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Porém Bruxa - Carol Chiovatto

14 de junho de 2023

Título:
Porém Bruxa
Autora: Carol Chiovatto
Editora: Suma
Gênero: Fantasia Urbana
Ano: 2023
Páginas: 320
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Isis Rossetti é uma bruxa. Como monitora responsável por atividades sobrenaturais na cidade de São Paulo, ela sabe que não pode intervir em questões humanas. Porém, no cotidiano urbano, as pessoas estão sempre em perigo e é impossível não tentar ajudar.
Quando Ísis recebe a missão de uma divindade, em meio a casos policiais estranhamente similares e investigações extraoficiais, ela precisará revisitar traumas do passado para proteger os comuns e enfrentar o temido Corregedor.

Resenha: Porém, Bruxa, escrito pela autora nacional Carol Chiovatto e publicado pela Suma, apresenta a protagonista Ísis Rosseti, uma jovem bruxa que trabalha monitorando e investigando atividades mágicas e sobrenaturais na cidade de São Paulo. Ísis não tem permissão para interferir nas questões da sociedade dos humanos comuns, mas acaba se envolvendo ilegalmente nessas situações, pois não consegue ignorar quando algum humano está em perigo devido à sua intuição e grande empatia. Um dia, Ísis recebe três tarefas fora de sua jurisdição, e agora ela precisa lidar com dois casos de desaparecimento e uma missão de uma divindade. Além disso, ela precisa enfrentar seus traumas do passado e confrontar o Corregedor, o chefe do departamento mágico, que não pode descobrir suas escapadas ao ajudar os humanos.

Livros de fantasia, principalmente aqueles com elementos de bruxaria, sempre despertam minha curiosidade, então criei altas expectativas para Porém, Bruxa. Mas, a história não conseguiu prender minha atenção. Levei uma eternidade para terminar a leitura, tive dificuldade para me acostumar com a voz narrativa da protagonista e, no final, achei tudo um tanto confuso e problemático.

O primeiro problema é a quantidade de temas e questões diferentes que a autora insere no universo mágico, dando a sensação de que estão dispersos e mal desenvolvidos. Parece que foi feita uma lista de temas para cumprir uma cota de representatividade, feminismo, críticas sociais e afins, mas não foi feito de forma natural. A leitura me deu a impressão de estar lendo um artigo informativo e resumido sobre esses temas. A autora quer falar sobre racismo, machismo, feminismo, intolerância religiosa, assédio, traumas, adoção, sistema prisional, pessoas em situação de rua, e muito mais, como se não pudesse deixar ninguém de fora.

Será mesmo necessário abordar todas essas problemáticas em uma história de investigação, que, aliás, tem muitas pontas soltas? São temas delicados que tentam ser inseridos em um universo mágico, mas nenhum deles é devidamente aprofundado. Entendo a importância de abordar esses temas relevantes na sociedade, mas quando isso não é feito de forma orgânica e parece deslocado, tudo parece forçado e desnecessário. A sensação é de que estão lá apenas para gerar engajamento. Talvez fosse melhor abordar poucos temas de cada vez e trabalhá-los bem, ao invés de tratar de tantos assuntos ao mesmo tempo e deixar o leitor confuso. Eu pessoalmente tive uma enorme dificuldade em me conectar com o que estava acontecendo e cheguei a reler os capítulos várias vezes por não entender o que estava acontecendo. Insistir em uma leitura que não me prendeu, esperando que ficasse interessante, foi bastante sofrível, e senti que perdi meu tempo.

Em relação aos personagens secundários e suas aparições, fica a pergunta: quem são eles? De onde vêm? O que comem? Parece que eles não têm nada mais para fazer em suas vidas além de aparecerem convenientemente quando a protagonista precisa de ajuda para resolver os problemas que surgem. Quanto ao empoderamento, o objetivo era apresentar uma personagem feminista, independente e poderosa, mas o que vi foi ela sendo constantemente salva por um homem com estereótipo de cara perfeito. Além disso, ela age de forma grosseira e desnecessária com os outros sem motivo nenhum. Isso não é ter uma personalidade forte, é falta de bom senso. A autora brinca com a ideia de um possível romance que nunca se concretiza, pois o foco de Ísis aparentemente é o trabalho. Não há problema em manter as relações no campo da amizade, mas a tensão romântica existe e queria saber qual finalidade. Fiquei com a sensação de que essa parte estava sendo guardada para um próximo volume. Quanto à narrativa em primeira pessoa, feita pelo ponto de vista de Ísis, não consegui identificar a voz da personagem e o tom me pareceu inconsistente. Às vezes ela fala usando gírias, às vezes usa uma linguagem mais formal e às vezes substitui palavras por outras que nem são sinônimas. Não há um padrão claro de fala e a construção dos diálogos e pensamentos pediu pelo amor de Deus por um polimento.

Talvez eu não estivesse no clima adequado para essa leitura, mesmo tentando por meses. Talvez eu não seja o público-alvo do livro, apesar de ser fã de fantasia urbana e thrillers (quando são bem estruturados e com finais de tirar o fôlego, claro). A magia também não parece desempenhar um papel significativo na história (talvez daí venha o título?), o que me deixou um tanto desanimada durante a leitura. Apesar de a autora ter criado uma estrutura de fantasia que parecia interessante e ter incorporado vários elementos da cultura brasileira, isso não foi suficiente para me fazer gostar da história ou prender minha atenção, pois o foco é outro. A teoria por trás da trama é interessante, mas a prática deixa a desejar. Porém, Bruxa é um thriller com toques de fantasia que, apesar de ter algumas reviravoltas interessantes, é uma leitura completamente esquecível.

Enquanto Eu Não te Encontro - Pedro Rhuas (Audiolivro)

13 de março de 2023

Título:
Enquanto Eu Não te Encontro (Audiolivro)
Autor: Pedro Rhuas
Narração: Pedro Rhuas
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2021
Duração: 7h 43min (272 páginas)
Nota:★☆☆☆☆
Sinopse: Nenhum encontro é por acaso.
A vida tem sido boa para Lucas. Ele passou no Enem para estudar publicidade; se mudou com Eric, seu melhor amigo, do interior do Rio Grande do Norte para a capital; e conseguiu sua tão aguardada liberdade. Mas, no amor, Lucas é um desastre. O maior fã de Katy Perry no Nordeste tem certeza de que nem toda a sorte do mundo poderia fazer com que ele finalmente se apaixonasse pela primeira vez.
Até que, em uma despretensiosa noite de sábado em 2015, tudo muda. Quando Lucas e Eric vão na inauguração do Titanic, a mais nova balada da cidade, Lucas esbarra (literalmente!) em Pierre, um lindo garoto francês que parece ter saído dos seus sonhos. Em meio a drinques, segredos e sonhos partilhados, Lucas e Pierre se conectam instantaneamente. Eles vivem o encontro mais especial de suas vidas, mas o Universo tem outros planos para o futuro... Até a noite acabar, o que será que vai acontecer com eles?
Com uma voz original e divertida, repleta de referências pop e à cultura do Rio Grande do Norte, o livro de estreia de Pedro Rhuas vai te fazer rir alto e se apaixonar.

Resenha: Em busca de sua liberdade, Lucas, um jovem de 20 anos que estuda publicidade e o maior fã de Katy Perry que existe, decidiu sair da cidadezinha de Luna do Norte pra ir morar em Natal, no Rio Grande do Norte, junto com o melhor amigo de infância, Eric. Os dois estão na faculdade, dividem um apartamento aconchegante e têm uma amizade super legal e sincera, até Eric arrumar um namorado da noite pro dia, o Raul, e deixar Lucas de lado com a sensação de ter sido abandonado. Quando o assunto é relacionamento, Lucas se considera um desastre e parece ter perdido as esperanças de encontrar alguém.
Mas tudo muda quando chega o dia da inauguração da balada mais top da cidade, o Titanic. Lucas, Eric e Raul saem pra curtir a tão esperada noite, e Lucas conhece Pierre, um francês que parece ter saído de um sonho mais lindo que eu já vi. Talvez o universo e o destino reservam algo de especial para Lucas, nem que seja pelo menos até o fim da noite...

Já ouvi vários audiolivros nessa minha vida de leitora, desde os narrados por narradores profissionais, os narrados por amadores e leitores comuns, e até os por narração sintética no Youtube, mas essa foi a primeira experiência com um audiolivro narrado pelo próprio autor que tive. Já adianto que não curti e que eu poderia escrever uma resenha enorme falando sobre todos os pontos que não gostei nesse livro, e é isso mesmo que vou fazer pra tentar mostrar meu ponto sobre não entender e nem concordar com esse hype todo.

Eu levaria no máximo 3 horas pra finalizar um livro de 270 páginas dando várias pausas, mas alongar essa leitura numa narração de quase 8 horas foi difícil, principalmente porque o tom da narração muitas vezes não combinava com o ambiente ou com a situação e ficava super forçada e exagerada, e chegou num ponto onde eu larguei o audiolivro por falta de paciência, e 2 meses depois que é tive coragem de retomar.
O audiolivro tem a trilha sonora embutida (composta pelo autor e disponível no Spotify), e acho até legal essa iniciativa de escrever um livro e criar toda uma ambientação em volta da história pra se criar aquela experiência completa e imersiva para o leitor aproveitar, mas pra mim não funcionou, deixou tudo mais cansativo, me distraía, e não caiu no meu gosto pessoal.

A história se passa em 2015 e é dividida em Primeiro Encontro, Desencontro e Segundo Encontro e cada parte tem os próprios capítulos bem curtinhos com títulos chamativos sobre as várias situações que estão dentro desses acontecimentos, mas em vez de eu me deparar com uma história sobre primeiro amor, representatividade e cultura nordestina como eu esperava, a única coisa que ficou evidente, com pouquíssimas ressalvas, foi a insistência em falar de memes ultrapassados, o lacre, soltar frases motivacionais ou de efeito aleatórias em meio à divagações, militância, questões políticas inseridas fora de contexto, mais lacre, e fazer referências a todos os ícones da cultura pop do mundo em meio a diálogos ruins e nada naturais. No primeiro capítulo já encontramos menções à Lady Gaga, Katy Perry, Os Simpsons, The Sims, Grey's Anatomy e o Gato de Botas, e a enxurrada de referências continua sem parar ao longo da história. Senti como se o autor quisesse mostrar todas as coisas legais e bafônicas que ele conhece e decidiu espalhar pelo livro porque sim, a ponto de eu ficar confusa e sem saber se ele falava dos interesses do personagem ou de si mesmo. Na maioria das vezes eu sentia que estava perdida na sessão de comentários de algum portal de fofoca qualquer, ou numa trend ruim sobre celebridades no Twitter. Há também a quebra da quarta parede onde o protagonista faz comentários sobre alguma situação ou fala descrita, e confesso que esse recurso num livro não me agrada muito, principalmente quando não consigo me conectar com o personagem. O tempo perdido com toda essa encheção de linguiça ou meras pinceladas sobre temas importantes poderia ser investido em construir e desenvolver melhor os personagens, tornar as coisas mais plausíveis, e quem sabe assim a história não ficasse a cara das fanfics de qualidade questionável do Wattpad.

