cheguei a considerar que a adolescência é uma fase terrível e é mais do que normal haver conflitos emocionais, dramas desnecessários, exageros a se perder de vista, questões de autodescoberta e imaturidade, mas acho que o problema maior talvez seja pela série ter se vendido como algo inovador e que daria uma nova roupagem aos personagens acompanhando a atualidade, afinal, dos anos 60 pra cá as coisas já evoluíram bastante e a sociedade, apesar de ainda ter alguns atrasos, está bem diferente. Se formos comparar todas as versões de Scooby-Doo vamos encontrar diferenças e pequenas mudanças que são compreensíveis e aceitáveis. Mas em momento algum Velma dá a entender que a série seria uma paródia ou algo do tipo, parece que ela realmente se leva a sério como releitura e os roteiristas acharam que atirar lacre sem noção pra todo lado funcionaria. Se isso é algum tipo de estratégia pra justificar alguma reviravolta futura, ou só fazer com que todo mundo assista e comente, mesmo que seja pra falar mal, deu certo (a trouxa aqui comentando sobre), e não duvido que foi por causa desse hype que a segunda temporada já começou a ser desenvolvida.

Nem tenho nem vontade de comentar sobre o tema principal da série: saúde mental. Todos os personagens tem um trauma relacionado a alguma forma de abandono que reflete em seus comportamentos e precisam superar isso a medida que vão amadurecendo, e por mais que essa questão seja interessante, a abordagem é péssima, desde as crises de ansiedade e os ataques de pânico frequentes que Velma sofre e como são amenizados de um jeito impossível, até como práticas ilegais são justificadas como forma de se atingir um objetivo para pôr fim numa aflição.

Há um episódio onde passam rapidamente a ideia de que quem está de luto e deprimido pela perda de alguém quer transformar a morte alheia em algo sobre ele, como se sofrer fosse egoísmo ou sei lá. E uma observação para o mascote da saúde emocional do colégio, que se chama "Lelé" (ou "Nutso" no inglês). Porque querer fazer uma série para abordar a saúde emocional na maior parte do tempo e dar a entender que quem precisa de ajuda é "lelé da cabeça" deve ser de muito bom tom e muito engraçado.


Inclusive algumas cenas de crise estão alí de propósito pra forçar uma determinada situação entre personagens que passam longe de ser inclusivas ou sequer engraçadas, caso a ideia fosse fazer piada sobre, mas estão alí pra dar um empurrão no enredo e fazer as personagens ficarem confusas com seus sentimentos e com a própria sexualidade.

A impressão que tive é que tentaram ir pelo caminho das animações escrachadas e politicamente incorretas, dessas que estão pouco de lixando pro famigerado cancelamento que cutucam temas sensíveis sem o menor peso na consciência (como South Park ou Rick and Morty, por exemplo), mas falharam miseravelmente porque a forçação de barra pra tentar dar lições inúteis ou fazerem críticas aleatórias usando de "humor ácido" é insuportável, e é tanta coisa sendo alvo de piadas sem graça que é impossível saber ao certo quem deveria ser o público alvo desse troço. Conseguiram não só estragar, mas rebaixar o conceito de besteirol a um nível que chega a ser inacreditável. Mudaram toda a essência da coisa e transformaram os personagens só pra despejarem um monte de bobagens que brotam do além pra serem atiradas pra qualquer lado sem que façam o menor sentido dentro do contexto. Parece que só estão alí com o único propósito de se aproveitarem de temas sensíveis ou que envolvem lutas sociais, mas desvirtuando - e até invalidando - tudo como se não houvesse amanhã. Seria menos pior se criassem personagens originais pra construir uma série original em vez de se aproveitarem de uma franquia clássica só pra atrair quem já era fã e matar todos eles de decepção, afinal, as únicas coisas fiéis são os nomes que eles têm e as roupas que usam, o resto é invenção tirada da casa do chapéu. Teria risco de algo vindo do zero tomar hate por ser ridículo? Claro que sim, porque as piadas são ruins de verdade, mas pelo menos não iria gerar essa revolta e esse completo desgosto por terem destruído o que já havia se consolidado ao longo de décadas com essa ideia de "desconstrução".

