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Sem Coração - Marissa Meyer

20 de junho de 2019

Título: Sem Coração
Autora: Marissa Meyer
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Jovem adulto/Releitura
Ano: 2018
Páginas: 416
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Catherine era uma das garotas mais desejadas do País das Maravilhas e a favorita do ainda solteiro Rei de Copas, mas seus interesses eram outros. Por seu talento na cozinha, ela só queria abrir uma confeitaria em sociedade com sua melhor amiga e oferecer ao Reino de Copas os mais deliciosos doces e bolos.
Porém, de acordo com sua mãe, era uma ideia inaceitável para a jovem que poderia ser a próxima rainha. Em um baile real em que o rei pretende pedi-la em casamento, Cath conhece Jest, o belo e misterioso bobo da corte. Pela primeira vez, sente a força da pura atração. Mesmo correndo risco de ofender o rei e contrariar os pais, ela e Jest iniciam um relacionamento intenso e secreto.
Cath está determinada a escolher o próprio destino e se apaixonar nos seus próprios termos. Mas em uma terra repleta de magia, loucura e monstros, o destino tem outros planos...

Resenha:  Pra quem gosta de releituras de fantasias clássicas, principalmente no que diz respeito ao universo das princesas e outras personagens icônicas da literatura, Marissa Meyer é autora mais do que indispensável. Depois de ter sido fisgada com a série Crônicas Lunares, não consegui resistir quando soube do lançamento de Sem Coração, que contaria a história das origens daquela que se tornou a impiedosa Rainha de Copas. Como não ficar com as expectativas nas alturas?

Assim, acompanhamos a jovem Catherine Pinkerton, uma garota literalmente doce e sonhadora, uma confeiteira de mão cheia, que queria abrir uma confeitaria com sua melhor amiga, Mary Ann, e viver todas as emoções de um primeiro amor um dia. Porém, sua mãe não aceita que ela siga seus sonhos. Por Cath ser desejada pelo Rei de Copas, seu destino é ser rainha, mesmo que contra sua vontade. E durante um baile onde ela seria pedida em casamento pelo Rei, ela conhece o Bobo da Corte, Jest, e a atração entre os dois é inevitável, mas escolher seu próprio destino não é algo que Cath possa fazer.

Partindo dessa premissa, vamos acompanhando o processo de transformação de Cath, uma garota doce e gentil, se tornando alguém muito cruel devido a tudo que precisou enfrentar, e que foi impedida de ser e fazer o que mais queria de sua vida: ser feliz.

No início, a autora se dedica a apresentar e construir os personagens, com suas características particulares e personalidades únicas, assim como detalhar (de forma bastante cansativa e repetitiva) cada pedacinho ou aroma dos doces e bolos divinos feitos por Cath, e até as roupas que todos usam, e eu demorei muuuito pra avançar a leitura até, mais ou menos, a metade do livro, pois tudo estava se arrastando demais e nada me deixava empolgada pra continuar. Foi um século pra conseguir ler a metade, e a outra metade eu li num pulo só. Depois percebi que foi um artifício importante para situar o leitor nesse universo, e contextualizar personagens e suas condições para que a história continuasse sendo desenvolvida com a devida maestria até seu desfecho que, embora já esperado, não deixa de surpreender. Muitas cenas são chocantes, muitos personagens nos decepcionam profundamente e acabam mostrando que o destino pode, sim, mudar de acordo com atitudes infelizes e escolhas erradas que são tomadas por ambição ou ganância, mas talvez sejam essas reviravoltas dolorosas que tornaram a história única e com elementos que justificam o destino da protagonista e o desfecho do livro. Por mais horrível e triste que seja, conseguimos entender o que, de fato, motivou Cath a se tornar alguém tão amarga, tão vingativa e cruel. Nem sempre vamos ter um felizes para sempre, e isso não significa que a história não seja marcante ou digna de admiração.

A história é cheia de referências ao universo de Alice no País das Maravilhas, e quando personagens já conhecidos dão o ar da graça, como o Gato Cheshire, o Chapaleiro Maluco, o Coelho Branco, e outros, é impossível não sentir aquela satisfação por já termos uma certa familiaridade com eles.

No mais, Sem Coração é um livro que arrasa nosso emocional, seja por fazer com que saibamos que existem situações terríveis e dolorosas o bastante para transformar alguém tão doce em alguém tão amarga, como mostrar que, talvez, o fascínio por corações de copas espalhados pelo reino seja um reflexo para projetar o que ela perdeu: seu coração.

A Duquesa Feia - Eloisa James

3 de setembro de 2018

Título: A Duquesa Feia - Fairy Tales #4
Autora: Eloisa James
Editora: Arqueiro
Gênero: Romance de época/Releitura
Ano: 2018
Páginas: 272
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Como ela ousa achar que ele a ama, quando Londres inteira a chama de Duquesa Feia?
Theodora Saxby é a última mulher com quem se poderia esperar que o lindo James Ryburn, herdeiro do ducado de Ashbrook, se casasse. Mas depois de um pedido romântico feito na frente do próprio príncipe, até a realista Theo se convence de que o futuro duque está apaixonado.
Ainda assim, os tabloides dizem que a união não durará mais do que seis meses.
Em seu íntimo, Theo acredita que os dois ficarão juntos para sempre… até que ela descobre que o que James desejava não era seu amor, mas seu dote.
E a sociedade, que primeiro se chocou com seu casamento, se escandaliza com sua separação.
Agora James precisará enfrentar a batalha de sua vida para convencer Theo que ele amava a patinha feia antes que ela se transformasse em cisne. E Theo logo descobrirá que, para um homem com alma de pirata, vale tudo no amor – e na guerra.

Resenha: A Duquesa Feia é o quarto livro da série Fairy Tales escrita por Eloisa James. A série traz releituras dos contos de fadas mais famosos da literatura e este é inspirado na história do Patinho Feio. Pelas histórias serem independentes e distintas, não é necessário ler os livros na sequência de lançamento. No Brasil ele foi lançado pela editora Arqueiro como o volume 3.

Theodora Saxby é uma jovem de dezessete anos e bem pé no chão, principalmente para a época, e está conformada por não se encaixar nos padrões de beleza femininos da sociedade. Não importa que sua mãe, que a enche de roupas com milhões de babados, e seu melhor amigo, quase um irmão com quem foi criada e que carinhosamente a chama de Daisy, James Ryburn, digam o contrário.
O duque de Ashbrook é o pai de James, o que torna o rapaz de dezenove anos o herdeiro do ducado, e, por ter sido melhor amigo do falecido pai de Theo, ficou responsável por cuidar do dote da garota até que ela se casasse.

Tudo estava indo bem até Theo se interessar por lorde Geoffrey Trevelyan e pedir a ajuda de James para chamar sua atenção, mas James acha que ela está acima de qualquer imbecil, principalmente deste biltre a quem ela manifestou interesse, e não fica nada feliz com essa ideia. E é essa situação que nos leva a uma discussão bastante tensa entre James e seu pai logo início da história, onde o problema maior é que o pai dele, que deveria cuidar dos assuntos financeiros de Theo, se endividou até o pescoço ao fazer investimentos absurdos ate perder a fortuna da família. Então, pra continuar com sua alta posição na sociedade, ele passou a gastar o dinheiro pertencente a garota, e sem ter pra onde recorrer, encurrala o filho para que ele finja estar interessado nela para que se casem e James possa colocar as mãos no que sobrou do dote, salvando a sua pele desse golpe.

Porém, mesmo acreditando que enganar a melhor amiga poderia significar seu fim, James começa a perceber que sempre esteve atraído por Theodora, e o casamento não seria uma farsa completa como ele havia imaginado, e faz um acordo com seu pai de forma que o pilantra não conseguisse mais ter controle sobre o dinheiro de Theo e sobre a propriedade ou terras da família.

Então, após um pedido de casamento que deixou toda a sociedade incrédula (toda a Londres considerava a garota horrorosa e vê-la com alguém tão bonito e charmoso como James foi um grande choque), ela acredita que a sorte estava a seu favor e que, enfim, poderá se casar e ser feliz. Até descobrir sobre seu dote e acreditar que James só se casou com ela por causa do dinheiro.
O escândalo que essa separação causou foi inevitável, e James, que foi expulso junto com seu pai da propriedade, acabou partindo.

Enquanto Theo decidiu abrir o próprio negócio, James se tornou um verdadeiro pirata. Sete anos se passaram e muita coisa mudou desde então, e ele decidiu que voltar para tentar reatar o casamento é o melhor a se fazer. Será que Theodora vai acreditar que ele sempre a amou?

Narrado em terceira pessoa, A Duquesa Feia é um livro que, até certo ponto, envolve bastante devido a forma fluída e gostosa como foi escrito, assim como a apresentação de personagens cativantes e divertidos, mas depois acaba se tornando arrastado e o desenvolvimento deixa a desejar. Já devo ter comentado sobre a escrita maravilhosa da autora nas resenhas dos outros livros dela, mas este, embora tenha seus pontos positivos, eu cheguei a estranhar um pouco pela falta do bom humor e dos pontos não serem amarrados com a devida coerência.

