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Terceira Voz - Cilla e Rolf Börjlind

8 de maio de 2017

Título: Terceira Voz - Olivia Rönning & Tom Stilton #2
Autores: Cilla e Rolf Börjlind
Editora: Rocco
Gênero: Thriller/Suspense/Policial
Ano: 2017
Páginas: 464
Nota:★★★★☆
Sinopse: Um funcionário da alfândega em Estocolmo é encontrado enforcado na sala de sua casa; uma ex-artista de circo cega, que fazia filmes pornô para sobreviver, é brutalmente assassinada em Marselha, na França. Duas mortes aparentemente desconexas unem os ex-policiais Olivia Rönning e Tom Stilton novamente em Terceira voz, segundo romance da dupla sueca Cilla e Rolf Björlind. Depois de Maré viva, em que apresentam os dois protagonistas numa trama repleta de violência e mistério, o casal de escritores e roteiristas põe os carismáticos Tom e Olivia novamente no centro de uma investigação de desdobramentos surpreendentes que faz jus ao sucesso e popularidade alcançados pela dupla no prestigiado segmento da literatura policial escandinava.

Resenha: Terceira Voz é o segundo volume da série Olivia Rönning & Tom Stilton e tráz de volta os protagonistas de Maré Viva para mais uma investigação cujo desenrolar é de tirar o fôlego.
Embora os casos sejam independentes, é recomendado que a leitura seja feita na ordem de lançamento pois a história não só envolve alguns acontecimentos e flashbacks do livro anterior, mas também faz uma conexão com os eventos dos capítulos finais e mostra como o caso que foi resolvido marcou os personagens.

Desta vez, duas mortes em locais distintos, e aparentemente sem ligação alguma, unem mais uma vez Olivia, que mudou o nome para Rivera, e Tom. Durante as investigações que estão sendo feitas em Estocolmo e Marselha, outros crimes envolvendo tráfico de drogas, sexo e abuso de poder começam a surgir e aos poucos, a ligação entre eles começa a aparecer.

Assim como no livro anterior, revelar muito do enredo seria dar spoilers para estragar a surpresa de quem ainda vai se aventurar por essas páginas, logo, não vou contar muito da história, pois quanto menos se souber, melhor e mais surpreendido o leitor ficará.

Agora que já me "acostumei" com todos aqueles nomes estranhos, mesmo que alguns me pareçam impronunciáveis de forma que eu mal consigo ler, o único ponto não tão favorável em meio a trama bastante sólida, foi o fato dos protagonistas continuarem mostrando mais camadas de suas personalidades sendo que eles já haviam sido apresentados, então, pra mim, mesmo que o caso tenha mexido com eles a ponto de eles ainda carregarem alguns fardos, continuar falando deles acabou sendo uma distração para o suspense e os mistérios a serem descobertos.

Olivia/Rivera, apesar de, às vezes, se comportar como uma adolescente, continua seguindo sua vida, e embarcar em mais uma investigação, mesmo após sua decisão depois de ter se formado como policial, a leva a fazer algumas escolhas no meio do caminho, algumas delas bastante improváveis inclusive, e assim como Tom, que continua lidando com suas lembranças, e muitas delas muito ruins, eles seguem lutando contra seus demônios e tomando decisões que, a longo prazo, terão consequências irreversíveis e que poderão recair sobre os futuros casos que surgirão.

Em suma, mesmo que a história comece num ritmo um pouco mais lento e introdutório, é bastante dinâmica quando os acontecimentos começam a se desenrolar. Há muita tensão, descrições sobre vários lugares diferentes fazendo do livro uma enorme viagem, e os personagens são muito humanos e convincentes, principalmente quando o passado de cada um deles vem à tona revelando ainda mais de suas experiências e histórias de vida. Os casos são resolvidos de forma conclusiva, mas fica no ar a ideia de que alguma coisa relacionada ao tal crime ainda poderá acontecer futuramente.
Assim como no primeiro livro, os autores fazem algumas críticas sociais delicadas mas importantes e dignas de reflexão.

Não acho que Terceira Voz tenha superado o primeiro livro. Por mais que a história seja complexa e intrigante, não senti que tenha sido tão sofisticada e convincente quanto a primeira, mas é prato cheio para os leitores que gostam de histórias contadas sobre várias perspectivas e que trazem crimes horríveis e um grandes mistérios a serem desvendados.


Maré Viva - Cilla & Rolf Börjlind

5 de maio de 2017

Título: Maré Viva - Olivia Rönning & Tom Stilton #1
Autores: Cilla e Rolf Börjlind
Editora: Rocco
Gênero: Thriller/Suspense/Policial
Ano: 2015
Páginas: 512
Nota:★★★★☆
Sinopse: Olivia Rönning é uma jovem estudante da Academia de Polícia. Filha de um policial do departamento de homicídios, seu faro para juntar pistas e resolver mistérios é posto à prova quando resolve investigar um caso não concluído, prestes a parar no arquivo morto da polícia, como trabalho de faculdade. Trata-se do assassinato de uma mulher grávida, ocorrido na gelada e chuvosa ilha de Nordkoster, em 1987. O que Olivia não imagina é que a investigação trará muito mais perguntas do que soluções, a começar pelo misterioso desaparecimento do policial responsável pelo caso, entre outras descobertas surpreendentes.

Resenha: Maré Viva (Spring Tide) é um fenômeno que ocorre quando o Sol e a Lua se alinham com a Terra interferindo na altura das marés. Numa noite, em 1987, na enseada da ilha de Nordkoster, na Suécia, uma jovem grávida fora levada para a praia por três pessoas e enterrada até o pescoço para que a maré alta (mais alta do que o normal devido ao fenômeno) a afogasse lentamente. O crime cruel não foi solucionado, e tampouco a identidade da mulher foi descoberta. Vinte e três anos depois, quando esse caso estava prestes a ir pro arquivo morto da polícia, Olivia Rönning, uma jovem estudante da Academia de Policia, usa o caso para um trabalho do curso, mas se surpreende ao descobrir que um dos policiais responsáveis pelas investigações na época era seu pai, que trabalhava no departamento de homicídios. Olivia, então, determinada a seguir os passos do pai, decide investigar colocando suas habilidades à prova, e se munindo da tecnologia atual como forma de auxílio para que novas pistas possam ser descobertas, mas o que ela não esperava era encontrar mais perguntas do que respostas...
Paralelamente a esta investigação, uma onda de crimes brutais contra uma comunidade de sem-teto começa a acontecer pela cidade, e novas investigaçoes, buscas e verdadeiras caçadas começam a ser feitas.

Maré Viva é um livro particularmente difícil de ser resenhado por ter muitos detalhes e personagens interligados, logo, falar demais sobre o que acontece e sobre quem está envolvido acaba estragando a surpresa, por isso vou focar um pouco mais na minha opinião geral sobre o que a leitura me proporcionou.

Narrado em terceira pessoa através de vários pontos de vistas diferentes, o suspense é intrigante, envolvente, em muitos pontos arrepiante, e é impossível não se pegar pensando nas situações que acontecem alí durante dias a fio.
A trama se desenrola levando o leitor para várias direções quando trata do assassinato da grávida e dos ataques ao grupo de sem-teto, pois o primeiro não foi resolvido e o atual é um caso em que a polícia está falhando para solucionar. Aparentemente os casos não tem ligação alguma, até mesmo devido ao tempo entre os dois, mas a medida que as investigações de Olivia progridem, os casos começam a se entrelaçar, e contar com a ajuda de Tom Stilton, que foi parceiro do pai dela na investigação do primeiro crime, vai revelar muito mais do que o esperado.

É até comum nos depararmos com elementos já conhecidos em obras do gênero, como criminosos perigosos e cruéis que cometem assassinatos terríveis, violência, exploração, políticos ou empresários corruptos que começam a ser expostos, dezenas de suspeitos e reviravoltas que nos tiram o fôlego, mas a forma como a trama e a subtrama foram conduzidas pelos autores, principalmente se considerarmos a ambientação e o clima gelado, torna tudo muito real, convincente e muito intenso.
Vários detalhes surpreendem muito e dependendo da atenção dada ao que foi lido é possível conseguir prever o que pode acontecer, mas nem sempre isso acontece o que faz com que cada acontecimento seja uma surpresa.

Embora o livro esteja recheado de temas pesados, ainda é possível nos depararmos com alguns momentos bem humorados que, por mais que contrastem com as investigações, não tiram o foco do que realmente importa.
Olívia e Tom são muito bem construídos e convencem por suas personalidades, pela forma de pensar e por suas escolhas. Ela é uma mulher admirável. Durante as investigações é possível perceber o quanto ela se importa com as vítimas e como ela lida diante dos crimes e de suas descobertas.
Tom é um homem inteligente e bastante respeitável, e através dele podemos conhecer o lado daqueles que ficam às margens da sociedade, como são discriminados e por que fazem escolhas ruins para suas vidas.
Mesmo que eles sejam o oposto e a diferença de idade seja grande, eles são bem parecidos no que diz respeito a força pessoal na busca por justiça.

A única ressalva que tenho, além dos nomes de pessoas e locais dos quais muitos não soube nem como pronunciar por conta daqueles acentos malucos (o livro é um romance escandinavo, logo se preparem para nomes bem estrambólicos), é sobre alguns pontos que parecem terem ficados soltos, como se, talvez pela quantidade de personagens, alguém estivesse alí sem um propósito realmente importante ou sem a devida profundidade.

Pra quem gosta do gênero policial é livro mais do que indicado. O equilíbrio entre os temas foi feito com maestria, há algumas críticas sociais bastante relevantes, os personagens são ótimos e a leitura de forma geral foi super satisfatória.

Arma de Vingança - Danilo Barbosa

15 de fevereiro de 2017

Título: Arma de Vingança
Autor: Danilo Barbosa
Editora: Universo dos Livros
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2015
Páginas: 240
Nota:★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Como uma deusa cruel e vingativa, destruirei todos que estiverem em meu caminho...
O que você seria capaz de fazer por vingança? Suportaria uma vida cercada de mentiras, traições, dores, crime e morte? Ana sobreviveu. Pagou o seu preço com marcas que o tempo nunca será capaz de apagar. Deixou para trás toda a inocência de criança para dar lugar a uma mulher fria e calculista, disposta a ser a perfeita arma de execução contra aqueles que tentaram destruí-la. Para conseguir os seus objetivos, não terá limites: irá mentir, enganar, seduzir e trair... Sem remorsos ou pena daquele que um dia julgou amar. Prepare-se para ouvir a história de Ana. Caminhe na tênue linha entre a paixão e a obsessão e veja como até os príncipes encantados tem o seu lado sombrio. Afinal, esta não é uma história de amor.