Os últimos epísódios, apesar de seguirem o mesmo padrão ruim, começam a ficar menos piores porque já entram na resolução do mistério mirabolante, e mesmo que a Mistérios SA ainda não tenha sido criada, dá pra ter noção do caminho que os personagens vão seguir ao mesmo tempo que vemos que eles começam a adquirir pequenos toques da personalidade original, mas sabe-se lá quantas temporadas vão ser feitas até chegarem lá.

Enfim, não vou dizer que Velma foi a pior coisa que já assisti na vida porque tem muito lixo espalhado nas plataformas de streaming por aí, mas com certeza foi a que mais me fez revirar os olhos, tamanha a antipatia e ojeriza. Assisti esperando uma coisa nostálgica, mas saí com a sensação de que meu tempo vale menos do que duas baratas transudas.

Na Telinha - Euphoria (1ª temporada)

27 de dezembro de 2019

Título: Euphoria
Temporada: 1 | Episódios: 8
Elenco: Zendaya, Hunter Schafer, Jacob Elordi, Sydney Sweeney, Barbie Ferreira, Alexa Demie
Gênero: Drama
Ano: 2019
Duração: 58min
Classificação: +18
Nota:★★★★★
Sinopse: Rue (Zendaya) é uma adolescente de 17 anos dependente química que acaba de sair da reabilitação. A medida que ela tenta voltar à rotina, percebe que seus colegas de escola também enfrentam os próprios desafios, envolvendo sexo, drogas, traumas e mídias sociais.

Rue é uma adolescente de dezessete anos que, desde pequena, já demonstrava ter uma percepção de mundo diferente das outras crianças. Mas, com a morte precoce do seu pai, ela acaba se viciando em drogas como forma de lidar com a perda e se "anestesiar", o que é agravado com seus problemas de ansiedade e bipolaridade. Depois de um episódio crítico, Rue vai pra reabilitação, mas ela não está nada preocupada em melhorar e não hesita em trapacear em exames que comprovam sua sobriedade. Ao voltar pra casa, sua vida ainda é marcada pela chegada de Jules no bairro, uma garota trans - e linda - com um histórico de vida super traumático. As duas logo se tornam melhores amigas e Rue acaba desenvolvendo uma certa dependência de Jules, mas será que elas vão ficar juntas até o fim para superar os vários obstáculos pessoais e sociais que aparecerão pelo caminho?


Rue é quem faz a narrativa dos acontecimentos, e, por ser viciada em drogas, fica meio implícito que ela pode não ser uma voz tão confiável para narrar os fatos, principalmente quando algumas cenas são baseadas em pensamentos ou alguma viagem muito louca dela.

Basicamente a série vai mostrar a vida de um grupo de adolescentes que fazem parte do círculo de amizade de Rue e que estão prestes a deixar o ensino médio, mas que já acumularam algumas experiências pessoais, amorosas e familiares pesadas o suficiente para moldar suas personalidades e influenciar em suas escolhas na vida, assim como as consequências bem amargas de todas elas. Experiências envolvendo drogas, sexo e sexualidade, abuso, saúde mental, exposição, vingança, violência e as expectativas que os pais depositam nos filhos e que nem sempre são superadas.


Um exemplo disso é as cenas em que Rue "ensina" a limpar o organismo ou burlar o resultado de um teste antidrogas, mas logo em seguida ela também mostra como o preço a ser pago por isso, seja física ou emocionalmente, pode ser alto demais. Ou como Jules, que tem um histórico delicado de depressão e automutilação, usa sua sexualidade pra provar o que quer que seja pra si mesma e ainda assim sempre aparece como alguém pura e iluminada, principalmente quando ela se torna um tipo de "cura" para Rue, que começa a deixar as drogas de lado, mas acaba criando uma certa dependência da amiga.
Os demais personagens também tem arcos fortes e bem construídos, que vão desde abandono, preconceitos sofridos, depressão, e traumas insuperáveis que colaboram na formação (e na corrupção) do caráter do indivíduo, princialmente nessa fase da adolescência que a série aborda, o que, consequentemente, pode gerar vários gatilhos.