Neste romance, temos os personagens e o desenvolvimento de cada um deles, que se dividem no antes e no depois. A mudança de comportamento e personalidade que ambos sofreram a partir da separação, foi algo que, embora possa ter algumas justificativas, não me soaram tão agradáveis de se acompanhar, e a sensação é de que a autora teve uma ideia muito boa, mas num determinado ponto parece ter perdido a mão e deixou a história com uma resolução feita às pressas depois de um desenvolvimento raso e sem profundidade sobre perdão, redenção e amor.

No início, a autora apresenta uma jovem Theo alegre, inteligente, sarcástica e, em alguns momentos, uma mocinha impulsiva e até bem à frente de sua época. Ela é adorável, encantadora e as referências à sua falta de beleza são praticamente inexistentes a ponto de nem ser possível fazer alguma ligação real com a história do patinho feio. James também não fica atrás no quesito simpatia. Ele é um jovem bonito, e por mais atrevido que seja, ele é gentil, respeitoso e tem um coração enorme. E mesmo que as circunstâncias (não muito ideais) tenham feito com que esses dois se casassem, James realmente amava Theo, o casal era uma graça e foi bem divertido ver os dois juntos, até que eles se separam de forma traumática e deixaram que a má experiência os transformasse pra pior. Talvez a "feiura" tenha vindo daí, quem sabe.

Nesse período de sete anos, Theo se tornou uma mulher bem sucedida, mas muito fria, amarga, dependente da opinião da sociedade e focada exclusivamente nos negócios, e esse ponto deixa a impressão de que a mulher só pode ter sucesso numa área da vida (a profissional) se outra for inexistente (a amorosa). Ok, a ideia de uma mulher ter ficado amargurada depois de tamanha decepção a ponto de não acreditar mais no amor é algo aceitável, mas não quando essas feridas são curadas de forma instantânea, com "band-aid", como se nada tivesse acontecido.
James, que, depois de ter sido expulso, não pensou duas vezes em se jogar na vida de pirata e deixar tudo pra trás se tornando um cara grosseiro e intragável. Ele passou sete anos sem dar notícias, aproveitou a vida da forma que quis durante esse tempo, até que num momento de conveniência, ele decide que deve voltar e retomar o casamento com Theo como se o tempo nem tivesse passado. Mas, se ele realmente amava Daisy como dizia, por que diabos esse cara não lutou por ela antes de ter ido embora?

Depois desse balde de água fria me peguei pensando "agora a coisa vai ficar boa, porque Theo, que ficou tão insensível desse jeito, não vai aceitar esse embuste tão fácil, a menos que ele faça algo realmente grandioso pra reparar seus erros e mostrar o cara legal que ele foi lá no começo", mas não.
James não teve trabalho nenhum pra conseguir o que quis, e a reconciliação, que eu apostava ser o ponto alto e emocionante da história, foi resolvida com informalidade, em poucas páginas, com situações e diálogos desnecessários, e de forma bem inconsistente. Eu não consegui comprar essa ideia e o desfecho não me convenceu.

Enfim, talvez as leitoras que apreciem com mais afinco esses romances de época e suas características consigam encontrar explicações ou aceitar melhor a ideia desse romance, mas comigo não foi bem assim. Apesar de não ter concordado com o desenvolvimento dos personagens e a forma deles resolverem as coisas desde o reencontro até o desfecho da história, não foi uma leitura ruim, e pra quem curte romances de época é um livro que recomendo.


Sussurros do País das Maravilhas - A.G. Howard

28 de março de 2018

Título: Sussurros do País das Maravilhas - Splintered #1.5 e #3.5
Autora: A.G. Howard
Editora: Novo Conceito
Gênero: Fantasia/Releitura
Ano: 2017
Páginas: 272
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Alyssa Gardner entrou na toca do coelho para assumir o controle do seu destino. Ela sobreviveu à batalha pelo País das Maravilhas e pelo seu coração. No conto O Menino Na Teia, a mãe de Alyssa relembra o período em que viveu no País das Maravilhas e resgatou o homem que se tornaria seu marido e pai de sua filha. No A Mariposa no Espelho, conhecemos as lembranças de Morfeu, de quando ele mergulhou nas memórias de Jeb para descobrir os segredos dele e tentar ganhar, de uma vez por todas, o disputado coração de Alyssa. No Seis Coisas Impossíveis, Alyssa revive os momentos mais preciosos de sua vida após Qualquer outro lugar, e sobre o papel mágico que desempenhou para preservar a felicidade daqueles que ela ama. Neste livro você encontrará três contos de lembranças inéditas e inesquecíveis. Junte-se novamente aos personagens da série O Lado Mais Sombrio e embarque no fantástico mundo do País das Maravilhas.

Resenha: Sussurros do País das Maravilhas é composto por três contos do universo da trilogia Splintered, e acrescenta informações para complementar os livros.

O Menino Na Teia é o primeiro conto, e fala sobre o passado de Alison, a mãe de Alyssa, quando ela estava no País das Maravilhas, como conheceu Morfeu e como salvou Thomas de uma aranha, que na época era um garoto e depois viria a ser o pai de Alyssa.

A Mariposa no Espelho foi o primeiro conto da trilogia a ser publicado em 2014 em formato digital, e agora faz parte desse livro. Ele ainda pode ser baixado gratuitamente pela Amazon.
Enquanto Jeb está preso no País das Maravilhas, Morfeu se aproveita para invadir suas lembranças a fim de descobrir o que se passa na cabeça daquele com quem disputa o amor de Alyssa.

Seis Coisas Impossíveis é o último conto e funciona como um epílogo para o terceiro livro, Qualquer Outro Lugar. Não vou entrar em detalhes a fim de evitar spoilers mas este conto é dedicado à vida de Alyssa e mostra o que aconteceu, seja com Jeb e com Morfeu, depois do desfecho da trilogia.

Embora o livro tenha poucas páginas, os contos são extensos demais para retratar coisas pequenas e sem tanta relevância. Senti que a autora quis florear com frases que, na teoria, deveriam causar algum impacto mas que, na prática, pra mim, soaram muito cafonas. Coisas como "olhos cor de liberdade ou do futuro", "minha loucura me ajuda a sobreviver" só me fazem revirar os olhos.

Penso que o último conto teve algo o que acrescentar, principalmente quando fala sobre escolhas, sobre ceder e sobre esperar o tempo que for preciso, mas, de forma geral, não considerei que os demais realmente trouxeram coisas novas ou surpreendentes.
Como eu achei a trilogia mediana, li este sem muitas expectativas e continuo pensando que, por mais que cada conto ajude o leitor a compreender alguns trechos aparentemente sem respostas, ou simplesmente traga informações extras a título de curiosidade (mas que não eram essenciais para a trama), Sussurros do País das Maravilhas é indicado pra quem realmente é fã, ou pra quem terminou a trilogia com aquele gostinho de quero mais, curioso para saber quais as consequências para a última escolha de Alyssa.


Qualquer Outro Lugar - A.G. Howard

23 de março de 2018

Título: Qualquer Outro Lugar - Splintered #3
Autora: A.G. Howard
Editora: Novo Conceito
Gênero: Fantasia/Releitura
Ano: 2016
Páginas: 416
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Alyssa está tentando entrar novamente no País das Maravilhas. Os portais para o reino se fecharam, não sem antes levarem sua mãe. Jeb e Morfeu estão presos em Qualquer Outro Lugar, reino em que intraterrenos expulsos do País das Maravilhas estão vivendo.
Para resgatá-los, ela precisa recorrer à ajuda de seu pai. Juntos, eles iniciam uma missão quase impossível para tentar resgatar entes queridos, restaurar o equilíbrio dos reinos e o lugar dela como Rainha.
Alyssa precisa lutar não só com a Rainha Vermelha, um espírito malicioso que tem a intenção de refazer o País das Maravilhas à própria imagem, mas também reconstruir seu relacionamento com Jeb, o mortal que ela ama, e Morfeu, o ser fantástico que também reivindica seu coração.
E, se todos tiverem sucesso e saírem vivos, eles poderão finalmente ter o felizes para sempre .

Resenha: Partindo do desfecho do livro anterior, Alyssa e seu pai voltaram do País das Maravilhas enquanto Jeb, Morfeu e sua mãe ficam pra trás, presos em Qualquer Outro Lugar, um reino onde aqueles que foram exilados do mundo mágico e intraterreno são mantidos.
Os portais que ligam os dois mundos estão fechados e Alyssa está tentando retornar para resgatá-los, e, junto com o pai, ela embarca numa jornada para lutar contra a Rainha Vermelha, ocupar seu lugar ao trono, restaurar o equilíbrio dos reinos e ainda resolver sobre sua vida amorosa que está entre Jeb e Morfeu.

A história é narrada em primeira pessoa e este volume tem um foco maior, se comparado aos anteriores, nas questões familiares de Alyssa. A presença de seu pai, a importância que ele representa pra ela, e a enorme ligação que ele tem com o outro mundo, são peças chave para o desenrolar da trama. Além disso, a autora se aprofunda ainda mais nas duas figuras masculinas que dividem o coração da protagonista, Jeb e Morfeu, e por causa deles acabei não ficando tão satisfeita assim com o rumo que as coisas levaram aqui.

