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Todos os Santos Malditos - Maggie Stiefvater

29 de março de 2022

Título:
Todos os Santos Malditos
Autora: Maggie Stiefvater
Editora: Verus
Gênero:  Realismo mágico/Jovem adulto
Ano: 2019
Páginas: 252
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Eis algo que todo mundo quer: um milagre. Eis algo que todo mundo teme: o que é preciso para conseguir um... Qualquer pessoa que visite Bicho Raro, no Colorado, vai encontrar um cenário de santos sombrios, amor proibido, sonhos científicos, corujas loucas por milagres, afetos distantes, um ou dois órfãos e um céu cheio de estrelas vigilantes. No coração desse lugar está a família Soria, cujos membros têm a capacidade de realizar milagres. E no coração dessa família estão três primos que desejam mudar o futuro: Beatriz, a garota sem sentimentos, que quer apenas ser livre para examinar seus pensamentos; Daniel, o santo de Bicho Raro, que faz milagres para todo mundo, menos para si; e Joaquin, que passa suas noites no comando de uma estação de rádio usando o nome Diablo Diablo. Eles estão todos à procura de um milagre. Mas os milagres de Bicho Raro nunca são exatamente o que você espera. 

Resenha: Todos os Santos Malditos, escrito por Maggie Stiefvater e publicado no Brasil pelo selo Verus da Editora Record, é um livro fantástico que faz um misto com drama e romance em meio a uma mitologia mágica e cheia de excentricidade. A história se passa na década de 60 e traz a família Soria como a responsável pelos acontecimentos que se passam alí. Os Soria ficaram conhecidos na cidadezinha minúscula de Abejones, no México, como Los Santos por realizarem milagres, e centenas de pessoas saíam de todos os cantos rumo as cercanias de Abejones em busca de bênçãos e curas para seus piores tormentos. Mas, o governo do México não aceitava essas práticas e passou a ameaçá-los para que parassem com os milagres, o que fez com que os Soria buscassem a ajuda e a proteção da Igreja Católica, mas foram igualmente ameaçados por suas práticas serem "obscuras". Eles, então, partiram em busca de um lugar seguro onde pudessem dar continuidade a esse legado, e depois de percorrerem mais de 3 mil quilômetros, chegaram no estado do Colorado, nos EUA, onde encontraram o lugar ideal, silencioso e cercado por montanhas onde se instalaram. Eis que surgiu o pequeno vilarejo de Bicho Raro. Alí os santos da família Soria poderiam viver tranquilos além de poderem "ouvir" de longe e ficarem a espera dos forasteiros, ou peregrinos, que iam em direção a eles em busca do milagre de que precisavam.

Porém, os milagres são dividos em duas partes. O santo que realizava o milagre só era capaz de retirar e mostrar a escuridão que consumia quem necessita de sua ajuda. Após isso, a própria pessoa deveria dar continuidade ao processo, enfrentando sua escuridão para se livrar dela, superar e, assim, poder seguir em paz e rumo a luz, caso contrário, ficaria presa as trevas, da pior forma possível. Os santos também não podiam interferir nessa segunda fase do milagre e precisavam se afastar dos peregrinos "agraciados", ou teriam que lidar com uma escuridão ainda pior... Sendo assim, os milagres soavam muito mais como uma maldição já que as pessoas não eram capazes de lidarem com os próprios problemas ao se depararem com eles cara a cara, e ficavam estagnadas nos arredores de Bicho Raro sob formas ou circustâncias tão curiosas quanto apavorantes.

Várias décadas se passaram, e chegamos em 1962, onde temos os três jovens primos que estão no coração dos Soria: Beatriz, Daniel e Joaquim. Embora eles tenham plena consciência da importância do dom que carregam, somente Daniel, que tem dezenove anos, está preocupado em realizar os milagres, e o que ele mais queria era poder ajudar aqueles que não se permitem ser ajudados. Beatriz, com dezoito anos, é mais razão e tem zero emoção, e ela quer ser livre para se dedicar à ciência, analisar e refletir sobre todos os seus pensamentos. E Joaquim, que tem dezesseis anos, só quer saber de tocar a estação de radio pirata da família sob o codinome Diablo Diablo, então através dele também acompanhamos a "trilha sonora" da história.

Até que um dia, Tony DiRisio, um homem um tanto ranzinza de meia idade que dirigia sua perua Mercury amarelo ovo lá no Kansas, conhece Pete Wyatt, um jovem cristão que lhe pediu uma carona, e, por coincidência, os dois estavam indo para o Colorado, mais especificamente para Bicho Raro. Enquanto Tony estava em busca de um milagre sem saber ao certo qual era seu problema, Pete só queria arranjar um caminhão para poder trabalhar num negócio que o fizesse se sentir feliz, logo isso não fazia dele um peregrino. Daniel faz o milagre em Tony, e logo depois parte para o deserto para se afastar de sua família. O motivo? Ele está apaixonado por Marisita, uma peregrina a quem ele ajudou e que agora sofre as consequências de ainda não ter conseguido lidar com a própria escuridão, que se manifestou como uma chuva incessante sobre sua cabeça. E como uma das regras dos Soria é se afastar daqueles que receberam os milagres, Daniel não vê outra alternativa a não ser deixar uma carta para Beatriz avisando que iria atrás de Marisita, confiando que ela usaria a razão para entender sua motivações para insistir em algo proibido, e ir embora para não afetar a família. E partindo dessa premissa, a história se desenrola mostrando as consequências das escolhas dos personagens e como eles lidam com tudo isso.