Como o primeiro encontro desses dois acontece nessa boate Titanic, que inclusive serve de metáfora pra algumas situações descritas, fiquei imaginando aquela ambientação de balada top, muvuca, gente dançando e bebendo, música alta, glitter voando pra todo lado, então pra mim, por mais que eles pudessem estar um pouco mais afastados da bagunça no tal "convés", não fazia sentido Lucas e Pierre conseguirem conversar e se abrirem um pro outro durante 3 horas de uma forma tão profunda como eles fizeram, como se estivessem em total privacidade numa praia deserta, no silêncio e tranquilos, só esperando o nascer do sol. Não consegui acreditar que aquela conversa, naquele tom, durante esse tempo estava acontecendo naquele lugar.

Alguns personagens que pareciam ter um potencial grande de serem interessantes na história, como o casal de garotas de cabelo colorido ou a drag queen jovem mística e escandalosa, só estão alí pra se aparecer mesmo, e depois nunca mais ouvi falar. Se a ideia era criar um leque de personagens LGBTQIAP+ em prol da representatividade, não acho que funcionou quando o foco ficou somente em descrever Lucas, seus faniquitos, suas gírias e palavreados, e o surto por ter conhecido seu príncipe. Eu juro que achei o máximo o autor trazer um protagonista com essa característica afeminada porque é difícil encontramos personagens assim na literatura, mas ele é chato e tudo parece plástico, de tão artificial. E Pierre é tão perfeito, maravilhoso e sem nenhum defeito que deixa qualquer príncipe encantado da Disney recolhido à própria insignificância.

Algumas lembranças de infância ou situações difíceis que Lucas e Eric viveram, e como eles se uniram pra passar por isso, talvez tenham sido a única e melhor mensagem do livro, como a descoberta de sua sexualidade e a preferência pelas "coisas de menina", a decepção e o estado de negação da família por saber que o filho é gay, o bulliyng sofrido na escola por outras crianças maldosas, a pressão sobre eles por uma expectativa criada que não pode ser superada e afins, e até a rápida tentativa de se relacionar com meninas pra se certificar de que não existe "nada de errado" com eles, e tenho certeza que muitas pessoas que tiveram uma experiência parecida puderam se identificar com esse padrão de acontecimentos até poderem assumir a própria sexualidade e, infelizmente, alguns sequer conseguem fazer isso. O próprio Eric passou muito tempo dentro do armário e só agora está se permitindo ser feliz, sendo quem é. Penso que o #orgulho é um dos movimentos mais importantes e necessários que existem, pois em meio a tanta luta, ele também é capaz de simbolizar a vitória que é conseguir passar por tudo isso sem se perder, e seguir em frente de cabeça erguida, ainda que todas essas experiências deixem marcas que talvez nunca poderão ser apagadas. E tenho que ser sincera em dizer que o autor acertou pelo menos nessa abordagem, pois Lucas, apesar de ser insuportável, é muito sincero quando descreve como aconteceu, o que sentiu e como lidou com isso. Foi a única coisa que senti ser realmente real.
"Fiz uma promessa que, se um dia contasse a minha história, gritaria logo nas primeiras páginas sobre o viado orgulhoso e nordestino que sou."
Infelizmente nem essa questão que mencionei acima, nem os textões disfarçados de diálogos e pensamentos filosóficos foram capazes de salvar a história, porque parecem palestras de coachs de internet tentando vender curso. Talvez se isso fosse integrado à história de outra forma pra fluir de um jeito mais natural, onde o autor quisesse causar a reflexão com base nas experiências dos personagens em vez de querer ensinar alguma coisa com essas lições prontas, funcionaria melhor. Separei um trecho de uma cena onde Lucas cai no chão que deve explicar o que quero dizer sobre o exagero e como esse tipo de coisa é inserida de qualquer jeito, em qualquer brecha, do nada:
"Na hora, nem percebo que meus joelhos ficam ralados. Minha maior preocupação é manter o celular intacto. E não me envergonho disso, tá? É um comportamento absolutamente aceitável quando nos enxergamos como meros produtos de uma sociedade regida pelo capitalismo brutal, onde as elites controlam os meios de produção e, pros pobres coitados como você e eu, resta a eterna desventura de tentar preservar os bens de consumo adquiridos com tanto esforço."
Por mais que a informação acima seja um fato, não vejo como isso cabe nessa história. Se eu quisesse ler sobre o capitalismo e como ele é o maior vilão da sociedade, o último lugar que eu ia procurar informações sobre seria num livro jovem adulto com romance de conto de fadas gay. É meio desanimador pegar um livro esperando ler uma história divertida, achar que vamos dar um rolê pelo nordeste afora, e ter que ficar se deparando com esses discursos gratuitos a todo momento vindo de um personagem que só tem como característica marcante ser gay, dar chilique e ficar militando sem parar. Lucas, meu filho, descansa.

Talvez eu apenas não seja o público alvo desse tipo de história pra simplesmente ignorar todos esses pontos como se não fossem problemáticos pra mim, e acho que outros leitores mais jovens e que se identifiquem mais tirem um maior proveito, então nada melhor do que ler e tirar as próprias conclusões. Os fãs que me perdoem, mas o problema maior foi a necessidade de eu ter que espremer a história até conseguir extrair alguma mínima coisa que fosse boa, e quando chega ao ponto do leitor precisar fazer todo esse esforço, acho que a coisa já desandou e não vale a pena.

O que Dizem as Estrelas - Luly Trigo

19 de setembro de 2022

Título:
 O que Dizem as Estrelas: Contos Astrológicos
Autora: Luly Trigo
Editora: Seguinte
Gênero: Contos/Juvenil/Astrologia
Ano: 2022
Páginas: 384
Nota:★★★★☆
Sinopse: Todo mundo já ouviu falar que as pessoas do signo de câncer são choronas; as de touro, comilonas; as de libra, indecisas… Mas será que é apenas isso que os signos representam?
Nesta antologia, você vai encontrar doze histórias, cada uma acompanhando um protagonista de um signo solar diferente ― todos eles moradores do mesmo prédio, o edifício Cosmos. Ali, os conflitos são vários: mudança de casa, problemas na escola, desentendimentos com os amigos, romances surgindo e chegando ao fim… Enquanto mergulha nos dramas de cada personagem, você vai perceber que os signos do zodíaco são repletos de nuances, luzes e sombras, que podem nos ajudar a entender quem realmente somos.
Ao final de cada astroconto, você ainda encontra um texto explicativo sobre como a energia daquele signo pode afetar determinada área da sua vida ― afinal, todos temos um pouco de cada signo no nosso mapa.

Resenha: Publicado pela Editora Seguinte, O que Dizem as Estrelas é um complilado de doze contos, um pra cada signo do zodíaco, escrito pela autora Luly Trigo.

Aqui os personagens são moradores do edifício Cosmos. Cada um deles vai enfrentar uma situação diferente e lidar com elas de acordo com sua personalidade, cujo signo tem a devida influência. O conto em si abordar questões referentes à astrologia propriamente dita, nem dará informações estereotipadas sobre o assuntro, mas vai narrar alguma situação específica onde o personagem vai mostrar quem ele é a partir de suas atitudes, com suas qualidades e defeitos, vai se encaixando nas características do signo em questão enquanto surge alguma lição que o faça enxergar e tentar aprender com os próprios erros. Somente ao final do conto a autora inclui um texto se aprofundando um pouco mais nas características do tal signo e, aí sim, o leitor pode tirar as próprias conclusões e perceber como o comportamento e a personalidade da personagem fazem mais sentido considerando o zodíaco.

Logo no início a autora já deixa a observação sobre o livro não ser um estudo aprofundado dos signos e suas características, pois a ideia é oferecer uma história leve e divertida aos leitores, mas vou ser sincera em dizer que a pegada adolescente dos contos não me envolveu muito, principalmente pela maioria dos personagens serem um tanto imaturos e com dilemas que, pra mim, são bem fúteis. Mas isso também se dá pelo fato de eu ter nascido lá em meados da década de 80 e não fazer parte do público alvo do livro. Talvez, se eu ainda estivesse naquela fase de ler as Todateens e as Caprichos da vida, eu teria gostado muito mais.

Mas fora isso, como boa taurina que sou, paciente, zen e jovem mística que acredita nesse rolê todo, eu gostei muito da forma como a autora combinou as características dos signos com seus personagens e suas personalidades sem forçar nada, e tudo ser o mais natural possível. Fiquei imaginando a quantidade de livros que já li na minha vida e nunca pensei que um personagem se comporta de tal forma ou toma determinadas decisões por ter alguma influência astrológica. Acho que vou começar a reparar nisso agora e tentar fazer esse tipo de identificação XD

A leitura é leve e tem uma linguagem super fácil, os contos são curtos e eles trazem todo tipo de representatividade. Logo no primeiro conto, Áries, conhecemos Vivi e sua namorada Irena, que estão se desentendendo por Vivi ser muito mandona, querer controlar tudo e ficar irritada e emburrada quando um trabalho de escola feito em grupo não sai como ela gostaria.
No conto de Touro, Eloá é uma garota de quinze anos que anda chateada por ter saído do aconchego da casa onde morava no interior e ter se mudado com a mãe pra um apartamento na loucura da cidade, e agora anda sofrendo horrores por ter saído de sua zona de conforto e ainda ter que se desfazer de parte de sua coleção de livros que ela é tão apegada por falta de espaço. Eu te entendo, Eloá... Essa também sou eu.
Não vou me aprofundar em todos os contos pra resenha não ficar enorme, mas, basicamente, cada conto traz uma historinha onde a personalidade e comportamento dos protagonistas se encaixam com as características do signo em questão.