Resenha: Arma de Vingança, escrito pelo autor Danilo Barbosa e publicado pela Universo dos Livros, não é uma história de amor. O livro conta a história de Ana, uma mulher cujo passado conturbado ainda a atormenta e por isso ela tenta levar a vida sem deixar se abalar. Até que ela conhece Ricardo, um homem que, a princípio, parece ser o cara dos sonhos de qualquer mulher. Ele a trata bem e a protege, sempre fazendo com que ela se sinta segura e muito amada. Mas o que Ana não sabe é que seu "príncipe encantado" tem planos sombrios, e tais segredos podem acarretar em um final nada feliz...

Narrado em primeira pessoa, Arma de Vingança aborda temas pesados e difíceis de se lidar, que é o caso da violência e dos abusos sofridos por uma mulher, e o comportamento que surge e se desenvolve a partir dessas experiências traumáticas. Mesmo tendo essa pegada mais sombria, o que me agradou foi me deparar com uma protagonista que, por ter um passado trágico, agora é movida pelo desejo de vingança, e promete fugir de qualquer estereótipo já imposto para personagens femininas.
"Aqui, diante de você, contarei em detalhes a minha história, finalmente. Se em algum momento eu parecer cruel, insensível ou uma grande cretina, peço que me desculpe, mas fui mesmo. Não estou aqui para ser julgada pelos meus atos. Considerando o que fizeram comigo, eu fiz o que achava justo. E se errei, espero que Deus me perdoe..."
- Pág. 12
Ana, depois de tudo o que passou e ter conseguido sobreviver ao pior que alguém poderia lhe fazer, perde a inocência e a esperança que já fizeram parte dela um dia, e se torna uma mulher extremamente fria, calculista e disposta a destruir sem a menor piedade aqueles que a machucaram de alguma forma. E ela fará de tudo para alcançar seus objetivos, não importa até onde tenha que ir pra isso. As atitudes dela, as escolhas que faz, o caminho que percorre podem soar erradas e exageradas, dependendo do ponto de vista do leitor, mas posso afirmar que são escolhas carregadas de audácia e coragem, que são compreensíveis, mas talvez melhores aceitas por pessoas mais frias ou que não se apegam a sentimentalismos baratos.

A escrita do autor é formal e rebuscada, mas muito fluída. Alguns capítulos são narrados por outros personagens, dando novos pontos de vista à trama a partir de seus pensamentos e tornando a história mais envolvente. Os personagens são bem construídos e suas particularidades tornam a história mais intensa, despertando no leitor ódio e simpatia e todo momento.

Arma de Vingança é uma história que não nos apresenta somente uma protagonista forte e decidida, mas uma mulher que descobriu formas nada convencionais de lidar com os problemas e de superar traumas que poderiam destruir sua vida. Cabe ao leitor avaliar os fatos a fim de tantar compreender seus motivos, e, quem sabe, torcer para que sua vingança seja bem sucedida...
Um livro curto e de leitura rápida que aborda a maldade e a crueldade num nível que muitos sequer podem imaginar, mas também as consequências que partem daqueles que têm coragem o bastante para enfrentar seus piores pesadelos...

Último Turno - Stephen King

4 de dezembro de 2016

Título: Último Turno - Bill Hodges #3
Autora: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2016
Páginas: 384
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Brady Hartsfield, o diabólico Assassino do Mercedes, está há cinco anos em estado vegetativo em uma clínica de traumatismo cerebral. Segundo os médicos, qualquer coisa perto de uma recuperação completa é improvável. Mas sob o olhar fixo e a imobilidade, Brady está acordado, e possui agora poderes capazes de criar o caos sem que sequer precise deixar a cama de hospital. O detetive aposentado Bill Hodges agora trabalha em uma agência de investigação com Holly Gibney, a mulher que desferiu o golpe em Brady. Quando os dois são chamados a uma cena de suicídio que tem ligação com o Massacre do Mercedes, logo se veem envolvidos no que pode ser seu caso mais perigoso até então. Brady está de volta e, desta vez, não planeja se vingar apenas de seus inimigos, mas atingir toda uma cidade.
Em Último turno, Stephen King leva a trilogia a uma conclusão sublime e aterrorizante, combinando a narrativa policial de Mr. Mercedes e Achados e perdidos com o suspense sobrenatural que é sua marca registrada.

Resenha: Último Turno, o terceiro volume da trilogia Bill Hodges, encerra a trajetória do detetive Kermit e seus amigos Holly e Jerome, que se iniciou em Mr Mercedes, na caçada pelo serial killer Brady Hartsfield. Achados e Perdidos, o segundo livro, mostrou uma história que não tinha o foco totalmente no assassino da Mercedes, mas funcionou como um pontapé de transição para o que viria no final. Neste desfecho, que tem o toque sobrenatural característico de King, o autor fecha a série com maestria e mais uma vez reafirma o porquê de ser o Rei do Terror.

No encerramento do volume anterior, ficou a certeza de que Último Turno viria com um pouco de sobrenatural, o que contraria a ideia de que a trilogia é inteiramente policial. A trama se desenrola de uma maneira que se torna crível e aceitável como sobrenaturalidade é inserida, apesar das reações dos personagens serem muito brandas quanto a isso. Em nota, King deixou explicado seu embasamento para aliar o tema suicídio com o sobrenatural. Este é, infelizmente, um problema real e que deve ser discutido.

Brady, o grande assassino do City Center, é a grande estrela de tudo. É até injusto com Hodges, que dá nome para a trilogia, não ser considerado o centro das atenções. Hartsfield, que passou um tempo em estado vegetativo no quarto 217, despertou e quer vingança. Mais uma vez, mantendo a personalidade afiada e malvada do personagem, o autor mostrou, no tempo que Brady apareceu, como ele merece todo mérito por tornar Último Turno o livro bom que é. Além da inteligência e humor mordaz, os pensamentos do vilão podem despertar tanto medo como humor de quem lê. É bom ver como um antagonista como ele consegue ser perverso e mesmo assim angariar certa simpatia por ser como é.

Já Bill, Holly e Jerome, que em suma poderiam ser acréscimos significativos para a trama, não têm um brilho muito grande. Hodges, que é acometido por um grande problema pessoal, passa boa parte da história se lamentando e se sentindo inseguro. Jerome, em sua pequena aparição, serve apenas como um “complemento” no que é necessário, como ajudar o detetive a ir atrás de Brady. Holly, antes instável e cheia de problemas emocionais, se mostrou uma mulher mais decidida e sua perspicácia é admirável. Entretanto, o trio não serve para engrandecer a trama; isso se dá devido a outros fatores, como o desenvolvimento do enredo e antagonista.

A narrativa é dividida em partes com títulos e em cada uma delas há uma situação diferente, que acontecem paralelamente para contribuir para o ato final. O ritmo acelerado da narração aliada a uma estrutura muito bem executada, em que cada capítulo é bem curto e traz sempre um acontecimento interessante que cria bons ganchos, contribuem para aguçar a curiosidade do leitor. Stephen trabalha de uma forma bem particular a personalidade de cada componente da trama e, como o livro tem retratos sobre suicídio, como o fascínio do próprio Brady, todos os pequenos trechos que não estão focados nos protagonistas são bem aproveitáveis e inseridos no momento certo.

Último Turno encerra a trilogia deixando uma missão cumprida. A estreia de King no universo policial foi feita com o pé direito, trazendo uma trama muito bem desenvolvida e um antagonista capaz de deixar saudades no leitor. O final, que é mostrado de uma forma um pouco rápida, deixa a sensação que faltou um trabalho maior no grand finale, já que o livro todo teve um nível altíssimo de tensão. As situações impostas aos personagens no fim são complexas demais para terem sido resolvidas tão facilmente. Porém, o que mais vale nas histórias de Stephen King são as viagens pelas quais elas nos levam, não importando o destino final.

Achados e Perdidos - Stephen King

12 de agosto de 2016

Título: Achados e Perdidos - Bill Hodges #2
Autora: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2016
Páginas: 350
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: “- Acorde, gênio.”
Assim King começa a história de Morris Bellamy. O gênio é John Rothstein, um autor consagrado que há muito abandonou o mundo literário. Bellamy é seu maior fã e seu maior crítico. Inconformado com o fim que o autor deu a seu personagem favorito, ele invade a casa de Rothstein e rouba os cadernos com produções inéditas do escritor, antes de matá-lo. Morris esconde os cadernos pouco antes de ser preso por outro crime. Décadas depois, é Peter Saubers, um garoto de treze anos, quem encontra o tesouro enterrado. Quando Morris é solto da prisão, depois de trinta e cinco anos, toda a família Saubers fica em perigo. Cabe ao ex-detetive Bill Hodges e a seus ajudantes, Holly e Jerome, protegê-los de um assassino agora ainda mais perigoso e vingativo.

Resenha: Um fã maluco. Um escritor assassinado. Uma trama atemporal envolvendo uma pacata família americana após a crise de 2009. Na sequência de Mr Mercedes, Stephen King apresenta aos leitores a história de Bellamy, um fanático que matou um escritor famoso na década de setenta. Já no século XXI, conhecemos Peter Saubers, que de uma forma inesperada acaba tendo sua vida ligada aos fatos que ocorreram no passado. É ai que entra o detetive Bill Hodges, juntamente com Jerome e Holly, para resolver esse mistério. Achados e Perdidos é uma continuação inusitada e cheia de tensão, que me fisgou do começo ao fim.

A primeira parte do livro, exatamente cento e trinta e duas páginas, conta todo o decorrer dos fatos que envolvem Morris Bellamy, o assassino de John Rothstein, o gênio. Ao mesmo tempo, em capítulos intercalados, conhecemos Peter Saubers, um garoto de apenas 13 anos que descobre o tesouro enterrado pelo assassino do escritor da famosa trilogia O Corredor. Neste começo da trama, há uma introdução do que virá na segunda parte, e diga-se de passagem, foi tudo feito de maneira excelente. A narrativa de Stephen, mais uma vez belíssima, transcorre de forma natural ao apresentar os personagens. Ambos, o menino e o assassino, são trabalhados de forma a entregar somente um pouco da personalidade, deixando o melhor para depois. É como se o autor estivesse fazendo uma breve apresentação, inclusive à família de Peter. É dessa maneira que descobrimos também que Tom, o chefe da família Saubers, estava no massacre do City Center e que há uma relação. Sim, o incidente que tirou a vida de algumas pessoas, deixou uma dezena de feridos e do qual Bill Hodges foi responsável por prender o criminoso. Em um primeiro momento, pude jurar que o segundo livro traria uma história independente, mas me enganei.