O livro é narrado em terceira pessoa e, assim como os demais livros da autora, tem uma escrita refinada e bastante poética, mas vou ser bem sincera em dizer que, pelo menos pra mim, quando um livro não me prende no início por dar mais a impressão de confusão do que imersão, a ponto de eu precisar recomeçar, é um problema. Li os três primeiros capítulos pra perceber que não tinha entendido nada, e lá fui eu voltar pro começo. Contextualizar a premissa foi um pouco difícil, mas acho que consegui captar a parada pra poder explicar a base da trama. Não sei se eu estar esgotada da cabeça interferiu nessa falta de compreensão inicial. Talvez se eu tivesse encontrado um resumo com essas explicações antes, eu poderia estar mais preparada pra leitura e não teria perdido tempo boiando pelas páginas com cara de Nazaré Tedesco confusa.


É muita gente em meio a descrições de características ou situações bizarríssimas, como uma cabra prenha que fica muito cansada ao parir a primeira cabrita e depois de meses resolve ter o outro filhote. Ou os cachorros degenerados de Bicho Raro que têm gênio ruim e por isso comeram os irmãos ainda na barriga da mãe impaciente. Ou um bebê que perde seus cílios postiços do útero ao nascer e logo em seguida coloca outro no lugar. No meio disso ainda há cortes pra divagações e flashbacks que interrompem a cena e o ritmo da leitura. Enfim... é difícil se acostumar e se familiarizar com essa mitologia diferente e com a construção de mundo baseada no realismo mágico, pois tudo é jogado em cima do leitor sem uma origem, sem um contexto, sem explicações, e a gente que lute. Talvez a intenção do gênero seja realmente fazer contrapontos ao que consideramos "normal" na fantasia para que cada um possa ter a própria interpretação, como é o caso das características esquisitas que os personagens adquirem quando estão com a escuridão materializada sobre eles, mas assumo que não é algo que eu esteja acostumada a encontrar por aí. Então, fiquei com aquela sensação de que a autora (que já tem uma escrita divina, e isso pra mim já basta), quis dar uma enfeitada inserindo um ar filosófico e artístico do gênero, mas virou um amontoado de elementos e detalhes sem muito propósito e que não fariam diferença pro desenrolar da história se não estivessem alí. A mesma história poderia ter sido contada de um jeito menos confuso. E pra mim, o problema é que, mesmo entendendo a base dessa história, com o passar das páginas as coisas continuam esquisitas e confusas, mas o que salva são os dilemas profundos dos personagens, e como eles lidam com isso.

Os personagens principais são bem construídos e possuem camadas únicas e bem interessantes de se acompanhar, cada um com suas qualidades e defeitos, mas os personagens secundários, com exceção de Marisita, me soaram como um amontoado de gente com características descritas de forma resumida e genérica, às vezes irrelevantes, e com pouco espaço para aparecerem e serem aprofundados como eu gostaria.

Se Bicho Raro não fosse um lugar fictício, tenho certeza que entraria no Guinness como o lugar com a maior variedade e concentração de corujas curiosas da face da Terra, e, talvez, o único lugar onde há um deserto que não é só um cenário, mas um personagem tão vivo quanto os demais. No mais, Todos os Santos Malditos, embora seja um livro excêntrico, é indicado pra quem procura por uma leitura que aborda o medo, a perda, os amores proibidos, a esperança, e o que há de mais obscuro relacionado às particularidades do ser humano. Basta abrir a mente e o coração e se permitir ser envolvido por essa história tão estranha quanto única.

Perdido - Maggie Stiefvater

20 de novembro de 2015

Título: Perdido - Os Lobos de Mercy Falls #4
Autora: Maggie Stiefvater
Editora: Agir Now
Gênero: YA/Fantasia/Sobrenatural
Ano: 2015
Páginas: 320
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Cole St. Clair veio para a Califórnia por um único motivo: reconquistar Isabel Culpeper. Ela havia fugido de sua vida destruída e vazia, e a destruiu ainda mais. Não é simplesmente uma questão de querer. Cole precisa dela.
Enquanto isso, Isabel tenta reconstruir sua vida em Los Angeles, mas sem sucesso. Ela é capaz de fingir tão bem quanto todos os outros falsos da cidade, mas para quê?
Cole e Isabel dividem um passado que jamais pareceu ter futuro. Eles podem se amar ou se destruir. A única certeza é que jamais se esquecerão.

Resenha: Perdido e um spin-off da série Os Lobos de Mercy Falls escrita pela autora Maggie Stiefvater e publicado no Brasil pela Agir Now.
Pra quem gostou da trilogia que contava a história de Grace e Sam, mas que também torcia pelo relacionamento dos personagens secundários que ganharam tanta importância quanto os protagonistas, é leitura obrigatória.
Se você ainda não leu os livros anteriores vai ficar literalmente perdido na leitura deste, pois Perdido traz o desfecho para a situação mal resolvida de Cole e Isabel. Então não perca tempo e leia a trilogia primeiro, é mais do que recomendada para aqueles que apreciam uma boa escrita e uma história comovente e melancolicamente bonita.