Uma observação é que no edifício há um personagem em comum que aparece nos contos, seu Gabriel, o porteiro do prédio. Esse "seu" de início me fez imaginar um senhor de uns 60 ou 70 anos, mas fiquei em choque que ele tem míseros 30.

O que Dizem as Estrelas é um livro juvenil, mas que pode muito bem ser indicado pra sair daquela ressaca literária, ou quando procuramos por algo leve e descontraído pra ler sem muitas pretensões. Independente do leitor acreditar ou não em signos, os contos são simples e esses detalhes astrológicos só vão servir como um elemento a mais pra quem gosta do tema e identifica essas características.

O Livro dos Pequenos Nãos - Heloisa Seixas

2 de janeiro de 2022

Título:
O Livro dos Pequenos Nãos
Autora: Heloisa Seixas
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Literatura Nacional
Ano: 2021
Páginas: 144
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Em O livro dos pequenos nãos, Heloisa Seixas explora o poder das escolhas, da sorte e do acaso. O livro acompanha a história de Lia ao longo de uma noite ― enquanto ela revive as lembranças de seu relacionamento conturbado com Tito ― e abre janelas para anos pregressos, apresentando outros personagens que, cada um à sua maneira, tiveram suas histórias reescritas.
Com uma prosa que seduz e prende o leitor até a última página e com a habilidade de quem transita pelos mais diversos gêneros da ficção, a autora entrelaça passado e presente e tece uma narrativa sensível sobre o impacto das decisões ― conscientes ou não ― que acabam não apenas por definir nosso destino, mas também por nos tornar quem somos. 

Resenha: Quando Lia se encontra com a amiga Ana num bar para tomarem um chope e terem um momento de diversão, a conversa descontraída começa a tomar um rumo mais reflexivo: Ana começa a falar sobre a morte trágica de um grande poeta; sobre as mudanças que ocorrem com tal tragédia e o que se é perdido além da vida; e no famigerado "e se", explorando o poder das escolhas, da sorte e do acaso...
"- Esse vazio estranho que se cria a partir de bifurcações, do momento em que se escolhe ir para um lado e não para o outro e que..."
- Pág. 10
Ao longo da noite, relembrando as conturbações de seu relacionamento e como se sente em relação a isso enquanto volta pra casa, Lia segue numa divagação profunda e intensa, uma viagem cheia de experiências (que inclusive são um risco pra ela mesma) onde aborda o poder imensurável de se tomar uma decisão, seja ela consciente ou inconsciente, e como ela não apenas define o destino, como molda as pessoas a serem quem elas são.

O livro é narrado em terceira pessoa, com descrições bem trabalhadas e poéticas sobre os elementos da trama, algumas se extendem demais nas descrições e nos "floreios" narrativos, mas é o que dá uma intensidade maior aos sentimentos e às sensações dos personagens. Os capítulos são curtos e entre os destinados à Lia há histórias de outros personagens, de outras épocas, que tem ligações familiares uns com os outros e dão continuidade aos "causos", e que também remetem às consequências de determinadas decisões. A primeira história se passa em 1897, onde acompanhamos João Alexandre, um médico do exército que viveu de perto e sobreviveu à Guerra de Canudos, no interior da Bahia. E a partir daí, os demais capítulos com os outros personagens vão ganhando elementos do que fez parte da história do Brasil, alguns com toques sobrenaturais que lembram muito aqueles contos do interior, passando por assombranção até Lampião. E o mais incrível é o desfecho que liga a autora diretamente aos personagens, mostrando que as decisões tomadas vão, inclusive, impactar na vida de seus descendentes, afinal, não estaríamos aqui se nossos avós, se nossos pais não tivessem se conhecido e tido um relacionamento.

E toda a trajetória desses personagens leva o leitor a refletir sobre questões como "minha vida seria diferente SE eu tivesse feito outras escolhas?", "Hoje eu estaria onde estou SE eu tivesse seguido por outro caminho?" São perguntas cujas respostas não possuímos. Ao fazermos uma decisão, acabamos escolhendo uma coisa e abrindo mão de outra, e como não é possível voltar atrás, não temos como saber o que seria, e nem por isso devemos nos prender ao que poderia ter sido, mas sim viver o presente enquanto lidamos com nossas decisões e suas consequências, sejam elas boas ou não, sem "culpar" o destino. E independente do evento, da ocasião, da situação, são as escolhas que definem o desfecho, e às vezes uma escolha simples (mesmo que não seja um caminho simples pra se tomar) nos liberta do que nos aprisiona.

Conectadas - Clara Alves

16 de novembro de 2020

Título: 
Conectadas
Autora: Clara Alves
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Literatura Nacional/LGBT
Ano: 2020
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Raíssa e Ayla se conheceram jogando Feéricos, um dos games mais populares do momento, e não se desgrudaram mais — pelo menos virtualmente. Ayla sente que, com Raíssa, finalmente pode ser ela mesma. Raíssa, por sua vez, encontra em Ayla uma conexão que nunca teve com ninguém. Só tem um “pequeno” problema: Raíssa joga com um avatar masculino, então Ayla não sabe que está conversando com outra menina.
Quanto mais as duas se envolvem, mais culpa Raíssa sente. Só que ela não está pronta para se assumir — muito menos para perder a garota que ama. Então só vai levando a mentira adiante… Afinal, qual é a chance de as duas se conhecerem pessoalmente, morando em cidades diferentes? Bem alta, já que foi anunciada a primeira feira de Feéricos em São Paulo, o evento perfeito para esse encontro acontecer.
Em um fim de semana repleto de cosplays, confidências e corações partidos, será que esse romance on-line conseguirá sobreviver à vida real?

Resenha: Feéricos é um jogo online que está em alta no momento, mas, devido ao machismo gratuito por parte dos garotos, ser uma garota nesse meio é uma tarefa muito complicada. Raíssa é viciada no game e sabe como é terrível a sensação da opressão e das humilhações que as garotas sofrem com esse posicionamento odioso, então ela decide criar um perfil fake para se passar por um garoto e ajudar as meninas que quiserem jogar também.
Ayla, uma garota doce e simpática que também estava sofrendo com esse machismo absurdo enquanto jogava Feéricos, mas quando conhece Leo, ela percebe que ele é bem diferente de todos aqueles babacas, e as diversas partidas que jogaram juntos, assim como as muitas horas de conversa fizeram com que eles ficassem bem amigos. Mas o que Ayla não sabe ainda, é que Leo é o fake de Raíssa...
Tudo estaria ok, afinal, elas moram bem longe uma da outra e não teriam a chance de se encontrar, mas quando a desenvolvedora do jogo anuncia um concurso de cosplay valendo ingressos para um grande evento que aconteceria em São Paulo, as meninas ficam bem animadas para participar. Mas, além de ter perdido o controle da situação, Raíssa se apaixonou por Ayla, e agora não consegue contar a verdade pra ela.

Com uma narrativa em primeira pessoa que se intercala entre as duas protagonistas, Conectadas é um livro que aborda a temática LGBT de uma forma leve, descontraída e um tanto real, mostrando os dois lados da história, principalmente ao se levar a reação da família frente a essa orientação em consideração, a medida que os sentimentos das personagens vão sendo explorados diante dessa situação. O romance adolescente é até bem fofinho, mas a questão da mentira, que vai virando aquela bola de neve, chega a dar agonia. Eu só imaginava a frustração e o desgosto eterno de Ayla por estar presa nesse "catfish". Sei que a intenção de Raíssa não era enganar ninguém, e inicialmente sua motivação para jogar como Leo era bem nobre, mas a coisa vira um desastre tão grande que a vontade é de pegar a menina pelo ombro e dar uma sacudida mandando ela resolver logo esse problemão pra evitar decepções e sofrimento.

No mais, a escrita da autora é bem sensível, explorando personagens com muita representatividade que vão viver uma história cheia de altos e baixos nesse mundo gamer e nerd (que eu particularmente curto muito já que também gosto de jogar online), mas que traz uma mensagem muito bonita e importante sobre amor próprio, inseguranças, autoconhecimento e aceitação. Acho que é uma leitura muito válida e importante para o público mais jovem, tanto pela história se passar num cenário do qual a maioria já está bem familiarizada, quanto pelas questões levantadas de forma tão natural que, com certeza, muitos leitores e leitoras vão se identificar.

Enfim, Capivaras - Luisa Geisler

8 de fevereiro de 2020

Título: Enfim, Capivaras
Autora: Luisa Geisler
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Literatura nacional
Ano: 2019
Páginas: 176
Nota:★★★★☆
Sinopse: A cidade no interior de Minas Gerais para onde Vanessa se mudou é o tipo de lugar onde anunciam os horários do cinema e os obituários com o mesmo carro de som. Nada de muito interessante acontece por lá, a não ser para Binho, que, segundo ele mesmo, tem várias namoradas e conhece um monte de cantores sertanejos famosos.
A verdade é que Binho é um mentiroso contumaz e agora passou dos limites: inventou que tem uma capivara de estimação. Cansados das histórias cada vez mais mirabolantes do garoto, Vanessa se junta aos amigos – Léo, Nick e Zé Luís – para desmascará-lo. E eles estão decididos a ir até as últimas consequências.
Narrado durante as doze horas de uma noite regada a álcool, salgadinhos, segredos e romances mal resolvidos, Enfim, capivaras explora, através de diferentes pontos de vista, os relacionamentos entre um grupo de adolescentes em busca de uma capivara – ou muito mais do que isso.

Resenha: Depois do divórcio dos pais, Vanessa se mudou com a mãe de Porto Alegre para a Chapada do Pytuna, uma cidadezinha ensolarada no cerrado mineiro com 30 mil habitantes, dessas que todo mundo conhece e sabe da vida de todo mundo. Na escola, Vanessa fez amizade com Léo, Nick, Zé Luis e Dênis, vulgo Binho, mas não era uma relação de melhores amigos ever. Como a cidade é pequena, não tem nada de muito novo pra se ver ou se fazer, mas isso muda quando a turma se une contra Binho, que nunca perdeu a oportunidade de contar várias mentiras pra se aparecer e fingir ser melhor que os outros. A nova do menino foi ter dito que tem uma capivara de estimação, mas quando os outros colegas foram até a casa dele pra ver a tal capivara com os próprios olhos, Binho disse que ela fugiu, foi roubada! Mas eles não iriam desistir tão fácil, pois estavam determinados a desmascarar o farsante nem que tivessem que ir até o fim do mundo, e partem numa viagem de carro, sem carteira de habilitação nem nada, munidos de salgadinhos, balas de goma, energético e álcool, em busca da bendita capivara mato adentro.

