Autora: Natsuo Kirino
Editora: Rocco
Gênero: Romance
Ano: 2014
Páginas: 288
Nota:★★★★☆♥
Sinopse: Nesta releitura de um conto milenar, a aclamada escritora de romances policiais Natsuo Kirino, ganhadora dos mais importantes prêmios do gênero, deixa de lado suas tramas urbanas para recriar um antigo capítulo da mitologia japonesa: a lenda das irmãs Izanagi e Izanami. Ambientada em uma ilha mística em forma de gota de lágrima, O Conto da Deusa é uma trágica história de amor e vingança, que reconta o mito da criação do Japão, com a marca inconfundível da autora.
Resenha: Numa ilha ao sul de Yamato, conhecida não só por ter seus próprios costumes, mas por ser considerada a ilha mais próxima ao sol onde os deuses transitavam, vivem as irmãs Kamikuu e Namima, que sempre foram muito unidas. Porém, pela tradição da família Umihebi elas deveriam ser separadas para que o destino fosse cumprido. Por ser a mais velha, Kamikuu, com seis anos de idade, é levada de casa a fim de ser treinada pela avó, Mikura-sama, para se tornar o próximo Oráculo, a sacerdotisa responsável por abençoar a ilha e por orar pelos homens que iam para o mar. Assim, ao ver a irmã partir, Namima sentia que um pedaço de si mesma lhe fora arrancado, não entendia porque não poderia ter contato com sua amada irmã, e não fazia ideia do que o futuro lhe reservaria a partir de então...
Segundo a tradição, e respeitando a dualidade entre Yin e Yang (opostos que se completam), o Oráculo além de precisar ser uma mulher, deveria ser Yang, e ao se tornar uma sacerdotisa, Kamikuu governaria o Reino da Luz. Em contrapartida, a que nascesse depois representaria o Yin, e seria responsável pelo Reino das Trevas para velar os mortos, e isso acaba não sendo nenhuma surpresa quando a história começa com Namima já contando que está morta... O que o leitor irá descobrir é a sua trajetória e seus segredos, até que ela completasse dezesseis anos e se tornasse a guardiã do Amiido, o lugar onde os mortos são enterrados e descansam.
A narrativa, que intercala primeira e terceira pessoa, não é muito ágil, mas ainda assim prende pelos detalhes e pela curiosidade do que está por vir. Na primeira parte a autora mostra a vida de Namima, desde quando nasceu até quando se tornou sacerdotisa da deusa Izanami, de quem também conhecemos o passado e vemos todos os motivos para nutrir tanto ódio e desejo de vingança, e na segunda parte a criação do Japão ganha destaque.
Vemos Kamikuu e todos os privilégios concedidos a ela, desde o melhor lugar para morar até a fartura que lhe é oferecida enquanto os aldeões passam fome, e Namima, que passa a ser considerada uma "impura", ser constantemente desprezada e humilhada, cuja existência só é necessária para velar aqueles que já se foram.
Claro que o romance não poderia faltar, e aqui o "mocinho" é Mahito, um rapaz nascido em uma família amaldiçoada, a Umigame, e que jamais poderia se envolver com a família Umihebi. A paixão secreta e proibida sustenta uma parte considerável do suspense e do drama vivido por Namima, principalmente quando há uma criança entra em jogo e uma terrível traição acontece, mas o que fica em evidência, devido à lenda, é a ligação entre Namima e a deusa Izanami, que está cheia de amargura e é movida por vingança há milênios por algo que Izanagi fez. E quando Namima se torna sua sacerdotisa, ela consegue enxergar além e entender pelo que Izanami passa, pois sua vida também foi extremamente sofrida até ter sido traída de forma inimaginável por quem ela menos esperava.
Na companhia de Izamani, Namima descobre todas as injustiças que foi obrigada a sofrer, e isso só desencadeia ódio, revolta e a busca pela justiça. E assim como a deusa, ela quer vingança. O que ela ainda não entendeu, é que existem situações que jamais poderão ser mudadas, e resta a ela aprender a lidar com o fardo que o destino lhe incumbiu.
O Conto da Deusa é uma releitura de uma lenda da mitologia japonesa sobre a criação do Japão e da origem dos deuses Izanagi e Izanami, e os detalhes acerca do cenário e dos detalhes descritos pela autora são uma obra de arte a parte.
Vou ser sincera em assumir que, apesar de admirar as belezas da cultura, não conheço nada do folclore ou da mitologia japonesa, e talvez se eu já tivesse um conhecimento prévio minhas impressões da leitura poderiam ser diferentes. Isso não impediu que eu pesquisasse sobre depois, mas penso que, mesmo que eu tenha gostado da história, se eu já tivesse tais informações de antemão a experiência seria outra, e acho que seria mais positiva.
Enfim, assim como o Yin e o Yang, a autora consegue mostrar através dessa releitura que os opostos não só se atraem, como também se completam. Assim, lendas japonesas milenares e fantasia se unem para que uma história muito bonita sobre os opostos amor e ódio, alegrias e tristezas, e vida e morte possa ser contada.