A história, que a princípio apresentou um mundo sombrio, psicodélico e com uma enorme gama de seres fantásticos que tinha tudo pra oferecer uma das mais incríveis aventuras de uma releitura, se resumiu a um triângulo amoroso onde Alyssa, independente da situação em que se encontre, está em conflito com seus sentimentos e não consegue decidir com quem vai ficar. E já faz algum tempo que ando saturada de histórias onde triângulos amorosos parecem mover a trama enquanto o resto não passa de encheção de linguiça em vez do contrário. E pra mim não importou que a autora tenha dado um jeito de responder dúvidas ou justificar atitudes e pensamentos de Alyssa. Não consigo concordar com alguém que não se decide entre duas pessoas, mas também não as deixa livres pra seguirem em frente. É como se cada um deles representasse um dos mundos, o humano e o intraterreno, e ela não sabe qual escolher ou pra onde ir, pois cada um tem algo único e irresistível a oferecer. E assim como cada mundo tem suas particularidades, Jeb e Morfeu também, e aqui eles tiveram várias camadas trabalhadas de forma que a autora possibilitou que os leitores conhecessem, além de suas personalidades, suas essências, e que isso é algo que sempre vai estar alí, independente se for uma característica sombria, negativa, questionável ou condenável.

Apesar de várias situações estarem acontecendo, e da ideia de que algo grandioso no País das Maravilhas está por vir pra finalmente fechar a história com chave de ouro, não consegui me desligar do bendito "romance" e não parei de me perguntar se era algo realmente necessário pras coisas fluírem.
 Enfim, Qualquer Outro Lugar é um livro que, embora peque na questão do romance, é cheio de fantasia, aventuras, revelações e muitas reviravoltas. A protagonista tem um bom desenvolvimento e cresce de acordo com as experiências que teve, e os demais personagens conseguiram contribuir com o enredo de forma satisfatória e sem muitas conveniências, o que é, sim, um ponto bastante positivo.
Pra quem curte fantasia e é fã de Alice no País das Maravilhas, é uma leitura recomendada pra deixar os leitores com a sensação de que o legado de Alice continuou através de sua tataraneta, e agora protagonista, Alyssa.


Atrás do Espelho - A.G. Howard

21 de março de 2018

Título: Atrás do Espelho - Splintered #2
Autora: A.G. Howard
Editora: Novo Conceito
Gênero: Fantasia/Releitura
Ano: 2014
Páginas: 400
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Em O Lado Mais Sombrio, a releitura dark de Alice no País das Maravilhas, Alyssa Gardner foi coroada Rainha, mas acabou preferindo deixar seus afazeres reais para trás e viver no mundo dos humanos. Durante um ano ela tentou voltar a ser a Alyssa de antes, com seu namorado, Jeb; sua mãe, que voltou para casa; seus amigos, o baile de formatura e a promessa de ter um futuro em Londres.
No entanto, Morfeu, o intraterreno sedutor e manipulador que povoa os sonhos de Alyssa, não permitirá que ela despreze o seu legado. O mesmo vale para o País das Maravilhas, que parece não ter superado o abandono.
Alyssa se vê dividida entre dois mundos: Jeb e sua vida como humana... e a loucura inebriante do mundo de Morfeu. Quando o reino delirante começa a invadir sua vida real, Alyssa precisa encontrar uma forma de manter o equilíbrio entre as duas dimensões ou perder tudo aquilo que mais ama.

Resenha: Um ano se passou após o que aconteceu no livro anterior. Alyssa quer esquecer o País das Maravilhas, um mundo sombrio e cheio de criaturas perversas (e muito diferente daquele encontrado nas páginas escritas por Lewis Carrol), e tudo o que viveu lá, assim como abrir mão de sua linhagem real. Ela está prestes a se formar no colégio e planeja ir embora para Londres com Jeb, seu namorado desmemoriado, a fim de ser uma garota normal. Porém, a ideia dela deixar tudo pra trás não é algo que estava nos planos de Morfeu, que tenta a qualquer custo garantir que Alyssa não esqueça o País das Maravilhas através de seus sonhos, o que faz com que a garota evite dormir e queira ainda mais se livrar de tudo isso, e até aparecer para vigiá-la de perto... E embora ela tenha corrigido vários erros, muito problemas ainda permaneceram naquele mundo intraterreno, problemas dos quais ela não ficaria livre tão facilmente, principalmente quando algumas profecias parecem se manifestar através de sua arte e tudo leva a crer que este mundo pode estar em perigo mais uma vez. Agora, entre dois mundos e com o coração dividido, será possível que Alyssa evite seu destino?

A história é narrada em primeira pessoa, pelo ponto de vista da protagonista, mas diferente do primeiro livro, onde ela é transportada para o País das Maravilhas, aqui a trama se passa no mundo humano enquanto os personagens do outro continuam marcando presença através de várias situações, incluindo as vilãs...

O dilema maior que move a história, é Alyssa e seus conflitos internos que estão ligados à sua aceitação de que o País das Maravilhas é um lugar do qual ela, inevitavelmente, pertence, enquanto lida com seus sentimentos e a ideia de que, de certa forma, é responsável por qualquer coisa que possa acontecer com os dois mundos: com o fantástico, por estar em perigo nas mãos da vermelha que quer vingança, e com o mundo humano, quando os seres do outro começam a surgir.
Jeb não se lembra de nada do que aconteceu no País das Maravilhas, e Alyssa, além de não saber como contar a ele, não sabe como dizer que não está pronta para um compromisso ainda mais sério dentro do relacionamento deles, pelo menos não enquanto ele não souber de toda a verdade.
Morfeu resolve que se passar por um estudante na escola de Alyssa para tentar convencê-la a voltar é uma boa ideia, e por mais que ele seja "irresistível", ele mente, manipula, joga sujo e se aproveita da fragilidade, dos sentimentos e do desespero da menina para fazê-la duvidar de sua sanidade mental, levando todo seu histórico familiar em consideração. E nesse jogo de Morfeu, há várias situações em que ele faz suas investidas pra cima de Alyssa, outras em que Jeb fica com ciúmes, outras em que Alyssa fica dividida entre seus sentimentos, e esse triângulo amoroso só faz estragar essa história com tanto potencial. Penso que não tem a menor necessidade de um conflito amoroso desse tipo para que a história funcione, principalmente por esse fator tomar uma parte muito grande da história que poderia ser usada pra coisas mais importantes, como a batalha entre Alyssa e Vermelha, ou um aprofundamento maior sobre a questão da loucura que é passada pelas gerações da família de Alyssa em vez de apenas sugerir que algo grandioso possa acontecer. Ficamos na expectativa e nada acontece.

A aceitação gradual das origens da protagonista envolvendo magia e loucura foi bacana de se acompanhar, mas Alyssa não é uma personagem com quem me identifiquei ou me simpatizei, então, apesar de haver um leve suspense sobre quando as verdadeiras ameaças vão começar a eclodir, acabei não me importando muito.

A capa vista de longe é muito bonita, mas assim como a primeira, o tratamento dado a ela em editores de imagem é muito exagerado e pesado. A diagramação é muito boa e não percebi erros na revisão.

Enfim, Atrás do Espelho, apesar de não ter superado minhas expectativas, é um livro bom pra quem gosta de fantasias baseadas em clássicos, com toques de suspense, algumas revelações que se encaixam bem com as perguntas levantadas, e reviravoltas relevantes para a história.

Um Beijo À Meia-Noite - Eloisa James

17 de janeiro de 2018

Título: Quando a Bela Domou a Fera - Fairy Tales #1
Autora: Eloisa James
Editora: Arqueiro
Gênero: Romance de época/Releitura
Ano: 2017
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Sinopse: Kate Daltry é uma jovem de 23 anos que não costuma frequentar os salões da alta sociedade. Desde a morte do pai, sete anos antes, ela se vê praticamente presa à propriedade da família, atendendo aos caprichos da madrasta, Mariana. Por isso, quando a detestável mulher a obriga a comparecer a um baile, Kate fica revoltada, mas acaba obedecendo. Lá, conhece o sedutor Gabriel, um príncipe irresistível. E irritante. A atração entre eles é imediata e fulminante, mas ambos sabem que um relacionamento é impossível. Afinal, Gabriel já está prometido a outra mulher – uma princesa! – e precisa com urgência do dote milionário para sustentar o castelo. Ele deveria se empenhar em cortejar sua futura esposa, não Kate, a inteligente e intempestiva mocinha que se recusa a bajulá-lo o tempo todo. No entanto, Gabriel não consegue disfarçar o enorme desejo que sente por ela. Determinado a tê-la para si, o príncipe precisará decidir, de uma vez por todas, quem reinará em seu castelo.

Resenha: Um Beijo À Meia-Noite é o primeiro livro da série Fairy Tales escrita por Eloisa James. A série traz releituras dos contos de fadas mais famosos da literatura e este é inspirado em Cinderela. Pelas histórias serem independentes e distintas, não é necessário ler os livros na ordem de lançamento (até mesmo por que o lançamento deste primeiro foi feito depois do segundo).

