Autores: J.K. Rowling, John Tiffany e Jack Thorne
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia/Infanto Juvenil
Ano: 2016
Páginas: 352
Nota:★★★☆☆
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Sinopse: Sempre foi difícil ser Harry Potter e não é mais fácil agora que ele é um sobrecarregado funcionário do Ministério da Magia, marido e pai de três crianças em idade escolar. Enquanto Harry lida com um passado que se recusa a ficar para trás, seu filho mais novo, Alvo, deve lutar com o peso de um legado de família que ele nunca quis. À medida que passado e presente se fundem de forma ameaçadora, ambos, pai e filho, aprendem uma incômoda verdade: às vezes as trevas vêm de lugares inesperados.
Harry Potter e a Criança Amaldiçoada é a edição impressa do roteiro de ensaio da peça escrita por J.K. Rowling em parceria com Jack Thorne e John Tiffany, que esteve em cartaz em Londres e se passa 19 anos após os acontecimentos narrados em Harry Potter e as Relíquias da Morte.
Resenha: Dezenove anos se passaram desde a grande Batalha de Hogwarts. Harry Potter já beira os quarenta anos, se tornou diretor do Departamento de Execução das Leis da Magia, é casado com Gina Weasley e eles tiveram três filhos: Tiago, Alvo Severo e Lílian. Embora ele tenha uma vida bastante diferente de quando era um garoto, ainda é difícil pra ele lidar com o passado e com suas atuais responsabilidades.
Alvo, o filho do meio, nunca gostou de ser "famoso" pelos feitos de seu pai. O relacionamento entre Harry e Alvo é delicado, muito difícil e as farpas que eles trocam entre si são inevitáveis.
Quando Alvo foi para Hogwarts, ele foi para a Sonserina, e foi lá que ele fez amizade com Escórpio Malfoy, filho de Draco Malfoy. Os dois se tornaram melhores amigos. Eles só não esperavam que, após tantos anos, Amos Digory continuaria culpando Harry pela morte do seu filho, Cedrico, no último Torneio Tribruxo, e isso iria se tornar um fardo tão grande e pesado a ponto dos garotos decidirem tentar voltar no tempo para salvá-lo.
Harry Potter e a Criança Amaldiçoada irá narrar as aventuras de Alvo e Escórpio numa tentativa rebelde de salvar Cedrico, mas o que eles não imaginaram é que mudar o passado poderá alterar o curso do presente e do futuro de todos, inclusive o deles mesmos..
Pra ser sincera eu não sei até onde J.K. Rowling meteu o bedelho nesta obra, mas por mais que os leitores sintam aquela imensa nostalgia por terem contato com personagens inesquecíveis e memoráveis mais uma vez depois de tantos anos, todos sabem que grande parte do sucesso da saga Harry Potter foi devido a narrativa maravilhosa, detalhada, emocionante, bem humorada e cheia de criatividade da autora. Tais detalhes não existem quando o assunto é o roteiro de uma peça, pois as cenas são resumidas e diretas apenas pra ambientar os personagens em determinados locais, seguidas por diálogos identificados por seus nomes que, muitas vezes, tornam os acontecimentos confusos e muito limitados. Basicamente a história é contada através de diálogos rápidos e breves descrições do local em que os personagens se encontram. Eles aparecem de repente e sem a devida apresentação, depois já não estão mais lá, logo em seguida fazem coisas sem sentido e não há a menor preocupação em dar maiores explicações ao leitor sobre o quê, de fato, está acontecendo, mesmo que aquilo possa ter consequências futuras ou nos faça questionar sobre o improvável ou o impossível. Por esse motivo não me senti realmente conectada ao universo mágico de Harry Potter e fiquei com a impressão de ter lido só mais uma história inventada por qualquer pessoa que não se deu ao trabalho de tentar manter o padrão de qualidade da narrativa original, não por questão de ser originalmente um roteiro, mas pelo menos em respeito aos fãs. Já que a ideia de transformar o bendito roteiro em livro surgiu, que fizessem a coisa direito, pelo amor de Deus.
