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Na Telinha - Elementos

3 de outubro de 2023

Título: Elementos (Elemental)
Distribuidora: Disney/Pixar
Elenco: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie Del Carmen, Wendi McLendon-Covey, Mason Wertheimer
Gênero: Aventura, Fantasia, Animação
Ano: 2023
Duração: 1hr42min
Classificação: Livre
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Em uma cidade onde os habitantes de fogo, água, terra e ar convivem, uma jovem mulher flamejante e um rapaz que vive seguindo o fluxo descobrem algo surpreendente, porém elementar: o quanto eles têm em comum.
Cidade Elemento é uma cidade onde os elementos Terra, Água e Ar sempre conviveram em harmonia desde que foram chegando para povoar o lugar. A cidade é cheia de vida, cheia de cores, com bastante água e todo mundo vive feliz, alegre e contente. Mas, quando um casal de imigrantes da Terra do Fogo, Brasa Luz e Fagulha (Bernie Lumen e Cinder no original), chegam na cidade em busca de uma vida melhor, eles não se sentem muito bem recepcionados e acolhidos pois o Fogo não é muito bem visto pelos outros seres já que podem queimar tudo. A cidade sequer havia sido projetada pensando nas necessidades ou na segurança deles, e ninguém liga se ter água pra todo lado poderia simplesmente apagar o Fogo e acabar com a existência deles. Brasa e Fagulha acabam indo morar mais afastados num bairro abandonado e caindo aos pedaços depois de terem sido rejeitados em todos os imóveis que visitaram. E, a medida que mais imigrantes de Fogo vão chegando na cidade, eles vão se reunindo no único local onde poderiam ser bem recebidos e terem segurança, formando assim a Vila do Fogo. Com o passar dos anos, a cidade foi crescendo, mas não se misturar com o Fogo acabou se tornando algo normal pra todo mundo e vida que segue.



Faísca (ou Ember no original) é a filha do casal Luz, que nasce tão logo eles chegam a cidade e se instalam na casa arruinada que conseguiram, e ela cresceu ouvindo do pai que ela herdaria a loja de conveniências que ele abriu pra poderem sobreviver alí. Agora que já está na faixa dos vinte e poucos anos, Faísca continua ajudando o pai na loja e vive questionando quando ela vai ser a dona do negócio da família. O problema é que, apesar de ela ser sempre muito eficiente no que diz respeito às demandas da loja e ter uma habilidade incrível para manipular o vidro, ela não sabe lidar com clientes sem razão, e fica descontrolada a ponto de, literalmente, explodir. Esse comportamento faz com que seu pai, por mais que já esteja mais velho e debilitado, fique adiando a própria aposentadoria por acreditar que ela ainda não está pronta pra tomar conta da loja e que precisa de mais tempo pra aprender a controlar seu temperamento.

Mas tudo começa quando Brasa deixa a filha no controle da loja numa espécie de teste. A loja, em dia de ofertas, cheia de clientes empolgados e malucos, deixa a coitada desorientada, e num dos seus momentos de surto ela corre pro porão da loja pra "explodir" longe do pessoal. A explosão acaba danificando o encanamento e o porão começa a se alagar. E como se o transtorno já não fosse grande o suficiente, Gota (Wade), um ser de Água, foi sugado pelos canos enquanto trabalhava em outro local e acabou indo parar alí sem querer. O que Faísca não esperava era Gota ser um fiscal municipal que estava fazendo uma inspeção no momento do acidente e, aproveitando que estava alí, acabou notificando a loja por várias irregularidades. Agora, sob risco de ter a loja fechada, Faísca precisa dar um jeito no problema não só pra manter a loja aberta, mas para provar que ela tem capacidade de gerenciar a loja que está prestes a herdar sem decepcionar o pai. E diante de um prazo super curto de uma semana, ela e Gota acabam se aproximando numa tentativa de resolverem esse problemão, caso contrário ela estaria acabando com o sonho da vida de seu pai. Apesar da aproximação, eles precisam ter muito cuidado pois não podem se tocar: Faísca poderia fazer Gota evaporar, ou Gota poderia simplesmente extinguir Faísca. Eles só não imaginaram que com essa convivência, mesmo sem poder se tocar e sendo o total oposto um do outro, eles combinariam tanto e que o amor seria capaz de superar todas as diferenças entre eles.