Perdido começa um tempo depois de Sempre, terceiro livro da série, e Isabel está morando em Los Angeles, Califórnia. Ela está fazendo um curso de enfermagem para poder se preparar para a faculdade de medicina que tanto quer fazer além de tentar reconstruir sua vida depois de ter vivido tantas conturbações no passado ao lado dos lobos, ao lado de Cole.
Inconformado com a situação em que se encontra e cansado da vida lupina, Cole vai para a Califórnia em uma tentativa de reiniciar sua carreira musical, mas o real motivo de sua ida era ir atrás de Isabel. Ele não aceita que ela tenha fugido, não aceita que ela tenha o deixado, e isso o destruiu. Ele precisa encontrá-la pois Cole precisa de Isabel em sua vida.
Em Los Angeles, além de gravar um novo álbum, Cole concordou em participar de um reality show que documentaria o processo de gravação e montagem de uma banda nova após seu sumiço e sua autodestruição.

De início Isabel acreditou que Cole voltou por ela, mas ao descobrir sobre o programa e o CD, ela deixa de acreditar que ele está alí unicamente por sua causa e não confia plenamente que ele está livre de drogas e da loucura que ele insistia em manter em sua antiga vida e que poderia, mais uma vez, destruir os dois.
Ambos compartilham de um passado caótico que nunca deu esperanças para que eles tivessem um futuro juntos, mas diante desta situação, a única certeza que eles mantinham era a de que eles nunca se esqueceriam um do outro e do que viveram.

O livro é narrado em primeira pessoa e os capítulos se alternam entre os protagonistas fazendo com que o leitor fique mais próximo dos sentimentos e desejos de cada um deles. Isabel mantém seu humor ácido enquanto Cole continua com seu jeito arrogante e rebelde de ser. Muitas vezes se comporta como um completo idiota, e confesso que me irritei nas siuações em que ele rastejava atrás de Isabel enquanto era constantemente tratado com descaso por ela, mas ainda assim consegue ser divertido e encantador. É aquele tipo de personagem bad-boy por quem suspiramos e torcemos de forma incansável. O mundo parece estar contra ele, mas quem disse que ele se importa?
Isabel é o tipo de personagem com quem acabo me identificando um pouco no que diz respeito a sua personalidade. Ela é sarcástica, às vezes é psicótica, de vez em quando demonstra frieza como se não se importasse com nada nem ninguém, mas no fundo é muito humana e real por carregar um enorme sofrimento por todos os sentimentos que ela tenta esconder.
A ideia de que um desperta o pior do outro é evidente e muito complicada, mas a conexão que eles têm e o sentimento intenso que jamais os deixou faz com que o leitor fique ansioso para que as coisas se ajeitem e se resolvam logo. Eles possuem feridas que ainda precisam ser curadas e a personalidade difícil e resistente que eles demonstram ter é algo compreensível levando em consideração tudo o que viveram antes desse reencontro.

Uma coisa que percebi durante a leitura é que a autora manteve a história longe de estereótipos e acredito que devido a trama ser ambientada em Los Angeles, os personagens foram afastados do que aconteceu na cidadezinha de Mercy Falls. Los Angeles acaba mostrando um estilo de vida que não tem nada a ver com a vida pacata de Mercy Falls e a ideia de pessoas vivendo de aparências, buscando por luxo e status é algo que não me chama muito a atenção, pelo menos não dentro do contexto da série propriamente dita.
A escrita também parece ter sofrido mudanças e deixou de ser poética e cheia de sentimentos embutidos nas palavras dando lugar a algo mais espirituoso. A impressão que fiquei é que, por mais que a história seja bem escrita, empolgante e prenda, se tratava de um livro que fugia dos padrões e do estilo da autora.

A capa combina perfeitamente com as edições novas da série publicadas pela Agir Now, mas desta vez trazendo as famosas palmeiras da LA em vez das árvores da floresta de Mercy Falls. A diagramação é simples e as páginas são amarelas.

Perdido retrata um rapaz que aprende a viver depois de se deparar com as consequências de suas escolhas, sejam elas boas ou ruins. Gostei de ver um lado da história de Cole que não havia sido muito bem aprofundado anteriormente: os bastidores da fama e como ele lida com a ideia de ser um astro do rock.
O sobrenatural não ganha tanto destaque, e a vida de lobo, as transformações e o que mais remete a este mundo são apresentados como um fardo que ele precisa carregar e lidar, e, algumas vezes, como um tipo de fuga da realidade da qual Cole se encontra, e isso acaba trazendo seu lado humano à tona, mostrando quem ele é de verdade, como se ser um lobo refletisse algo que ele quisesse ou precisasse ser para fugir do que não queria viver ou não sabia lidar.

Pra quem procura por um romance conturbado mas intenso e bonito, recomendo. Maggie Stiefvater parece ter escrito Perdido para presentear os leitores com uma história de amor e redenção, e mostra que para revelarmos quem somos de verdade, precisamos correr atrás do que queremos quando é algo que vale muito a pena.

Sempre - Maggie Stiefvater

13 de agosto de 2015

Lido em: Julho de 2015
Título: Sempre - Os Lobos de Mercy Falls #3
Autora: Maggie Stiefvater
Editora: Agir Now
Gênero: Fantasia/Sobrenatural/YA
Ano: 2015
Páginas: 370
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Antes.
Quando Sam e Grace se conheceram, ele era um lobo e ela, uma garota. Quando por fim ele descobriu como ser um garoto também, o amor dos dois se transformou de uma paixão distante na intensa intimidade de uma vida compartilhada.
Agora.
A história deles deveria terminar aí. Mas o destino de Grace não era permanecer humana. Agora ela é a loba. E os lobos de Mercy Falls estão todos prestes a serem assassinados em uma caçada definitiva.
Sempre.
Sam faria qualquer coisa por Grace. Mas será que um garoto e o amor dentro dele são capazes de mudar um mundo hostil e fatal? Passado, presente e futuro vão colidir em um momento decisivo - um momento de vida ou morte, de adeus ou para sempre.