Harry Potter e a Criança Amaldiçoada poderia ser considerada uma fanfic, ou até um spin-off especial, mas continuação? Me perdoem por esse desabafo gigante, mas pra mim, como eterna fã, está muito longe disso. A história é interessante até certo ponto e cumpre com o papel de entreter, mas é praticamente inaceitável que este livro seja uma sequência oficial da série... Simplesmente não combina com o resto.
Sim, tentei relevar tudo por se tratar de uma peça de teatro que foi adaptada para a literatura para agraciar os leitores e fãs do bruxinho, mas é impossível sentir uma conexão com personagens tão diferentes do esperado, sejam eles novos ou antigos, atuando em uma história alheia, cheia de buracos, acontecimentos sem base, soluções fáceis e convenientes que não fazem o estilo de J.K. se compararmos com a saga original, e o problema maior, pra mim, foi este.
Sei que uma das características da autora, e que talvez seja uma das poucas presentes nessa história, é trazer alguns personagens imperfeitos, que não aprendem com os erros, ou ainda que adoramos odiar, mas quando esse personagem é um dos protagonistas a coisa muda de figura e fica mais delicada. Colocar alguém adorável e digno ao lado de um rebelde sem causa, idiota e inconsequente como forma de equilíbrio é uma escolha, no mínimo, arriscada... O que acontece quando um protagonista é ofuscado pelo brilho do outro? E nem quando Alvo cede e deixa de ser tão petulante é possível sentir simpatia por ele, o que é muito diferente da impressão que Escórpio causa no leitor, pois é ele quem rouba a cena.
Os demais personagens estão lá, mas senti que eles perderam suas essências e seguiram por caminhos que fugiram do que eles sonharam quando eram mais novos. Hermione agora é Ministra da Magia, mas em momento algum ela se passa por aquela "irritante" sabe-tudo que tanto gostava. Ela continua a agir com a razão, mas não da mesma forma como era antes. Rony, que era um personagem tão engraçado e cabeça dura, agora não passa de um bobão. Há cenas em que ele tenta ser engraçado, mas falha miseravelmente pois suas atitudes não soam naturais. Ele virou dono das Geminialidades Weasley mas não há nada que remeta que isso seja uma responsabilidade real que ele tenha em mãos. O que dá a entender é que uma lojinha de logros (que significava tudo para Fred e Jorge) não tem tanta importância assim em meio a assuntos mais sérios. Mesmo que ele e Hermione sejam casados, não é possível sentir que eles têm química pois eles não combinam enquanto adultos.
Já Harry e Gina demonstram uma cumplicidade mútua e o relacionamento deles é bastante bonito. Ela é a única que parece continuar uma personagem de fibra e que não sofreu tantas mudanças com o passar dos anos.
Não vou dar spoilers, mas o clímax da história gira em torno de uma grande revelação envolvendo Delfi, uma personagem que se diz prima de Cedrico e que incentiva Alvo e Escórpio a voltarem no tempo para salvá-lo, mas isso eu não pude engolir. Isso porque a tal revelação está ligada a algum possível acontecimento nos livros anteriores da saga, mas em momento algum houve qualquer tipo de brecha para tal. E quem leu os livros vai ficar com a cara na poeira tentando juntar as peças desse quebra cabeça, revirando o cérebro e cavando fundo tentando lembrar como pode ter acontecido aquilo em algum momento e sem encontrar nada, assim como eu.
Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, apesar de não ser um romance propriamente dito, cumpre com a função de levar o leitor pra perto de personagens tão queridos, mata um pouco da saudade, e é um livro de leitura extremamente rápida. Ele não prende logo de cara, mas logo já estamos mergulhados nessa aventura e querendo saber qual será o desfecho para tantos problemas que foram causados pelos garotos.
De forma geral, vale a pena ser lido, sim, desde que o leitor não vá cheio de expectativas esperando por algo emocionante e que vai ficar na memória pra sempre como a saga de Harry Potter ficou...