Narrado em primeira pessoa e com capítulos que se alternam entre os pontos de vista dos personagens (com exceção de Binho), a autora conduziu a história de uma forma bem leve e divertida nesse período de doze horas de busca, criando uma ambientação interiorana cheia de detalhes, além de captar a essência da adolescência com vários dos seus dilemas de um jeito muito bacana, o que fez eu me identificar com cada personagem, por mais que eles sejam diferentes entre si, levantando questões importantes de serem abordadas sobre família, amizade, segredos, sexualidade, status social, confiança, lealdade, repressão, romances mal resolvidos, autoaceitação, mentira, trabalho, oportunismo e afins.

A forma da narrativa, e até da diagramação do livro em si, é legal, pois cada capítulo se inicia com uma lista de coisas que vão ser abordadas por algum dos personagens, e funciona como uma contagem regressiva das 12 horas até o final. O primeiro capítulo Vanessa lista 12 coisas que levaram a turma à casa de Dênis, o segundo capítulo lista 11 coisas que fizeram Zé Luis a entrar nessa confusão, e por aí vai...

Confesso que algumas coisinhas me incomodaram um pouco, como a falta de um desfecho para alguns personagens, ou um trecho específico - e infeliz - num dos capítulos de Nick onde a autora usa o autismo como forma de ofensa gratuita, o que foi bem desnecessário, já que o contexto não justifica tal "adjetivo" como abuso verbal dos pais: "uns comentários da mãe sobre 'ficar socada no quarto que nem uma autista imbecil'" - pág. 35. Enfim, achei pesado...

Vanessa está passou por maus bocados em sua vida depois da separação dos pais e da mudança de cidade, que nunca é uma coisa fácil, mas se esforçou para se adaptar e se enturmar com o pessoal para não ser a estranha da turma. Não acho que eu deva contar mais detalhes sobre ela pra evitar spoilers.
Léo se aproveita do status de sua família endinheirada na cidade para fazer o que quer usando o nome do pai pra tudo, até pra escapar de enrascadas. Um exemplo é que com dezesseis anos ele dirige por aí como se fosse "intocável". Embora seja o garoto riquinho da turma, no fundo ele tem seus problemas que, de certa forma, justificam parte do seu comportamento e mostram que as aparências podem enganar muito.
Nick é uma garota que, apesar de ter nascido na cidade, não sente que pertence aquele lugar. Ela é diferente das garotas (e de qualquer um) da sua idade, é agressiva como forma de defesa, gosta de escrever fanfics, gosta de animes, mas também enfrenta alguns problemas dessa fase.
Zé Luis vem de uma família mais humilde e aprendeu desde cedo a ser justo com todos. Sua mãe é uma das empregadas na casa da família de Léo. Ele é um garoto bondoso e gentil, mas que também enfrenta alguns dilemas, inclusive sobre sua amizade com Léo já que o amigo é o "patrão".
Binho é um caso perdido, e sua mania de inventar tudo quanto há e o comportamento que ele tem quando parece estar encurralado é irritante de um tanto que não dá nem pra medir, mas também rende alguns momentos engraçados. São situações impossíveis que fazem com que a gente torça pra que tudo fique bem, pra que o mentiroso pare de ser ridículo e fale a verdade pra acabar com essa história logo.

Dessa forma, a história não se trata só da busca louca e engraçada por uma suposta capivara, mas sim de uma busca pelo autoconhecimento onde cada um pode encontrar a si mesmo, e que vai mexer com nossas emoções.

Bom Dia, Verônica - Andrea Killmore

16 de junho de 2019

Título: Bom Dia, Verônica
Autora: Andrea Killmore
Editora: Darkside Books
Gênero: Thriller/Literatura Nacional
Ano: 2016
Páginas: 256
Nota:★★★★
Sinopse: Em "Bom dia, Verônica", acompanhamos a secretária da polícia Verônica Torres, que, na mesma semana, presencia de forma chocante o suicídio de uma jovem e recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada clamando por sua vida. Com sua habilidade e sua determinação, ela vê a oportunidade que sempre quis para mostrar sua competência investigativa e decide mergulhar sozinha nos dois casos. No entanto, essas investigações teoricamente simples se tornam verdadeiros redemoinhos e colocam Verônica diante do lado mais sombrio do homem, em que um mundo perverso e irreal precisa ser confrontado.
Andrea Killmore compõe thrillers como os grandes mestres, e sua experiência de vida confere uma autenticidade que poucas vezes encontramos em suspenses policiais, vibrante e cruel — como a realidade.

Resenha:  Bom dia, Verônica é um thriller nacional escrito por Andrea Killmore (pseudônimo de não faço ideia quem) e publicado pela Darkside Books. De antemão já posso dizer que o trabalho gráfico do livro, que tem capa dura, assim como de todos os outros da editora, está impecável e super caprichado.

Verônica Torres é uma escrivã da Polícia Civil de São Paulo que está cansada de ver tantas injustiças acontecendo. Os casos são engavetados e esquecidos sem que nada seja resolvido e ela já está cansada dessa situação que a consome dia após dia. Seu chefe é um delegado que já está quase se aposentando e está fugindo de casos complicados (e dos simples também) e não resolve nem tem interesse por nada. Até que num dia rotineiro de trabalho, Verônica presencia o suicídio de um moça em plena delegacia, e como se a situação já não fosse chocante demais, ela ainda recebe uma ligação de uma mulher desesperada e que corre risco de vida nas mãos do marido, mas que ninguém na delegacia tem interesse em investigar se um inquérito não fosse aberto pela própria esposa.

Assim, Verônica resolve investigar os dois casos por conta própria diante de tanto descaso dos demais policiais, tanto para mostrar o quanto é competente, quanto para fazer um pouco de justiça, já que nunca é feita. Mas o que ela não esperava era se deparar com um caso complexo e sombrio, além de se envolver numa trama perigosa que ela jamais imaginou viver.

A narrativa é bastante fluída, e por se passar em São Paulo, tem várias gírias e referências que reforçam que se trata de uma história nacional. A escrita também é bastante crua, com detalhes que incomodam por trazer a realidade de uma forma bastante verdadeira e até cruel. O mistério é interessante e a forma como a autora prende o leitor, revelando detalhes de forma gradual, torna a leitura do livro uma experiência super satisfatória, mesmo que ele tenha várias facilitações narrativas pra dar explicações ou tirar o personagem de alguma situação impossível.

Verônica é um belo retrato da mulher brasileira, que trabalha mais do que ganha, se dedica à família e à casa, e se desdobra da melhor forma que pode pra dar conta de tudo, e por isso está esgotada. Ela está insatisfeita com seu emprego, seu casamento está um lixo, e ela precisa de alguma motivação pra dar um up na sua vida, logo investigar esses casos (e outras cositas mas), iria tirá-la dessa "zona de desconforto". Ela cai naquele clichê da policial inteligente e de personalidade forte que tem seus problemas pessoais que interferem em sua vida profissional, mas isso não significa que ela seja uma personagem admirável que sabe lidar com tudo. Ela é a anti-heroína que faz escolhas e tem atitudes questionáveis e desprezíveis, mas ainda assim busca pela justiça, mesmo que ela precise recorrer a medidas mais drásticas pra isso. Verônica acaba levantando vários questionamentos e reflexões acerca de seu comportamento e até da própria forma como ela encara a vida.
A história também aborda alguns temas bastante pesados, e talvez quem não esteja acostumado com livros policiais possa ficar bem mais impactado com o choque que algumas cenas causam.

No mais, pra quem gosta do gênero, curte personagens nada convencionais, e procura por um bom livro nacional, é leitura super indicada.

Confissões de Um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado - Thalita Rebouças

5 de fevereiro de 2018

Título: Confissões de Um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado
Autora: Thalita Rebouças
Editora: Arqueiro
Gênero: Infanto Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 304
Nota:★★★★☆
Sinopse: Davi está no segundo ano do ensino médio e finalmente tomou coragem para iniciar o curso de astrologia que sempre quis fazer mas nunca teve coragem de admitir, por medo de sofrer preconceitos.
Entre signos e mapas astrais, conhece Milena, uma menina incrível, que o deixa encantado com seu jeito apaixonante. Tetê, melhor amiga de Davi, o incentiva a investir no relacionamento, mas vencer a timidez é um desafio para ele. Ajudar Zeca, seu amigo que passa por problemas amorosos, também é uma dificuldade, pois Davi é inexperiente no assunto.
No final do primeiro semestre, entretanto, uma novidade causa um rebuliço na turma: Samantha, colega de classe do trio, apresenta Gonçalo, que mora em Portugal e veio passar as férias de verão europeu na casa dela, no Rio de Janeiro.
A chegada do estrangeiro tem efeitos inesperados, e Davi e seus amigos passam a lidar com questões que nunca imaginaram ter que enfrentar.

Resenha: Davi tem dezesseis anos, está no segundo ano do ensino médio, é nerd assumido e, depois de ter tomado coragem, começou a fazer um curso de astrologia que ele tanto queria mas ainda não tinha feito por medo de sofrer preconceito. E nesse universo astrológico ele conhece Milena, uma garota super legal por quem ele logo fica encantado. Porém, sua timidez é uma coisa que precisa ser vencida, e Davi vai contar com a ajuda dos seus amigos para ter coragem de investir nesse relacionamento. E enquanto ele enfrenta essas questões, um novo colega chega na cidade fazendo com que o grupo de amigos lidem com outras coisas que eles não esperavam...

No livro a autora pede pra não darmos muitos detalhes da história para que possamos descobrir as coisas junto com o personagem, mas posso dizer que Davi é o tipo de personagem que muitos adolescentes se identificam: tímido, confuso com o que é novo, e até bem reservado, e quando ele se depara com a ideia de alguém o conhecendo melhor, ele sai de sua zona de conforto. Ele é um personagem que tem algo a ensinar, seu desenvolvimento foi bem construído, sua paixão pelos signos e pelo comportamento humano é verdadeira e sua forma de analisar os outros é bem engraçada.