Desde que Kate Daltry perdeu o pai, há sete anos, sua madrasta tomou sua herança, passou a controlar - e esbanjar - as finanças e ainda a prendeu na propriedade da família para que ela se encarregasse das tarefas domésticas e de atender seus caprichos e de sua filha. Obviamente Kate já pensou em largar tudo e partir, mas pensando nos inquilinos que poderiam ser despejados por Mariana, a madrasta, sem ter pra onde irem, ela permanecia na propriedade e aguentava todo tipo de desaforo e humilhação.
Sua meia-irmã, Victoria, está noiva e precisa se casar com uma certa urgência, mas antes de tudo o casamento deveria ser aprovado pelo tio do noivo, o Príncipe Gabriel. Assim, Victoria deveria comparecer ao baile de noivado do príncipe, que estava prestes a se casar com uma princesa russa para que seu dote sustentasse o castelo, e então pedir a aprovação e a benção dele. Mas Victoria sofreu um "acidente" e ficou impedida de ir ao dito baile, e para que os planos do casório não fossem arruinados, Mariana obriga Kate a se passar pela irmã, e, sem ter muita escolha, ela aceita participar da farsa.
Porém, quando Kate e Gabriel se conhecem, alguns sentimentos bem fortes - e incontroláveis - começam a surgir, mas este envolvimento é algo totalmente proibido e cheio de empecilhos. Kate sabe perfeitamente que não deve nutrir sentimentos por esse homem tão lindo, sedutor e irritante, mas quando o desejo e a atração são intensos a ponto de não ser possível sequer disfarçar, o que eles devem fazer?

Embora a história possua alguns elementos inspirados no conto original, Um Beijo À Meia-Noite segue por um caminho diferente utilizando de outros padrões, dando um novo contexto à história da jovem órfã, e isso fica bem óbvio quando a personalidade de Kate fica em evidência. Por mais que ela fosse maltratada pela madrasta e feita de empregada, ela não se submetia a qualquer capricho e, se fosse preciso, enfrentava a megera, principalmente quando queria proteger os inquilinos que precisavam de sua ajuda.
A premissa é bem bacana e o final foi satisfatório e convincente, mas o desenvolvimento da história acaba sendo bem morno, com acontecimentos que se repetem em cenários alternados, e somando isso a introdução que se destina a apresentar os personagens principais de uma forma bem longa, abordando suas vidas tristes e suas insatisfações, as coisas acabam ficando meio arrastadas e a leitura demora a engrenar.

A química entre Kate e Gabriel é intensa e perfeita, mas claro, proibida, e isso acaba refletindo bem o quanto era difícil passar por um casamento arranjado e por conveniência. De um lado Kate queria ficar com ele, mas não tinha o que oferecer além do seu amor. Do outro, o príncipe também fica encantado com Kate e sua personalidade fora dos padrões das moçoilas da época, mas ele como membro da realeza sabe de suas responsabilidades e compromissos, e se casar com a princesa é algo que ele precisa fazer para manter o castelo.

Os personagens são até bem construídos e damos várias risadas com eles, mas não são exatamente um espelho daqueles do conto da Cinderela que conhecemos. Há referências para o sapatinho de cristal, à madrinha que não é uma fada, e até aos bichinhos ajudantes. Kate tem a personalidade forte, pensa nos outros e é corajosa, mas em alguns momentos ela se inferioriza aos outros sem necessidade e entra em conflitos pessoais envolvendo suas próprias escolhas. É compreensível que ela tenha algumas atitudes e pensamentos meio absurdos devido a época, onde as moças se casavam ainda na adolescência e se passassem de uma certa idade já estavam velhas pra isso, mas sendo como é, penso que ela não deveria ter muitas preocupações e bastava que ela deixasse as coisas acontecerem naturalmente.

Enfim, a história tem seus elementos típicos do gênero, os bons e velhos clichês e toques bem colocados de sensualidade, e incluí-los nessa releitura de uma forma tão criativa só me fez admirar ainda mais a autora por seu talento. Pra quem gosta de releituras de contos de fadas e romances de época o livro é super indicado.

A Ascensão do Mal - Danielle Paige

12 de janeiro de 2018

Título: A Ascensão do Mal - Dorothy Must Die #2
Autora: Danielle Paige
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto/Releitura
Ano: 2017
Páginas: 240
Nota:★★★★☆
Sinopse: Meu nome é Amy Gumm - e eu sou a outra garota do Kansas.
Depois que um tornado destruiu o estacionamento de trailers onde eu morava, acabei indo parar um Oz.
Mas não era a Oz que eu conhecia dos livros e filmes.
Dorothy tinha retornado, mas agora era uma ditadora implacável. Glinda não podia mais ser chamada de Bruxa Boa. E as bruxas do mal que sobraram? Unram Forças para criar a Ordem Revolucionária das Malvadas e queriam me recrutar.
Minha missão? Matar Dorothy.
Só que minha tarefa de assassina não saiu conforme planejado. Dorothy ainda está viva. A Ordem desapareceu. E o lar que eu tanto queria deixar para trás pode estar em perigo.
De algum jeito, numa terra distorcida e dividida, preciso encontrar a Ordem, proteger a verdadeira soberana de Oz, matar Dorothy e seus capangas - e tentar descobrir o que eu realmente estou fazendo aqui. Mas, num lugar onde a linha entre o bem e o mal se desloca de acordo com a rajada do vento, em quem afinal eu posso confiar?
E quem é realmente do mal?
Resenha: O mundo de Oz mudou... Dorothy, obcecada pelo poder, se tornou uma governante cruel que sugava a magia do lugar para si. Isso precisava ter um fim...
Quando Amy Gumm, outra garota do Kansas, é sugada por um tornado e levada a Oz, ela é recrutada pela Ordem Revolucionária das Malvadas para salvar o mundo. Para isso ela deveria matar Dorothy e seus fieis capangas - o Homem-de-Lata, o Leão e o Espantalho -, enfrentando perigos, desvendando segredos, e descobrindo verdades sobre sua própria história.

Mas Amy falhou em sua missão, e por muito pouco conseguiu ser salva da morte por seus mais novos amigos. Agora, os membros da Ordem desapareceram e Amy não sabe para onde ir. O problema agora é ser caçada por Dorothy e sua perversa aliada, Glinda, mas não se Amy encontra-las primeiro, ela só precisa de ajuda. Assim, ela parte em busca da Ordem ao mesmo tempo em que tenta reverter o que aconteceu com Ozma, a melhor governante que Oz já viu... Com o coração do Homem-de-Lata em mãos, resta conseguir o coração do Leão e o cérebro do Espantalho para dar continuidade em sua arriscada missão e livrar Oz, o lugar que se tornou seu lar, da tirania.

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Amy, a autora nos conduz por esse universo mágico e curioso, onde as perguntas vão sendo gradualmente respondidas a medida que a protagonista progride em seus objetivos. Enquanto o primeiro volume tinha um ritmo intenso no que diz respeito aos acontecimentos, neste segundo, mesmo que nos deparemos com conspirações secretas, perseguições alucinantes e batalhas sangrentas, as coisas fluem um pouco mais devagar. A autora se preocupa em descrever todos os detalhes do que compõe o mundo mágico de Oz e isso torna a leitura um pouco enfadonha devido ao excesso.

O que pra mim foi um problema, e que quebrou muito desse clima, foi Amy constantemente divagando sobre suas inseguranças, vivendo um dilema meio sem sentido com relação a se deixar corromper pelo atual sistema de Oz, um romance forçado e que não tinha a menor necessidade de existir, e sua falta de direção quando ela sabia que tinha coisas importantes a serem resolvidas. Mas a medida que a história avança ela se torna mais confiante e arregaça as mangas para fazer o que era preciso, ou pelo menos tentar, que é salvar seu lar. E pra isso ela só pode confiar em si mesma já que ninguém parece ser o que aparenta... Mas gostei bastante das informações acerca do motivo de Amy ter ido para Oz e a ligação desse mundo com o estado do Kansas.

No mais, pra quem gosta de uma aventura cheia de fantasia com toques sombrios, vai curtir a leitura da série. Por mais que o desenvolvimento de A Ascensão do Mal seja um pouco mais lento do que o livro anterior, a ideia de acompanhar Amy num cenário tão rico e curioso já vale a leitura.

Over the Rainbow - Varios autores

22 de novembro de 2017

Título: Over the Rainbow - Um Livro de Contos de Fadxs
Autores: Milly Lacombe, Renato Plotegher Jr, Eduardo Bressanim, Maicon Santini e Lorelay Fox
Editora: Planeta de Livros
Gênero: Contos/Releitura/Literatura Nacional
Ano: 2016
Páginas: 224
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: E se a Cinderela se apaixonasse por uma garota, e não por um príncipe encantado? Ou se os irmãos João e Maria, homossexuais assumidos, enfrentassem a ira de uma madrasta religiosa que só pensa em “curá-los”? Ou, ainda, se a Branca de Neve, abandonada numa cidade bem distante de sua terra natal, fosse acolhida por... sete travestis? Pois pare de imaginar se os contos de fadas fossem revisitados e recebessem uma roupagem LBGTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Abra este livro e confira as clássicas histórias da infância de milhões de pessoas contadas sob a ótica de cinco autores que fazem parte desse universo, representado pelas cores do arco-íris. Ou melhor, contos de fadxs, como reza a nova norma de gêneros.