O diretor Peter Sohn, apesar de não ter tido intenção de fazer uma autobiografia, usou a própria experiência de vida quando teve a ideia da animação. Ele ainda era criança quando saiu da Coreia com a família rumo a Nova York, nos EUA, em busca do "sonho americano", logo ele se inspirou nessas experiências para contar uma história envolvente que, embora aborde a xenofobia e o racismo de forma nada velada, fala principalmente sobre um amor improvável entre dois seres completamente diferentes, seja com relação a cultura, aos costumes, a "raça", a influência da família e aos privilégios (ou a falta deles) em meio a sociedade formada majoritariamente por Água.

Enquanto o povo de Água já é estabelecido e ocupa as mais altas classes sociais dessa sociedade (como se fossem os brancos, talvez?), o povo do Fogo acaba representando os imigrantes que chegam num país novo em busca de melhores oportunidades de vida, dando um contraste bem visível e apelativo entre oriente médio e ocidente, e que acabam sendo tratados com preconceito a ponto de viverem segregados, principalmente por representarem algum tipo de "risco". Segundo o diretor, a cidade de Elemento foi inspirada na Ilha Ellis, na Nova York dos anos 60 e 70, numa época em que a imigração era algo bastante comum e foi responsável pela diversidade que existe lá até hoje sendo a maioria dos habitantes descendentes de imigrantes, mas não há menções de que país ou região exata serviu de base para a construção do povo de Fogo. Penso que talvez seja uma mistura de vários locais e tradições diferentes, mas que sofrem do mesmo preconceito. A paleta de cores quentes puxada pro vermelho, laranja e amarelo; as comidas típicas bem quentes e apimentadas; as crenças; as roupas; a trilha e efeitos sonoros com uma vibe meio árabe; e até barreira linguística passam a impressão de que possam, talvez, serem de origem muçulmana.



Uma das coisas que percebi e achei bem legal é a associação da personalidade dos personagens com os elementos no aspecto espiritual da coisa, onde o fogo representa a iniciativa, a impulsividade, a energia, o temperamento esquentado, a criatividade e o poder de ação, enquanto a água é totalmente ligada às emoções, aos sentimentos e ao fato do "deixar fluir". Podemos ver isso de uma forma bem evidente em Faísca, que é cheia de atitude e faz as coisas primeiro pra pensar depois, e Gota, que vive emocionado, fica aos prantos por qualquer motivo e em qualquer oportunidade, mas consegue inspirar, cativar e dar rumo a qualquer coisa. Até a mãe da Faísca é bastante ligada a esse universo espiritual/místico sendo capaz de ler a fumaça do destino dos casais e ainda sentir o cheiro do amor.

Faísca é uma personagem bem construída, que tem suas qualidades e defeitos assim como qualquer outra pessoa. Ela entende a situação e as dificuldades do seu povo, e é bastante grata por todos os sacrifícios que seus pais fizeram para serem bem sucedidos com a loja até chegar onde chegaram, logo ela acredita que precisa continuar esse legado em respeito e em gratidão a todo esse trabalho duro. Em contrapartida, Gota, por já viver e estar acostumado com os privilégios do povo da Água por vir de uma família mais rica, não faz a menor ideia do que é fazer parte de uma minoria oprimida oiu como a vida pra eles é muito mais difícil e sofrida. Gota simplesmente não sabe o que é viver num mundo que não foi feito pra ele.

Mas o que importa é que mesmo que eles sejam diferentes e pertençam a mundos diferentes, quando eles estão juntos, um consegue completar o que falta no outro, e pra mim o ponto alto da animação foi exatamente esse. Esse romance vai se construindo aos poucos a medida que Faísca passa a ver uma pessoa de Água, povo que ela sempre olhou com desconfiança, com outros olhos. Gota consegue suavizar o temperamento esquentado de Faísca fazendo com que ela fique menos ansiosa e consiga perceber os pequenos prazeres ao seu redor. E do outro lado, Faísca consegue mostrar pra Gota que ele também pode se impor quando necessário em vez de simplesmente aceitar tudo que aparece.



Além do tema principal de Elementos ser o romance entre Faísca e Gota, a animação também aborda a relação entre pais e filhos de uma forma bastante emocionante. Enquanto o povo da Água expressa suas emoções e sentimentos da forma mais gratuita e exagerada possível, chorando escandalosamente sem nenhuma vergonha, o povo de Fogo já é mais reservado, mais fechado, e não expressa as emoções através de palavras justamente por causa da cultura que eles tem, principalmente os homens. Eles demonstram amor nas pequenas atitudes, no cuidado com o outro no dia-a-dia e até na forma mais rígida de criação por acreditarem ser o melhor para seus filhos, e vão passando isso adiante. Apesar de Faísca respeitar os pais e fazer de tudo pra não desapontá-los a ponto de abrir mão das próprias vontades, a animação também aborda a ideia de pais que, seguindo os costumes, não só impõe aos filhos o que eles devem ou não fazer, ou com quem devem ou não se casar, como também projetam seus sonhos neles sem considerar que são indivíduos com personalidade, desejos e sonhos próprios, e que nem sempre eles irão corresponder a essas expectativas. Esse é um ponto que o pai de Faísca acaba tendo que aprender a lidar devido a experiência que ele teve com o próprio pai.