A segunda parte começa com a aparição do ex-detetive aposentado, Bill. Junto com ele surgem Holly e Jerome. O dissabor começa aí, com uma trama que corre feito um foguete e não tem tempo hábil para mostrar um pouco mais do lado bom desses três personagens. Tudo transcorre de uma maneira acelerada, os mistérios são solucionados de forma fácil, como somar um mais um. É como se Holly, a mulher de meia idade que acompanha Hodges em suas investigações, tivesse uma intuição capaz de desvendar qualquer mistério. Desse modo, o que poderia se tornar uma boa charada e um quebra-cabeça, se dissolve totalmente. Jerome, o garoto negro, gosta de fazer umas piadas que não se encaixam no contexto. O trio por si só não consegue capturar totalmente a atenção para eles, e todos os holofotes são voltados para o vilão. Ele foi o responsável por me fazer ficar sentado na beira da cadeira, de fazer meu coração bater muito rápido com a sucessão de acontecimentos e de sua insanidade, tal como Brady, o vilão de Mr. Mercedes. Quem dá nome a trilogia, Bill Hodges, se mostra muito apático e sem brilho. É como se ele fosse um mero coadjuvante, deixando o espaço para Morris e Peter brilharem.

As motivações que levam Morris a matar o escritor e roubar os manuscritos não ficaram tão claras para mim. Acredito que aqui, é possível fazer uma comparação com casos conhecidos como John Lennon, que foi assassinado a tiros por um fã, ou a cantora Selena, que foi morta pela presidente de seu fã-clube oficial. Nessas situações a maior pergunta que nos fica é como funciona a mente de quem comete tais ações. Os demais acontecimentos que resultam no ato final são um pouco contraditórios, e Peter, que no começo me ganhou pelas atitudes nobres, acabou se mostrando completamente incapaz de pensar racionalmente, em vista da situação de perigo em que sua família estava.

Achados e Perdidos é uma ótima continuação para uma trilogia que se iniciou com Mr Mercedes. Aqui, infelizmente, não há um personagem principal louvável: Bill cumpre seu papel, mas está longe de ser o melhor mocinho que já conheci. Em compensação, King trouxe o melhor que há em termos de vilões e que me faz torcer desesperadamente por eles (será que tem algum mal nisso?). O primeiro volume foi o pontapé inicial de Stephen no gênero policial, que para mim parece mais um thriller, e a expectativa era grande sobre isso. Neste segundo, posso dizer que é um livro de altos e baixos. O autor pode não ter tido êxito na criação do detetive, mas ele com certeza é um bom contador de histórias e sabe como prender a atenção do leitor. O final, que com certeza me deu um bom susto, traz uma pitada do sobrenatural (característica marcante de King) e reforça a ideia que O Último Turno, o encerramento da trilogia, será o mais inusitado de todos.

O Mirante - Michael Connelly

5 de julho de 2016

Título: O Mirante - Harry Bosch #13
Autor: Michael Connelly
Editora: Suma de Letras
Gênero: Policial/Suspense
Ano: 2008
Páginas: 196
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em seu primeiro caso desde que deixou o Departamento de Crimes Não-Resolvidos da polícia de Los Angeles para participar do prestigiado Esquadrão Especial de Homicídios, Harry Bosch foi chamado para investigar um assassinato que pode trazer conseqüências para a segurança nacional.
Um médico envolvido em experimentos com uma perigosa substância radiativa é encontrado morto em um mirante. Bosch, após investigar os últimos momentos de vida do médico, descobre que uma grande quantidade de césio fora roubada pouco antes de seu assassinato. E com o césio em mãos criminosas, Harry cogita a possibilidade de que a morte do médico seja parte de um ataque terrorista a um prefeito norte-americano.
Agora Bosch está em uma corrida contra o tempo, tendo que superar outros obstáculos para capturar os culpados. Entre os obstáculos, encontra-se o todo poderoso FBI, que acredita que o caso é muito grande para ser solucionado por alguém acostumado com os casos de Los Angeles, repletos de clichês. Será a oportunidade para Harry Bosch provar que o FBI está equivocado.

Resenha: Michael Connelly é um escritor norte americano que ficou conhecido por escrever romances policiais que se tornaram best-sellers em vários países. Sua série mais conhecida, leva o nome do protagonista, o detetive do Departamento de Polícia de Los Angeles, Harry Bosch. Bosh se tornou também, protagonista de uma série de TV, com o mesmo nome e com uma qualidade e fidelidade incríveis, a qual vale a pena conferir.
Para minha surpresa, O Mirante é o 13º livro da série e, além de não ter sido publicada totalmente por aqui, saiu por duas editoras diferentes, o que torna praticamente impossível achar os "primeiros" livros para comprar (choremos juntos). Mas a boa notícia é que, após ler o livro percebi que como cada livro trata de um caso diferente do detetive, não nos sentimos tão perdidos assim, consegui acompanhar perfeitamente o enredo.

Harry estava à espera daquela ligação que chegou à meia noite, procurado pelo chefe do departamento para investigar um corpo encontrado no mirante de Mulholand Drive. O que Harry não sabia era que o FBI imaginava que a vítima tinha sido feita para que os assassinos tivessem acesso a uma grande fonte de césio, um material altamente radioativo e de um valor inestimável, pois poderia tanto ser utilizado em hospitais para o tratamento de câncer como por terroristas.

E era aí que o FBI entra na investigação, passando o caso de mera investigação de homicídios para um caso de proteção à Segurança Nacional. O problema, além da interferência Federal direta em sua investigação, era que a agente escolhida pelo Bureau era ninguém menos que Rachel Walling, um caso mal resolvido do passado.

Assim, nas próximas 12 horas estava formada uma corrida contra o tempo e travada uma luta de gigantes dentre as autoridades estaduais e federais que somente Bosh, com sua experiência e temperamento, consegue lidar. Bosh é impetuoso, arrogante, não lida bem com regras, mas extremamente perspicaz, apaixonado por seu trabalho e experiente, e é exatamente isso que o leva ao desfecho de mais esta investigação.

Eu sou completamente apaixonada por protagonistas anti-heróis. Para mim, Harry é um personagem forte, que leva seu trabalho muito a sério, ainda que não de maneira muito ortodoxa, o que me lembrou do personagem "House" da série médica de TV.

Michael Connelly se mostrou um escritor objetivo, com foco proeminente no suspense policial e no enfoque político que o caso possui ao tratar de terrorismo nos EUA após 11 de setembro. Trata-se muito mais do que uma ameaça terrorista, trata-se do terror social que uma nação desenvolveu após uma tragédia incomensurável.

O autor não deixou lacunas, utilizou-se completamente de todas as pistas e situações criadas ao longo da trama para dar o desfecho final ao caso, ainda que de forma previsível. Eu sou fã de previsibilidade desde que o decorrer das ideias condizam com o final e foi o que encontrei aqui, o romance é tão frenético, a caçada é tão necessariamente urgente que você se vê rapidamente envolvida pelo livro, engolido pela história e tendo que parar para não perder nenhum detalhe e ficar perdido quando o caso é resolvido.

Mas nem tudo são flores. Na minha opinião, todo livro ágil perde conteúdo e fica um pouco superficial demais e, assim como em Ecko Park, caso se torne filme ou série, os roteiristas terão que fazer várias adaptações e retardar a descoberta dos criminosos ou dificultar sua captura.

Além disso, é necessário dizer que adoro páginas brancas (não ficam amareladas com o tempo), contudo, para mim, o mais angustiante de tudo é que a tradução está terrivel, sim, é duro encontrar frases como : "- Onde cê tá?" ou "- O que cê tá fazendo?" mesmo quando o diálogo seja entre dois policiais e se queira das um ar descolado ou impessoal ao diálogo. Foi triste e eu adoraria reler uma edição corrigida de forma a fazer jus à história, ao autor e com certeza à editora.
Apesar disso, eu recomendo muito esta leitura que me proporcionou horas prazerosas.

Vocação para o Mal - Robert Galbraith

7 de junho de 2016

Título: Vocação para o Mal - Cormoran Strike #3
Autor: Robert Galbraith
Editora: Rocco
Tradutora: Ryta Vinagre
Gênero: Romance Policial
Ano: 2016
Páginas: 496
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Quando um misterioso pacote é entregue a Robin Ellacott, ela fica horrorizada ao descobrir que contém a perna decepada de uma mulher. Seu chefe, o detetive particular Cormoran Strike, fica menos surpreso, mas não menos alarmado. Há quatro pessoas de seu passado que ele acredita que poderiam ser responsáveis por tal crime – e Strike sabe que qualquer uma delas seria capaz de tamanha brutalidade. Com a polícia concentrada no suspeito que Strike cada vez mais tem certeza de não ser o perpetrador, ele e Robin assumem o problema e investigam os mundos sombrios e percertidos dos três outros homens. Mas vários atos horrendos seguem acontecendo, e o tempo está se esgotando para os dois...

Resenha: Vocação para o Mal é o terceiro volume da série Cormoran Strike escrito por Robert Galbraith (pseudônimo de J.K. Rowling. O livro foi lançado pela Editora Rocco. Como as investigações são pontuais, não é necessário que os livros sejam lidos na ordem de lançamento para que sejam compreendidos, mas recomendo manter a ordem pois assim fica mais fácil nos familiarizarmos com a personalidade dos personagens.
A resenha está livre de spoilers.

Começamos a história sob o ponto de vista do assassino, que segue e observa Robin Ellacott e seu noivo, ou como ele prefere chamá-la, A Secretária. O assassino nutre um sentimento de vingança por Strike, pois segundo ele, se não fosse pelo detetive seu filho ainda estaria vivo, e ele pagaria por isso...
Logo depois, num dia corriqueiro, Robin recebe um mensageiro e ele lhe entrega um pacote endereçado a ela, mas para seu completo espanto, ao abrí-lo, a moça se depara com uma perna decepada de uma mulher. Strike também fica alarmado com o ocorrido mas não demora a bolar teorias de quem pudesse ser o responsável por tal atrocidade, afinal, no passado ele fez alguns inimigos e todos eles teriam algum motivo para arruiná-lo. Uma das formas mais eficazes para a vingança ser posta em prática seria usar sua assistente para atingí-lo.
Logo a polícia está envolvida nas investigações concentrando seus esforços no suspeito que Strike acredita não ser o culpado, então restam outros três a quem investigar, mas devido ao enorme tempo que se passou desde os últimos contatos, Strike não faz ideia do paradeiro de nenhum deles. Junto com Robin, Strike percorre o Reino Unido a fim de entrevistar pessoas que podem ajudá-los na investigação até que eles descubram quem é o assassino, mas enquanto isso outros atos horrendo continuam a acontecer. Eles vão precisar correr contra o tempo para impedir outras mortes e para salvarem as próprias vidas.