Resenha: Sempre é o terceiro e último volume da trilogia Os Lobos de Mercy Falls escrita pela autora Maggie Stiefvater. O livro havia sido lançado em 2012 pela Editora Agir e agora foi relançado pelo selo Agir Now com novo projeto gráfico.
A resenha tem spoilers do livro anterior!

Sam era lobo e Grace humana... Ele se transforma, os dois se apaixonam e lutam para viverem esse amor... Em Espera, Sam conseguiu ser curado, mas foi a vez de Grace se transformar... E em meio ao complexo relacionamento dos dois, ainda conhecemos mais da história de Cole, um ex astro do rock problemático que optou por ser transformado, e de Isabel, que estava com a alma quebrada por ter perdido o irmão, morto por lobos.
Desta vez, Sam está cada vez mais acostumado com sua forma humana. Ele esperou por meses pela transformação de Grace, em completa agonia por estar longe dela e sem saber pelo que ela andava passando na floresta de Mercy Falls em companhia da matilha. Quando ela retorna, precisa lidar com o tempo que se passou desde a última vez que era humana, com os pais que culparam Sam pelo seu sumiço. e com as próximas transformações que ela precisa manter em segredo. Isabel tem um papel fundamental em ajudá-la e quando o quarteto está junto, precisam decidir o que fazer para evitar um massacre que irá destruir o que faz parte de cada um deles...

Diferente dos volumes anteriores, o primeiro capítulo de Sempre é narrado por Shelby, uma loba amarga e sem escrúpulos que quer se tornar líder da matilha e não hesita quando o assunto é matar ou causar confusões querendo vingança. Sua personalidade terrível se estende ao seu estado humano também. Ela é intragável e odiosa em todos os sentidos. A participação dela nos livros anteriores não foi tão marcante pra mim a ponto de falar mais sobre ela, mas dessa vez, ela aparece em situações ruins e suas atitudes definem o rumo que as coisas tomam, sempre pra pior, claro.

O conflito entre homens e lobos continua, e as pessoas indignadas continuam com a tentativa de caçar e matar os lobos preocupados com a segurança dos habitantes de Mercy Falls. Mas logo um episódio fatídico acontece e ele é o estopim para que as caçadas seja liberada. E lá está Tom Culpeper, pai de Isabel, que deseja vingança pela morte do filho e planeja uma perseguição à matilha de forma quase insana. A caçada de Tom e a presença de Shelby são as responsáveis pelo clima de tensão na história, logo, esse último volume apresenta mais ação do que os anteriores.

Grace está mais atenta, mais determinada e parece querer, de fato, lutar por seus interesses, mesmo que esteja enfrentando problemas no que diz respeito ao controle de sua transformação. Sam está numa posição um tanto delicada visto que os pais de Grace o culpam pelo "desaparecimento" da filha. Explicar para eles que ela se transformou seria algo fora de cogitação. Sam continua dedicado, sonhador e amável, mas seu desespero por não saber o que se passa com Grace é evidente. Para Sam, Grace é seu ar, e sem ar ele não pode viver. Ele simplesmente não consegue seguir adiante sabendo que Grace está lá fora. Acho esse comportamento bastante obsessivo e não me agrada muito pra ser sincera. Ele e Cole se tornam mais próximos e a confiança, que antes não existia, passa a guiar a amizade deles de forma que a compreensão se faz presente além de ainda crescerem como pessoas.
Cole continua neurótico, irônico e desordeiro, mas investe numa série de experiências determinado a encontrar a cura para a licantropia de uma vez por todas. Seu relacionamento com Isabel acaba sofrendo mudanças um tanto significativas pois ela acaba se afastando quando percebe que Cole está desenvolvendo uma certa dependência dela e as coisas começam a ficar sérias demais. Isabel se preocupa com a obsessão do pai, que passa a tentar legalizar a caçada, e isso pode acabar afetando Sam e Grace, seus amigos.

A escrita... O que é essa escrita? Desde a primeira vez que li um livro de Maggie (A Corrida de Escorpião) já senti suas palavras na alma e acredito que a intenção seja exatamente essa, tocar a alma do leitor. A escrita é envolvente e fluída, melancólica e poética, completamente mágica e viciante, e neste volume está mais dinâmica e com boas doses de ação. A narrativa continua sendo feita em primeira pessoa pelo ponto de vista dos personagens principais, Sam, Grace, Cole e Isabel (e Shelby) e é possível que o leitor se coloque no lugar de cada um deles, sentir o que eles sentem.
Os personagens são humanos e reais, eles choram, se ferem, sangram, sentem, acertam, falham, e tudo num nível que transborda pelas páginas.
Por mais que a trilogia seja fictícia, a autora explora o mundo dos lobos, seus comportamentos e funções dentro da matilha com bastante realidade e fidelidade pois, de fato, houve pesquisa por parte dela. É fascinante saber um pouco mais desses animais através de uma história tão bonita quanto a de Mercy Falls.