Não posso deixar de falar sobre o visual que é um show a parte. Os personagens, justamente por serem elementos, não tem contornos sólidos e "lisos". Eles são fluídos, estão em movimento constante, conseguem se adaptar e se enfiar em qualquer espaço, já que tomam qualquer forma (com exceção do povo de Terra que geralmente são plantas, cristais e afins mas que, infelizmente, não são muito abordados aqui, assim como o povo do Ar que também são só coadjuvantes) e não consigo imaginar o trabalho mega difícil e minucioso de se animar algo desse tipo, principalmente quando os personagens interagem e se "misturam" num cenário 3D. A composição de cores, iluminação e detalhes também é deslumbrante e a experiência visual como um todo é uma das coisas mais bonitas que a Disney/Pixar já fez.



Elementos é uma animação típica desses romances água com açúcar de sessão da tarde com uma história que todo mundo já viu em algum lugar, tipo amor proibido e enemies to lovers, a diferença é que dessa vez são elementos da natureza no lugar de pessoas, além de toda aquela magia da Disney que todo mundo se encanta, mas algumas incongruências no roteiro me incomodaram um pouco. A ideia de Faísca ficando responsável por solucionar um problema estrutural na cidade só pra forçar essa união entre ela e Gota, problema este que deveria ser de inteira responsabilidade da prefeitura, não me convenceu. Eles poderiam ter se unido devido a outra ameaça qualquer que fizesse um pouco mais de sentido, até mesmo porque o tal problema coloca a Vila do Fogo toda em risco. Quando os sentimentos de Faísca começam a interferir na solução que ela arranja pro problema, mostrando que ela tem suas fraquezas e fragilidades (por mais que aparente ser forte), e que isso se extende para além do seu próprio ser, fiquei com aquela cara de "é sério isso, meudeus?", mas ainda é um ponto positivo da personagem que foi abordado no meio de uma situação nada a ver.
Assisti em inglês, depois vi alguns trechos na versão dublada a título de comparação, e por mais que eu seja uma grande admiradora do trabalho de dublagem brasileiro, não achei que toda a carga emocional dos personagens conseguiu ser passada da mesma forma do que na versão original. Continuo insistindo na ideia de ver o original pois a experiência, pelo menos pra mim, é muito mais divertida e satisfatória.

No mais, apesar de ter alguns defeitos e não entrar na lista de animações favoritas, Elementos é um suspiro no meio dessa infinidade de lançamentos e live-actions desnecessários e sem a menor graça que a Disney/Pixar vem lançando ultimamente. Ele toca em pontos delicados da sociedade ao mesmo tempo que traz uma história de amor entre opostos que se atraem, contada de forma simplesmente adorável.

Na Telinha - Procurando Dory

6 de julho de 2016

Título: Procurando Dory (Finding Dory)
Produção: Walt Disney/Pixar
Elenco: Ellen DeGeneres, Albert Brooks, Idris Elba, Kaitlin Olson, Ed O'Neill, Eugene Levy, Diane Keaton, Ty Burrell
Gênero: Animação
Ano: 2016
Duração: 1h 35min
Classificação: Livre
Nota:★★★★
Sinopse: Um ano após ajudar Marlin a reencontrar seu filho Nemo, Dory tem um insight e lembra de sua amada família. Com saudades, ela decide fazer de tudo para reencontrá-los e na desenfreada busca esbarra com amigos do passado e vai parar nas perigosas mãos de humanos.

Procurando Nemo foi um verdadeiro sucesso quando foi lançado em 2003, ganhou até um Oscar de melhor animação. Agora, longos treze anos depois, a Disney/Pixar trouxe a continuação colocando Dory, a peixinha distraída e desmemoriada que conquistou o coração de todo mundo, como a protagonista da vez.
Mesmo com a espera eterna pela sequência, Procurando Dory se passa apenas um ano após os acontecimentos de Procurando Nemo, quando Dory, repentinamente, se lembra de alguns momentos com seus pais e de como era amada, e decide sair pelo mar afora a procura deles com a ajuda de Marlin e Nemo, e essa busca acaba sendo uma grande aventura pois Dory é capturada por biólogos e levada a um instituto de preservação da vida marinha. Lá ela conhece Hank, um polvo antissocial que acaba ajudando-a nessa saga de encontrar sua família.


