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Me Leve com Você - Jennifer Niven e David Levithan

24 de julho de 2022

Título:
 Me Leve com Você
Autores: Jennifer Niven e David Levithan
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto
Ano: 2022
Páginas: 288
Nota:★★★★☆
Sinopse: Beatriz e Ezra são irmãos e o principal apoio um do outro. Desde que a mãe deles se casou novamente, a vida dos dois ficou bem mais complicada. Mas Bea sempre fez questão de ocupar o posto de encrenqueira da casa e dar tudo de si para proteger Ez dos adultos. Até agora.
Quando Bea vai embora sem avisar ninguém, a situação do garoto muda complemente – ainda mais dentro de casa. Dividido entre a saudade, a raiva e a preocupação, Ez agora só pode contar com a irmã à distância, já que tudo que ela deixou para trás foi um endereço de e-mail secreto para se corresponder com ele.
Enquanto Bea vai em busca de segredos do passado na esperança de mudar seu futuro e Ez tenta encontrar seu lugar no mundo sem a irmã, os dois vão precisar aprender a confiar em si mesmos até poderem se reencontrar.

Resenha: Me Leve com Você, escrito numa parceria entre David Levithan e Jennifer Niven, é um romance jovem adulto publicado no Brasil pela Editora Seguinte.
O livro conta a história conturbada dos irmãos Beatriz e Ezra, que viviam em cumplicidade num lar que se tornou disfuncional após a mãe deles ter se casado outra vez e eles não darem certo com Darren, o padrasto totalmente abusador. Bea enfrentava os adultos pra tentar proteger o irmão, mas um dia ela decidiu fugir de casa deixando escola e família pra trás. Ezra ficou inconsolável, se sentiu abandonado e arrasado, pois seu porto seguro era a irmã, mas talvez houvesse um fio de esperança, já que Bez deixou um endereço de email secreto para que eles pudessem se falar as escondidas. Eles começam a se comunicar, e, de um lado, enquanto Ez conta sobre os problemas que anda enfrentando desde a partida de Bea, do outro lado, ela deixa claro que, embora se culpe por ter deixado o irmão, está atrás de segredos do passado que poderia encontrar com um "cara misterioso", numa tentativa de mudar o futuro até poderem se ver outra vez.

O livro traz uma narrativa epistolar, onde Bea e Ez, que tem um vínculo muito forte, conversam e contam a história de suas vidas trágicas através de emails trocados de forma intercalada. Como são emails, em sua maioria curtos, a leitura não é cansativa, é rápida e flui muito bem, mesmo que em alguns pontos tenha uma pegada de autoajuda. Alguns emails acabam não parecendo ser emails, pois enquanto alguns parecem ser um simples sms, outros são maiores e parecem um capítulo comum narrado em primeira pessoa, onde pensamentos, situações e sentimentos são expostos, assim como sequências consideráveis de diálogos entre terceiros e com os próprios protagonistas são reproduzidos de forma fiel, com travessões e tudo, e não como se eles estivessem contando o que foi dito para soar mais realista. Talvez funcionasse melhor e fosse mais crível se a narrativa não fosse espistolar, porque isso acabou me desconectando várias vezes da ideia de que se tratava de troca de emails entre dois adolescentes.

Tirando esse fato, não há muitas variações de estilo narrativo tamanha a conexão de ideias na história, então nem percebi que o livro foi escrito por dois autores diferentes. Beatriz e Ezra são jovens quebrados, mais infelizes e com sensação de abandono do que nunca, que estão em busca de juntar os cacos se apoiando um no outro, mesmo que estejam distantes, e o leitor vai ficando a par dos acontecimentos a medida que os irmãos vão se abrindo enquanto enviam esses emails, e a história vai se revelando e deixando a gente com o coração em pedaços devido aos traumas dos dois, mas também com um certo alívio por eles teram ajuda, mesmo que de forma bem conveniente em alguns momentos, pra conseguirem se libertar do inferno que viveram na infância causado por pessoas que deveriam protegê-los, para se tornarem pessoas livres do que os fazia mal.