Resenha: Com tanta intolerância com a comunidade LGBT nos dias de hoje, livros que trazem representatividade com objetivo de esclarecer e desconstruir preconceitos são mais do que bem-vindos e necessários. A ideia de ter como base os contos de fadas clássicos da literatura se passando nos dias atuais e com uma roupagem totalmente diferente a fim de incluir o meio LGBT num compilado é simplesmente genial. Partindo daí, a proposta de Over the Rainbow seria ótima, se os pontos negativos da obra não tivessem superado o pouco que teve de bom...

O livro é composto por cinco contos, cada um escrito por um autor, e por mais que eles tenham trazido boa parte da realidade, dos dilemas e das dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBT, não me envolvi nem curti a escrita, as narrativas mal construídas que deixaram a trama subdesenvolvida, as cenas de sexo com detalhes dispensáveis, e muito menos o excesso de estereótipos de beleza, status e afins que acabou excluindo classes que também precisam de espaço e representatividade tão quanto qualquer outra, afinal, os LGBTs não são formados só por gente branca, linda, sarada e rica... Concentrando sempre as mesmas características nos personagens, penso que a tentativa de representá-los fica pela "metade" e o alcance acaba sendo inferior do que o esperado, pois a falta de leitores pra se identificarem com eles e com suas experiências para sentirem o mínimo de empatia será grande.

Em Mais do que manteiga com mel, Milly Lacombe traz uma Cinderela lésbica e masculinizada que vive num cubículo da mansão onde mora e ainda é apaixonada pela meia-irmã. Sua madrasta não aceita sua condição e vive pra torturá-la.
O Amargo da intolerância, de Renato Plotegher Jr., traz os irmãos João e Maria numa versão homossexual. Eles moram com o pai e a madrasta, que é uma fanática que quer curá-los dessa "doença" e arrancar a "entidade maligna" que se apossou dos seus corpos de qualquer jeito.
Eduardo Bressanim se baseou na história da Bela e a Fera e escreveu Atormentado, que apresenta um jovem isolado que navega por aplicativos de relacionamento em busca de algo a mais, e acaba conhecendo um jardineiro.
O loirinho do Joá, de Maicon Santini, é uma versão de Rapunzel onde o protagonista é confinado numa clínica quando seu pai descobre que ele é gay.
Lorelay Fox adaptou a história da Branca de Neve e os Sete Anões em A Ressurreição de Júlia, que aborda a temática dos transexuais de uma forma bem interessante e é, de longe, o que não fez da obra um completo fiasco. No conto a madrasta morre de inveja da garota cujo sonho é se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo. Porém, ela acaba sendo abandonada com a roupa do corpo e é acolhida por um grupo de sete travestis.

Enfim, com exceção do conto da Branca de Neve, que foi escrito com muito mais sensibilidade e cuidado, percebi que além da escrita amadora e da tentativa falha de florear o texto com palavras mais cultas e rebuscadas (a única pessoa que me vem à mente que conversa daquele jeito ridículo é um tal de Dudu Camargo), não houve muito cuidado com alguns termos utilizados, como "opção sexual" (sério que alguém do próprio meio LGBT não se atentou que quem é gay não escolhe ser gay?), ou com a construção de personagens e enredo para que se tornassem críveis, principalmente pelas histórias se passarem num cenário atual.

Mas mesmo com tantos pontos negativos, eu entendi que talvez a ideia tenha sido mostrar uma realidade crua, difícil e desconfortável de se encarar que muitos desconhecem ou ignoram, e mesmo não tendo sido um livro que superou minhas expectativas e que eu tenha realmente gostado, pode ser uma leitura válida para discutir o tema, levantar questionamentos e trazer uma boa reflexão sobre homofobia, preconceito, bom senso e respeito (que é bom e todo mundo gosta e devia ter).

A Rosa e a Adaga - Renée Ahdieh

9 de julho de 2017

Título: A Rosa e a Adaga - A Fúria e a Aurora #2
Autora: Renée Ahdieh
Editora: Globo Alt
Gênero: Romance/Releitura
Ano: 2017
Páginas: 364
Nota:★★★★☆
Sinopse: Inspirada nos clássicos contos do livro As mil e uma noites, produzidos entre os séculos XII e XVI, Renée Ahdieh criou uma história que conquistou leitores e chegou ao topo da lista de best-sellers do New York Times. A rosa e a adaga conclui o enredo de romantismo, traição, intrigas e mistério iniciado em A fúria e a aurora.
A jovem Sherazade chegou a acreditar que seu marido, Khalid, o califa de Khorasan, fosse um monstro. Mas por trás de seus segredos, ela descobriu um homem amável, atormentado pela culpa e por uma terrível maldição, que agora pode mantê-los separados para sempre. Refugiada no deserto com sua família e seu antigo amor, Tariq, ela concentra forças para quebrar a maldição e voltar a viver com seu verdadeiro amor.
Com uma narrativa envolvente e repleta de referências à cultura árabe, a autora desenvolve um universo de intriga política, magia negra e relações complexas. Os personagens, que em A fúria e a aurora já haviam conquistado o coração dos leitores, tornam-se ainda mais marcantes, profundos e sedutores.

Resenha: O segundo e último volume da duologia de Renée Ahdieh fecha com excelência a história de Sherazade. A Fúria e a Aurora foi um bom livro, mas a história pareceu carecer de algum ingrediente. A Rosa e a Adaga traz, em pouco mais de trezentas e cinquenta páginas, uma escrita muito bem feita, mostrando uma marca da autora e exemplificando como é possível elevar o nível para encerrar a trama com maestria. Um conteúdo onde não é preciso tirar nem pôr.

Enquanto no primeiro livro a trama se passou praticamente no castelo, em A Rosa e a Adaga Sherazade está num acampamento no deserto, juntamente de sua irmã Irsa, e seus amigos Rahim e Tariq. Agora a personalidade da protagonista está muito mais acentuada e as intenções dela são bem mais definidas. Ela é tipo de mulher decidida e em muitas passagens ela se mostra bad ass e nada submissa aos homens. Houve um desenvolvimento visível nela em relação ao passado. Além do tapete voador (sim! ele existe), ela merece um tapete vermelho por onde passa.

O amor de Khalid e Shazi está mais forte do que nunca e agora ele é mais crível do que no livro antecessor. Renée demorou um pouco para desenvolver a relação dos dois anteriormente e isso deixou o amor meio raso, mas nesta sequência é tudo intenso e mais bonito. A história é recheada de frases de efeito (para suspirar), juras de amor eterno e momentos de ternura. Envolto em tudo isso também há muito drama e lágrimas. É interessante ver como a autora cria paralelos na trama para trabalhar cada tema separadamente. Os capítulos soam como contos sendo contados separadamente, mas que se encaixam de alguma forma. Cada personagem recebeu sua devida atenção e suas importâncias são mostradas pela autora.

Um pequeno triângulo amoroso existe entre Khalid, Sherazade e Tariq. Mesmo com um amor tão reafirmado por Khalid, o jovem Tariq não desiste de ir atrás do amor de sua amada. Graças a este sentimento, há uma cena carregada de pura emoção que se tornou um dos pontos altos da história. Irsa também ganhou destaque na história e protagonizou um dos momentos mais bonitos de A Rosa e a Adaga. A maturidade dos personagens é além do esperado e isso torna a história muito mais agradável.

Foi formidável que Ahdieh trabalhou o desfecho da duologia, sem deixar pontos abertos e não floreando tudo ao ponto de se perder. Tem misticismo, um amor quase impossível, aventura com mulheres a frente de tudo, e outros elementos interessantes para atrair o leitor. O melhor, sem dúvida, foi guardado para o final. Muitos fatos acontecem e Renée surpreendeu com um acontecimento digna da história de Shazi. Ao fechar a última página, a sensação é de ter despertado de um verdadeiro contos de fadas. Leitura mais que recomendada.


Quando a Bela Domou a Fera - Eloisa James

22 de junho de 2017

Título: Quando a Bela Domou a Fera - Fairy Tales #2
Autora: Eloisa James
Editora: Arqueiro
Gênero: Romance de época/Releitura
Ano: 2017
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Sinopse: Piers Yelverton, o conde de Marchant, vive em um castelo no País de Gales, onde seu temperamento irascível acaba ferindo todos os que cruzam seu caminho. Além disso, segundo as más línguas, o defeito que ele tem na perna o deixou imune aos encantos de qualquer mulher.
Mas Linnet não é qualquer mulher. É uma das moças mais adoráveis que já circularam pelos salões de Londres. Seu charme e sua inteligência já fizeram com que até mesmo um príncipe caísse a seus pés. Após ver seu nome envolvido em um escândalo da realeza, ela definitivamente precisa de um marido e, ao conhecer Piers, prevê que ele se apaixonará perdidamente em apenas duas semanas.
No entanto, Linnet não faz ideia do perigo que seu coração corre. Afinal, o homem a quem ela o está entregando talvez nunca seja capaz de corresponder a seus sentimentos. Que preço ela estará disposta a pagar para domar o coração frio e selvagem do conde? E Piers, por sua vez, será capaz de abrir mão de suas convicções mais profundas pela mulher mais maravilhosa que já conheceu?