Cada episódio se aprofunda um pouco mais no passado de algum personagem, explicando que um possível trauma desencadeou um determinado tipo de comportamento, mostrando que, querendo ou não, somos reflexos daquilo que vivenciamos e aprendemos na infância. Assim, cada personagem vai ganhando mais camadas, e é possível entender suas motivações na maioria das vezes, mesmo que não concordemos com eles por fazerem coisas condenáveis e absurdas.
A ordem cronológica não é muito exata, há uma transição constante entre passado e presente, e não dá pra saber ao certo se algumas cenas acontecem antes ou depois de um determinado evento, mas, fazendo um apanhado geral, dá pra compreender bem o que se passa.


O trabalho de fotografia é fantástico. As cores sempre se contrastam e evidenciam traços, o azul, o rosa e o vermelho se destacam bastante e geralmente se opõe ao laranja e ao verde. A iluminação sempre favorece todo tipo de brilho, seja nos cenários ou nas maquiagens, que, diga-se de passagem, são todas incríveis, e é impossível pensar na série sem pensar no visual maravilhoso. A série é indicada para maiores de dezoito anos tanto pelos temas pesados e delicados que abordados, quanto pelas cenas de sexo e nudez, e aqui a HBO ainda quebra alguns paradigmas e estereótipos quando não mostra apenas nudez feminina, mas a masculina, com pintos de todas as cores e tamanhos. Por que é "natural" quando mulheres aparecem nuas na TV, mas quando são homens as pessoas ainda ficam loucas? A naturalidade com que a nudez é tratada aqui é impressionante, principalmente por não ser "glamourizada". Outro ponto a ser destacado é a trilha sonora impecável dessa série, que ajuda a deixar tudo ainda mais intenso e emocionante. Sério: assistam e ouçam!


Ao final, a impressão que fica é que Euphoria não é só mais uma série em meio a tantas outras, mas uma verdadeira experiência crua e realista com esse "universo" adolescente cheio de representatividade, e regado a drogas, sexualidade a flor da pele e autodescobertas. Quero a segunda temporada na minha mesa agora, HBO! Nunca te pedi nada.

Na Telinha - Big Little Lies (2ª Temporada)

21 de agosto de 2019

Título: Big Little Lies
Temporada: 2 | Episódios: 7
Distribuidora: HBO
Elenco: Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern, Zoë Kravitz, Meryl Streep
Gênero: Drama/Suspense
Ano: 2019
Duração: 52min
Classificação: +16
Nota: ★★★★☆
Sinopse: As Cinco de Monterey precisam enfrentar as consequências de manter o grande segredo sobre o assassinato mas tudo se torna mais complicado com a chegada de Mary Louise (Meryl Streep), a mãe de Perry, que está determinada a descobrir o que realmente aconteceu com o seu filho.

Embora o livro no qual a série homônima tenha se baseado seja único, o universo e as personagens femininas criados por Liane Moriarty era intrigante demais pra ter acabado alí. Assim, quando a HBO anunciou uma segunda temporada para dar continuidade à história, eu logo me empolguei.


Agora, as Cinco de Monterrey, Madeleine, Celeste, Jane, Bonnie e Renata, estão de volta não só para mostrar mais de suas vidas (im)perfeitas e como elas estão lidando com o segredo da morte de Perry, como também introduzir Mary Louise Wright (interpretada por Maryl Streep), a mãe do falecido que não está sabendo lidar com a morte do filho e acaba sendo um tipo de "vilã" da série, sendo invasiva, inconveniente, e atormentando a vida de todo mundo. Se na primeira temporada tivemos um foco maior sobre os dilemas do trio Madeleine, Celeste e Jane, aqui, embora Celeste ainda tenha seu espaço (devido a ligação maior com a sogra), os maiores destaques ficam com Renata, Bonnie e a própria Mary Louise.


O espectador se vê em meio a uma trama envolvendo o segredo e as mentiras acerca da morte de Perry, mas o que acaba se sobrepondo é a raiva e o incômodo que Mary Louise nos causa com suas intromissões e falta de noção ao invadir a vida de Celeste e seus filhos, ou tentar bater de frente com as outras mulheres que não abaixam a cabeça pra ninguém.