Diferente dos demais, Vocação para o Mal não parece fazer uma crítica explícita aos podres da sociedade ou do funcionamento de alguma determinada indústria, e desta vez não se trata de um caso onde Strike é contratado por alguém para que possa investigar o ocorrido. Trata-se de uma vingança pessoal e bem elaborada vinda de uma pessoa misteriosa de seu passado que quer atingí-lo através de Robin.
A narrativa não é linear e é feita em terceira pessoa. Alguns capítulos são destinados aos passos do próprio assassino e os demais se alternam entre Strike e Robin. Como sempre, a escrita é única e fluída, as descrições são feitas com perfeição e pois mais que a trama apresente elementos horrendos e cenas pavorosas, há sutileza o suficiente para instigar o leitor, mantendo a curiosidade pela resolução do caso e o convidando a permanecer na leitura até o fim. As pistas são ligeiras, às vezes são praticamente imperceptíveis, e mesmo que haja bastante tensão devido ao teor dos crimes e à mente perversa e doentia do assassino, o leitor não se perde desde que mantenha a atenção constante.
O tema é pesado e pouco explorado na ficção. O autor se aprofundou na acrotomofilia, ou seja, naquelas pessoas que possuem preferência sexual por quem tenha tido alguma parte do corpo amputada, assim como aquelas que têm fetiche por autoflagelação.

Os personagens continuam muito bem explorados e construídos e os protagonistas tiveram mais de si mesmos revelados, afinal, como os suspeitos tiveram uma relação com Strike, essa volta ao passado faz com que seja possível conhecermos sua história mais a fundo e isso o leva a relembrar do que precisou enfrentar, despertando seus fantasmas e o fazendo refletir. Como Robin também está diretamente envolvida, vários fatos sobre ela também vem à tona. A trama atinge um ponto em que a investigação parece ficar em segundo plano para que as relações interpessoais dos protagonistas sejam trabalhadas, e o casamento de Robin, que está se aproximando, assim como suas brigas com Matthew, focam em algo que não diz respeito ao gênero policial propriamente dito, mas servem para intensificar ainda mais a relação entre Robin e Strike. Eu confesso que o vejo mais como um mentor para Robin do que outra coisa e não gostaria que o relacionamento dos dois fosse além da amizade e da parceria profissional que eles têm, independente da química que eles tenham juntos, mas posso dizer que se futuramente esse relacionamento alcançar outro nível, não vai ser surpresa nenhuma pra mim, independente do que será feito com Matt, a quem não nutro simpatia alguma, muito pelo contrário. Torço pra que Robin fique livre desse peso morto o quanto antes...

O trabalho gráfico do livro é simples e muito bem feito. A capa combina com as dos volumes anteriores e, como sempre, remete ao mistério. As páginas são amarelas e a fonte tem um tamanho agradável. Os capítulos são curtos e são iniciados por um trecho de alguma música da banda Blue Öyster Cult e pode ser interessante fazer a ligação desses trechos com o que o capítulo em questão nos reserva.

Embora tenha considerado este livro o melhor da série até então, esse excesso de informações e detalhes sobre as particularidades dos personagens acaba deixando a leitura mais lenta do que eu gostaria, assim como desvia a atenção e atrapalha as suposições do leitor com relação aos crimes. Talvez esse seja o propósito, fazer com que haja outros elementos que desviem nosso foco para dificultar os palpites sobre quem é o assassino, mas acho que se os detalhes fossem apresentados de outra forma, e em menor quantidade, isso não teria sido um problema pra mim na posição de "leitora-investigadora".
De qualquer forma, recomendo muito a leitura da série pra quem gosta do gênero.

Mr. Mercedes - Stephen King

21 de maio de 2016

Título: Mr. Mercedes - Bill Hodges #1
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2016
Páginas: 400
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Ainda é madrugada e, em uma falida cidade do Meio- Oeste, centenas de pessoas fazem fila em uma feira de empregos, desesperadas para conseguir trabalho. De repente, um único carro surge, avançando para a multidão. O Mercedes atropela vários inocentes, antes de recuar e fazer outra investida. Oito pessoas são mortas e várias ficam feridas. O assassino escapa. Meses depois, o detetive Bill Hodges ainda é atormentado pelo fracasso na resolução do caso, e passa os dias em frente à TV, contemplando a ideia de se matar. Ao receber uma carta de alguém que se autodenomina o Assassino do Mercedes, Hodges desperta da aposentadoria deprimida, decidido a encontrar o culpado. Mr. Mercedes narra uma guerra entre o bem e o mal, e o mergulho de Stephen King na mente obsessiva e psicótica desse assassino é tão arrepiante quanto inesquecível.

Resenha: Qual é a verdade por trás das pessoas? Como podemos definir as ações de alguém? A obra de King (sim, um Rei) é sobre a engenhosidade da mente humana com uma abundância de perversidade. Mr Mercedes é um livro de construção perfeita, perspicaz e direta. Ao contrário de Sob a Redoma, único contato que tive com o autor, a história do detetive aposentado Bill Hodges é recheada com elementos mais cotidianos e menos fantasiosos: um assassinato em massa, uma investigação quase infrutífera e personagens comuns envoltos numa trama que flui perfeitamente.

Para aqueles que esperam uma narrativa recheada de elementos sobrenaturais, a Trilogia Bill Hodges vai totalmente na contramão. Na obra, Hodges é apresentado como um ex-detetive aposentado que passa sua vida de forma pacata, sentado no sofá acompanhando programas vespertinos diariamente. Entretanto, essa tranquilidade logo é quebrada por uma carta enviada de um remetente que dá nome ao livro. Após isso, a letargia se rompe na vida de Bill e uma caçada pelo assassino começa.

A princípio, podemos imaginar que estamos acompanhando apenas mais um enredo policial sem grandes surpresas, mas existe certo terror em Mr. Mercedes. Primeiro, porque o assassino é conhecido pelo leitor logo no início da trama. Curioso, não? Enquanto a maioria dos autores guarda o suspense de "quem matou fulano" para o final, Stephen já deixa a identidade de Brad Hartsfield clara desde o início. Mas quem seria esse pacato rapaz de vinte e poucos anos que vende sorvete pelas ruas num carro tocando uma música alegre? Há certa psicopatia no personagem, e isso é visível pelos pensamentos que são expostos ao longo da narrativa. O homem tem uma passado conturbado que pode, em partes, justificar suas atitudes presentes. Acompanhar todas as ações e pensamentos de Hartsfield é como estar diante de um noticiário no qual já estamos acostumados a ver, porém, aqui a mente do criminoso é exposta com muitos detalhes. O vilão é jovem, inteligente e dissimulado. Um tipo de pessoa que podemos conviver diariamente.

Do outro lado dessa moeda há Bill Hodges, um senhor na casa dos sessenta anos que se vê muito insatisfeito com sua pacata vida de aposentado. Enquanto Brad apresenta características de um assassino psicopata, o ex-detetive mostra mais vulnerabilidade e traços de depressão com o rumo que sua vida tomou. O grande xis da questão aqui é que os dois parecem muito semelhantes em alguns aspectos psicológicos, mas os sentimentos que os movem são completamente distintos. King abre espaço para aprofundamento em cada um deles, seus fantasmas passados e o que os tornou o que são hoje. Juntamente deles, há outros personagens que são bem elaborados e desempenham grande papel em todo o livro. Devo destacar a desmantelada Holly, que pode parecer uma louca no primeiro momento, mas é destemida e de grande ajuda ao ex-detetive.

Toda trama de Mr. Mercedes é engenhosa e cheia de situações muito cotidianas e personagens bem construídos. Tratado como o Rei do Terror, King apresenta aos leitores uma história mais comum com traços macabros de crueldade. A narrativa, muito linear, caminha para o final nada surpreendente, mas esperado, que não nos deixa completamente extasiados e surpresos. Então, o que a perseguição entre gato e rato que Stephen criou tem de atrativo? Dois homens aparentemente comuns que buscam intensamente seus objetivos. Brad Hartsfield é movido pelo desejo de matança. Bill Hodges quer detê-lo a qualquer custo. E assim temos a jornada de acontecimentos surpreendentes do primeiro volume da trilogia Bill Hodges: um livro ideal para os amantes de suspense.

Sombrio - Luke Delaney

27 de março de 2016

Título: Sombrio - D.I. Sean Corrigan #2
Autor: Luke Delaney
Editora: Fábrica 231/Rocco
Tradutora: Márcia Arpini
Gênero: Thriller Policial
Ano: 2016
Páginas: 464
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva
Sinopse: O segundo livro do autor de Brutal traz de volta o sagaz detetive Sean Corrigan, especializado nos casos mais difíceis envolvendo serial killers em Londres. Em sua nova investigação, Corrigan está à caça de um assassino de mulheres que mantém suas vítimas em cativeiro antes de executá-las, com requintes de crueldade. O que essas mulheres têm em comum? Que tipo de obsessão faz com que o assassino aja dessa forma? Vítima de abuso e violência na infância, o detetive sabe que precisa agir estrategicamente e usar seu instinto para identificar o mal, onde ele estiver. E terá que correr contra o tempo antes que novas vítimas em potencial cruzem o caminho do criminoso. Luke Delaney é o pseudônimo usado por um policial que durante anos trabalhou na polícia londrina investigando os crimes mais difíceis da cidade.

Resenha: Sombrio é o segundo volume da série D.I. Sean Corrigan, escrita pelo autor Luke Delaney e publicado no Brasil pelo selo Fábrica 231, da Rocco.

Partindo de onde o primeiro volume parou, começamos acompanhando o progresso do caso anterior nos tribunais. Sean, por ter obtido sucesso no caso anterior, ficou responsável pelo caso de um desaparecimento que, aparentemente, era incomum para o detetive. Jovens mulheres, de forma repetitiva e por um período determinado como num ciclo, começaram a ser sequestradas em plena luz do dia, mantidas em cativeiro, assassinadas cruelmente e jogadas em florestas para serem encontradas. O trabalho da polícia então se resume a encontrar as mulheres antes que elas sejam mortas e desovadas pelo assassino, e Sean começa a investigar mais a fundo para saber o que as mulheres têm em comum para chamar a atenção dele e o que esse maníaco quer.