Resenha: Quando a Bela Domou a Fera é o segundo livro da série Fairy Tales escrita pela autora americana Eloisa James. O conto no qual foi inspirado é A Bela e a Fera. A série tráz releituras dos contos de fadas mais famosos da literatura, e pelas histórias serem independentes e distintas, não é necessário ler na ordem. Os demais livros da série ainda serão lançados pela Editora Arqueiro: A Duqueza Feia (livro #4) e Um Beijo à Meia-Noite (livro #1).

Linnet Berry Thrynne é uma das jovens mais bonitas de toda a Londres. Os rapazes fazem filas imensas para cortejá-la e sua beleza é tanta que nem mesmo o príncipe Augustus resistiu aos seus encantos. Porém, depois de ter sido flagrada aos beijos com o moço, que não tinha intenção alguma de se casar com ela, a reputação de Linnet foi arruinada e, como se isso não bastasse, ela ainda se envolveu num escândalo em que todos na sociedade acreditam piamente que ela está grávida, mesmo que ela tenha negado todas as fofocas e acusações falsas das quais foi vítima. Mas o estrago já estava feito, Linnet já não servia mais para se casar e para não desonrar ainda mais a família, seu pai, o Visconde de Sundon, resolve arranjar-lhe um casamento com o filho do duque de Windebank, que mora bem longe dalí.
Piers Yelverton, o conde de Marchant, é um médico genial que ficou conhecido como "Fera" por ter alguns defeitos físicos e por não ter sido agraciado com o dom do bom humor e da paciência. Seu pequeno problema também não permitia que ele tivesse filhos, e ele não se importava com isso desde que pudesse cuidar de seus assuntos profissionais em paz. Mas o duque, com sua obsessão pela realeza, ansiava por casar o filho já que esta seria a única forma dele ter herdeiros para perpetuar o nome da família, e a "gravidez" de Linnet poderia resolver todos esses problemas. E mesmo que ela insistisse em afirmar que a gravidez não existia, ninguém lhe dava ouvidos. Assim, Linnet parte rumo ao País de Gales para conhecer o futuro noivo em seu castelo.
Tendo personalidades tão diferentes, o desafio para se aproximarem se tornou ainda maior. Enquanto Piers estava determinado a não ceder aos encantos de Linnet por não concordar com a ideia de se casar, mesmo sabendo que ela não estava grávida e que o "problema" do herdeiro não eria resolvido, a jovem se sente curiosa e atraída por ele, e mesmo que esconda seus sentimentos, ela não aceita que esteja sendo rejeitada pela primeira vez.

Narrado em terceira pessoa com capítulos que se alternam sobre os pontos de vista de Linnet e Piers, o leitor acompanha uma aventura romântica em meio a uma escrita bem humorada e maravilhosamente fluída, com toques de ironia, sarcasmo e cenas picantes para movimentar as coisas.

Pela história se basear em uma tão conhecida, sabemos que fim a trama terá, mas são as mudanças e adaptações que se desenrolam que nos fazem querer saber o que viria a seguir. Num contexto diferenciado, me peguei pensando por diversas vezes se o próximo capítulo traria algo que me surpreendesse ou não, e posso afirmar que o livro superou minhas expectativas.

Foi divertido acompanhar um casal tão diferente, mas que ao mesmo tempo era tão parecido em suas convicções. Donos de personalidades fortes, a primeira vista eles sabem que um casamento estaria fadado ao fracasso, mas a curiosidade que surge entre a forma como se comportam frente ao outro faz com que um relacionamento baseado na amizade se desenvolva. Tal relacionamento permite com que eles se aproximem e passem a ter outros conceitos que vão evoluindo a medida que o tempo passa, mesmo que vivam trocando farpas e se alfinetando tanto que é até possível desconsideramos que algo além da amizade poderia surgir dalí. Os diálogos são dinâmicos e divertidos, principalmente quando há provocações envolvidas.

Eu gostei bastante da construção dos personagens, pois eles são únicos e cativam a própria maneira. Piers é um bronco desbocado, que carrega muita mágoa no coração, principalmente depois do acidente, mas acaba se revelando um enorme cavalheiro, dono de um coração de ouro. Sua dedicação como médico e a forma como cuida dos enfermos sem lhes cobrar nada nas alas médicas do castelo que construiu somente para esta finalidade são dignas de admiração.
Não consegui enxergar muito da Bela original em Linnet. Mesmo que seja inteligente, ela é vaidosa ao extremo, fútil e muito cheia de si. Entendo que na época tais atributos não eram problemas visto que a função das donzelas era serem recatadas e arrumarem um bom marido, e por causa das intrigas feitas contra ela, sua única opção era sumir dalí e tentar encontrar o que precisava para amenizar sua situação em outro lugar.
Sendo assim, de um lado estava Linnet com a reputação arruinada, e de outro, Piers que se mantinha isolado e era mal visto. Ambos rejeitados pela sociedade, mas que encontram um no outro a receptividade e a aceitação.

Mesmo a capa não sendo tão atrativa, ela representa bem a personagem clássica com o tecido amarelo ao fundo e a rosa vermelha em destaque. A diagramação é simples, as páginas são amarelas, os capítulos são numerados e precedem uma pequena rosa como detalhe, e o texto se inicia com letra capitular.

De forma geral, pra quem gosta de releituras e romances de época, é leitura mais do que recomendada. A roupagem nova e a criatividade da autora em trazer personagens com características próprias, mas ainda levantando a questão da importância da beleza interior, cativa e diverte o leitor de forma única.

A Fúria e a Aurora - Renée Ahdieh

8 de setembro de 2016

Título: A Fúria e a Aurora - A Fúria e a Aurora #1
Autora: Renée Ahdieh
Editora: Globo Alt
Gênero: Romance/Releitura
Ano: 2016
Páginas: 336
Nota: ★★★☆☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Personagem central da história, a jovem Sherazade se candidata ao posto de noiva de Khalid Ibn Al-Rashid, o rei de Khorasan, de 18 anos de idade, considerado um monstro pelos moradores da cidade por ele governada. Casando-se todos os dias com uma mulher diferente, o califa degola as eleitas a cada amanhecer. Depois de uma fila de garotas assassinadas no castelo, e inúmeras famílias desoladas, Sherazade perde uma de suas melhores amigas, Shiva, uma das vítimas fatais de Khalid. Em nome da forte amizade entre ambas, Sherazade planeja uma vingança para colocar fim às atrocidades do atual reinado.
Noite após noite, Sherazade seduz o rei, tecendo histórias que encantam e que garantem sua sobrevivência, embora saiba que cada aurora pode ser a sua última. De maneira inesperada, no entanto, passa a enxergar outras situações e realidades nas quais vive um rei com um coração atormentado. Apaixonada, a heroína da história entra em conflito ao encarar seu próprio arrebatamento como uma traição imperdoável à amiga.
Apesar de não ter perdido a coragem de fazer justiça, de tirar a vida de Khalid em honra às mulheres mortas, Sherazade empreende a missão de desvendar os segredos escondidos nos imensos corredores do palácio de mármore e pedra e em cenários mágicos em meio ao deserto.
Resenha: Com ótimas avaliações no Skoob e Goodreads, a estreia de Renée Ahdieh não se provou tal maravilha que esperei. Nessa releitura temos Sherazade (Xerazade, em As Mil e Uma Noites), que se ofereceu para ser esposa do temido jovem rei Khalid, que a cada aurora mata uma nova mulher. A moça de cabelos negros e longos se prontificou a tal papel sabendo que sua melhor amiga, Shiva, havia sido morta recentemente por ele. A ideia era se aproximar do rei e matá-lo como vingança pelos seus atos e todas as famílias que ele desolou, mas Shazi, como os amigos a chamam, entra em conflito quando se apaixona pelo malfeitor. Primeiro de uma duologia, A Fúria e a Aurora é um livro em que coloquei grande expectativa, mas ao final se provou bem aquém do desejado.

A ideia de recontar uma história famosa é sempre boa quando o autor sabe conduzir e transformar positivamente aquilo que já conhecemos. O grande atrativo neste livro é a ambientação: desertos, sultões, palácio e segredos. A personagem principal, Sherazade, é uma jovem de fibra. Ela é a típica protagonista que facilmente nos apaixonamos, com toda sua inteligência e perspicácia. Com uma ótima jogada, ela consegue escapar da morte pelas mãos de Khalid na sua primeira aurora, contando a ele uma breve história e o deixando sem saber o final. Para quem não sabe, assim como eu não sabia, As Mil e Uma Noites são contos que se originaram no século IX, segundos historiadores, e tem como voz narrativa a própria Xerazade, que tentava escapar da morte que o rei Xariar preparava para ela. Essa semelhança é notável entre a obra original e o reconto, e foi um dos pontos altos da trama. Um dos poucos, infelizmente.