É de uma dor imensa acompanhar a história de dois irmãos que foram negliegenciadas pela mãe quando ela se casa novamente, e parecia não dar a mínima pro fato de que o novo marido causasse estragos psicológicos irreparáveis nos dois. Bea simplesmente não aguentava mais aquela vida e caiu fora depois de ter sido obrigada a amadurecer antes do tempo pra tentar dar conta de enfrentar esses problemas, e como Ez ficou sozinho, acabou tendo que fazer o mesmo enquanto ela o apoiava de longe.

A história trouxe um conceito sobre a solidão que me fez refletir muito: Estar sozinho e sem um lugar pra morar não significa necessariamente que a pessoa está morando nas ruas sem ajuda de ninguém. Às vezes esse sentimento de abandono faz parte, mesmo quando a pessoa está cercada por familiares, e, às vezes, é muito possível ter a sensação de não fazer parte de um lar e se sentir em casa, mesmo que haja um teto sobre a cabeça dela. Nem sempre o acolhimento vem daqueles com mesmo sangue, às vezes vem de pessoas que não fazem parte do círculo familiar, mas que são compreensivas e bondosas o suficiente pra dar o apoio necessário e ajudar quem precisa a seguir em frente.

Pra finalizar, só tenho que falar algo que já é de conhecimento de todos que gostam dos livros e da escrita desses autores: São obras que mexem com os sentimentos, emocionam e tocam lá no fundo da alma, causando angústia e, às vezes, levando o leitor às lágrimas, mas depois eles são capazes de remendar os pedaços e fazer com que a gente possa se recompor.

Sem Ar - Jennifer Niven

10 de setembro de 2021

Título:
Sem Ar
Autora: Jennifer Niven
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Jovem adulto
Ano: 2021
Páginas: 392
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Passar o verão numa ilha remota não era o plano de Claudine Henry. Ela deveria estar viajando de carro com sua melhor amiga, aproveitando cada minuto antes de ir para a faculdade. Mas depois que seus pais anunciam o divórcio, o mundo dela vira de cabeça para baixo ― e Claude vai parar nesse destino improvável, acompanhando a mãe que tenta se reconstruir depois da separação. Ali, a garota não tem internet, sinal de celular ou amigos. Até que conhece Jeremiah. Com o espírito livre e um passado misterioso, a química entre os dois é imediata e irresistível. Enquanto vivem aventuras pelas praias, dunas e florestas, Claude e Miah tentam não se apaixonar ― afinal, esse relacionamento tem os dias contados. Mas talvez viver esse romance seja exatamente o que Claude precisa para começar a escrever sua própria história feliz...

Resenha: Claudine, ou Claude, é uma adolescente de dezoito anos que vive em Ohio e está terminando o ensino médio. Sua mãe é escritora e é a pessoa mais legal e compreensiva do mundo, seu pai trabalha numa faculdade e adora usar camisas de bandas dos anos 90. Ela também tem uma melhor amiga, Saz, com quem planeja fazer uma viagem fantástica logo depois da formatura, e que sempre está ali para o que der e vier. Claude, como a maioria dos adolescentes, está com os hormônios a flor da pele, e não para de pensar em como e quando será sua primeira vez, e mesmo que ela esteja se guardando pra outro cara, ter um rolo com Shane, um menino que estuda na mesma escola que ela, proporciona a ela algumas experiências preliminares que não só colocam o sujeito em banho-maria, como a deixa mais desesperada por sexo ainda.
Mas, quando seus pais anunciam que estão se divorciando, tudo na vida de Claude muda. Sua viagem com Saz já era, e agora ela precisa acompanhar a mãe, que está arrasada e que só quer ocupar seu tempo, passando algumas semanas numa ilha remota e cheia de histórias, onde seus antepassados viveram. Sem internet e sem sinal no celular, Claude fica sem rumo, até conhecer Jeremiah, um garoto diferente de todos aqueles que ela já conheceu. O interesse é recíproco, a química é inegável, e talvez um relacionamento com prazo de validade seja o que ela precisa pra dar uma guinada na vida...