Madeleine continua tentando reconstruir seu casamento e recuperar a confiança do marido, mostrando seu lado mais humano, e Jane segue tentando ser uma boa mãe para seu filho enquanto tenta investir num novo relacionamento, apesar de ainda carregar o trauma do estupro e não conseguir se soltar.


O passado trágico de Bonnie começa a ser revelado, mostrando que ela sofreu alguns abusos psicológicos e físicos cometidos pela própria mãe, e agora ela não só tenta lidar com a mágoa que ela sente, como também com a culpa que carrega por ter se envolvido diretamente com a morte de Perry.
Renata, que antes apareceu só como uma excêntrica advogada bem sucedida e que tenta compensar sua ausência dando tudo do bom e do melhor para sua filha, agora tem a vida mais abordada e seu relacionamento com o marido é pra matar qualquer um de desgosto. Não por não ter sido bem construído, muito pelo contrário, mas por mostrar o quão tóxico e oportunista esse homem foi, fazendo besteiras atrás de besteiras, a ponto de levar a família à falência e levar Renata a loucura.


Cega pelo luto e inconformada com a morte do filho que ela pensava ser um exemplo de bom homem e marido, Mary Louise não acredita que a morte dele tenha sido mero acidente e quer provar isso pra polícia, e, com seus pensamentos machistas, tenta encontrar no comportamento de Celeste justificativas para provar que ela não é boa mãe, que não é capaz de criar os próprios filhos, que ela mentiu sobre as violências que sofria, e ainda se acha no direito de julgar todo mundo com quem se depara da forma mais asquerosa que se possa imaginar, principalmente Jane, cujo filho foi fruto do estupro cometido por Perry no passado.


No mais, a série serviu para matarmos a saudade de Monterrey, e compreender um pouco mais das personagens através da forma como elas estão seguindo com a vida e lidando com segredos e problemas. Talvez a série pudesse ter sido mais enxuta a fim de evitar enrolação em cenas desnecessárias até que chegasse o final realmente empolgante, onde esperei ansiosamente por Mary Louise ter algum tipo de castigo digno, ou uma redenção. Mas, no fim das contas, posso dizer que embora tenha seus defeitos, a série foi muito boa de se acompanhar, seja pelas excelentes interpretações de todo o elenco, pela trilha sonora maravilhosa, pela forma de se conduzir os dramas (de forma direta ou através de cenas abstratas que sugerem algo que não se concretiza), ou pela curiosidade de saber mais sobre a vida cheia de altos e baixos dessas mulheres tão marcantes.

Na Telinha - Big Little Lies (1ª Temporada)

9 de julho de 2019

Título: Big Little Lies
Temporada: 1 | Episódios: 7
Distribuidora: HBO
Elenco: Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern, Zoë Kravitz, Alexander Skarsgård, Adam Scott
Gênero: Drama/Suspense
Ano: 2017
Duração: 52min
Classificação: +16
Nota: ★★★★★
Sinopse: Na cidade litorânea de Monterey, estado da Califórnia, nada é o que parece. Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman) e Jane (Shailene Woodley) são três mulheres, com vidas aparentemente perfeitas, que se unem depois que seus filhos passam a estudar juntos no jardim de infância. Mas alguns acontecimentos as envolvem numa trama de assassinato.

Em 2015, o terceiro livro escolhido para o finado Clube do Livro da Liga foi o Pequenas Grandes Mentiras, da autora Liane Moriarty, e lembro de ter sido uma das melhores e mais empolgantes leituras que fiz naquele ano. Pouco tempo depois, a HBO anunciou que havia adquirido os direitos para produzir uma minissérie baseada na obra, ficamos todos na expectativa, e em 2017 ela foi ao ar. Eu cheguei a esboçar uma postagem para fazer a crítica, mas o tempo foi passando, eu fui adiando e, no final das contas, já não lembrava dos detalhes com tanta clareza para falar sobre a série com a devida propriedade, e acabei desistindo da crítica. Agora, com o recente lançamento da segunda temporada (que na época não havia sido mencionada e eu nem imaginava que iriam produzir), eu aproveitei o gancho para rever e relembrar do que havia esquecido, assim, eu poderia acompanhar os episódios da temporada nova estando por dentro do assunto.