Por se tratar de uma duologia, é necessário colocar tudo em dois livros, apesar de o habitual ser uma trilogia ou série. Um dos agravantes de A Fúria e a Aurora é a falta do que veio "antes". A história começa já com Shazi nas mãos de Khalid, até ai tudo bem. O problema é que exceto o romance dos dois, pouco convincente, não acontece nada instigante no decorrer do livro. Os fatos realmente interessantes e relevantes ocorrem a partir da página duzentos e trinta, enquanto o que ficou para trás foi um conteúdo sem grande atrativo. O amor de Sherazade e o rei sanguinário não conseguiu me convencer, faltou veracidade. Há um mistério envolvendo Jahandar, pai da jovem, mas que é deixado de lado e poderia ter dado um gás para a trama. Até uma parte que envolve magia, e que muitos leitores poderão fazer a conexão com a famosa história do Aladin, só aparece rapidamente, deixando clara a ideia que talvez poderá ser aproveitada no próximo volume.

No que diz respeito ao amor que envolve Sherazade e Khalid, não é raso nem tão profundo. Voltamos a mesma questão da ausência do "antes". Tariq, que é o primeiro amor de Shazi, estava determinado a lutar para resgatá-la do palácio. Mas o que, além de uma breve passagem pela infância dos dois narrada rapidamente, motiva todo esse amor? O mesmo serve para o jovem rei sanguinário. Todo o mistério que envolve a razão pela qual ele mata suas noivas é guardado até o final. Quando a revelação foi feita, não causou uma total surpresa. A personificação de Khalid. a partir da sinopse e do ponto de vista de Shazi e a população da cidade, é de um homem sanguinário, mas o que encontrei foi somente um jovem perturbado por um segredo.

Por se tratar de uma duologia, Renéh tem apenas uma chance para transformar a história de Sherazade de forma positiva, o que se provará no segundo volume. A Fúria e a Aurora poderia ter englobado mais magia e aventura, mas tudo gira em torno de um amor que não convence e um segredo que não foi o ápice da trama. As passagens de tempo são confusas e rápidas demais. De repente, dois meses já tinham se passado e acontecimentos eclodiram numa tentativa de dar alguma emoção à monótona saga de Shazi em busca de vingança. Com um grande pano de fundo em mãos, Ahdieh poderia ter dado um ar totalmente novo para As Mil e Uma Noites, mas transformou tudo em um mero romance. O final, que tentou dar ao livro alguma "explosão", deixou aberta a porta para uma continuação que poderá ser a salvação dessa duologia. Ou não.


Dorothy tem que Morrer - Danielle Paige

17 de agosto de 2016

Título: Dorothy tem que Morrer - Dorothy Must Die #1
Autora: Danielle Paige
Tradutora: Cláudia Mello Belhassof
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto/Releitura
Ano: 2016
Páginas: 384
Nota: ★★★☆☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Quando toda a sua vida é levada por um tornado – incluindo você –, não há escolha a não ser continuar, certo? Claro que eu li os livros. Assisti aos filmes. Conheço a música sobre o arco-íris. Mas nunca imaginei que Oz fosse assim. Um lugar onde Bruxas Boas não são confiáveis, Bruxas Más talvez sejam boazinhas e macacos alados são executados por atos de rebelião. Ainda há uma estrada de tijolos amarelos, mas até isso está se desfazendo. O motivo? Dorothy. Dizem que ela retornou a Oz. Dizem que ela tomou o poder. E agora ninguém está seguro... Meu nome é Amy Gumm...Eu sou a outra garota do Kansas. Fui recrutada pela Ordem Revolucionária dos Malvados. Fui treinada para lutar.
Resenha: E se o mundo de O Mágico de Oz fosse totalmente transformado, não sendo mais aquele que todos previamente conhecem? Em Dorothy tem que morrer, estreia de Danielle Paige, há uma nova roupagem para a famosa história de L. Frank Baum. Amy, uma jovem garota do Kansas - assim como Dorothy -, vive uma vida normal até que um tornado suga ela  o trailer em que  vive com sua mãe, levando-a diretamente para Oz. Porém, o que ela encontra ali é diferente: toda a magia do lugar está sendo drenada por Dorothy, que deixou de ser aquela garota boa tornando-se má e sedenta por poder. Todos ali a temem e há pouca esperança de mudanças. Com a chegada de Amy, essa situação tende a mudar, já que é dada a ela a missão de assassinar a tirana. Em um reconto de um clássico americano infantil, o livro de estreia de Paige, que figurou nos mais vendidos do The New York Times, é uma verdadeira aventura pelo desconhecido e invertido mundo de Oz.

Antes de iniciar essa resenha, foi necessária uma breve pesquisa sobre a história original. Sim, eu pouco a conhecia. Assim como a autora, que nos agradecimentos deixa claro seu apoio de um editor que a ajudou muito com a construção da vilã Dorothy, precisei procurar informações suficientes para me ambientar na trama.

O início conta com uma rápida introdução a Amy e sua pacata vida que mudou drasticamente com o divórcio dos pais. A menina é jovem e não tem a situação mais feliz para alguém da idade dela. Com sua mudança abrupta para Oz, situações difíceis surgem e exigem uma nova Amy, e ela dá vida a essa outra parte de si mesma. A garota usa muito do raciocínio lógico e pensa muito antes de fazer algo. Ela é mais razão do que emoção. Só faltou um pouco mais de fibra e decisões próprias. Apesar de toda ação e técnicas que ela aprendeu com as bruxas, faltou mais questionamento e menos assentimento. É estranha a forma como dizem que ela vai ser responsável pela morte de Dorothy mas a jovem nem mesmo insiste em saber o motivo.

Os demais personagens, da Ordem dos Malvados, são tratados de maneira rasa. Sendo toda história narrada por Amy, Nox e as bruxas que tentam tirar Oz do poder de Dorothy são pontos de interrogação. Não foi possível criar um conceito profundo sobre nenhum deles, pois os mesmos não se mostraram para a garota. Amy se sentiu numa linha tênue entre o confiar e não confiar neles. Acho que isso, apesar de não ser o melhor jeito de iniciar uma série para mim, deixa no ar uma curiosidade. O mistério que envolve esse clã que quer trazer paz à Oz intriga e deixa a porta aberta para grandes revelações nos volumes sequentes.  Quanto a personagem que dá nome ao livro, ela é uma vilã diferente. Por não conhecer a obra de L. Frank Baum, não posso comparar a personalidade dela entre a original e esta releitura. A certeza é que aqui ela tem uma tirania implacável e é cruel com todos que atravessam seu caminho, mas tudo se revela meio inconclusivo porque há muita infantilidade em seu comportamento. Tudo é fundamentado apenas numa sede de magia, como se isso fosse viciante e ponto. E o que mais? Acredito que suas ações não a caracterizam como antagonista tão malvada como premeditei, mas como uma garota mimada que mata quem a incomoda. E juntamente dela, temos o Leão, o Espantalho, e o Homem de Lata. Eles, além novas características físicas, que são muito peculiares, tiveram suas essências invertidas em relação ao enredo original.

Dorothy tem que morrer é uma boa releitura para uma história tão conhecida. O livro cumpre seu papel: introdução. Há ação, magia, e mistério. Danielle Paige reuniu elementos que são atraentes para o publico juvenil e os colocou numa história já famosa, o que pode ter sido um bom gancho para o sucesso. Apesar de tudo, o desenvolvimento não foi dos mais fortes, mas mesmo assim satisfatório. O que deveria ser o frisson do livro, no final, não passa de uma cena comum sem grande emoção, o que faz surgir uma cobrança para algo melhor em sua continuação. A autora teve em mãos um enredo perfeito para a construção de uma aventura sem igual, mas houve algumas falhas. Com a ausência de um epílogo e um final totalmente aberto, fica a espera para continuar acompanhando a saga de Amy e descobrir o que The Wicked Will Rise trará.

A Bela e a Adormecida - Neil Gaiman

2 de dezembro de 2015

Título: A Bela e a Adormecida
Autor:  Neil Gaiman
Ilustrações: Chris Riddell
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Juvenil/Fantasia/Releitura
Ano: 2015
Páginas: 70
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em uma sombria e fascinante história, as mais queridas princesas dos contos de fadas são reinventadas de maneira brilhante pelo inglês Neil Gaiman e o ilustrador Chis Riddell.
Em A Bela e a Adormecida, uma jovem rainha é informada, na véspera de seu casamento, sobre uma estranha praga que assola as fronteiras do seu reino, um sono mágico que se espalha pelo território vizinho e ameaça os seus domínios. Na companhia de três anões, a rainha abandona o fino vestido da festa, pega sua espada e armadura e parte pelos túneis dos anões para o reino adormecido. Uma viagem repleta de ação e suspense que leva a uma surpreendente descoberta. Misturando o conhecido e o novo com perfeita sintonia, Gaiman cria mais uma obra repleta de magia e aventura capaz de hipnotizar o mais exigente dos leitores.

Resenha: A Bela e a Adormecida é uma releitura que mescla dois contos de fadas reinventados de uma forma genial pelo autor inglês Neil Gaiman. As ilustrações de Chris Riddell colaboram imensamente para que o livro possa ser considerado uma verdadeira obra de arte.