A narrativa é feita em primeira pessoa e a escrita da autora é bem fluída. As descrições do cenário são ricas e lindíssimas, sendo possível que o leitor sinta a magia da ilha, a brisa do mar, os pés se enterrando na areia ou na lama do pântano, visualize a desova das tartarugas marinhas, se encante pelos vaga-lumes, enfim, é tudo bonito demais.
A autora usa várias metáforas e frases de efeito que funcionam na maioria das situações, muita coisa que aparece nos diálogos de Claude e seus amigos acabam servindo como um tipo de lição de moral, ou pra causar uma reflexão sobre tabus da sociedade que dizem respeito ao machismo, patriarcado, virgindade, sexualidade e afins. No começo não achei muito legal porque é estranho uma personagem tão infantil "militando" por aí, mas a medida que ela vai se reconstruindo, as coisas vão se encaixando melhor.
"A virgindade é uma construção social idiota criada pelo patriarcado"
A história demora um pouco pra engatar e acho que a construção inicial da protagonista seja a maior responsável por isso. Claude é uma adolescente que tem suas questões adolescentes, principalmente a curiosidade por sexo e pela primeira vez por causa dos hormônios incontroláveis, mas o jeito como ela pensa em sexo e virgindade 24hrs por dia, ou a forma como ficava atiçando seu ficante, chega a ser muito cansativo, num ponto que, pra mim, foi até desconfortável, principalmente porque ela se comporta como uma criança, e em alguns momentos eu me esquecia que ela já era maior de idade e pensava o quão preocupante é uma "criança" pensando em sexo daquele jeito. Talvez seja exatamente assim que alguns adolescentes se sintam até que a vida se encarregue de ensinar as coisas, e acho que a intenção da autora tenha sido mostrar essa imaturidade e o quanto isso é irritante e digno de pena, até Claude perceber, de uma forma bem lenta, que o mundo não gira ao redor do seu próprio umbigo. Ainda assim, não deixa de ser um pouco cansativo acompanhar tanta chatice vinda de uma personagem só por uma quantidade considerável de páginas, e eu não via a hora disso acabar. E agradeço por ter acabado.
"Porque depois de sofrer uma perda, você se torna um fantasma no próprio corpo. Você se vê fazendo e dizendo coisas que não faria ou diria normalmente. Você precisa de algo que mantenha seus pés no chão e que prove que você ainda está aqui. Precisa de um jeito de sentir alguma coisa. Qualquer coisa."
O que importa é que enquanto o tempo passa, as experiências que ela tem na ilha vão moldando sua percepção de mundo. Ela começa a descobrir coisas bem interessantes sobre a ilha, sobre a história de seus ancestrais junto com sua mãe (que está lá reunindo vários documentos familiares), sobre o relacionamento de seus pais, e, claro, sobre si mesma. Jeremiah é uma parte muito importante nessa jornada de Claude, pois, por mais desapegado e cheio de segredos que ele seja, a medida que eles se envolvem com mais intensidade, ela começa não só a desvendá-lo gradualmente, mas também começa a enxergar e a entender coisas que antes estavam muito além de sua compreensão limitada. Então, a partir do momento que esse amadurecimento começa a acontecer e as coisas começam a rolar de uma forma mais natural e real, a história vai ficando muito mais interessante, envolvente e emocionante, até mesmo no que diz respeito às questões sexuais de Claude e as expectativas dela com relação a primeira vez, que nem sempre acontece da forma linda e maravilhosa como a gente acha que vai ser. E isso me fez considerar que vale muito a pena passar pelo suplício que é o início da leitura pra ser recompensada depois, e por mais que o desfecho não seja totalmente fechado e tenha me feito ficar triste com a forma como tudo aconteceu e acabou, ainda foi muito satisfatório pra mim porque entendi que não tinha outra forma de ser.
"A vida é um acúmulo de dores. Elas nos preenchem e nos tiram o ar e achamos que nunca mais vamos conseguir respirar. Mas antes de nos darmos conta, somos apenas palavras em um papel, silenciados e adormecidos até que alguém encontre essas palavras e as leia."
Ao final da leitura, a autora escreve seus agradecimentos, e podemos entender o motivo desse livro ser o mais pessoal que ela já escreveu. Ela se baseou nas próprias experiências pra escrever a história de Claude e Miah, e fala disso de uma forma tão íntima e bonita que é impossível não se emocionar. Eu mesma fiquei com os olhos cheios de lágrimas.