A narrativa é feita em terceira pessoa e se alterna entre os pontos de vista de Sean e do assassino, Thomas Keller, que já é apresentado logo no começo do livro sem que haja mistério algum sobre sua identidade. Então, embora Sean ainda não saiba, o leitor sabe quem é o homem por trás desses crimes e a abordagem acaba se tornando bastante diferenciada pois ficamos torcendo para que o detetive descubra logo o que está acontecendo através de suas investigações e o desenrolar da história nos mostra como os eventos que se passam chegam ao fim, evidenciando as motivações dos personagens e dando ao leitor uma visão ampla e profunda sobre cada um deles. O apoio que Sean tem também é muito importante e torna o trabalho de investigação bastante realista.
A escrita é ágil, dinâmica e muito envolvente, mesmo que seja recheada de psicopatia e violência, e acompanhar o detetive tentando pensar como Keller usando de seu passado sombrio para lhe ajudar é incrível. Sean, embora seja o mocinho, ainda carrega um lado obscuro bastante intrigante devido ao que sofreu quando criança, pois ao longo da história, a medida que ele tenta entrar na mente e pensar como o criminoso, a sensação é de que ele faz parte desse mundo terrível e que fica pendendo entre o bem e o mal. E independente da real intenção dele, ainda ficamos presos pra saber mais e mais.

A capa combina com a do livro anterior da série, e esta mostra grades com um cadeado ilustrando o que seria a prisão das mulheres. Mas será que são elas, de fato, as aprisionadas em suas condições?
Não curti muito a tradução do título. O original é "The Keeper" e acho que tem muito mais a ver com o conteúdo da história. Os capítulos são numerados, a diagramação é simples, as páginas são amarelas e não percebi erros de revisão.

Em alguns trechos, até mesmo pela questão do gênero do livro e dos sequestros serem muito parecidos, o livro se torna um pouco repetitivo, mas ainda assim, pra quem gosta de livros policiais e investigativos com uma história bastante crua e sombria vai se deparar com uma leitura empolgante que fará com que o leitor fique com o pé atrás sempre que for atender a porta de casa, ou pensando se aquela pessoa do outro lado da rua é mesmo quem parece ser...

O Túmulo da Borboleta - Anne Cassidy

20 de fevereiro de 2016

Título: O Túmulo da Borboleta - The Murder Notebooks #3
Autora: Anne Cassidy
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Tradutora: Viviane Diniz
Gênero: Juvenil/Policial/Mistério
Ano: 2016
Páginas: 272
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Depois de Hora morta e A morte de Rachel, a série de suspense The Murder Notebooks chega ao seu terceiro volume, O Túmulo da Borboleta, levando os jovens Rose e Joshua a Newcastle, onde o tio de Joshua está internado e onde os dois descobrirão fatos surpreendentes sobre seus pais e o mistério que cerca seu desaparecimento. Decididos a investigar o paradeiro de Kathy, mãe de Rose, e Brendam, padrasto da garota e pai de Joshua, os dois adolescentes se veem enredados numa trama de perigos e segredos que envolve uma tatuagem de borboleta e seis cadernos com anotações em código, mapas e foto que eles terão que desvendar se quiserem descobrir o que realmente aconteceu. E principalmente se quiserem sobreviver.

Resenha: The Murder Notebooks é uma série composta por quatro livros que giram em torno de Rose e Joshua e dos mistérios que rondam suas vidas. Os livros são de autoria de Anne Cassidy e no Brasil são publicados pelo selo Jovens Leitores da Editora Rocco.
No primeiro volume somos apresentados ao casal de irmãos postiços que após o sumiço dos pais foram morar com parentes até se reencontrarem, e a partir daí passaram a procurar os pais enquanto investigavam algum mistério envolvendo assassinatos que eles acabam envolvidos.

Em O Túmulo da Borboleta, terceiro livro da série, a história é iniciada com um acidente nos penhascos de Cullercoats que o tio de Joshua, Stuart Johnson, sofreu, Tio Stu é levado para o hospital em Newcastle e Joshua e Rose partem para a cidade a fim de tomar conta do tio. A presença na cidade onde Joshua e o amigo cresceram é ótima, de uma nostalgia sem tamanho, mas o que eles não esperavam era descobrir uma pilha de provas sobre um caso de assassinato que ocorreu há vários anos além de descobrirem que tio Stu guarda segredos, incluindo o fato de que ele ainda tem contato com o pai de Joshua, Brendam. Com a ajuda de Skeggsie, os garotos conduzem a própria investigação sem imaginar as surpresas que viriam a descobrir...

A leitura é fácil, mas mesmo que seja um thriller voltado ao público juvenil não achei muito fluída, talvez pelo próprio gênero a que se destina. Mas mesmo que o ritmo da leitura e dos acontecimentos sejam lentos, tudo é bastante interessante de se acompanhar.
O livro é narrado em terceira pessoa e um ponto bacana é que a voz narrativa também faz indagações acerca de acontecimentos dos quais os protagonistas estão envolvidos, e dessa forma o leitor é convidado a questionar os detalhes, se atentar às pistas que são deixadas e ter um envolvimento maior com a trama, principalmente no que diz respeito ao desaparecimento dos pais de Joshua e Rose. Enfim é possível saber o que diabos está acontecendo com os pais de Joshua e Rose e esse fato dá um gás maior à leitura pelas peças, enfim, começarem a se encaixar, então posso dizer que a ideia de ler os livros fora de ordem não é tão boa assim, mesmo que os casos paralelos sejam resolvidos em cada um deles...
A trama continua tendo o mesmo estilo dos livros anteriores, em que o mistério principal fica a cargo do desaparecimento dos pais enquanto há outros em pararelo, e nesse caso o mistério é sobre a queda de Sturat nos penhascos e a descoberta do assassinato ocorrido há anos entitulado o Caso Borboleta.
Esse caso também é bastante interessante pois ele é sobre uma garota de dez anos que foi encontrada morta após ter se passado cinco dias em que desapareceu num estacionamento de supermercado e o culpado nunca foi acusado, logo fica no ar o que tal caso tem a ver com tio Stu e o mistério dos pais dos dois protagonistas.
Os personagens sofrem algumas mudanças e um acontecimento inesperado com um deles é responsável por toda uma reviravolta na história.
Joshua costumava ser um jovem tranquilo e pé no chão, mas passa a se tornar bastante grosseiro com Rose além de ficar extremamente individualista e mal humorado. Já Rose passa a ficar acuada devido as represálias de Joshua, mas é partir desses pontos que ela mostra que embora seja tímida e insegura, principalmente com relação ao que sente por ele, tem os sentidos aguçados e é muito inteligente, tanto que decide investigar as coisas sem depender dele.
Um dos pontos que mais gostei foi a exploração acerca do passado de Rose e mais sobre a vida de Joshua e o amigo Skeggsie que se desenrolaram antes do início da série.

A capa também é bem sugestiva pois além de evidenciar a borboleta (que está presente em todos os livros, seja na capa ou na diagramação) mostra o penhasco que é cenário do acidente abordado na história. A tipografia também é ótima pois lembra um scrapbook ou algo relacionado a arquivos. A capa é fosca e há aplicação de verniz sobre a borboleta, títulos e nome da autora, dando um visual bem bonito e caprichado à ela.
As páginas desta edição são brancas, os capítulos são apresentados através de numerais romanos e a cada início deles há uma borboleta ilustrando o canto superior da página. Não percebi erros na revisão e de forma geral o trabalho gráfico é super satisfatório, principalmente pelas capas da série combinarem entre si.

O Túmulo da Borboleta é um volume bastante importante e que acrescenta muito à série e, mesmo que tenha uma carga emocional maior do que os outros livros, já que tráz o passado à tona e ainda se aprofunda num crime bárbaro envolvendo uma criança indefesa mexendo com os sentidos dos protagonistas, mostra personagens vulneráveis mas mais maduros. O mistério é bem desenvolvido e unido isso ao fato de a leitura ser bem sólida, fiquei super curiosa para saber o que virá no próximo livro.


Moriarty - Anthony Horowitz

16 de dezembro de 2015

Título: Moriarty
Autor: Anthony Horowitz
Editora: Record
Gênero: Policial/Mistério
Ano: 2015
Páginas: 350
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Sherlock Holmes está morto, e as trevas avançam.
Dias após Holmes e seu arqui-inimigo Moriarty encontrarem seu fim nas cataratas de Reichenbach, Frederick Chase, um detetive da Agência Pinkerton, chega à Europa vindo de Nova York. A morte do professor Moriarty deixou um vazio no poder que logo foi preenchido por um novo gênio do crime, que ascendeu para tomar o lugar do rival de Holmes. Auxiliado pelo inspetor da Scotland Yard Athelney Jones, um devoto estudioso dos métodos de investigação e de dedução de Holmes, Frederick Chase precisa trilhar um caminho através dos cantos mais escuros da capital inglesa para lançar uma luz sobre essa figura sombria, um homem temido, mas raramente visto, determinado a dominar Londres em uma onda de ameaças e assassinatos.
Chase é auxiliado pelo Inspector Athelney Jones, um detetive da Scotland Yard e estudante devoto do métodos de dedução de Holmes, a quem Conan Doyle introduziu em O signo dos quatro. Os dois homens unem forças para abrir um caminho através das ruas sinuosas de Londres vitoriana – das praças elegantes de Mayfair para os cais e becos sombrios das Docks em busca dessa figura sinistra, um homem muito temido, mas raramente visto, que é determinado a estabelecer seu nome como sucessor de Moriarty.

Resenha: Anthony Horowitz é um autor inglês que obteve reconhecimento e autorização da entidade que protege e administra as obras originais de Sherlock Holmes que Arthur Conan Doyle escreveu no fim do século XIX. A Casa de Seda foi o primeiro caso de Sherlock escrito por Horowitz onde ele traz o famoso detetive de volta através das memórias de seu fiel companheiro Dr. Watson, que narra um caso que investigaram nas gélidas ruas da Inglaterra vitoriana. Este livro foi publicado no Brasil pela Editora Zahar.
Moriarty, lançado pela Record, se trata de uma leitura bastante independente embora seja o segundo livro.

A história começa com uma pequena nota de abril de 1891 retirada do jornal Times de Londres, que traz a informação sobre uma morte de um homem que a polícia ainda não foi capaz de explicar.

As cataratas de Reichenbach foi o local onde o detetive Sherlock Holmes e seu arqui-inimigo, professor James Moriarty, tiveram o seu fim num último confronto. O detetive Frederick Chase, da Agência Pinkerton, ainda tem suas dúvidas quanto aos fatos e alguns dias depois do ocorrido a Scotland Yard envia o Inspetor Athelney Jones, um dedicado estudioso dos métodos que Holmes usava para fazer suas investigações e deduções, para ajudar no novo caso que surgiu, pois tudo indica que o lugar que Moriarty deixou ao morrer foi preenchido por um novo gênio do crime, um homem raramente visto mas determinado a dominar Londres através de ameaças e assassinatos. Será que a dupla terá sucesso ou será que a morte de Sherlock fará com que o crime ascenda em Londres?