Resumindo, a história se passa na cidade litorânea - e maravilhosa - de Monterey, norte da Califórnia. Inicialmente sabemos que houve um assassinato, o que nos leva a uma narrativa que se alterna entre presente e passado, com os potenciais suspeitos sendo interrogados e dando seus depoimentos sobre o incidente para os investigadores. O espectador não sabe quem matou, quem morreu, e o quê, de fato, aconteceu. Assim, em paralelo a esses relatos, acompanhamos os momentos que antecedem a dita morte naquela comunidade onde tudo parece tão perfeito, principalmente através da vida de três mulheres, Madeline, Celeste e Jane, nos levando à uma jornada de completa desconstrução de conceitos. Há também a questão das crianças e da confusão que um enorme mal entendido causa no relacionamento entre essas mulheres, como mães, e o que ele desencadeia em toda a comunidade. As camadas das personagens são relevadas gradualmente nos menores detalhes, e são responsáveis por nos mostrar que nem sempre as coisas são o que aparentam ser. Os traumas causados pela violência vem em diferentes nuances, pois cada uma lida com os problemas à própria maneira, assim como o impacto que isso tem em suas vidas. Cada uma é afetada de forma diferente e requer um tipo de atenção diferente.



Por se tratar de uma adaptação, algumas diferenças entre série e livro são notáveis, mas nada que prejudique o enredo ou fuja do tema. O início é um pouco lento e o suspense, mesmo que desperte muito nossa curiosidade, é construído devagar. Alguns personagens inclusive ganham destaque e profundidade a mais ao terem os próprios arcos desenvolvidos e explorados. É o caso de Renata (Laura Dern), por exemplo, que acaba representando o papel da mulher competitiva que batalhou duro para ser bem sucedida na vida, ao mesmo tempo que é mãe e super protetora.



Obviamente a realidade dessas mulheres na questão social é bem diferente da maioria das pessoas comuns, de gente como a gente. O estilo de vida que levam, as mansões que moram e afins estão longe da realidade da maioria, principalmente aqui no Brasil, mas a questão que envolve o emocional e a moral é o que ganha o maior destaque, e é o que realmente importa. A questão do mistério acerca do assassinato acaba sendo mero pano de fundo para destacar uma temática profunda e relevante sobre traumas, abusos, sororidade, relacionamentos, maternidade e superação, e também para deixar evidente que sustentar pequenas mentiras pode resultar em algo não só indesejado, mas que pode vir a se tornar grande o bastante para sair do controle.



Madeline (Reese Whiterspoon) é teimosa, controladora, invasiva e curiosa sobre tudo o que se passa com a vida alheia a ponto de ser inconveniente. Mesmo no segundo casamento, ela não lida bem com o entrosamento da filha mais velha com o ex-marido e sua atual esposa, Bonnie (Zoë Kravitz). Muito da sua personalidade e escolhas acaba interferindo no seu atual o casamento. Celeste (Nicole Kidman) abriu mão de tudo para se dedicar aos filhos e ao marido, mas por trás da vida perfeita e do casamento feliz, ela esconde segredos terríveis sobre o que vive dentro de casa. Jane (Shailenne Woodley) é a mãe solteira recém chegada à cidade. Ela já carrega um trauma do passado que ainda não conseguiu superar, e em Monterey ainda precisa lidar com julgamentos alheios por não se encaixar totalmente ao "padrão perfeito" dos moradores dalí. Jane constantemente se sente deslocada, mas em busca de um novo começo e uma vida melhor para seu filho, ela está decidida a enfrentar o que vier pela frente.



Os personagens masculinos, que geralmente representam papéis dos maridos ou alguma figura masculina familiar, mesmo que tenham certa importância para o desenrolar da história, ainda são coadjuvantes perto das mulheres. Elas são complexas, trazem um pouco de representatividade com seus defeitos e virtudes, e são elas quem movimentam a trama em meio aos temas delicados e polêmicos que se conectam com todo tipo de público.