A escrita também é muito boa e envolvente, as descrições do cenário transportam o leitor para a cidade do Rio de Janeiro e a linguagem descolada em meio aos elementos da atualidade, como redes sociais, whatsapp e afins deixam a história bastante realista.

Eu gostei bastante da história pois ela trata dos dilemas e dos dramas adolescentes de um jeito muito leve e sem fazer parecer que os problemas tratados nele não tem a devida importância, pois além de mostrar que enfrentar medos e preconceitos é possível, ou que nunca devemos deixar de fazer o que gostamos para agradar os outros, fica mais do que claro que a amizade é uma das coisas mais importantes da vida e o quanto deve ser valorizada quando é verdadeira.

Over the Rainbow - Varios autores

22 de novembro de 2017

Título: Over the Rainbow - Um Livro de Contos de Fadxs
Autores: Milly Lacombe, Renato Plotegher Jr, Eduardo Bressanim, Maicon Santini e Lorelay Fox
Editora: Planeta de Livros
Gênero: Contos/Releitura/Literatura Nacional
Ano: 2016
Páginas: 224
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: E se a Cinderela se apaixonasse por uma garota, e não por um príncipe encantado? Ou se os irmãos João e Maria, homossexuais assumidos, enfrentassem a ira de uma madrasta religiosa que só pensa em “curá-los”? Ou, ainda, se a Branca de Neve, abandonada numa cidade bem distante de sua terra natal, fosse acolhida por... sete travestis? Pois pare de imaginar se os contos de fadas fossem revisitados e recebessem uma roupagem LBGTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Abra este livro e confira as clássicas histórias da infância de milhões de pessoas contadas sob a ótica de cinco autores que fazem parte desse universo, representado pelas cores do arco-íris. Ou melhor, contos de fadxs, como reza a nova norma de gêneros.

Resenha: Com tanta intolerância com a comunidade LGBT nos dias de hoje, livros que trazem representatividade com objetivo de esclarecer e desconstruir preconceitos são mais do que bem-vindos e necessários. A ideia de ter como base os contos de fadas clássicos da literatura se passando nos dias atuais e com uma roupagem totalmente diferente a fim de incluir o meio LGBT num compilado é simplesmente genial. Partindo daí, a proposta de Over the Rainbow seria ótima, se os pontos negativos da obra não tivessem superado o pouco que teve de bom...

O livro é composto por cinco contos, cada um escrito por um autor, e por mais que eles tenham trazido boa parte da realidade, dos dilemas e das dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBT, não me envolvi nem curti a escrita, as narrativas mal construídas que deixaram a trama subdesenvolvida, as cenas de sexo com detalhes dispensáveis, e muito menos o excesso de estereótipos de beleza, status e afins que acabou excluindo classes que também precisam de espaço e representatividade tão quanto qualquer outra, afinal, os LGBTs não são formados só por gente branca, linda, sarada e rica... Concentrando sempre as mesmas características nos personagens, penso que a tentativa de representá-los fica pela "metade" e o alcance acaba sendo inferior do que o esperado, pois a falta de leitores pra se identificarem com eles e com suas experiências para sentirem o mínimo de empatia será grande.

Em Mais do que manteiga com mel, Milly Lacombe traz uma Cinderela lésbica e masculinizada que vive num cubículo da mansão onde mora e ainda é apaixonada pela meia-irmã. Sua madrasta não aceita sua condição e vive pra torturá-la.
O Amargo da intolerância, de Renato Plotegher Jr., traz os irmãos João e Maria numa versão homossexual. Eles moram com o pai e a madrasta, que é uma fanática que quer curá-los dessa "doença" e arrancar a "entidade maligna" que se apossou dos seus corpos de qualquer jeito.
Eduardo Bressanim se baseou na história da Bela e a Fera e escreveu Atormentado, que apresenta um jovem isolado que navega por aplicativos de relacionamento em busca de algo a mais, e acaba conhecendo um jardineiro.
O loirinho do Joá, de Maicon Santini, é uma versão de Rapunzel onde o protagonista é confinado numa clínica quando seu pai descobre que ele é gay.
Lorelay Fox adaptou a história da Branca de Neve e os Sete Anões em A Ressurreição de Júlia, que aborda a temática dos transexuais de uma forma bem interessante e é, de longe, o que não fez da obra um completo fiasco. No conto a madrasta morre de inveja da garota cujo sonho é se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo. Porém, ela acaba sendo abandonada com a roupa do corpo e é acolhida por um grupo de sete travestis.

Enfim, com exceção do conto da Branca de Neve, que foi escrito com muito mais sensibilidade e cuidado, percebi que além da escrita amadora e da tentativa falha de florear o texto com palavras mais cultas e rebuscadas (a única pessoa que me vem à mente que conversa daquele jeito ridículo é um tal de Dudu Camargo), não houve muito cuidado com alguns termos utilizados, como "opção sexual" (sério que alguém do próprio meio LGBT não se atentou que quem é gay não escolhe ser gay?), ou com a construção de personagens e enredo para que se tornassem críveis, principalmente pelas histórias se passarem num cenário atual.

Mas mesmo com tantos pontos negativos, eu entendi que talvez a ideia tenha sido mostrar uma realidade crua, difícil e desconfortável de se encarar que muitos desconhecem ou ignoram, e mesmo não tendo sido um livro que superou minhas expectativas e que eu tenha realmente gostado, pode ser uma leitura válida para discutir o tema, levantar questionamentos e trazer uma boa reflexão sobre homofobia, preconceito, bom senso e respeito (que é bom e todo mundo gosta e devia ter).

O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram - Ana Luiza Savioli

11 de agosto de 2017

Título: O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram - Uma Viagem no Tempo com Harry Darwin
Autora: Ana Luiza Savioli
Editora: Hoo Editora
Gênero: Romance/Young Adult/Fantasia/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 400
Nota:★★★★★
Sinopse: Harry Darwin deveria ter morrido. E há diversos universos e realidades nas quais tinha mesmo se afogado naquele 8 de outubro, no lago do colégio. Nesta realidade, porém, ele fora salvo. E de uma forma bastante singular: resgatado por um completo estranho, Harry descobre o nome de seu salvador quando seu corpo é encontrado nas dependências do internato, um dia depois: Damon Knight. E agora, ocupando o mesmo quarto que um dia foi de Damon, o irmão mais novo, Matthew, prova que mistérios e segredos rondam todos os Knight. Uma família responsável por curar o tecido da realidade. Por desfazer erros, traçar destinos e fazer a vontade do tempo. Em sua ânsia de entender o dia de sua não morte, Harry acaba envolvido no mistério do fim de toda a existência. O mistério do fim do tempo.

Resenha: Harry Darwin é um garoto de quinze anos e de origem humilde. Ele estuda numa escola da alta sociedade inglesa, a St. Raphael, graças as suas habilidades nos esportes aquáticos. Tais habilidades fizeram com que o garoto ganhasse uma bolsa para estudar em meio aos outros jovens mimados e intragáveis. Ele não tem muitos amigos e só é aceito pelos meninos do time de pólo aquático por jogar bem. Até que um dia ele vai em direção ao Lago dos Padres, dentro das imediações do colégio, e acaba se afogando, mas é salvo por um desconhecido que só faz lhe pedir perdão. Harry não assimilou muito bem o ocorrido e depois só soube que o garoto que o salvou se chamava Damon Knight quando descobriu que o corpo dele fora encontrado sem vida após o episódio que ele vivenciou.
Pouco tempo depois Harry conhece Matthew, o irmão mais novo de Damon que ocupa seu antigo quarto. Mas alguns mistérios rondam a família Knight, e, surpreendentemente, a ideia de fazer viagens no tempo para reparar erros é algo que fica diante de Harry. Assim, o garoto pode ter a chance de entender o que aconteceu no lago e se vê envolvido em algo relacionado ao tempo que vai muito além do que ele poderia imaginar...

A história se passa na Inglaterra, os personagens são ingleses e há vários elementos típicos do universo escolar, e mesmo que o livro seja nacional, em momento algum essa ambientação se torna forçada.
As descrições são ótimas e é possível imaginar os detalhes do cenário. A forma como o tempo é minuciosamente descrito e calculado também são importantes no desenrolar da história.
Harry é um personagem muito bem construído e que se adéqua a sua idade e situação em que se encontra. Ele está num processo de autoconhecimento e ainda precisa lidar com questões envolvendo a sua "não morte", sua família, sua escola e a nova realidade que ele descobre existir.

O livro é narrado em terceira pessoa e inicialmente pode soar um pouco confuso com informações acerca de acontecimentos que não são explicados até o desfecho, mas a leitura flui muito bem e a ideia de haver um mistério a ser desvendado acaba despertando a curiosidade do leitor, o instigando a continuar lendo e descobrindo cada vez mais o que está, realmente, acontecendo.
Viagens no tempo não é um tema totalmente original, mas a forma como foi abordado e o rumo que a história leva é algo totalmente surpreendente e que talvez tire vários leitores de suas zonas de conforto. Vários temas são abordados além da parte que remete à fantasia, como as fendas que permitem que viagens no tempo sejam feitas e até a presença de criaturas atemporais, mas o que realmente toca o leitor é o que se refere à realidade da sociedade e o quão difícil pode ser lidar com conflitos internos. Embora haja complexidade na trama em si, temas delicados como bullying, autoaceitação, problemas familiares, machismo, homofobia, violência e afins são trabalhados com sutileza mas de forma marcante, e o que se sobressai é o amor, em todas as suas formas.

A capa é bonita e tem um ar de mistério que combina bem com a história. A diagramação do livro é muito caprichada. Os capítulos são numerados e possuem um título em destaque numa tipografia diferenciada, e o texto da primeira página desses capítulos é todo em letras maiúsculas. Encontrei alguns erros de revisão, mas nada que tenha atrapalhado na compreensão e na fluidez da história.