Frederick Chase narra e descreve os acontecimentos desta trama ao mesmo tempo em que faz observações sobre suas impressões do caso, indagações e questionamentos sobre alguns pontos ou sobre o que aconteceu com Holmes enquanto era vivo. Gostei da narrativa pois é como se o protagonista estivesse conversando com o leitor. Embora o livro se refira a Holmes, há muito pouco sobre ele! Pode até parecer estranho, mas este livro leva o mundo deste detetive para um nível totalmente novo. Chase e Athelney serão capazes de preencher os lugares que Sherlock e Watson deixaram?

Confesso não ter lido outros livros sobre as aventuras de Sherlock Holmes, mas posso afirmar que minha experiência com este livro superou minhas expectativas. Primeiramente fui fisgada pela capa. O que ela tem de simples, tem de bonita. O azul escuro dá um ar sombrio e misterioso, a água é um elemento bastante sugestivo e as letras rebuscadas dão o toque final. A diagramação é simples, os capítulos são numerados seguidos de um título, as páginas são amarelas e a fonte é grande.
Acho que livros do gênero policial, ao trazerem mistérios que envolvem o leitor ao protagonista, deve fazer com que a maioria dos demais personagens seja um possível suspeito, assim como seus atos sejam questionados para, através dessas pequenas análises, aos poucos, podermos desvendar o mistério que move a trama. Acredito que o autor fez um excelente trabalho pois cada personagem que passou a ingressar a história poderia ser um suspeito.
A história se desenvolve de forma rápida, a cada final de capítulo ficamos ansiosos por novas informações e acontecimentos o que acaba tornando a leitura empolgante. É praticamente impossível largar!

Os personagens de Frederick Chase e Athelney Jones foram muito bem construídos e desenvolvidos ao longo da história. Athelney Jones, que tem acompanhado de perto os métodos de Sherlock Holmes, traz um pouco do famoso detetive para a história. Frederick, por outro lado, traz um ritmo diferente quando perseguições e investigações são feitas. Juntos, eles formam uma dupla admirável. Confesso que a maioria dos meus palpites sobre o culpado foram falhos, logo posso afirmar que Moriarty é um livro com um grande misterio, que leva o leitor a não só participar das investigações, mas também a fazer uma incrível viagem pela Londres vitoriana que o autor descreve com tanta maestria.

O final é bastante estarrecedor e chocante. As pistas estão lá o tempo todo, mas o autor usa de sutilezas para não evidência-las de forma descarada, mantendo a incógnita no ar. Mesmo que o leitor suspeite de algo, não há bases para que as evidências tenham fundamento, pelo menos não inicialmente pois o autor consegue nos enganar direitinho!
Para os fãs de Sherlock Holmes, Moriarty é um prato cheio. E para os fãs de mistérios e romances policiais em geral, também! A história é intrigante e inteligente e vai envolver o leitor do início ao fim!

A Rainha do Castelo de Ar - Stieg Larsson

9 de setembro de 2015

Título: A Rainha do Castelo de Ar - Millennium #3
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção Policial
Ano: 2011
Páginas: 688
Nota: ★★★★★
Sinopse: Mikael Blomkvist está furioso. Furioso com o serviço secreto sueco, que, para proteger um assassino, internou Lisbeth Salander na época com apenas doze anos num hospital psiquiátrico e depois deu um jeito de declará-la incapaz. Furioso com a polícia que agora quer indiciar Lisbeth por uma série de crimes que ela não cometeu. Furioso com a imprensa, que se compromete em pintar a moça como psicopata e lésbica satânica. Furioso com a promotoria pública, que pretende pedir que ela seja internada de novo, desta vez ao que parece para sempre. Enquanto Lisbeth recupera-se num hospital de ferimentos que quase lhe tiraram a vida, Mikael procura conduzir uma investigação paralela que prove a inocência de sua amiga. Mas a jovem não fica parada, e muito mais do que uma chance para defender-se ela quer uma oportunidade para dar o troco. Com a ajuda de Mikael, Lisbeth está muito perto de desmantelar um plano sórdido que durante anos se articulou nos subterrâneos do estado sueco, um complô em cujo centro está o pai dela, um perigoso espião russo que ela já tentou matar. Duas vezes.

Resenha: É difícil expressar com palavras o que a Série Millennium despertou em mim. Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist foi a dupla de mocinhos que mais me deu prazer em acompanhar. A trama encerrada no segundo volume tem seu desfecho em A Rainha do Castelo de Ar. Nesse terceiro livro temos uma trama intricada cheia de intrigas, perseguições e um ritmo narrativo que torna impossível deixar a leitura de lado.

A trilogia Millenium é uma das melhores, se não a melhor, do gênero policial. Cada detalhe, desde a construção dos protagonistas até o desfechos e revelações, é muito bem feito.O problema de como encerrar a trama e dar o devido desfecho a cada personagem não recai sobre a obra de Stieg.

Salander é um enigma. A personagem tem um ar misterioso e é ilegível para o leitor da mesma maneira que para quem a ronda. A personalidade torna os atos imprevisíveis e cheio de surpresas. É possível notar, com Lisbeth como base, que Stieg criou um enredo voltado para o abuso e violência contra a mulher trazendo junto uma protagonista que luta tanto para si quanto por outras. Atualmente, vivemos um momento que o feminismo está tomando formas mais concretas, e vi isso em Lisbeth. A fragilidade dela é apenas aparente em sua forma franzina e pequena, mas a garota esconde uma força interior capaz de enfrentar situações de prova como ninguém. As falas são sempre dosadas de forma correta, com uma pitada de sarcasmo e inteligência. Um viva para Larsson por ter construído uma heroína como ela, a frente do seu tempo.

Não podemos esquecer também o papel essencial de outros personangens na trama. Mikael continua robusto, cheio de confiança e seu caráter é admirável. Ele não é um policial, mas um jornalista que se dá bem como investigador, busca a verdade nos fatos e a defende até o fim. Destaque também para Annikka, irmã de Blomkvist, que se mostrou muito importante para o desfecho da trama e ganhou meu real respeito com suas atitudes. Érika Berger, que antes tinha tudo a seu favor, teve um papel um pouco confuso neste volume e isso se tornou um ponto negativo. Faltou um pouco mais de concisão no problema que a atingiu. No mais, todos os outros componentes dessa história, como o departamento de policia que trabalhou para defender Salander e os redatores da Millenium, merecem muita admiração.

A Rainha do Castelo de Ar é um desfecho* que encerra a trajetória de personagens queridos e que conquistaram todos aqueles os acompanharam nessa jornada. Quase setecentas páginas passam de maneira veloz, com uma narrativa ágil e uma trama bem feita. Abordar problemas que envolvem o Estado, manipulação de pessoas e a responsabilidade civil sobre uma criança foi espetacular pela parte de Larsson. Por mais que o leitor não esteja habituado com temas tão complexos, ao iniciar a leitura é provável que a saga de Blomkvist e Salander seja capaz de te prender do começo ao fim.

*A história de Lisbeth e Mikael pode ter sido finalizada para uns, mas para outros não. David Lagercrantz escreveu uma continuação, A Garota na Teia de Aranha, para a série. Cabe a cada leitor e fã decidir se continua ou não.

A Morte de Rachel - Anne Cassidy

8 de julho de 2015

Título: A Morte de Rachel - The Murder Notebooks #2
Autora: Anne Cassidy
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Tradutora: Viviane Diniz
Gênero: Juvenil/Policial/Mistério
Ano: 2015
Páginas: 272
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Descobrir toda a verdade pode ter consequência fatais.
A mãe de Rose e o pai de Joshua desapareceram. As investigações da polícia não deram em nada, e o caso foi arquivado: tudo indica que seus pais estão mortos.
Enquanto isso, Rose recebe cartas estranhas e desesperadas de Rachel, um antiga amiga da escola, e, pouco depois, a terrível notícia de que ela morreu.
Existiria alguma ligação entre a morte de Rachel e o desaparecimento dos pais deles?
Mais e mais perguntas vão surgindo à medida que Rose e Joshua tentam resolver o quebra-cabeça sobre o que houve com seus pais. Será que os cadernos cheios de códigos podem ajudá-los a encontrar as respostas?
Os códigos precisam ser decifrados - mesmo que seja uma questão de vida ou morte.

Resenha: A Morte de Rachel é o segundo livro da série The Murder Notebooks, escrito pela autora Anne Cassidy e lançado no Brasil pelo selo Jovens Leitores da Editora Rocco.
Não é obrigatório que o primeiro livro seja lido para entender o segundo, mas é interessante acompanhar a série do início para que os vínculos entre eles sejam melhores compreendidos.
Resumindo a história do primeiro livro, Rose e Joshua são irmãos postiços e seus pais desapareceram sem deixar rastros há cinco anos. Eles ficaram separados durante esse tempo e se reencontraram depois. Os jovens, então, ao mesmo tempo que tentavam descobrir o que houve com seus pais, se depararam com outro mistério que envolvia mortes de pessoas do colégio. Dessa forma, a história segue com o mistério principal sobre o sumiço dos pais e paralelamente traz um mistério a parte do qual eles acabam se envolvendo também.

Dessa vez, tudo indica que os pais de Rose e Joshua estão mortos, pois as investigações da polícia não deram resultado, e o caso acabou sendo arquivado. Mas, com a ajuda de Frank Richards e seus cadernos cheio de informações, códigos e textos em russo, eles tiveram motivos suficientes para acreditarem que os pais ainda estão vivos e querem continuar com a própria investigação junto com Skeggsie, o melhor amigo deles.
Quando Rose começa a receber cartas estranhas e telefonemas angustiantes de Rachel, uma antiga amiga da época do internato, ela acredita se tratar de brincadeiras de mau gosto já que a garota tinha costume de mentir muito e fazer drama pra qualquer situação a fim de ser o centro das atenções a ponto de Rose cortar relações com ela, tanto que, mesmo desconfiada, pede para a avó ligar para a diretora do internato para saber notícias da ex-amiga, e é aí que vem a notícia de que a garota supostamente se afogou e seu corpo foi encontrado.. Diante dessa notícia trágica, Rose acaba indo visitar o internato para prestar as condolências e decide ajudar nas investigações da polícia entregando as cartas que recebeu, além de descobrir alguns segredos deixados por Rachel. E enquanto isso, Joshua continua seguindo as pistas dos pais e parece estar mais perto da verdade do que nunca...

É bastante perceptível, mesmo que com algumas ressalvas, um amadurecimento de Rose na história assim como uma melhora bastante significativa na escrita da autora. A narrativa é feita em terceira pessoa e está muito mais fluída se comparada ao primeiro livro da série, cheia de descrições que possibilitam que as cenas sejam perfeitamente visualizadas pelo leitor.. Dessa vez, a história está mais complexa e envolvente pois a trama está muito bem construída com uma conclusão que se encaixa perfeitamente com o que foi discorrido. O desaparecimento dos pais e o mistério da morte de Rachel fazem com que a histórias fiquem interligadas mantendo um ritmo rápido e a leitura fixa, assim, o leitor fica ansioso para descobrir mais e qual é o próximo passo dos irmãos. É bastante surpreendente a forma como Rachel acaba deixando informações que dão esperanças a Rose e Josh sobre o desaparecimento dos pais.