A primeira temporada acaba tendo o mesmo desfecho do livro e o final é bem fechado, mas não deixa de atiçar nossa curiosidade acerca do que o futuro reservaria para essas mulheres peculiares e únicas. Talvez por isso, e pelo enorme sucesso que a série fez, tenham decidido fazer a segunda temporada trazendo as respostas para as perguntas que ficaram sobre o que viria depois.



No mais, com uma boa dose de drama, suspense e toques de bom humor, Big Little Lies é uma excelente pedida pra quem quer acompanhar uma história relevante sobre mulheres que, aos poucos, vão aprendendo que ser feliz e dar valor as pequenas coisas é mais importante do que viver de aparências.

Na Telinha - Chernobyl

3 de julho de 2019

Título: Chernobyl (Chernobyl)
Temporada: 1 | Episódios: 5
Distribuidora: HBO
Elenco: Jared Harris, Emily Watson, Stellan Skarsgård, Paul Ritter, Jessie Buckley
Gênero: Drama/Obra de época
Ano: 2019
Duração: 60min
Classificação: +16
Nota:★★★★★
Sinopse: Ucrânia, 1986. Uma explosão seguida de um incêndio na Usina Nuclear de Chernobyl dizima dezenas de pessoas e acaba por se tornar o maior desastre nuclear da história. Enquanto o mundo lamenta o ocorrido, o cientista Valery Legasov, a física Ulana Khomyuk e o vice-presidente do Conselho de Ministros Boris Shcherbina tentam descobrir as causas do acidente.

Pripyat, Ucrânia: Em 26 de abril de 1986, um reator da Usina Nuclear de Chernobyl explodiu durante um teste de segurança, causando o maior desastre nuclear da história da humanidade. A contaminação atingiu 3/4 do território europeu, e a radioatividade lançada na atmosfera era equivalente a mais de 200 bombas atômicas, iguais a que atingiu Hiroshima.
Porém, os soviéticos jamais cogitaram a hipótese de que o reator em questão pudesse explodir. Eles não tomaram as medidas de segurança necessárias antes ou depois da tragédia e catástrofe não só afetou - e matou - milhares de pessoas, como foi o estopim para a quase falência e dissolução da União Soviética.


Baseada nesse contexto histórico, a HBO não perdeu tempo em produzir Chernobyl, uma minissérie intensa, significativa e relevante, e que retrata as causas e as consequências - sociais e políticas - do acidente. E se levarmos em consideração as questões políticas da atualidade, as coisas se tornam ainda mais preocupantes do que parece.
Assim, vamos acompanhando as explicações de como funciona um reator nuclear e o porquê, na teoria, o mesmo jamais poderia explodir, mas a medida que os fatos vão sendo levantados, percebemos que ambição e negligência foi a combinação responsável pelas falhas que ocasionaram a terrível explosão, que jogou no ar incontáveis partículas radioativas, e que poderia vir a ser um desastre de nível global, caso o problema não fosse contido a tempo.


Dividida em cinco episódios com arcos distintos, a série começa com um suicídio e logo em seguida volta exatos dois anos no tempo para mostrar a explosão do reator e as circunstâncias que envolveram o acidente, desde a arrogância como os trabalhadores eram tratados, a descrença do chefe da usina de que algo deu errado, a negligência dos responsáveis em não conter o incêndio da maneira correta expondo de imediato dezenas de pessoas à radiação, a percepção tardia de que o problema era muito mais grave do que imaginaram, e a demora para tomarem providências contra o desastre até assumirem que algo deu muito errado. E enquanto isso, as informações eram omitidas ou adulteradas para que ninguém soubesse da real gravidade da situação. A União Soviética não poderia assumir que seus métodos eram passíveis de falhas. Isso significaria um atraso nas corridas tecnológicas contra os EUA e uma imagem manchada que precisaria ser evitada a todo custo, mesmo que pra isso sacrifícios tivessem que ser feitos enquanto o governo tentava acobertar o desastre.