Sem Ar é um livro que nos mostra que nem sempre as coisas estão sob nosso controle e que nem sempre conhecemos as pessoas próximas de nós como pensamos conhecer, mas a medida que amadurecemos e vamos tendo novas experiências, principalmente aquelas que parecem tirar nosso chão fazendo tudo desmoronar, somos capazes de nos conectarmos com nosso eu interior, e controlar a maneira como lidamos com situações difíceis e delicadas para seguir com a vida. Claro que temos que pensar no futuro, traçar planos, ter sonhos e objetivos na vida, mas também temos que viver e aproveitar o presente, como se não houvesse amanhã. Ás vezes tudo começa quando a gente pensa que tudo acabou...

Juntando os Pedaços - Jennifer Niven

16 de novembro de 2016

Título: Juntando os Pedaços
Autora: Jennifer Niven
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/YA
Ano: 2016
Páginas: 392
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Jack tem prosopagnosia, uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas. Quando ele olha para alguém, vê os olhos, o nariz, a boca… mas não consegue juntar todas as peças do quebra-cabeça para gravar na memória. Então ele usa marcas identificadoras, como o cabelo, a cor da pele, o jeito de andar e de se vestir, para tentar distinguir seus amigos e familiares. Mas ninguém sabe disso — até o dia em que ele encontra a Libby. Libby é nova na escola. Ela passou os últimos anos em casa, juntando os pedaços do seu coração depois da morte de sua mãe. A garota finalmente se sente pronta para voltar à vida normal, mas logo nos primeiros dias de aula é alvo de uma brincadeira cruel por causa de seu peso e vai parar na diretoria. Junto com Jack. Aos poucos essa dupla improvável se aproxima e, juntos, eles aprendem a enxergar um ao outro como ninguém antes tinha feito.

Resenha: Juntando os Pedaços é o mais recente livro jovem adulto da autora Jennifer Niven publicado no Brasil pelo selo Seguinte, da Companhia das Letras.

Jack Masselin é um garoto popular da escola e sempre chama atenção por onde passa. Bonito, estiloso, descolado, em companhia de sua linda, porém esnobe e fútil, namorada, Caroline, ou cercado por seus amigos, ele desfila pela escola cheio de admiradores. O que ninguém sabe, já que ele faz questão de esconder a sete chaves, é que Jack sofre de prosopagnosia, uma doença neurológica que impede que ele reconheça as pessoas, por mais próximas que elas sejam. Ele é cercado por várias pessoas, mas não tem a menor ideia de quem são. Então, ele tenta memorizar algumas caracteristicas físicas, marcas, sinais, ou gestos particulares e individuais que o ajudem a identificar cada uma das pessoas que está a sua volta. O que importa é que Jack deve fingir, sempre, devido a depedência dos tais amigos, então por mais que tenha que suportar brincadeiras idiotas, o melhor é ignorar e ser a pessoa que os outros esperam que ele seja.

Libby Strout não teve uma vida muito fácil também... Aos onze anos ela perdeu a mãe e o trauma a afetou de uma forma bastante negativa. Ansiosa e inconsolável, Libby encontrou consolo na comida e chegou a pesar quase 300kg, deixou de sair de casa por não conseguir levantar da própria cama e ficou conhecida como a garota mais gorda dos EUA chegando inclusive a aparecer na mídia. Agora, aos dezesseis anos, Libby está mais de 130kg mais magra e está disposta a recuperar o tempo perdido. Ela decidiu voltar pra escola e só precisa lidar com seus problemas com ansiedade a fim de evitar ataques de pânico e tentar levar a vida da forma mais normal possível.
Porém, logo no primeiro dia de aula, Libby se torna vítima de uma "brincadeira" terrível e preconceituosa e vai parar na diretoria junto com Jack. A partir daí, uma amizade extremamente improvável vai nascer.