Ao fim de tudo, o que a autora deixou como observação ao fim da história resume bem minha opinião sobre o relacionamento de Sam e Grace: "Amor mútuo, respeitoso e duradouro é totalmente alcançável, desde que você prometa a si mesmo que não se contentará com menos."
Gostei demais, mas confesso ter esperado mais de Sempre pois gostei muito dos volumes anteriores. Acho que, por mais que a escrita seja brilhante, o desenrolar da história acabou se tornando cansativo e o final foge completamente do esperado. Por um lado é um ponto bacana por ser original, mas me bateu aquela tristeza pela história ter chegado ao fim dessa forma.
Senti que a autora deixou algumas pontas soltas e ainda deixou o final praticamente aberto à interpretações ou imaginação do leitor. Ainda não sei se isso foi algo positivo pra mim pois prefiro quando as coisas são desenvolvidas sem furos e se encerram com explicações concretas.

Para quem gosta de uma fantasia que soa bastante real e que mexe com nossos sentimentos, abordando o amor em sua forma mais pura, a perda e o sofrimento seguidos por superação, esperança e felicidade, leia!

Espera - Maggie Stiefvater

12 de agosto de 2015

Lido em: Julho de 2015
Título: Espera - Os Lobos de Mercy Falls #2
Autora: Maggie Stiefvater
Editora: Agir Now
Gênero: Fantasia/Sobrenatural/YA
Ano: 2015
Páginas: 360
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Sam ainda tenta se acostumar ao fato de ser plenamente humano e ter uma vida pela frente; Grace precisa lidar com sua iminente transformação e sente dificuldade em esconder esse segredo.
Além disso, volta à cena Isabel, ainda abalada pela morte do irmão, mas sem conseguir esconder sua atração por Cole, um garoto sarcástico que escolheu ser lobo para fugir dos problemas de sua vida humana. O que ela não sabe, porém, é que essa decisão o fará enfrentar tudo o que sempre quis evitar.
Com um mundo em constante mutação, com forças que obrigam Grace, Sam, Isabel e Cole a continuamente questionarem suas escolhas e buscarem alternativas, Espera faz com que leitores se perguntem: quando tudo ao seu redor está desabando, o amor é o bastante?
Resenha: Espera é o segundo volume da trilogia Os Lobos de Mercy Falls escrita pela autora Maggie Stiefvater. O livro havia sido lançado em 2011 pela Editora Agir e agora, junto com os demais volumes, foi relançado pela Agir Now.
A resenha pode ter spoilers do livro anterior!

"Essa é a história de um garoto que costumava ser lobo e de uma garota que estava começando a se transformar em um."
- Pág. 9
Depois de todo o suplício passado no primeiro livro em busca da cura para a licantropia de Sam, ele, enfim, conseguiu se tornar humano e passa a se acostumar com sua nova condição, sem temer por uma transformação indesejada. O frio já não é mais o inimigo do casal e apesar da insegurança de Sam, tudo parecia estar muito bem. Mas Grace começa a ter dores de cabeça intensas e constantes e todos os sinais indicam que ela estaria prestes a se transformar em loba. Enquanto isso, eles continuam na luta para ficarem juntos ao mesmo tempo em que esperam pelo inevitável pois os pais de Grace, que no primeiro livro eram totalmente ausentes e relapsos, resolveram se intrometer e prestar atenção no namoro da filha qu não é tão bobinho como pensavam. Ela, então, além de desafiá-los, ainda prefere manter seu estado de saúde em segredo.
Sam se preocupa com seu futuro pensando numa maneira de conseguir sobreviver, enquanto luta contra seu passado de lobo.

E em meio a luta de Sam e Grace, Cole e Isabel entram em cena e dividem seus pontos de vista acerca da história que se passa. Cole era membro de uma banda de rock e optou por se transformar em lobo a fim de fugir das responsabilidades da vida humana, mas acaba chamando atenção e despertando sentimentos em Isabel, que ainda está abalada pela morte do irmão.
A espera é o que resta ao casal... E nunca um título caiu tão bem num livro, pois ele resume praticamente toda a história numa única palavra.

Narrado em primeira pessoa pelos pontos de vista de Sam, Grace, Isabel e Cole, Espera não apresenta muita evolução do desenvolvimento do relacionamento e até da situação de Sam e Grace, mas incluir a voz de Isabel e Cole na trama foi algo genial e que deu um up na história. Os capítulos são curtos e o nome do personagem aparece para identificar de quem é a voz da vez. Tudo continua discorrendo de forma lenta e gradual mas a escrita incrível e poética da autora foi a responsável por me manter ligada à história como se não houvesse amanhã.

Continuo não sendo muito fã de Sam devido a sua construção. Ele fica responsável pelo bando de lobos, incluindo os novos que apareceram na floresta e até de Cole, em quem ele não confia nada, mas não consigo imaginá-lo como um líder forte e destemido por ele ter um comportamento feminino e tão passivo que é quase impossível de suportar. Ele é gentil e doce demais e pra quem prefere vilões ou bad boys (como eu) pode se incomodar e muito com a personalidade dele. Mas é pura questão de gosto, acho. Então, acompanhar os acontecimentos pela visão de Cole, que é totalmente o oposto, assim como de Isabel, me fez ficar empolgada e satisfeita pois talvez a trama não se sustentasse se o foco fosse mantido somente no primeiro casal já que nada de tão novo acontecia com eles. Ter uma nova perspectiva para os acontecimentos a partir de personagens tão diferentes foi algo que superou minhas expectativas, com certeza.