Rose é uma personagem bastante desconfiada e mal tem amigos, e é interessante acompanhá-la quando ela precisa lidar com o com o desaparecimento de sua mãe. Ela se sente confusa com relação ao seus sentimentos por Joshua e é possível desenvolver uma certa pena dela pelo que ela passa. Os momentos com Joshua são significativos mas não curti muito a ideia de ela ser descrente ou fazer desfeita com as coisas que ele descobria, o que o deixava profundamente irritado. Joshua é prestativo, compreensivo e nunca deixa Rose em segundo plano mesmo que pareça ter encarado a morte de Rachel com certa indiferença. Sempre lhe dá atenção, se preocupa com ela e se importa com o que lhe acontece.

Um ponto bacana é que o leitor se depara com alguns flashbacks onde podemos saber um pouco mais sobre como era a amizade de Rose com Rachel, o que nos faz entender o porquê ela ter relutado tanto em ajudar a colega logo de cara em seus pedidos de socorro desesperados. Esses flashbacks despertaram muito a minha curiosidade pois através deles é possível perceber que havia algo de mais profundo e particular nessa história e que se a garota fazia o que fazia, era porque deveria ter motivos para isso que não fossem, necessariamente, chamar atenção.
Uma coisa a ser destacada é que pela mãe de Rose ter se casado com o pai de Joshua, biologicamente falando, eles não são irmãos de sangue, logo, devido a aproximação entre eles que veio desde o primeiro livro, um sentimento maior começa a ser despertado nela... Acredito que seja uma abordagem ousada e bem diferente pois o relacionamento vem de forma sutil e gradual sem que fique forçado ou superficial.

Só achei que os personagens de forma geral não são tão simpáticos a ponto de o leitor torcer pela felicidade deles, mas se sentir preocupado ou ansioso para que resolvam logo o mistério e a situação em que se encontram. Só me afeiçoei mais a Skeggsie, não pela personalidade, mas pela dedicação em ajudar os amigos na investigação do sumiço dos pais.
Ao final, mesmo que o desfecho tenha sido bombástico, muitas perguntas ficaram sem respostas e senti falta de maiores explicações para determinados acontecimentos. O que importa é que por mais que haja várias histórias que se conectam e levam em direção a uma coisa só, o mistério é o que faz com que tudo valha a pena.

A capa, fazendo o mesmo estilo da primeira, é linda e bastante sugestiva dando enfoque no nome do projeto dos personagens. A borboleta, o título e o nome da autora são em alto relevo e possuem verniz localizado. A parte interna da capa é amarelo vivo, as páginas são amareladas, cada capítulo é representado por um numeral romano assim como traz o desenho da borboleta no canto superior da página. A fonte tem um tamanho agradável e o espaçamento das margens externas também está perfeito.

É muito bacana quando o leitor se envolve com a história a ponto de se sentir parte dela, e foi essa a sensação que tive ao ler A Morte de Rachel. Foi como se eu estivesse com um quebra cabeça nas mãos tentando resolver o crime da vez.
Para quem está a procura de um bom mistério policial envolvendo assassinatos e desaparecimentos, que se desenrola de forma nova e bastante perspicaz, a leitura da série é mais do que indicada. Ansiosa pelo terceiro volume, "Butterfly Grave", ainda não lançado no Brasil.

O Bicho-da-Seda - Robert Galbraith

30 de junho de 2015

Lido em: Junho de 2015
Título: O Bicho-da-Seda - Cormoran Strike #2
Autor: Robert Galbraith
Editora: Rocco
Gênero: Romance Policial
Ano: 2014
Páginas: 464
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Quando o romancista Owen Quine desaparece, sua esposa apela ao detetive particular Cormoran Strike. No início, ela pensa apenas que o marido se afastou por alguns dias - porque ele já fez isso antes - e quer que Strike o encontre e o traga para casa.
Mas, à medida que Strike investiga, fica claro que há mais no desaparecimento de Quine do que percebe a mulher. O romancista acabara de concluir um manuscrito retratando de forma venenosa quase todos que conhece. Se o romance for publicado, destruirá a vida de muitos. Muita gente, portanto, pode querer silenciá-lo.
Quando Quine é encontrado brutalmente assassinado em circunstâncias bizarras, começa uma corrida contra o tempo para entender a motivação de um assassino impiedoso, um assassino diferente de qualquer outro que Strike já viu.
Romance policial que se lê compulsivamente, com guinadas a cada virada de página, O Bicho-da-Seda é o segundo livro de Robert Galbraith numa série muito aclamada apresentando Cormoran Strike e sua decidida jovem assistente Robin Ellacott.

Resenha: O Bicho-da-Seda é o segundo volume da série Cormoran Strike escrita por  J.K. Rowling sob pseudônimo de Robert Galbraith, e publicado no brasil pela Editora Rocco.
Mesmo que seja o segundo volume e haja poucas menções ao caso investigado no primeiro livro, O Chamado do Cuco, o livro é independente e a resenha está livre de spoilers.

O cenário da história continua sendo Londres, e algum tempo depois de ter solucionado o caso da modelo Lula Landry e estar mais estabelecido financeiramente, o detetive Strike é contratado para investigar o desaparecimento de Owen Quine, um escritor conhecido no meio editorial por seu temperamento difícil. A esposa acredita que ele possa ter apenas se afastado, como já havia feito outras vezes, mas devido ao tempo que se passou ela acha que alguma coisa de errado aconteceu e quer que Strike descubra o que houve e o traga de volta.
Strike descobre que um manuscrito do escritor desaparecido, o Bombix mori (nome científico do bicho-da-seda) que apontava coisas sobre pessoas influentes do meio editorial que poderiam ter as vidas destruídas caso o romance fosse publicado, logo, muitos não hesitariam em querer silenciá-lo de uma vez por todas. Porém, Owen é encontrado morto de forma chocante e bizarra e Strike adentra numa corrida contra o tempo para descobrir quem o matou e porquê.

O livro é narrado em terceira pessoa e flui muito bem até as 100 primeiras páginas, mas após isso o desenvolvimento do mistério é muito, muito lento. O trabalho investigativo, por mais que tenha muitos detalhes, beira a exaustão e as conclusões que o Strike tira não são compartilhadas com o leitor de forma imediata. Talvez a intenção tenha sido exatamente esta, pois nem sempre as pistas coletadas são, de fato, úteis e podem atrasar o trabalho de investigação (ou tirar o foco do leitor a fim de confundí-lo) fazendo com que muito tempo seja perdido mas que ainda assim precisam ser analisadas por fazer parte do serviço. Não afirmo com todas as letras que seja este o caso pois prefiro deixar que o leitor tire as próprias conclusões, mas acredito que quando as coisas vem em excesso dessa forma se tornam um pouco cansativas em vez de intrigantes.
Como sempre, a construção dos personagens é brilhante, pois eles vão se revelando aos poucos, deixando que o passado tenha uma forte ligação com atitudes que tomam no presente. As descrições dos cenários de Londres, seus bares, restaurantes, pubs e afins também são ricamente detalhadas e consegue ambientar bem o leitor aos locais.

Strike leva o que faz muito a sério e continua sendo rabugento, mas por ser incrivelmente perspicaz consegue cativar a simpatia dos leitores. Um ponto bacana é que por mais estereotipado que ele seja no que diz respeito a profissão (ele usa sobretudo, fuma, tem o nome pregado na porta do escritório, vive duro e etc) ele soa como alguém muito real, pois às vezes se deixa tomar por pensamentos pessoais inquietantes sobre família ou outros casos menores com que lida. Por mais que ele tenha foco, ele se preocupa com outras coisas não demonstrando ser um "robô".
Achei bastante adequado, e até mesmo divertido, que a Scotland Yard, a polícia de Londres, odeia que Strike se intrometa em seus assuntos, principalmente por ele ter desvendado o crime de Lula no primeiro livro quando a polícia havia declarado - e insistido - que a morte da modelo teria sido suicídio. Strike também não tem a menor paciência com a polícia por considerar a investigação dos encarregados óbvia e superficial e se irrita com o "trabalho" deles.

A assistente de Strike, Robin, também tem papel fundamental na história. Ela é inteligente e eficiente e ainda ganha um destaque maior por ter a vida aprofundada quando anuncia um noivado com Matthew, por quem é possível criar uma antipatia imensa, principalmente porque ele odeia o trabalho de Robin e todos sabem que esse trabalho investigativo é uma de suas maiores paixões.
E ainda sobre Robin, acho genial que ela seja parceira de Strike e que não haja nenhum envolvimento romântico entre os dois, o que prova que homens e mulheres podem trabalhar juntos e em sincronia sem um envolvimento maior ou segundas intenções, mas ainda assim sinto que há algo neles que parece não estar totalmente esclarecido, como se o futuro ainda reserve qualquer coisa para eles, ainda que não tenha a ver com amor.
É um livro bastante complexo se comparado ao primeiro e cada capítulo apresenta um novo obstáculo para o detetive reunir vários fatos, que a princípio parecem não ter ligação alguma, a fim de descobrir a verdade sobre o crime.

Assim como Galbraith inseriu temas polêmicos no primeiro livro, em O Bicho-da-Seda assuntos tão delicados quanto não ficam de fora. O machismo é bastante apontado, assim como a sexualidade e a orientação sexual dos indivíduos. A realidade de novos escritores e o que têm de engolir ao adentrar no mundo editorial que mais parece uma máfia também é criticada, o que faz com que o leitor pense que publicar um livro não é tão simples quanto parece se o contato certo não existir. Até a questão das críticas negativas e sinceras através de resenhas foi abordada e considerei a forma com que esse meio literário foi explorado como bastante cruel e sujo.
O final é bastante corrido, talvez pra compensar a forma arrastada da investigação, mas obviamente surpreende pois o assassino é quem menos esperamos. Só achei que, ao final do livro, a forma como as provas foram reunidas e apresentadas para identificar o criminoso "excluíram" o leitor da investigação, além de ter sido bastante exagerada, mas ainda assim, satisfatória.

