Autora: Paula Hawkins
Editora: Record
Gênero: Suspense/Thriller
Ano: 2015
Páginas: 376
Nota: ★★★★☆♥
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um thriller psicológico que vai mudar para sempre a maneira como você observa a vida das pessoas ao seu redor.
Todas as manhãs, Rachel pega o trem das 8h04 de Ashbury para Londres. O arrastar trepidante pelos trilhos faz parte de sua rotina. O percurso, que ela conhece de cor, é um hipnotizante passeio de galpões, caixas dágua, pontes e aconchegantes casas.
Em determinado trecho, o trem para no sinal vermelho. E é de lá que Rachel observa diariamente a casa de número 15. Obcecada com seus belos habitantes a quem chama de Jess e Jason , Rachel é capaz de descrever o que imagina ser a vida perfeita do jovem casal. Até testemunhar uma cena chocante, segundos antes de o trem dar um solavanco e seguir viagem. Poucos dias depois, ela descobre que Jess na verdade Megan está desaparecida. Sem conseguir se manter alheia à situação, ela vai à polícia e conta o que viu. E acaba não só participando diretamente do desenrolar dos acontecimentos, mas também da vida de todos os envolvidos.
Uma narrativa extremamente inteligente e repleta de reviravoltas, A garota No Trem é um thriller digno de Hitchcock a ser compulsivamente devorado.
Resenha: A Garota no Trem traz ao leitor a vida de Rachel, uma mulher na casa dos 30 anos com problemas alcoólicos, um ex-marido que não a suporta mais, sem família e dividindo o apertamento com uma colega que já não aguenta suas bebedeiras. Todos os dias ela pega o trem de Ashbury para Londres, pontualmente as 8h04. É numa parada diária que a mulher observa um casal na varanda de uma casa, ambos aparentemente felizes, e ela acaba se afeiçoando a eles. Por algum motivo, ela se sente parte daquilo, daquela vida que não é dela. Mas tudo parece virar de cabeça para baixo quando Jess, a parceira de Jason, que na verdade são Megan e Scott, desaparece. Testemunha de uma cena estranha, ela vai até a polícia contar o que viu. Mas quem poderá confiar numa mulher que beira a insanidade e sofre de problemas com a bebida?
O primeiro livro de Paula Hawkins, lançado em 2015, foi comparado a Garota Exemplar (2013, Intrínseca), sucesso de Gillian Flynn. Se em uma obra o leitor conhece Amy, uma mulher um tanto peculiar e um casamento que sofre seus últimos suspiros, Rachel Watson, a protagonista de A Garota no Trem, é um pouco diferente da esposa de Nick. O primeiro aspecto notável nela é a fragilidade emocional. Ela é instável, maluca e sem nenhum senso do que está ocorrendo a sua volta, por conta da bebida. Isso tudo pode ser decisivo para quem lê conseguir criar total empatia por ela, mas o contrário também é possível. Ela carrega uma bagagem de vida que é uma verdadeira tragédia. O desaparecimento de Megan, que Watson mal conhecia, faz com que ela sinta a necessidade estranha em ajudar, e acaba piorando toda a situação, o que chega a ser engraçado. Ao mesmo tempo que pensamentos do tipo "por que ela simplesmente não para de se enrolar nessa investigação?" surgem, o desejo é que ela supere seus medos e consiga fazer algo bom. No mais, Rachel é digna de toda torcida, mesmo que algumas atitudes sejam um tanto inconsequentes.
Megan, ou Jess, como Rachel gostava de chamá-la, num primeiro momento se mostra totalmente estável e segura de si, mas com o avançar da leitura, a mulher começa a mostrar traços de fragilidade tantos quantos os de Watson. Apesar do ar de sofrimento que a ronda, ela jamais deixa se abater e gosta de manter tudo sob controle, o que se mostra infrutífero devido a seu desaparecimento. Já Anna, a "outra", que teve um caso com o ex-marido de Rachel, Tom, só mostra algo digno de atenção no final da trama. Ela, que não sente nenhum remorso em ter tido um romance com alguém casado, provoca antipatia desde o início, mas ao fim consegue exibir algo que evidencia que elas três têm algo em comum.
"Quem disse que fazer o que o coração manda é uma coisa boa? É puro egocentrismo, um egoísmo de querer tudo. O ódio me inunda por dentro. Se eu visse aquela mulher agora, (...) cuspiria na cara dela. Eu arrancaria seus olhos a unha."Paula Hawkins explorou muito bem que homens muitas vezes abusam de mulheres não somente de forma sexual, mas psicológica também. Por mais que todas as três personagens tivessem personalidades distintas e histórias de vida diferentes, elas conseguem mostrar semelhanças de alguma maneira. Rachel, que pode ser considerada somente uma bêbada fraca, trouxe à tona uma verdade: nenhum problema psicológico surge do nada e ninguém que sofre disso é culpado. Megan, que passa uma imagem um tanto negativa sobre si mesma, evidenciou que jamais devemos julgar alguém sem saber o que se passa por trás. E Anna, que aparentemente não tem nada de positivo, no final consegue angariar alguns pontos a seu favor.
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A estrutura do livro, que é feita por datas e períodos, torna a leitura fluída e interessante. A narrativa de Paula é por vezes sentimentalista e empática, e em outros momentos é mordaz e carrega um humor ácido muito bom. Mostrando o ponto de vista das personagens em primeira pessoa, Hawkins criou uma protagonista que teria tudo para ser tornar enfadonha, mas seus problemas se tornaram um bom atrativo.
A Garota no Trem reúne elementos dignos para uma boa história: suspense, problemas psicológicos, um desaparecimento misterioso, a busca pela verdade e três protagonistas bem construídas. O final é surpreendente e a solução para o desaparecimento de Megan, que para alguns pode parecer previsível, consegue se tornar o ponto alto da trama. Há uma pequena ressalva no que diz respeito ao personagem Scott, que fica sem um desfecho. No quesito investigação policial, a autora perde pontos, pois faltou um trabalho mais acerca do papel dos investigadores no caso. No mais, a estreia de Paula Hawkins foi ótima e ter seus direitos comprados para uma adaptação nos cinemas foi mais que merecido.