Isabel já havia aparecido no primeiro livro, mas aqui é possível conhecer um pouco mais dela e passei a gostar dela mais do que antes. Por mais que ela se sinta culpada pela morte do irmão, ela deixou de ser mimada para se tornar alguém forte, corajosa, quase sempre impulsiva e na maioria das vezes sarcástica. Ela é irritante no bom sentido, é uma pessoa boa e é uma personagem digna de admiração pois ela percebe que diante da situação em que se encontra, sua única alternativa é amadurecer.
Cole é o contrário de Sam. Ele faz o estilo bad boy e é o tipo de personagem ferrado mas que ainda assim consegue despertar a simpatia de qualquer um, mesmo que seja insuportável. Sua história antes de se tornar lobo é bastante complexa e espero que no próximo livro haja mais informações e explicações sobre ele. Ele precisa se adaptar à vida que escolheu mesmo não estando com o passado totalmente cicatrizado.

A única coisa que não consegui engolir nesse livro foi a relação dos pais de Grace com ela pois é o que foge completamente do que qualquer um possa considerar como algo normal. A história é uma fantasia, claro, mas a forma como é contada, assim como a construção dos personagens, faz com que tudo soe bastante real. São personagens comuns, que erram e acertam, mas só querem ter seu lugar no mundo e serem felizes com quem amam, mesmo que isso signifique enfrentar perigos, problemas e afins. Mas pais que nunca demonstraram preocupação com ninguém além deles mesmos e viviam curtindo a vida fora de casa a ponto de não perceberem Sam morando lá (isso acontece no primeiro livro), do nada resolverem colocar em prática tudo o que não fizeram em dezessete anos foi lamentável. Mas pior do que essa mudança repentina dos pais, como se fosse algo criado de forma proposital para servir de empecilho no romance, foi Grace. Ela também não ligava pra eles e achou que resolver enfrentá-los na base de respostas atrevidas e batendo as portas da casa como uma adolescente em crise e tomada por acessos de raivinha resolveria tudo. Sinceramente não sei o que foi pior. Então agradeço imensamente à autora por ter incluído Cole e Isabel como protagonistas em Espera, deixando as coisas equilibradas.

A nova edição da editora está linda! Há detalhes em verniz e outros foscos, as páginas são amarelas, a diagramação é simples, não há mais a indicação da temperatura nos capítulos e não encontrei erros de revisão.

Enquanto Grace e Sam formam um casal delicado e frágil cujo relacionamento se baseia na honestidade e na sinceridade, Cole e Isabel contrastam com sarcasmo e rebeldia, mas a autora foca no lado sentimental dos personagens evidenciando seus sentimentos com intensidade através de uma escrita melancólica e pura capaz de envolver e encantar qualquer leitor, principalmente se levarmos o clima frio e sem cor em consideração.

Posso afirmar que Os Lobos de Mercy Falls se tornou uma de minhas trilogias favoritas e super recomendo!

Calafrio - Maggie Stiefvater

16 de julho de 2015

Lido em: Julho de 2015
Título: Calafrio - Os Lobos de Mercy Falls #1
Autora: Maggie Stiefvater
Editora: Agir Now
Gênero: Fantasia/Sobrenatural/YA
Ano: 2015
Páginas: 344
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Grace Brisbane tem 17 anos e os mesmos desejos e inseguranças das outras meninas de sua idade. Entrar na faculdade é uma de suas preocupações, mas ultimamente ela anda dispersa durante as aulas na escola de Mercy Falls, perdida num mundo só seu.
Há seis anos, ela foi levada por um bando de lobos que vive num bosque vizinho à sua casa. Em meio a uma paisagem congelada e sombria, um lobo de profundos olhos amarelos, deslumbrado por sua beleza, a salvou do ataque. Desde então, Grace nunca conseguiu esquecer aqueles olhos. Fascinada por esses animais, todo ano ela espera ansiosamente pela chegada do inverno para reencontrar o "seu lobo", com quem trava um diálogo silencioso.
Os anos se passam, e quando um rapaz da escola de Grace é assassinado por uma matilha, a cidade inteira se mobiliza para caçar os lobos. Homens armados entram na floresta, e Grace não consegue impedir que eles atirem. Agora era tarde demais, pensou. No entanto, no silêncio do crepúsculo, ao voltar para casa, depara-se com um garoto nu, caído na soleira de casa. Ao fitar seus olhos brilhantes, ela não tem dúvida de que está diante de seu lobo em forma humana. Os dois se apaixonam, e mesmo sabendo dos perigos, Grace está disposta a tudo para viver esse grande amor.
Misturando suspense, sensualidade e fantasia, Calafrio é a história de dois jovens que aceitam correr todos os riscos, até mesmo o de deixarem de ser quem são.

Resenha: Calafrio é o primeiro volume da trilogia Os Lobos de Mercy Falls escrita pela autora Maggie Stiefvater. O livro já havia sido lançado em 2010 mas agora foi relançado com novo projeto gráfico junto com os demais volumes pela Agir Now.

