Editora: Companhia das Letras
Gênero: Drama
Ano: 2024
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Sinopse: Gretel Fernsby conseguiu escapar da Alemanha nazista e há décadas leva uma vida pacata em Londres. Em seu íntimo estão as marcas de um passado obscuro e perturbador, e ela esconde a todo custo que é a filha do comandante de um dos mais notórios campos de concentração nazistas. Tudo muda, porém, com a chegada de um novo vizinho ― Henry, de nove anos ―, de quem se torna amiga. Certa noite, Gretel presencia uma discussão violenta entre a mãe e o pai do garoto e se vê diante de uma encruzilhada: pode salvar a criança, mas a decisão implica revelar sua verdadeira identidade para o mundo.
Sequência do aclamado O menino do pijama listrado, Por lugares devastados investiga as consequências da guerra e como um acontecimento pode moldar um ser humano. É uma história emocionante e devastadora sobre uma mulher que precisa enfrentar seus erros pregressos e agir com coragem no presente.
Resenha: Por Lugares Devastados, do autor John Boyne, veio para dar continuidade à história do livro O Menino do Pijama Listrado, lançado há quase vinte anos, porém sob o ponto de vista de Gretel Fernsby, a irmã mais velha de Bruno.
A história se passa no ano de 2022, oito décadas depois que ela e a mãe conseguiram escapar da Alemanha nazista. Gretel agora é uma senhora de 91 anos e mora num belíssimo apartamento em frente do Hyde Park, em Londres.
O que ninguém sabe é que, por trás dessa senhorinha um tanto chata e antissocial, há um passado perturbador onde ela esconde a todo custo que é a filha do comandante do campo de concentração de Auschwitz e, assim, ela vai levando a vida, tentando passar despercebida, mas sem esquecer tudo o que viveu no passado.
Mas as coisas pra ela mudam quando novos vizinhos se mudam para o apartamento abaixo do seu. É um casal com um filho de 9 anos, Henry, de quem Gretel acaba se aproximando e ficando amiga. E quando ela presencia uma briga bastante violenta entre os pais do menino, ela precisa decidir se vai intervir para salvá-lo e evitar que o pior aconteça, mas essa decisão faria com que sua verdadeira identidade e seu passado fossem revelados para as pessoas. E agora?
O livro é narrado por Gretel, intercalando fatos de seu presente, onde ela enfrentra alguns problemas com seu filho que quer que ela vá para uma clínica de idosos para vender seu apartamento, e do passado, onde ela fala de sua trajetória e o que aconteceu após a fuga da Alemanha, incluindo o medo que ela e a mãe tinham de serem descobertas pela proximidade e "participação" que tiveram num dos piores eventos que a humanidade já viu.
A protagonista é uma personagem bastante complexa e com diversas camadas que vão sendo reveladas aos poucos, a cada nova informação que ela fornece sobre sua vida. É um misto de pena, raiva e um pouco de admiração por todas as situações que ela foi condicionada a viver, que por mais injustas que pareçam, são um reflexo da criação que ela teve, vivendo numa realidade em meio ao regime nazista onde ela não tinha outra opção a não ser seguir as regras.
O que o autor levanta aqui é a questão da culpa que Gretel carrega e de que ela não é uma pessoa perfeita, fazendo o leitor refletir sobre a ideia dela entender ou não a complexidade do que estava acontecendo, se se arrependeu, se era conivente ou se apenas estava obedecendo e seguindo os ensinamentos do pai. E será que, levando tudo em consideração, ela pode ser julgada pelo que ele fez?
Boyne cria situações delicadas e bastante difíceis, desde as relatadas por Gretel que mostram as consequências de uma guerra mundial e uma vida cheia de mentiras e culpa, até as cenas presentes com os vizinhos que envolvem violência doméstica, e é impossível não se colocar no lugar dela, imaginando o que faríamos se fosse com a gente.
Não vou me alongar muito dando mais detalhes porque, assim como o primeiro livro, este é uma experiência literária que deve ser absorvida ao máximo pelo leitor para que ele seja surpreendido com os acontecimentos, as reflexões e as reviravoltas incríveis que acontecem.
Percebi alguns problemas na tradução e na linha do tempo que fugiram do que foi feito no primeiro livro, mas ainda dá pra entender sem atrapalhar a leitura, só achei válido pontuar.
Por Lugares Devastados é uma leitura comovente que não só complementa o livro anterior com questões sensíveis sobre culpa, cumplicidade e redenção, como tráz reflexões brutais sobre a banalidade da maldade e suas consequências.