E é exatamente esse tipo de resistência que torna a vida dos cientistas e dos demais envolvidos um verdadeiro inferno, pois eles precisam trabalhar sem descanso para resolverem o problema, ao mesmo tempo que devem cumprir ordens dos poderosos que não querem perder suas posições políticas, e isso incluía a proibição de vazar informações confidenciais e afins para que a reputação da grande potência que era a URSS, não fosse comprometida perante ao mundo. Os responsáveis não hesitavam em afirmar que o acidente estava sob controle, que não representava riscos pra população, mas mandavam seus subordinados por a vida em risco em direção ao buraco no teto aberto pelo reator, pondo a cara dentro da fumaça radioativa e sofrendo queimaduras instantâneas de sabe-se lá qual grau, enquanto eles se escondiam do perigo que eles mesmos negavam existir, os hipócritas. Se não tinha perigo, por que não iam eles mesmos?

Nos demais episódios, a série se encarrega de mostrar os efeitos causados pela radiação naqueles que ficaram mais próximos da área contaminada e com maior nível de radioatividade, como os bombeiros que chegaram lá acreditando se tratar de um incêndio comum; a forma como o governo evacuou as cidades, alegando se tratar de uma evacuação temporária; as reuniões feitas entre políticos e cientistas em busca de solucionar o problema, mas sempre relutantes em assumir a culpa; e o que começou a ser feito para amenizar os efeitos da catástrofe. Acompanhar civis que se apresentaram para ajudar, sabendo que aquela ajuda resultaria em seus sacrifícios, é tão gratificante quanto devastadora. Se não fosse por eles, sabe-se lá o que poderia ter acontecido, mas o preço foi pago com suas vidas, ou com a qualidade delas. Os liquidadores, como foram chamadas essas pessoas, literalmente, se sacrificaram para limpar os focos de contaminação para que a radiação não se espalhasse ainda mais, e por mais heroico que isso possa ter sido, é extremamente angustiante saber que as pessoas se arriscaram tanto. Eu ficava aflita de ver as pessoas tão próximas às áreas contaminadas e que isso as condenaria à própria morte. Meu coração se partia em ver animais de estimação e indefesos sendo caçados por estarem contaminados. Eles eram abatidos e enterrados em enormes valas cobertas com cimento para impedir a emissão de radiação de seus corpos e por mais triste que fosse, era um trabalho necessário para evitar que as partículas radioativas se espalhassem ainda mais. A própria usina foi coberta com um gigantesco sarcófago. A radiação emitida dos destroços não vai desaparecer por milhares e milhares de anos...
Mesmo que o desastre tenha acontecido há mais de 30 anos, as consequências existem até hoje e vão continuar existindo por centenas de gerações. A maior área afetada abrange 2600km e é inabitável. Vários objetos permanecem isolados, como as roupas usadas pelos bombeiros que foram descartadas num porão do hospital e estão intocadas até então devido ao altíssimo e mortal nível de radioatividade que elas apresentam.


Um ponto bastante positivo da série remete à forma utilizada para exposição de informações, assim como o desenvolvimento dos relacionamentos entre os envolvidos. Muitas vezes os espectadores precisam de explicações para compreenderem a história e a situação vivenciada pelos personagens, e a série consegue passar tudo com a devida maestria, sem que nada soasse forçado ou subestimando a inteligência de quem assiste. A atuação dos atores é impecável, e eles convencem se passando por profissionais qualificados que realmente entendem do assunto e sabem do que estão falando, e isso torna as coisas muito mais realistas, sólidas e críveis. É diferente quando você assiste um filme e percebe que o ator só está reproduzindo frases decoradas de um tema complexo sem ter a menor noção do que se trata, mas aqui não ficamos com essa sensação, até mesmo porque um tema aparentemente complexo é explicado de uma força acessível, e que todos conseguem entender sem dificuldades. Nós terminamos a série sabendo, por exemplo, da forma mais natural, interessante e prática possível, como um reator nuclear do modelo RBMK funciona, sem que pareça uma aula chata de física. É interessante acompanhar alguns profissionais que representam figuras de autoridade e cheios de si deixando o orgulho de lado a medida que vão compreendendo a gravidade da situação e formando amizades.