O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram aborda a adolescência num nível diferente da maioria dos young adults que já li. Ele traz as questões das descobertas e dos conflitos típicos, misturando fantasia e realidade de forma única e plausível, sem deixar questões importantes e dignas de reflexão de lado, principalmente pela a ideia do amor ser algo que deve ser vivido, sem restrições, sem que crenças, etnia e gênero importem ou influenciem nas escolhas e sentimentos.


Quinze Dias - Vitor Martins

14 de julho de 2017

Título: Quinze Dias
Autor: Vitor Martins
Editora: Globo Alt
Gênero: Young Adult/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 208
Nota:★★★★★
Sinopse: Felipe está esperando por esse momento desde que as aulas começaram: o início das férias de julho. Finalmente ele vai poder passar alguns dias longe da escola e dos colegas que o maltratam. Os planos envolvem se afundar nos episódios atrasados de suas séries favoritas, colocar a leitura em dia e aprender com tutoriais no Youtube coisas novas que ele nunca vai colocar em prática.
Mas as coisas fogem um pouco do controle quando a mãe de Felipe informa que concordou em hospedar Caio, o vizinho do 57, por longos quinze dias, enquanto os pais dele estão viajando. Felipe entra em desespero porque a) Caio foi sua primeira paixãozinha na infância (e existe uma grande possibilidade dessa paixão não ter passado até hoje) e b) Felipe coleciona uma lista infinita de inseguranças e não tem a menor ideia de como interagir com o vizinho.
Os dias que prometiam paz, tranquilidade e maratonas épicas de Netflix acabam trazendo um turbilhão de sentimentos, que obrigarão Felipe a mergulhar em todas as questões mal resolvidas que ele tem consigo mesmo.

Resenha: Felipe é um jovem de dezessete anos, gordo, gay, que adora boy bands e está terminando o ensino médio. Desde o primeiro dia de aula ele já vinha fazendo uma contagem regressiva para as férias de julho para ficar livre da escola e dos outros estudantes, que sequer poderiam ser chamados de colegas, já que insistiam em fazer piadinhas de mau gosto com ele.
Maratonar séries na Netflix, colocar a leitura em dia e assistir videos no Youtube eram seus planos para os exatos vinte e dois dias de férias, mas tudo desanda quando sua mãe o avisa de que Caio, o vizinho do 57, ficaria hospedado em sua casa enquanto seus pais estivessem viajando.
Os planos de Felipe vão por água abaixo já que agora ele não vai poder ter paz e sossego, mas pior do que isso, vai ser lidar com seus conflitos internos. Felipe não sabe nem como interagir com Caio, e tudo fica ainda mais difícil porque o garoto foi seu crush desde a infância e ainda mexe com seu coração.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Felipe, o que nos permite participar de suas experiências e ficar por dentro de seus pensamentos mais íntimos. A escrita do autor também é bem fluída e descomplicada, bem estruturada e bem gostosa de se acompanhar. Há referências da cultura pop e uma abordagem mais do que relevante para os conflitos enfrentados pelo protagonista.
Felipe é um personagem que representa com bastante realidade os jovens em condições parecidas com as dele. Ele tem dificuldades para se socializar, é ansioso, inseguro e tem problemas de autoestima e confiança. A presença de Caio mexe com ele de tal forma que ele começa a ter novas percepções pra própria vida, e a mensagem de amor e amizade que fica é memorável.

Embora a temática LGBT da trama seja tratada com a devida naturalidade, o foco maior fica sobre seu problema de autoestima por estar acima do peso, e como grande parte da sociedade ainda é gordofóbica. Através de Felipe, o autor consegue mostrar com uma produndidade e delicadeza a realidade das pessoas que se sentem desconfortáveis com seus corpos por não conseguirem deixar de considerar o que os outros pensam sobre elas, e isso faz com que o leitor reflita sobre esse tipo de preconceito, que sempre vem disfarçado de piadinhas cruéis e brincadeiras de mau gosto, como forma de amenizar sua gravidade, e sem pensar que os alvos dessas palhaçadas tem sentimentos.

Recomendo muito a leitura de Quinze Dias. O romance é fofo e divertido, a história de superação é inspiradora, e a ideia da reflexão sobre inseguranças e aceitação é muito importante. As pessoas querem ser aceitam como são, sem se preocupar com o que os outros vão pensar sobre elas...

Ninguém Nasce Herói - Eric Novello

12 de julho de 2017

Título: Ninguém Nasce Herói
Autor: Eric Novello
Editora: Seguinte
Gênero: Distopia/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 384
Nota:★★★★★
Sinopse: Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer.
Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo — e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país.

Resenha: Numa realidade que não parece ser nada fictícia, as pessoas estão sempre acostumadas a se depararem com manifestações, muitas vezes bem negativas e carregadas de ódio, a respeito de um grupo de pessoas considerado como a minoria e a partir disso, os fundamentalistas tomaram o poder. Aquele que foi nomeado como O Escolhido, que antes era só um deputado aporrinhando a Comissão dos Direitos Humanos, instaurou a ditadura seguindo os própósitos daqueles que o financiaram.

Em meio a esse cenário, a ideia era fazer com que as pessoas não pudessem manifestar opiniões e se calarem. Livros são proibidos, crimes contra negros, homossexuais e afins não tinham atenção, a Guarda Branca podia agir contra as pessoas quando e como quisesse. A única coisa de que se tinha certeza era a propagação livre do ódio e do preconceito, assim como a extinção do termo "igualdade".
Chuvisco e seus amigos tentam fazer a diferença. Eles começam a buscar por alguma justiça ao lutarem contra esse golpe de forma bastante sutíl ao entregarem livros às pessoas, até perceberem que, como resistência, seria preciso muito mais do que essa simples atitude para salvar o país.

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Chuvisco, o leitor se depara, através de sua visão, com uma realidade em que a opressão tomou conta do país, onde a diversidade social é grande mas considerada um problema a ser resolvido.
Os personagens estão alí e são responsáveis por uma representividade para todos os tipos de gostos, de negros, obesos até os transexuais, e são essas pessoas, aquelas que não fazem parte do que a sociedade considera como "perfeito", é que movem a trama mostrando como vivem oprimidas, e como o pavor de se andar pelas ruas, caso a pele não seja branca, se a religião não for a certa, ou se a orientação sexual for diferente do aceitável, as consome. Essas pessoas se uniram para um bem maior, mas vivem às margens por serem diferentes, e o autor, através da visão de Chuvisco, consegue descrevê-las de forma que é possível enxergá-las como qualquer outra pessoa, respeitando a igualdade e os direitos, mesmos que no cenário distópico do enredo apresentado elas não tenham nada disso.

Chuvisco é um personagem único e que conquista a simpatia do leitor por seus pensamentos sinceros e sua vontade de mudar a situação em que o país se encontra. Ele faz parte da resistência, é um revolucionário, tenta levar informações que foram censuradas, mas não pode fazer nada drástico demais por ainda ter medo de arriscar o bem estar dos seus amigos. Ele inlusive sofre de "catarse criativa" em momentos de vulnerabilidade, que é um tipo se surto em que ele se imagina um super herói de armadura em defesa dos fracos e oprimidos. Mas o melhor que pude absorver de Chuvisco é que ele valoriza a amizade como ninguém, e acredita que só ela pode dar a força necessária para que a luta em busca da liberdade possa continuar.

Confesso que ao iniciar a leitura imaginei que seria mais um livro pegando carona em assuntos polêmicos do momento, mas percebi que Ninguém Nasce Herói é um livro necessário por trazer uma história sobre a luta pela liberdade e pelos direitos de alguém ser quem é, e mostra que é preciso não só ter coragem para se arriscar, mas se apoiar nas amizades verdadeiras para se conquistar o que tanto se almeja.
No cenário atual do Brasil, penso que esta seja uma leitura obrigatória para que haja uma reflexão acerca de um futuro não muito improvável...

O Bom do Amor - Chris Melo e Laís Soares

3 de julho de 2017

Título: O Bom do Amor
Autora: Chris Melo
Ilustradora: Laís Soares
Editora: Fábrica 231/Rocco
Gênero: Tirinhas/Romance/Nacional
Ano: 2017
Páginas: 88
Nota:★★★★★
Sinopse: “O bom do amor é aumentar o volume do rádio quando a música preferida do outro toca.” “O bom do amor é gostar de dormir agarradinho no inverno e saber dividir o ventilador no verão.” “O bom do amor é apreciar cada qualidade, mesmo rodeada de defeitos.” O bom do amor reúne tirinhas de Chris Melo, autora de romances de sucesso entre o público feminino, e aquarelas de Laís Soares que retratam, de forma delicada, sincera e bem-humorada, os pequenos gestos que dão real significado a palavras como companheirismo e cumplicidade na vida de um casal. A cada página, o leitor encontra uma tirinha mostrando uma situação do dia a dia que comprova que o amor – e a felicidade – está nos pequenos prazeres do cotidiano.

Resenha: Quem lembra daqueles albúns de figurinhas do "Amar é..." que fez o maior sucesso nos anos 80? A proposta de O Bom do Amor, da autora Chris Melo em parceria com a ilustradora Laís Soares, é bem parecida, mas com um toque bastante original e que tem tudo a ver com a atualidade!

O Bom do Amor é um daqueles livros cujo propósito não é apenas ser fofo, mas mostrar através de frases verdadeiras e ilustrações delicadas que o amor é algo simples e descomplicado, e ter alguém com quem dividir os pequenos e grandes momentos do cotidiano, ou da vida, independente de serem bons ou ruins, é algo imensurável.


É um livro curtinho que pode ser lido em questão de minutos, mas embora pequeno, tráz uma reflexão bastante relevante quando o assunto é relacionamento.
As frases que acompanham as ilustrações descrevem muitos dos momentos que um casal pode vivenciar quando se amam de forma intensa e verdadeira, mesmo que haja altos e baixos ou que entre eles haja algumas diferenças. As ilustrações retratam com uma fidelidade sem igual o cotidiano de um casal que é "gente como a gente", com desejos, anseios e sonhos bem próximos aos de qualquer pessoa que está num relacionamento e só espera ser, e fazer, o outro feliz.


O bom do amor
é cuidar e ser cuidado.
- Pág. 49
A edição é linda demais, as ilustrações em aquarela são muito fofas, coloridas em tons leves e traços delicados, com as páginas são brancas, lisinhas e com uma gramatura superior as dos livros tradicionais.