Grace Brisbane é uma garota de dezessete anos que mora na cidadezinha de Mercy Falls, Minnesota. Há seis anos atrás, quando estava em seu balanço feito de pneu, Grace foi atacada e arrastada por uma alcateia que vivia na floresta nos arredores de sua casa e em meio a confusão ela avista um lobo em particular, o único que além de não atacá-la ainda impediu que ela fosse morta, salvando sua vida. Após o incidente, o lobo voltava durante o inverno para fazer uma visita a Grace, e sempre a observava dos limites da floresta. Seus olhos amarelos eram inconfundíveis e durante os seis anos que se seguiram eles trocavam olhares sempre que ele aparecia. Aquele era o lobo "dela" e dessa troca de olhares surgiu uma ligação tão íntima quanto inexplicável, mas tão real e intensa quanto o frio do inverno. Até que um dia um dos garotos da escola de Grace foi morto e a cidade inteira se mobiliza contra os lobos por eles terem sido os responsáveis por atacá-lo A ideia de uma caça aos lobos faz com que Grace fique desesperada, pois por mais que ela tenha sido atacada no passado, ela desenvolveu um certo carinho pelos animais. Quando homens entram na floresta armados, ela não consegue impedir que eles atirem, mas ao voltar pra casa ela se depara com um garoto ferido e nu caído em frente a sua casa, e quando ela olha em seus olhos amarelos e brilhantes, percebe que está diante daquele que a observava em silêncio depois de tantos anos: Sam, seu lobo...
Um misto de sentimentos a deixa confusa, mas sua única certeza é que ela está disposta a qualquer coisa em nome desse amor...

Posso dizer que ao comparar Calafrio com outros livros do gênero Young Adult, cheguei a conclusão que se trata de um livro bastante introspectivo e que se desenvolve de forma lenta e gradual. A narrativa é feita em primeira pessoa e se alterna entre Sam e Grace. A escrita da autora é perfeita, suas descrições para cenários, sentimentos e sensações faz com que possamos nos colocar no lugar dos personagens e viver o que estão vivendo.
Estranhei muito o fato de Grace ter sido atacada por lobos quando criança e em vez de desenvolver um trauma passou a ter um enorme fascínio por eles e talvez isso, de certa forma, tenha alguma coisa a ver com a personalidade dela.

Grace não é a personagem mais carismática do mundo e ao estar junto de Sam o coloca no centro de sua vida e não se importa com o resto. O amor só não é a primeira vista porque ela já conhecia aquele olhar de outros carnavais e foi exatamente isso que tornou o romance instantâneo algo possível e aceitável. Um ponto que gostei bastante nela é que ela tem seus medos e inseguranças mas procura não demonstrá-los para não evidenciar fraquezas o que a torna alguém bastante real.
Eu só não achei adequada a ideia de Grace levar Sam escondido para morar em sua casa, dormindo em seu quarto sem que ninguém desconfie de nada. A autora parece ter construído essa situação usando a ausência dos pais da garota para "justificar" a falta de percepção de que tinha alguém morando debaixo do teto deles, mas isso me soou muito estranho.

Um ponto bastante original foi a ideia da autora em deixar o clássico de lado em que lobisomens se transformam com a lua cheia. Em Calafrio a licantropia é apresentada como uma "doença" que só se manifesta durante o inverno quando o clima está congelante e emoções e pensamentos humanos se mantém distantes de suas cabeças. Mas, no verão, eles se transformam em humanos e vivem normalmente. Um humano comum pode se transformar em lobo se for mordido, mas a pergunta que fica no ar é se Grace foi mordida quando criança, o que impediu que ela também se transformasse? Isso tem uma importância bem considerável na história e acredito que devido a esse fator o livro tem assunto para render as continuações fora o romance entre os protagonistas, principalmente porque outras pessoas haviam sido mordidas rendendo pequenas subtramas na história principal.
Sam briga internamente consigo mesmo, desesperado para manter sua forma humana pois esta seria sua última temporada como humano antes que ele se transforme em lobo e permaneça assim pra sempre. É triste e comovente, mas ao mesmo tempo doce e bonito acompanhar sua luta para aproveitar cada momento com ela, mesmo que ela não saiba que ele corre contra o tempo. Sam só quer seguir em frente no relacionamento com Grace pois ele a ama de todo o coração. No momento o maior inimigo deles é o inverno e é simplesmente agonizante acompanhar a temperatura cair no decorrer dos capítulos.

Um ponto não muito favorável para Sam é que ele, na maioria das vezes, não convenceu como sendo um personagem masculino. Ele é o alfa da alcateia, tem espírito de liderança e logo deveria ser bem mais viril ao meu ver, mas ele tem pensamentos extremamente femininos e acho que a autora falhou um pouco em sua construção.

O trabalho gráfico está um arraso. A capa com o lobo de olhos amarelos já ilustra bem o personagem mas os detalhes é que são de encher os olhos. A capa é lisa, mas os ramos são foscos, enquanto a contracapa é fosca com os ramos lisos.
As páginas são amarelas e o tamanho da fonte é muito bom. A diagramação é simples e cada início de capítulo indica a temperatura do dia a fim de situar o leitor no clima. Encontrei alguns erros de revisão no início do livro mas nada que tenha interferido na leitura.

Eu já conhecia a escrita da autora e somando com a boa história passei a ter grande admiração por ela, e posso dizer que, mesmo com algumas falhas, Calafrio me trouxe emoções bem fortes. Estive diante de uma história de amor tão bonita quanto melancólica e simplesmente adorei.