Narrado em primeira pessoa de forma muito fácil e fluída, e com os pontos de vista de Jack e Libby se alternando, acompanhamos uma história crua que retrata problemas muito delicados, como os protagonistas levam suas vidas ao lidar com eles e como eles aprendem a se enxergar por trás do que demonstram ser para os outros.
Jack tem aquela pose de fodão mas além de fingir ser quem não é, é muito inseguro e instável. E enquanto Libby quer mostrar que é inabalável, mesmo que esteja acima do peso, por dentro ela está desmoronando.

Por um lado eu gostei de ver esses temas sendo abordados numa história pois, de certa forma, foi interessante aprender mais sobre a prosopagnosia e as limitações que ela dá ao indivíduo, assim sobre como as pessoas podem ser intolerantes e cruéis com quem está acima do peso (mesmo que isso tenha vindo de um trauma extremamente doloroso e ninguém dê a mínima). O bullying ainda é um tema delicado e que gera grandes polêmicas, e se não fosse pela enorme dificuldade e mente fechada dos outros em aceitar e respeitar as diferenças, haveria mais respeito e empatia com o próximo e as coisas não seriam tão ruins. Mas, por outro lado, fiquei me questionando sobre o quê, de fato, o livro trata. Seria as consequências dos efeitos trágicos do bullying e da gordofobia e sobre como levar a vida com uma doença neurológica que causa uma desordem cognitiva, ou sobre o amor adolescente tão necessário - ou quase obrigatório - para um tipo de autoaceitação para algumas condições socialmente nada favoráveis ou pouco aceitas por estar fora dos padrões? É como se Libby só pudesse chegar ao fim de sua jornada rumo ao amor próprio e solucionar seus problemas se no meio do caminho encontrar alguém que goste dela, e mesmo sem química nenhuma, eis que surge Jack.
Ele se encontra numa prisão interna, com receios e incertezas sobre a própria vida e sua capacidade de ser aceito como alguém normal está sendo prejudicada, como se ele estivesse perdendo a própria identidade e deixando de viver, mas ainda assim ele consegue enxergar por trás da fortaleza que Libby construiu em volta de si mesma e, dessa forma, eles vão juntando os pedaços, se reerguendo, se completando e buscando conquistar não só espaço, mas amor próprio.

A autora nos presenteia com um enredo sensível, original e cheio de ousadia, que fará o leitor refletir e se emocionar, e, quem sabe, crescer junto com os personagens, tentando enxergar sempre o interior das pessoas já que a aparência ou certos tipos de limitações não necessariamente definem quem alguém é.

Por Lugares Incríveis - Jennifer Niven

15 de janeiro de 2015

Lido em: Dezembro de 2014
Título: Por Lugares Incríveis
Autora: Jennifer Niven
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Drama
Ano: 2015
Páginas: 392
Nota: ★★★★★
Sinopse: Violet Markey tinha uma vida perfeita, mas todos os seus planos deixam de fazer sentido quando ela e a irmã sofrem um acidente de carro e apenas Violet sobrevive. Sentindo-se culpada pelo que aconteceu, Violet se afasta de todos e tenta descobrir como seguir em frente. Theodore Finch é o esquisito da escola, perseguido pelos valentões e obrigado a lidar com longos períodos de depressão, o pai violento e a apatia do resto da família.
Enquanto Violet conta os dias para o fim das aulas, quando poderá ir embora da cidadezinha onde mora, Finch pesquisa diferentes métodos de suicídio e imagina se conseguiria levar algum deles adiante. Em uma dessas tentativas, ele vai parar no alto da torre da escola e, para sua surpresa, encontra Violet, também prestes a pular. Um ajuda o outro a sair dali, e essa dupla improvável se une para fazer um trabalho de geografia: visitar os lugares incríveis do estado onde moram. Nessas andanças, Finch encontra em Violet alguém com quem finalmente pode ser ele mesmo, e a garota para de contar os dias e passa a vivê-los.