Confesso que depois dessa leitura, olhei pro meu próprio relacionamento e percebi que sou resistente em muitos aspectos, e acabei considerando o livro uma motivação para que eu saia da minha "zona de conforto" e me esforce pra ser mais receptiva, mais paciente e mais amorosa com aquele com quem sou casada há doze anos, que amo demais mas demonstro de menos...

O Bom do Amor é um livrinho cheio de sensibilidade, que emociona e nos toca com detalhes pequenos e frases simples, mas muito verdadeiras e que ilustram com perfeição o significado do que o companheirismo deve ser. Simplesmente apaixonante!

Reviravolta - Kimberly Mascarenhas

20 de junho de 2017

Título: Reviravolta - Soul Rebel #1
Autora: Kimberly Mascarenhas
Editora: Leya
Gênero: New Adult/Literatura Nacional
Ano: 2016
Páginas: 400
Nota:★☆☆☆☆
Sinopse: Cassidy é uma jovem tímida, mas muito forte e decidida. A certa altura, depois de alguns acontecimentos inesperados em sua vida, Caissy conhecerá Mason, um cara lindo e sexy, mas com fama de perigoso. E uma atração inevitável entre eles vira o combustível de uma paixão conturbada. Cheia de dúvidas e conflitos internos, ela decide se entregar à paixão e correr todos os riscos, sem saber que se relacionar com ele talvez signifique colocar a própria vida em jogo.

Resenha: Cassidy é uma garota de dezessete anos que vive num internato católico em Atlanta desde os nove anos de idade. Depois que sua mãe foi internada num hospital psiquiátrico, seu pai não soube como lidar com a situação, achou melhor deixar a filha aos cuidados das freiras, e sumiu.
Caissy é a aluna mais antiga do internato, e ela e sua melhor amiga Claire sempre dão um jeito de fugirem no meio da noite pra curtir a balada e depois voltam como se nada tivesse acontecido. Numa dessas escapadas, Caissy se desentende com um cara, e Claire a avisa que ele não iria deixar barato, mas, sem dar muita bola, elas voltam pro colégio como se nunca tivessem saído. O que Cassidy não esperava era receber a notícia de que sua mãe havia falecido e que ela seria levada para a casa de Deborah Becker, uma amiga de infância de sua mãe que ela nunca conhecera. E como se essa avalanche de informações não fosse muita coisa pra digerir em poucos minutos, ao chegar na mansão de sua nova tutora, Caissy se depara com Mason, um gatíssimo com seus vinte e cinco anos de idade, o filho único de Deborah, mas ninguém menos do que o cara da boate com quem ela se desentendeu. Obviamente ele se irrita muito ao vê-la em sua casa, e mais desentendimentos ocorrem, e a única ideia de Caissy é ir embora dalí o mais rápido possível. Mas, a desgraça ainda era pouca, e, ao perambular pelas ruas, ela acaba sendo atacada por um maníaco quando, de repente, Mason surge para salvá-la. A partir daí, mesmo trocando farpas, os dois começam a se aproximar. Mason se mostra alguém desdenhoso e ignorante, mas o mistério que cerca o rapaz e o que ele faz da vida acabam atraindo a atenção de Caissy, e os dois logo começam a se envolver muito intensamente...
Caissy entra num dilema mas acaba se entregando a essa paixão perigosa, mesmo que isso signifique colocar sua própria vida em risco.

Narrada em primeira pessoa pelo ponto de vista da protagonista na primeira parte, e alternando os pontos de vista entre Caissy e Mason na segunda, a história se desenrola de forma incongruente e questionável, o que foi um problema pra mim, e problema nesse livro é o que não falta. Não consegui me envolver, acreditar e nem me conectar com a história pois, a cada capítulo passado, lá estava eu me perguntando como aquela situação poderia ser real ou fazer algum sentido, e qual a necessidade de tanto drama.

Cassidy é uma personagem que deixa a desejar em todos os pontos de sua construção. Não deve ser fácil uma criança crescer longe da família, carregando um sentimento não só de abandono, como também de rejeição, mas tomar atitudes absurdas e fazer escolhas estúpidas e que não condizem com a realidade são reflexo disso? Penso que uma pessoa sozinha desde pequena e jogada nas mãos das freiras (pelo menos até a maioridade) carrega marcas profundas, e vai evitar se envolver com alguém por medo de ser abandonada de novo em vez de sair por aí curtindo a night escondido, enganando as freiras, vivendo com intensidade como se cada dia fosse o último e ainda se envolvendo com bandidos... A construção dela não faz sentido, seu passado não bate com a pessoa que ela se tornou, logo não justifica sequer existir. O drama sobre ela não é aquela coisa triste que a gente se comove, se emociona e chora litros, mas um drama excessivo e desnecessário que só irrita e prolonga uma situação em vez de ir direto ao ponto. E sua própria situação já é pra lá de estranha, pois como diabos Deborah veio correndo pro internato com praticamente a guarda da garota nas mãos na mesma hora da morte da mãe? A menina acabou de voltar escondida da rua e lá estava a madre lhe dando a trágica notícia. Como se isso já não fosse absurdo o bastante, não seria necessário intervenções do serviço social, a burocracia com a papelada, ou até a presença do próprio pai dela, nem que fosse pra confirmar sua posição de ter abandonado a filha? O homem sequer é mencionado depois, então que diferença fez? Como uma pessoa que ela nunca viu na vida, nem mesmo na sua infância antes da mãe ser internada, aparece do nada e a tira do meio dos estudos e ela simplesmente vai? Deborah era a melhor amiga da mãe de Caissy, e mesmo que haja uma explicação (de uma mísera frase) para o afastamento entre as duas, não foi convincente para justificar que uma completa estranha sairia levando a menina embora. E sem contar que a mãe morreu e a menina sequer se importou em ser impedida de se despedir indo no enterro da falecida. Então pra que tanto drama e desespero por uma morte que ela parece não ter sequer sentido?

Logo nas primeiras páginas, quando Caissy se desentende com o cara da boate, Claire já menciona que o nome dele é Drew Becker. E quando Deborah Becker adentra o internato, já não fica na cara que ela tem alguma ligação com o sujeito por terem o mesmo sobrenome? Tudo bem que Caissy, devastada pela notícia que recebeu, poderia não se atentar a isso, o que seria perfeitamente compreensível, mas eu, como leitora esperando ser surpreendida, logo já pensei "Não faz nem um minuto que li esse sobrenome, o que essa Deborah é do tal Drew? Agora a mulher vai levar a menina pra casa e aposto que a Caissy vai topar com o sujeito lá". E foi dito e feito. E se o início do livro já foi assim, minhas expectativas com o restante caíram num abismo e minhas suspeitas de que a coisa só iria piorar acabaram se confirmando.

Penso que qualquer situação inicial - e bem pensada pra se tornar convincente - poderia ter sido criada até que o casal se conhecesse e passasse a conviver juntos, então não entendi os motivos reais para que elementos como internato, morte da mãe, abandono do pai e etc sejam essenciais. Em obras New Adult geralmente há a questão do trauma e suas consequências, o bad boy grosseirão e intimidador, os personagens quebrados por alguma coisa horrorosa do passado e tudo mais, mas aqui foi tudo construído de forma lamentável.
A cena em que Caissy acorda no hospital logo depois de Mason salvá-la das garras do maníaco chega a ser até engraçada, pois quando e onde nesse mundo uma mulher, após uma tentativa de estupro, recebe a visita de um policial preocupado, querendo informações sobre o criminoso e detalhes sobre o episódio do ataque que ocorreu há poucos minutos? Se a situação fosse a vítima indo até a delegacia pra dar queixa, enquanto estivesse sendo culpada por estar andando sozinha na rua, eu teria acreditado muito mais, por mais trágico que possa ser uma coisa dessas.

E o que mais me impressionou foi que tudo o que se passou na história aconteceu em praticamente três míseros dias. Juro que demorei mais tempo pra me recompor depois de finalizar a leitura, e criar coragem pra escrever essa resenha. A mãe morre, Caissy larga os estudos e se muda, é atacada na rua e se envolve com Mason da forma mais íntima e louca possível - em menos três dias. Três. Dias.
Mas alí, pra Caissy, as coisas estavam fluindo maravilhosamente bem, como se fosse um dia comum.
Os diálogos são ruins e com comentários desnecessários, e isso só colaborou para que eu me envolvesse ainda menos com os personagens e pensasse o quão forçado tudo estava sendo. Nem os membros do grupo de Mason/Drew, que acabam sendo um tipo de alívio cômico, salvaram as conversas com o humor deles.

Mason é um babaca. Sua personalidade é instável, ele só faz o que lhe é conveniente, é frio, grosseiro e quanto mais eu lia sobre o relacionamento dele com Caissy, mais incomodada eu ficava porque ele trata a menina feito lixo. Não gostei da diferença de idade de oito anos que eles têm. Mason não poderia ser muito novo devido a sua "profissão", mas vinte e cinco anos também é pouco pra ele estar no nível em que está. E sendo quem é, se envolver com alguém de míseros dezessete foi ridículo, porque a todo momento eu pensava que ele estava se aproveitando da ingenuidade da menina deslumbrada e curiosa por ele que, "por amor", cedia aos caprichos do bonito e se deixou envolver onde não devia. E eu prefiro nem falar sobre o retorno da ex psicótica que só apareceu pra causar e deixar a história mais clichê e dramalhona ainda, tipo novela mexicana level hard.

Reviravolta é o primeiro volume da trilogia Soul Rebel. Parece que antes de virar livro se tratava de uma fanfic. Sinceramente, não é um livro que eu tenha gostado a ponto de indicar e penso que é o tipo de leitura que é oito ou oitenta: Ou você ama ou odeia e eu, infelizmente, fiquei com a segunda opção.