A Corrida de Escorpião - Maggie Stiefvater

23 de julho de 2013

Lido em: Julho de 2013
Título: A Corrida de Escorpião
Autora: Maggie Stiefvater
Editora: Verus
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto
Ano: 2012
Páginas: 378
Nota: ★★★★★
Sinopse: A cada novembro, os cavalos d'água emergem do oceano e galopam na areia sob os penhascos de Thisby. E, a cada novembro, os homens capturam esses cavalos para uma corrida eletrizante e mortal. Alguns cavaleiros sobrevivem. Outros, não.
Aos 19 anos, Sean Kendrick já foi quatro vezes campeão. Ele é um jovem  de poucas palavras e, se tem medos, guarda-os bem escondidos, onde ninguém possa vê-los. Puck Connolly é uma novata nas Corridas de Escorpião. Ela nunca quis participar da competição, mas o destino não lhe deu muita escolha.
Sean e Puck vão competir neste ano, e ambos têm mais a ganhar - ou perder - do que jamais pensaram. Mas apenas um deles pode vencer.
Resenha: Thisby é uma ilha onde seus habitantes sempre se preparam para o Festival de Escorpião, que acontece no mês de novembro, e uma das atrações é a Corrida de Escorpião, famosa pela competitividade violenta e banhos de sangue, e que atrai turistas e apostadores do continente. O diferencial dessa corrida (que nada tem a ver com escorpiões), é que os cavalos não são cavalos comuns, são cavalos d'água, ou como são chamados, capal uisce (pronuncia-se "cappoul ishka"), seres fantásticos, lendários, violentos, carnívoros e misteriosos, que emergem do oceano para galoparem pela areia nos penhascos da ilha. Neste momento, os homens os capturam para domá-los, tentando não deixarem essa natureza violenta aflorar a fim de montá-los para a Corrida. E é nesse cenário que conhecemos Sean Kendrick e Puck Connolly, os protagonistas da história.

Sean tem 19 anos, é corajoso, destemido e conhecido por ter sido campeão da Corrida de Escorpião por quatro vezes. Mesmo com um passado trágico, seu pai foi atacado e devorado por um capall uisce numa Corrida há uns dez anos atrás, a Corrida foi o que lhe restou. Ele trabalha no Haras Malvern, é um encantador de cavalos e tem uma grande paixão por esses animais, e se inscreve todos os anos para a Corrida a mando de Benjamin Malvern, o dono do Haras que tem grande poder e influência em Thisby. Sean é o único que tem coragem para montar Corr, um dos capall garanhões do haras de Benjamin, e única "família" para Sean, que tem o sonho de comprá-lo.

Puck, (ou Kate, seu nome verdadeiro), é uma adolescente órfã de uns 16 anos, que mora com seus dois irmãos, Gabe e Finn. Ela é muito corajosa, não mede suas palavras e nem se deixa intimidar por nada nem ninguém, até que seu irmão mais velho decide ir embora e Benjamin, proprietário da casa onde ela mora com os irmãos, começa a cobrar uma divida enorme, pois sua casa não estava sendo paga, e como última chance de conseguir o dinheiro e retardar a partida do irmão, ela decide se inscrever na Corrida montando Dove, sua pônei comum. Porém, Puck nunca correu, e por ser novata, mulher e ainda inscrever sua pônei que não é uma uisce, ela se torna motivo de preconceito, chacota e humilhação na ilha. Ela passa a ser ignorada por todos, pois a Corrida até então era exclusiva para os homens. Mas Sean é exceção...

A narrativa é feita em primeira pessoa, com capítulos relativamente curtos alternados entre Sean e Puck. As descrições são perfeitas, a escrita é impecável, fluída, envolvente e leva o leitor até a ilha de Thisby, de um jeito que é possível quase sentir a areia nos pés, o cheiro de sal do mar e até mesmo o cheiro do sangue, e a autora frisa e repete bastante esses detalhes...
Os personagens são muito humanos, e carregados de uma realidade que foge à fantasia. O romance que surge entre Sean e Puck é algo que é construído aos poucos, real, sólido, intenso e bonito, o que torna tudo muito crível e aceitável. Nada que surge do além, nada meloso, nada antipático.

Às vezes a leitura se torna um pouco cansativa pois não tem um ritmo acelerado na questão dos acontecimentos, mas nem por isso perde sua beleza. As coisas acontecem devagar, mas a espera pela corrida e pelo final cheio de glória, e até um pouco previsível, é algo que vale muito a pena, pois no decorrer da história, podemos compreender que a corrida é apenas um pano de fundo para algo muito maior, e que vai bem além do que apenas uma competição sangrenta onde há somente um vencedor.

A capa é perfeita, pois além de linda, consegue trazer as cores que a autora descreve no decorrer da história... areia, sangue, ferrugem... A diagramação é simples, cada início de capítulo traz o nome do personagem da vez que narra a situação pelo seu ponto de vista, e uma pequena silhueta de um cavalo correndo. As páginas são amareladas e a letra tem um tamanho muito agradável. Encontrei um erro de revisão, mas não atrapalha a leitura.

Quando pego um livro pra ler, cheia de expectativas e me surpreendo tanto como me surpreendi, sinto uma necessidade enorme de sair indicando pra todo mundo. Pra quem gosta de histórias originais, cuja narrativa é perfeita, convidativa e sedutora, com toques de humor leve, drama, paixões intensas e cavalos selvagens, precisa ler.
Amor condicional e verdadeiro, fidelidade absoluta, e coragem pra lutar quando não há mais nada a se perder ficam evidentes, deixando a história muito mais mágica do que parece...
A Corrida de Escorpião se tornou um dos meus livros favoritos!