A parte técnica da minissérie também é executada com perfeição, desde a fotografia, que expõe um cenário que vai morrendo e se acinzentando a medida que o perigo se espalha, até a trilha sonora, que é composta por sons metálicos e que colaboram para gerar tensão, desconforto e termos a sensação de um ar carregado, como se fosse possível sentir na pele não só o perigo que paira no ar, mas também o gosto do metal.


A maquiagem também é incrível, tanto para mostrar as vítimas com seus corpos em processo de deterioração após as queimaduras, quanto para evidenciar o quanto a radiação afetou e diminuiu a expectativa de vida dos envolvidos. É incrível ver que em poucos meses a pessoa afetada parece ter envelhecido décadas e ter virado um caco humano.
No episódio final, temos um julgamento em busca de condenar os culpados e a reconstituição do momento em que houve a explosão, e ali podemos compreender não só o que realmente aconteceu, mas também quais as consequências e o custo das mentiras.
Assim, por mais que a minissérie não se aprofunde ou dê maiores detalhes sobre o contexto político da época, é inegável que ele está implícito em cada decisão tomada, seja antes da tragédia e depois dela. Isso acaba levando os mais curiosos a pesquisarem sobre os fatos para complementar as informações passadas e, assim, descobrimos que as mentiras e as sujeiras vinham sendo implantadas ali há vários e vários anos, e são bem piores do que a ficção mostra...


Com a Guerra Fria vivendo um dos momentos mais decisivos da História, e justamente para ficar à frente dos EUA, a União Soviética não media esforços para se expandir cada vez mais, ter mais poder, e usar toda a tecnologia disponível ao seu favor para superar seu maior concorrente e inimigo. O problema é que isso foi feito de forma inconsequente e irresponsável, o governo prezava por números e quantidade, e não por qualidade, e isso não poderia acabar bem... O desespero para não ficar atrás dos EUA era tanto que as coisas eram construídas às pressas, com materiais baratos e que não garantiam a segurança de ninguém. E como se isso não fosse surreal e absurdo o bastante, os próprios engenheiros das usinas, sejam eles chefes ou não, não eram informados pelo governo que investia naquilo sobre as reais condições das máquinas e reatores que precisavam controlar para gerar energia para as cidades, logo, eles se recusavam a acreditar ou não entendiam como algo poderia dar errado. E se algum subordinado questionasse a autoridade ou as ordens de um engenheiro-chefe, ele corria o risco de nunca mais conseguir um emprego na vida. É inevitável sermos consumidos pela indignação, pelo sentimento de impunidade e descaso por parte daqueles que deveriam priorizar a segurança e o bem estar de todo um país.


Se embates ideológicos e empreitadas políticas estão acima dos interesses do povo, o que será de nós se algo do mesmo nível acontecer e ninguém ser informado a tempo por "questões de imagem"?  A mistura de fascínio com terror segue inspirando as pessoas a conhecerem mais desse fatídico evento que marcou a história. Após assistir a série, é inevitável sair em busca de maiores informações sobre a tragédia, e é impressionante descobrir que, embora a minissérie tenha sido bastante completa e esclarecedora, ainda há muita informação sobre o ocorrido, sobre alguns sobreviventes, sobre o local hoje em dia, e sobre o governo em si, que deixa qualquer um chocado em cristo. Com exceção da personagem Ulana Khomyuk, que foi criada para representar a comunidade de cientistas que auxiliaram Valery Legasov, todos os demais representam as pessoas reais envolvidas e afetadas pelo desastre. A série acerta em todos os aspectos, drama, ambição, ganância, negligência, mentiras, desespero, sacrifício, redenção e tudo que rege a humanidade como um todo

Chernobyl confrontou o governo russo ao expor dados, até então, omitidos e adulterados acerca do desastre de forma objetiva e imparcial. A minissérie não se encarrega apenas de retratar o que a tragédia desencadeou no mundo todo com a devida maestria, como também nos fazer questionar sobre o preço que se paga pelas mentiras e até onde podemos confiar (ou não) no nosso governo...