Resenha: Por Lugares Incríveis é um YA escrito pela autora Jennifer Niven e publicado no Brasil pela Seguinte. A história apresenta Theodore Finch e Violet Markey, dois jovens adolescentes que estudam na mesma escola e mesmo sendo o oposto um do outro, têm um objetivo em comum: eles querem se matar.
Violet tinha uma vida perfeita até que ela e a irmã sofrem um acidente de carro. Violet sobrevive mas sua irmã, Eleanor, não teve a mesma sorte. Ela conta os dias para a formatura e ela poder ir embora de onde mora deixando tudo aquilo para trás e desde então a garota, que costumava ser bastante popular, se isola, se sente culpada por ter escapado com vida do acidente, tenta levar a vida, mas tudo deixa de fazer sentido sem a irmã, que também era sua melhor amiga, ao seu lado. Ela decide subir na torre do colégio e estava prestes a pular...

Theodore "Aberração" é o esquisito da escola, depressivo, ansioso, se veste diferente, fala diferente, vive pensando em como morrer e acreditou que aquele dia em especial seria um bom dia para isso... Ele sobe na torre e encontra Violet, e em vez de pularem, ele impede que ela faça isso, por mais que os boatos que corram pelas testemunhas presentes no local sejam de que Violet foi quem o salvou. E é assim que os dois se conhecem, e depois, aproveitando a oportunidade, Finch acaba convidando Violet para ser sua parceira no trabalho de geografia. O trabalho consistia em visitar pontos famosos de Indiana. Violet reluta um pouco mas acaba cedendo e a medida que vão se conhecendo melhor, encontram o que buscavam um no outro.

A narrativa se alterna entre Finch e Violet e é feita em primeira pessoa pelos dois de uma forma bastante reflexiva. Ao mesmo tempo em que há bom humor a fim da leitura de tornar leve, a escrita chega a ter um toque bastante melancólico devido ao assunto que trata.
Finch conta os dias que se passam após um "apagão" que teve, enquanto Violet faz uma contagem regressiva até o dia da formatura. Por mais que ele sofra de depressão e tenha seus problemas que são ignorados pela família, é ele o responsável por animar Violet com seu carisma e jeitinho único de se aproximar de alguém, mas ainda assim continua sofrendo dos problemas que o afetam desde há muito tempo...

Ao visitarem os locais de Indiana, lugares lindos, que carregam histórias e significados, eles se envolvem um com o outro e o romance é um dos mais adoráveis dos quais pude acompanhar. Finch, mesmo sendo imprevisível, vivia surpreendendo Violet, fazendo com que ela se sentisse amada e querida, até que ela deixa de contar os dias e passa a vivê-los intensamente junto com ele. Após a morte da irmã, Violet se tornou uma pessoa triste e fechada e Finch foi quem conseguiu lhe trazer a vida de volta.
A autora criou sentimentos controversos e fez uma inversão de papeis ao meu ver, e levando todo o contexto em consideração, junto com os demais personagens, foi algo que me fez pensar em como existem problemas dos quais preferimos ignorar ou esconder a fim de manter as aparências ou bem estar.
É uma leitura que pode ajudar quem passa por problemas com depressão do tipo e que pode deixar os mais fortes completamente estarrecidos, mas ainda assim satisfeitos por terem tido a oportunidade de acompanhar uma história triste, mas tocante e bonita.

Por Lugares Incríveis é o tipo de livro que lida com transtornos psicológicos e suicídio de uma forma muito particular, expondo o bem e o mal, a cura e a destruição, o comum e o incomum, mostrando os personagens como pessoas reais, com sentimentos intensos e que convencem, e através de seus pensamentos e atitudes conseguem fazer com que o leitor acredite na história - história esta que é capaz de tocar nossos corações de uma forma intensa e emocionante. A história e a lição que veio com ela fica pra sempre.

Ao final, mesmo que com dor no coração, é formidável como tudo se entrelaça para trazer uma mensagem forte e que causa um enorme impacto na vida de qualquer um.
Fiquei imensamente agradecida por poder ter tido o prazer de embarcar nessa leitura e de poder ter "conhecido" personagens admiráveis, incríveis e inesquecíveis como Finch e Violet.
Nem tudo é perfeito na vida real, e minha satisfação maior foi saber que nada também pode ser perfeito na ficção...