Para quem se questionou sobre as origens de Dory, de onde ela tirou seus lemas (continue a nadar, continue a nadar) ou como ela aprendeu a falar "baleiês", a animação vai apresentar respostas bem legais pra essas dúvidas, além de ser bastante nostálgica revivendo o primeiro encontro de Dory e Marlin até as famosas perseguições que os peixinhos sofrem por predadores gigantes.
Personagens conhecidos voltam a aparecer, mas não ganharam tanto destaque e nem tem tanto carisma quanto os novos. Nemo e seu pai estão atrás de Dory enquanto ela procura sua família, e vemos o desespero de Marlin em ter que reviver essa história outra vez, mas a participação dos dois acaba sendo ofuscada pela presença de Hank, o polvo. Ele é mal humorado e, a princípio, não parece ser muito legal, mas acabamos descobrindo que sua aversão a humanos tem fundamento e ele conquista nossa simpatia com sua vontade desenfreada de ser livre. Ele também começa a apoiar a causa de Dory quando se torna seu parceiro de aventura e vemos que ele se afeiçoa a ela de forma gradual e bem bacana.


Não digo que o roteiro é totalmente original e pra ser sincera não supera seu antecessor. Algumas cenas são dispensáveis e outras se arrastam ou são repetitivas, logo a impressão que fica é de que esses desenhos seguem um tipo de fórmula em que criaturas pequenas e "insignificantes" conseguem se superar vencendo obstáculos impossíveis, como perambular em meio a multidão sem ser vistos para chegarem aos seus destinos e até fugir dirigindo caminhões, então é comum nos depararmos com cenas de ação e aventura malucas e mirabolantes mas que fazem parte desse universo e acabam sendo até bem divertidas quando assistidas sem pretensões.


Um dos pontos altos - e muito fofos - da animação são os constantes flashbacks de Dory onde ela se vê ainda criança vivenciando alguns momentos passados com sua família, fazendo com que ela se lembre de sua história ao unir esses fragmentos e também servindo como um guia em sua jornada. Morremos de amores por sua versão mirím, mas também nos emocionamos com o amor incondicional da família e a preocupação e a paciência deles ao lidarem com problema de memória da filha de uma maneira bem delicada e bonita.
Dory conquista nossa simpatia e a ideia de como ela nunca deixa de ter esperanças de que tudo vai dar certo no final mesmo nos piores momentos é simplesmente admirável e inspiradora, mas confesso que em alguns momentos ela testa nossa paciência com as furadas recheadas de conveniências em que ela se mete. A perda de memória de Dory é explorada de forma que sua história tenha uma carga dramática mais intensa e delicada, mostrando o lado de como é viver enfrentando essas dificuldades, então, apesar de sem bem humorada, ela acaba deixando as características mais cômicas de lado ganhando um foco mais emocional.


Não assisti a versão dublada pois Ellen Degeneres dando voz à Dory é algo impagável, e achei muito engraçado Dory seguindo os conselhos e tentando interagir com a voz da própria Sigourney Weaver, que dá orientações e informações através de áudios aos visitantes do instituto. O lugar lembra bastante um parque aquático, mas a voz de Sigourney não deixa de repetir por diversas vezes que lá eles acreditam em "resgate, reabilitação e retorno ao mar" reforçando a ideia de cuidados e preservação das espécies, como se a captura não fosse algo ruim já que, posteriormente, os animais seriam devolvidos ao seu habitat natural.
O cenário, claro, é lindo de viver. Tudo é muito colorido e bem iluminado, as cores são vibrantes e até as cenas mostrando as profundezas do oceano são perfeitas. Ah, e tem uma cena pós crédito imperdível com personagens muito queridos! ♥

Este é um filme que traz mensagens de conscientização sobre a preservação dos animais, assim como outras reflexões sobre o valor da família e dos amigos, e a aceitação e o respeito por todos aqueles que tem diferenças que os impedem de levarem uma vida "normal", mostrando que embora tenham algumas limitações, com força de vontade, coragem e determinação é possível conseguir atingir objetivos e realizar sonhos. No final das contas, Procurando Dory não se trata de um resgate propriamente dito, mas sim de uma peixinha pateta e muito carismática que, depois de se conhecer melhor, consegue encontrar a si mesma...