Miga, Sua Louca! - Julianna Costa e Luiza Costa

26 de maio de 2017

Título: Miga, Sua Louca!
Autoras: Julianna Costa e Luiza Costa
Editora: Universo dos Livros
Gênero: Infantojuvenil/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 240
Nota:★★★★☆
Sinopse: Deixe eu te apresentar a Yara.
Ela parece meio certinha e meio louca. Um pouco de tudo. Ou talvez nada disso.
Na verdade, ela é só mais uma adolescente buscando descobrir sua própria identidade. O problema da Yara é que, nessa busca, ela vai encontrar o André, o Danilo, o Diego, o Rodrigo…
Pois é, pessoal. A Yara é meio nervosa. E meio desesperada. E meio tímida. E meio inexperiente.
Mas não precisa se preocupar com ela, porque a Yara pode ser meio tudo isso, mas ela não está sozinha: ela tem a Alexia.
Alexia é a metade que falta da Yara: sua melhor amiga, com experiências, dicas e surtos para compartilhar. E enquanto Yara enfrenta todo tipo de complicação – seja a indecisão sobre qual universidade cursar, os problemas com a mãe ou o interesse recém-descoberto pelo melhor amigo – Alexia vai ficar por perto, guiando sua amiga maluca (com sugestões nem sempre convencionais) em um dos momentos mais delicados de sua vida.

Resenha: Miga, Sua Louca! escrito por Julianna e Luiza Costa, traz a história de duas melhores amigas que sempre estão lá uma pela outra, Yara e Alexia.
Yara, ou Yaya, vive um dilema seríssimo em sua vida. Ela é a garota certinha que não aguenta mais ser a última em tudo a ponto de virar motivo de piada ou até pena entre as amigas. Como ela nunca arrumou um namorado nem fez nada realmente cool, ela está simplesmente maluca para ter experiências mais "radicais" antes de se tornar adulta. E o problema não é apenas ela ser a última nas coisas, mas sua timidez e insegurança não permitem que ela se comporte de forma "normal" quando algum garoto se aproxima dela ou quando ela precisa enfrentar algum tipo de complicação em que seja necessário tomar alguma decisão. E pra piorar a situaçao, Alexia se mudou pra longe e Yara já não pode contar com a presença da melhor amiga com toda a sabedoria que ela tem e com todos os super conselhos que ela costumava dar. Mas ainda bem que os correios existem!

Através de uma linguagem atual e bastante descontraída, acompanhamos uma narrativa epistolar em que Yara e Alexia, por morarem longe uma da outra, decidem manter contato através de cartas por mais que a era digital esteja em seu auge.
Yara e Alexia são personagens opostas mas que se completam, quase como o Yin e Yang. Enquanto Yara é apresentada como alguém toda certinha, inocente e sem experiências interessantes, que está prestes a se aventurar pela vida afora, Alexia é aquela amiga maluca que já viu e viveu muitas coisas e, por ter mais experiência em alguns assuntos, é perfeitamente capaz de dar conselhos e conduzir a amiga desorientada e neurótica. Só que Yara, no calor do momento, nem sempre considera a opinião ou as dicas importantes que a amiga dá, dicas estas que podem servir para as mais diversas situações que muitas meninas que estão fora da ficção estão sujeitas a enfrentar, então, muita confusão pode rolar...

Temas como amizade, família, relacionamentos, traição, sexualidade e afins são abordados de forma super natural e bem humorada, e como fazem parte da adolescência por ser uma fase feia complicada e cheia de descobertas com relação aquilo que é difícil de se compreender ou aceitar, principalmente quando a insegurança e a indecisão tomam conta, tudo é muito bem encaixado de acordo com a situação das meninas, mostrando que é possível aprender com os próprios erros, que é importante considerarmos uma segunda opinião de quem tem experiência no assunto, ou que há consequências desagradaveis quando não há limites ou quando escolhas ruins são feitas.
"Acho que nunca paramos de crescer, de aprender coisas sobre nós mesmos e de descobrir que estávamos errados sobre tantas coisas."
- Pág. 7
O único ponto do livro que não me agradou muito é o fato de que pela narrativa ser feita em forma de cartas, sempre em primeira pessoa pelos pontos de vista das meninas, reproduzir diálogos de forma fiel, com travessão e tudo mais, em meio a um texto corrido onde, na teoria, as personagens deveriam contar o que se passa, dando ou recebendo conselhos e etc, não me soa muito natural nem convincente. Acredito que faria mais sentido se as personagens contassem de forma espontânea que "fulano me disse que... e eu respondi pra ele que.." do que incluir diálogos prontos como foi feito.

Com relação a parte gráfica, só tenho elogios. A capa é bastante chamativa e bonita, as ilustrações e a tipografia tem tudo a ver com o ar adolescente da história e a diagramação é uma fofura só, com detalhes de cartinhas, estrelas e assinaturas com letras cursivas diferentes pra cada uma das meninas.

Miga, Sua Louca! não é só mais um livro infantojuvenil que fala sobre os dilemas e os dramas intermitentes da adolescência. As autoras conseguiram mostrar, através de uma história divertida e descontraída, o quanto devemos valorizar a família, as amizades verdadeiras, como devemos aprender com nossos erros, e como a sororidade é superimportante para nós, mulheres.

#Fui - Viviane Maurey

15 de abril de 2017

Título: #Fui
Autora: Viviane Maurey
Editora: Globo Alt
Gênero: Young Adult/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 360
Nota:★★★★☆
Sinopse: Lully vai viajar!
E não é uma viagem qualquer: ela vai passar quatro meses em um intercâmbio nos Estados Unidos e mal pode aguentar tanta ansiedade. Vai ser a primeira vez que ela vai passar tanto tempo longe de casa, ver neve e aproveitar todas as maravilhas que o País do Cheesebúrguer pode oferecer… A única parte difícil é esconder toda essa animação de seu namorado, Eric, que está compreensivelmente enciumado e nada satisfeito com o fato de a namorada ir viver tanta coisa nova longe dele.
Logo nos primeiros dias em Lake Tahoe, Lully já descobre qual será sua rotina: MUITA neve no hotel onde vai morar, MUITA neve na estação de ski onde vai trabalhar e MUITA neve para gelar as cervejas das festas que os novos amigos não cansam de organizar. É tudo muito diferente da vida que levava no Brasil, mas, apesar de às vezes parecer difícil se adaptar, Lully está se dando muito bem.
Mas isso é só até ela se ver obrigada a fazer uma escolha determinante para o resto de sua vida. A viagem acaba revelando o quanto suas certezas e seguranças podem ser frágeis, e que quem parte em uma grande jornada, dificilmente voltará a ser a mesma pessoa de antes…

Resenha: Lully tem vinte e dois anos e está prestar a partir para os Estados Unidos para fazer um intercâmbio com duração de quatro meses. Ela agarra a oportunidade que tem, mas pra isso precisa deixar sua família e seu namorado no Brasil. E através da viagem, Lully vai passar por vários momentos de adaptação, fazer novos amigos, aprender muitas coisas novas, ter contato com a neve, e se ver diante de escolhas que não esperava ter que fazer. Lully abre mão uma vida tranquila e segura para encarar uma jornada cheia de aventuras e desafios, mas também de crescimento pessoal e autoconhecimento.

Narrado em primeira pessoa, Lully vai descrevendo seu dia-a-dia de forma espontânea, mostrando que ela é gente como a gente. A escrita da autora tem um ritmo agradável e flui muito bem.
Um dos pontos altos do livro é a ambientação e os cenários, pois são importantes no desenvolvimento da história. Tudo é muito bem descrito e detalhado, e isso enriqueceu muito a trama ao mostrar uma personagem tendo uma experiência nova e diferente com o clima gelado e a neve, fazendo o leitor sentir o gostinho do que Lully está vivendo e sentindo.
A parte do intercâmbio também foi muito bem trabalhada, com explicações de como funciona e como é a vida de alguém que faz uma viagem desse tipo, desde o procedimento para se conseguir um visto até os dramas que envolvem a saudade de casa.

Não posso deixar de falar sobre o projeto gráfico desse livro. A capa em aquarela fazendo um degradê de azul, roxo e rosa representa o cabelo de Lully, que é tingido nessas cores, e forma um fundo lindo pros floquinhos de neve que estão espalhados por ela. A diagramação também é super caprichada. Cada início de capítulo é datado e tem um símbolo de sol ou de neve de acordo com a temperatura. O livro também é dividido em partes, com páginas pretas e letra branca, que indica as fases da vida da protagonista.

Eu gostei de Lully, mas tive algumas ressalvas com relação a personalidade dela. Ela é espontânea e bem humorada, gosta da cultura nerd e geek, reclama das coisas que odeia (tipo o calor infernal), divaga sobre assuntos nonsense (daqueles que imaginamos que ninguém mais pensa) e, por causa do intercâmbio, precisa se adaptar às pessoas e a nova vida, e embora ela tenha todo esse estilo gente boa, senti que houve uma tentativa de forçar a barra ao torná-la uma personagem engraçada, o que é diferente de ser bem humorada, e descolada em alguns pontos. Talvez um público mais adolescente goste, mas eu particularmente não achei graça nenhuma em grande parte das suas piadinhas ou cenas "cômicas" que, supostamente, deveriam ser engraçadas, e nem achei necessário ela usar termos com hashtags (o próprio título do livro já é um exemplo) ou frases em inglês com tanta frequência em seus diálogos ou pensamentos como se isso fizesse dela alguém mais "cool" (e "sorry" pelo trocadilho infame). A medida que a história progride isso vai mudando e comecei a achar a personagem mais divertida, principalmente quando ela deixa de tentar ser engraçada. Fora isso, eu até que me identifiquei com ela em algumas situações e até com algumas de suas atitudes, e fiquei admirada pela sua coragem de viajar sozinha pra outro país, aproveitando a chance que teve, saindo de sua zona de conforto sem medo e pronta para viver uma experiência incrível, seguindo seus sonhos.

E acho que #Fui é um livro que fala exatamente disso, sobre arriscar quando a oportunidade bate a porta, sem se deixar levar pelo comodismo de uma vida que proporciona segurança, mesmo que estejamos apegadas a isso, pois tudo vai funcionar como um aprendizado a mais em nossas vidas, nos fazendo ter outras percepções das coisas, e nos tornando pessoas cada vez melhores. E tudo isso vale a pena. É um livro fofo, que levanta questões consideráveis sobre aceitar mudanças, fazer decisões e arriscar, trazendo reflexões sobre como estamos levando nossas vidas ao ficarmos diante de grandes oportunidades, e mostrando que são as nossas escolhas que nos definem.

Ao finalizar a leitura me peguei pensando sobre minha situação de sempre ficar em casa sem sair ou fazer nada além de me dedicar a rotina tediosa da casa e aos filhos. E confesso que soltar um #Fui me faz muita falta e não seria má ideia... ;)