A Menina Que Brincava Com Fogo - Stieg Larsson

18 de junho de 2015

Lido em: Junho de 2015
Título: A Menina Que Brincava Com Fogo - Millennium #2
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção Policial
Ano: 2009
Páginas: 611
Nota: ★★★★★
Sinopse: Nada é o que parece ser nas histórias de Larsson. A própria Lisbeth parece uma garota frágil, mas é uma mulher determinada, ardilosa, perita tanto nas artimanhas da ciberpirataria quanto nas táticas do pugilismo, que sabe atacar com precisão quando se vê acuada. Mikael Blomkvist pode parecer apenas um jornalista em busca de um furo, mas no fundo é um investigador obstinado em desenterrar os crimes obscuros da sociedade sueca, sejam os cometidos por repórteres sensacionalistas, sejam os praticados por magistrados corruptos ou ainda aqueles perpetrados por lobos em pele de cordeiro. Um destes, o tutor de Lisbeth, foi mor-to a tiros. Na mesma noite, contudo, dois cordeiros também foram assassinados: um jornalista e uma criminologista que estavam prestes a denunciar uma rede de tráfico de mulheres. A arma usada nos crimes - um Colt 45 Magnum - não só foi a mesma como nela foram encontradas as impressões digitais de Lisbeth. Procurada por triplo homicídio, a moça desaparece. Mikael sabe que ela apenas está esperando o momento certo para provar que não é culpada e fazer justiça a seu modo. Mas ele também sabe que precisa encontrá-la o mais rapidamente possível, pois mesmo uma jovem tão talentosa pode deparar-se com inimigos muito mais formidáveis - e que, se a polícia ou os bandidos a acharem primeiro, o resultado pode ser funesto, para ambos os lados.

Resenha: A Menina que Brincava com Fogo, é o segundo livro da série Millennium. Stieg Larsson, falecido logo após entregar o manuscrito da saga de Lisbeth Salander, criouuma incrível aventura sobre um jornalista metido a detetive, Mikael Blomkvist, e uma garota excepcional.

A continuação de Os Homens que Não Amavam as Mulheres traz Lisbeth com um papel maior de protagonista, junto com Mikael. O caso dos Vanger se encerrou dando lugar a um dilema da própria Salander: ela agora é acusada de um triplo assassinato. É com esse pano de fundo que a trama começou a se desenrolar (ou seria enrolar?) e prender a atenção de quem lê.

O livro pode ser separados em duas partes: no começo o ritmo é lento, bem introdutório, conduzindo o leitor a relembrar alguns fatos do volume anterior e as férias de Lisbeth por alguns lugares do mundo. Logo após, a bomba dos assassinatos cai diretamente sobre Salander e a partir disso a trama ganha um ritmo semelhante ao que o volume antecessor teve no final.

O tema central gira em torno do abuso sexual contra a mulher. Tanto no primeiro quanto no segundo temos, em diferentes situações, retratos do sofrimento das figuras femininas e a busca por justiça. Stieg criou nos protagonistas figuras de heroísmo e perspicácia. Não só em Mikael ou Lisbeth; mas também em Erika, Bublanski, Sonja, Malu, Mimmi Wu e outros. Dessa mesma forma ele teve a habilidade para criar vilões bem convincentes. A Menina que Brincava com Fogo tem um abismo que separa seus protagonistas: aqueles nos quais devemos nos espelhar e uns que detém um caráter duvidoso e atitudes tampouco humanas.

A prosa de Larsson é fabulosa. A narrativa é sempre crucial para tornar um livro atrativo, até porque mais de seiscentas páginas não são lidas de uma vez só. Mas Stieg, na construção do texto, criou um dinamismo que torna a leitura agradável e cheia de mistérios que motivam a ir a diante para descobrir o que acontecerá com Lisbeth. Perto do final, principalmente, os capítulos começam a ficar mais curtos e mostram situações diferentes de maneira rápida e eficaz. É bem clichê dizer isso, mas chega a um momento que se tornou impossível largar a leitura.

A protagonista é uma "diva", a seu próprio modo. Lisbeth tem um quê de malícia, é inteligente ao extremo e deixa clara suas intenções: quem com o ferro fere, com fogo será queimado. Estamos tão acostumado com mais fragilidade partindo de personagens femininas que é surpreendente como Stieg personificou tanta força nessa moça. Salander tem fibra e coragem de sobra. É pouco óbvio que ela fosse mostrar algum tipo de vulnerabilidade ao logo da série, mas ela o faz. Assim, o sentimento de torcida pela garota só aumenta.

Toda livraria deveria vir com um cartaz em algum lugar advertindo o visitante a comprar a trilogia Millenium. A Menina que Brincava com Fogo é incrível, sendo ainda melhor que o primeiro. O sucesso de vendas é merecido e ler uma obra como esta é gratificante a qualquer leitor. As últimas páginas trazem a certeza que esta é uma das histórias mais inesquecíveis e bem escritas da literatura contemporânea.

Branca de Neve tem que morrer - Nele Neuhaus

12 de junho de 2015

Lido em: Abril de 2015
Título: Branca de Neve tem que morrer - Bodenstein & Kirchhoff #4
Autora: Nele Neuhaus
Editora: Jangada
Gênero: Policial/Suspense
Ano: 2012
Páginas: 472
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Thriller revelação do ano na Alemanha com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. Numa noite chuvosa de novembro, Rita Cramer é empurrada de uma passarela e cai em cima de um carro em movimento. Pia e Bodenstein, da delegacia de homicídios, têm um suspeito: Manfred Wagner. Onze anos antes, a filha de Manfred desaparecera, sem deixar pistas, e um processo baseado em provas circunstanciais condenou Tobias, filho de Rita Cramer, a dez anos de prisão. Logo após cumprir a pena, Tobias retorna à sua cidade natal e, repentinamente, outra garota desaparece. Os acontecimentos do passado parecem repetir-se de maneira funesta. Pia e Bodenstein se deparam com um muro de silêncio. As investigações transformam-se numa corrida contra o tempo, iniciando uma verdadeira caça às bruxas. 

Resenha: Branca de Neve tem que morrer é o quarto volume da série Bodenstein & Kirchhoff escrita pela autora alemã Nele Neuhaus e publicado no Brasil pela Jangada. Mesmo sendo o quarto volume não há necessidade de ler os anteriores, até mesmo porque eles não foram publicados por aqui. Os livros são independentes e focam num mistério que, ao que parece, não tem ligação alguma com os dos demais livros.

Tobias Sartorius foi acusado de matar duas moças e sumido com seus corpos. Ele não se lembrava do ocorrido e viu seu futuro ruir quando foi condenado a prisão. Após cumprir a sentença de dez anos, mesmo em dúvida se era culpado ou não, ele regressa ao vilarejo de Altenhain, na Alemanha, encontra seu pai num estado deplorável e tenta ajudá-lo, mas é recebido com repúdio e agressão pelos habitantes que acreditavam que ele deveria pagar pelo que fez pra sempre.
Enquanto a volta de Tobias a cidade acontece, uma ossada é encontrada num tanque de combustível vazio em um antigo aeródromo militar abandonado, mas a polícia descobre muito mais do que um esqueleto...

Até que uma outra moça desaparece de forma repentina e, obviamente, o principal suspeito é Tobias.
Pia e Bodenstein  são os policiais que irão investigar o caso, e tudo se transforma numa corrida contra o tempo pois eles estão prestes a descobrir que a cidade guarda segredos terríveis intrincados numa teia de mentiras e traições abafados pelos próprios habitantes que parecem viver num mundo a parte, como se vivessem sob uma "cúpula", de forma que pessoas de fora não tomam conhecimento algum de nada que se passa dentro dos seus limites. Tudo é suspeito, tudo parece ter um duplo sentido, e este é um dos maiores obstáculos que os policiais enfrentarão, pois, por mais que a ossada encontrada tenha ligação com o crime do qual Tobias se envolveu, os moradores não estão muito satisfeitos com uma investigação a fundo que pode revelar algo além do que está enterrado com os ossos.

Narrado em terceira pessoa e abrangendo a visão dos personagens envolvidos na trama, Branca de Neve tem que morrer é um thriller policial que logo de cara já deixa no ar a questão de Tobias ser ou não o assassino, principalmente quando juntamos os acontecimentos como a ossada, a tentativa de assassinato da mãe dele e afins, mas, justamente pela forma como a narrativa é feita, fica claro que o assassino pode ser qualquer um já que todos na cidade se comportam de forma estranha e parecem esconder algo ou terem um motivo para matar alguém. Esse misto de elementos são responsáveis por causas o suspense que permeia por toda a trama.

Como a obra original é alemã, é de se estranhar os nomes e os locais mencionados, mas nada que interfira ou prejudique no envolvimento da história.
Fiquei com a sensação de que o livro não foca apenas no mistério, mas também na vida dos investigadores e isso causa uma aproximação maior com os personagens. Talvez alguns trechos possam ter spoilers de outros livros já que eles desvendam crimes juntos desde o primeiro volume e com certeza já tiveram outros pontos trabalhados até chegar onde estão, principalmente no quesito relacionamento. O excesso de personagens e fatos, e algumas situações que pareciam não acabar nunca me fizeram pensar que houve um pouco de enrolação na história. Talvez se fosse um pouco mais "enxugada" seria ainda melhor.

A mudança constante de direção no rumo da história com intuito de dificultar a identificação do assassino se faz presente, assim como características apresentadas em determinado momento podem se voltar contra seus donos de forma que ninguém é quem parece ser, mas acredito que pra quem já tem costume de ler livros policiais e prestar atenção nos detalhes, às vezes, é possível captar quem é o culpado bem antes do desfecho, ou pelo menos ter uma suspeita bem grande e, geralmente, certeira sobre isso fazendo com que o final não seja tão imprevisível assim. Há algumas explicações em demasia e por isso não senti que houve espaço para maiores reflexões. Acho que quando as coisas ficam nas entrelinhas de forma mais sutil é melhor pois o leitor abre a mente pra imaginar.
Talvez devido ao idioma original, a tradução deixou algumas frases estranhas e com palavras que não são utilizadas em português, e em alguns pontos isso impede que a leitura fique totalmente fluída. O final é corrido e acaba de repente mas apesar de tudo achei satisfatório e ainda dá brecha pra continuação.
Mas ainda assim, os personagens são ótimos e muito bem construídos, e o destaque não ficou apenas com os investigadores.

A capa é linda, escura e sombria, manchada de sangue, e deixa no ar o que o leitor pode esperar da leitura. A diagramação é bem caprichada pois há detalhes em vermelho, tanto nos inícios de capítulos, na letra capitular e nas manchas de sangue nas páginas. As páginas são amarelas e possuem uma gramatura maior deixando-as mais grossas. A primeira vista o livro parece imenso pois é grosso e pesado, mas é justamente por causa das páginas mais grossas. A fonte é grande e o espaçamento das margens também, o que colabora com a leitura.

É um thriller envolvente, com um mistério sólido, que deixa o leitor ansioso para virar a próxima página.

Lobo Mau é o 6º volume da série e somente esses dois foram publicados no Brasil pela editora.