No conto, os nomes de personagens não são mencionados, mas sabemos de quem se trata devido a pequenas informações dadas no decorrer da leitura.
Uma jovem rainha está pra se casar e três anões decidem presenteá-la com a melhor e mais bonita seda do mundo, mas durante a viagem para conseguirem tal presente, eles são alertados de que uma jovem do reino pra onde estavam indo fora amaldiçoada quando nasceu, e a praga estaria se alastrando para os vilarejos vizinhos, fazendo com que todos caíssem em sono profundo. A jovem dormia em seu castelo e, embora muitos tenham tentado atravessar a floresta, todos falharam na tentativa de acordá-la de seu sono mágico pois nem ao menos conseguiram chegar até ela.
Temerosos, os anões retornam para contar à rainha sobre a maldição. Os anões acreditavam que a experiência da rainha de ter dormindo por um bom tempo poderia ajudar para que tal maldição fosse quebrada, tirando a princesa de seu sono eterno. Ela deixa seu vestido fino e delicado de lado, veste sua armadura, empunha sua espada, e, na companhia dos três anões, parte para o reino adormecido.


O trabalho gráfico é maravilhoso e bastante requintado. O livro é grande e em formato hardcover. A jacket possui transparência de forma que a ilustração da capa apareça e os detalhes nas ilustrações internas são dourados. As ilustrações de Chris Riddell possuem traços finos, por vezes emaranhados já que são só contornos e somente alguns detalhes são preenchidos com dourado, mas revelam as expressões dos personagens de maneira incrível e realista.


A Bela e a Adormecida já andava sendo bastante comentado, principalmente pela ideia de que quem tira a donzela de seu sono eterno com um beijo não seria um príncipe, afinal, porque as mulheres devem ser salvas por homens? E porque, obrigatoriamente, deve haver amor nessas questões?
O feminismo fica explícito quando Gaiman quebra tais paradigmas e cria uma releitura com um ar sombrio, cheia de originalidade e que surpreende bastante ao trazer duas personagens conhecidas numa versão inédita e livre de estereótipos, afinal, quem esperaria por uma rainha, aparentemente delicada e passiva, que é determinada em suas decisões e busca a solução para os problemas com coragem e bravura sem depender de nenhum príncipe encantado?

Recomendo pra todos aqueles que gostam de releituras de contos que, de forma moderna e sem preconceitos, traz nas entrelinhas mensagens sobre a força das mulheres, a importância da amizade e o poder de escolha que todos podemos ter.

Alice no País das Armadilhas - Mainak Dhar

14 de novembro de 2015

Título: Alice no País das Armadilhas - Alice no País das Armadilhas #1
Autor: Mainak Dhar
Editora: Única
Gênero: Releitura/Fantasia/Sci-fi
Ano: 2015
Páginas: 256
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: O planeta Terra foi devastado por um ataque nuclear, e boa parte de sua população se transformou em Mordedores, mortos-vivos que se alimentam de sangue e, com sua mordida, fazem dos humanos seres como eles.
Alice é uma jovem humana de 15 anos que mora no País das Armadilhas, nos arredores da cidade que um dia foi Nova Déli, na Índia. Ela nasceu nessa nova realidade aterrorizante e teve de aprender a se defender sozinha desde cedo.
As coisas mudam quando Alice decide seguir um Mordedor por um buraco no chão: ela descobre a estarrecedora verdade por trás da origem das criaturas e se dá conta da profecia que ela mesma está destinada a consumar — uma profecia que se baseia nos restos chamuscados do último livro encontrado no País das Armadilhas, uma obra chamada Alice no País das Maravilhas.
Uma mistura incomum de mitos, teorias conspiratórias e Lewis Caroll, Alice no País das Armadilhas pode parecer mais uma história de zumbi, mas é uma metáfora instigante de como tendemos a demonizar aquilo que não compreendemos.

Resenha: Alice no País das Armadilhas é o primeiro volume da série homônima escrita pelo autor indiano Mainak Dhar e publicado no Brasil pela Única.
O mundo já não é mais o mesmo. Com a eclosão de mortos vivos, a chamada Insurreição, os governos de grandes potências mundiais atacaram os principais centros de surgimento com armas nucleares a fim de acabarem com esta ameaça. Os Mordedores tentavam aumentar sua população mordendo os humanos, pois através da mordida eles se transformavam. Mas toda a destruição causada pelos homens não foi o suficiente para acabar com essas criaturas, e desse apocalipse surgiu uma luta pela sobrevivência entre humanos e errantes numa terra devastada, estéril e triste que agora ficou conhecida como o País das Armadilhas.

E neste cenário somos apresentados à Alice, uma garota loira de quinze anos que vive nas cercanias do que antes era Nova Déli, num assentamento com os pais e a irmã mais velha, e mais um grupo de outros humanos sobreviventes e resistentes. Ela nasceu depois da Insurreição e não conhece nada do que o mundo foi antes. Alice passou a infância brincando com armas, explosivos e aprendendo como matar e destruir os mortos-vivos. Ela aprendeu a atirar e se tornou umas das melhores atiradoras do acampamento. Por ser veloz, observadora e ter uma excelente pontaria, Alice colaborava com a defesa do local, esperando em pontos estratégicos para acertar Morderores que pudessem ter escapado da força dominante. Seu pai, o líder do assentamento, não permitia que ela se distanciasse e ela acabava se entediando por ter que ficar em constante observação, só ouvindo de longe o estampidos dos tiros sem saber o que estava acontecendo.

Mas, curiosa, Alice resolveu se arrastar para poder ver além, e, para sua surpresa, avistou um Mordedor. O fato de ele estar usando orelhas de coelho não foi o que lhe causou estranhês, afinal, quando as pessoas se tornam errantes elas continuam vestindo as roupas que usavam antes da morte, mas sim que ele não estava vagando aleatoriamente. Ele parecia procurar algo, e pra alguém desprovido de raciocínio e inteligência, isso não é algo comum. Até que ele foi literalmente engolido por um buraco no chão e Alice, perplexa, o seguiu. Ela já havia ouvido rumores de que bases subterrâneas onde os errantes viviam existiam, e de lá eles surgiam para continuarem devastando tudo pela frente. Saber o local de uma dessas bases daria uma grande vantagem ao acampamento durante um ataque. O que Alice não esperava era ter encontrado uma delas e muito menos escorregar buraco abaixo para ser encurralada por um grupo pútrido de mortos-vivos, incluindo o Orelhudo que lhe despertou curiosidade. Na base, ela conhece uma mulher misteriosa que se denomina Rainha dos Mordedores, e Alice descobre mais sobre eventos que irão entrar em contradição com tudo o que ela aprendeu e acreditou ser verdade, principalmente quando ela é informada de que faz parte de uma profecia tirada dos restos de um livro intitulado Alice no País das Maravilhas, e que a salvação do mundo está em suas mãos. Será que a guerra entre errantes e humanos é realmente necessária? Como e por que exatamente ocorreu essa eclosão de Mordedores? O que pode estar por trás dessa história e qual é o verdadeiro papel de Alice alí?

Narrado em terceira pessoa, o livro discorre numa leitura fácil, rápida e fluída, com descrições detalhadas e bem explicativas sobre situaçãos, personagens e cenários de forma a introduzir o leitor ao ambiente pós-apocaliptico e ao que aconteceu para que o mundo chegasse aquele ponto. Alguns trechos são um pouco repetitivos mas Alice no País das Armadilhas é aquele tipo de história em que as coisas acontecem muito rápido, personagens vem e vão sem que tenhamos tempo de nos apegarmos a eles, e isso acabou me fazendo sentir falta de um aprofundamento maior já que envolve questões delicadas que vão muito além do faz-de-conta.
Pra quem gosta de histórias que envolvem o universo zumbi, com lutas, tiros, carnificina e sangue vai gostar, mas o livro não é feito somente desses elementos. No enredo há questões políticas e conspiratórias construídas de forma bem inteligente, pois nos deparamos com a ideia do esforço de uma força maior, munidos de alto poder de fogo e soldados treinados, para manter o povo alheio ao que realmente aconteceu no passado para continuarem ditando as regras conforme convém. Então além da ação, ainda há um quê de mistério, despertando nossa curiosidade sobre os reais propósitos de quem detém o poder.

E como se essa combinação já não fosse o bastante para despertar nossa curiosidade, ainda temos os elementos criados por Lewis Carroll no clássico Alice no País das Maravilhas adaptados à obra de forma superficial, mas genial, afinal, a história fala basicamente sobre guerra e interesses políticos.
Ficção científica, fantasia, ação e toques de distopia se misturam e formam uma trama de caráter único, apresentando uma personagem jovem e inteligente que, ainda que sem intenção inicial, acaba descobrindo o que há por detrás dos interesses das potências governamentais e é peça chave para que a verdade seja levada à tona, logo o livro também faz uma crítica à política mostrando que, independente do lugar, sempre haverá sujeira e ganância, mas que somente a força do povo é capaz de derrubar o sistema, desde que trabalhem unidos e focados em prol de seus objetivos.


A capa é linda e bastante sugestiva ao mostrar silhuetas de árvores secas e criaturas "demoníacas" que penso ilustrarem o demônio interior de cada um ou a forma como vêem as coisas ou são vistos por outros. A diagramação é simples, os capítulos são numerados por extenso e possuem pequenos ornamentos que dividem as cenas. As páginas são amarelas e encontrei alguns poucos erros na revisão. Não é nada que comprometa a leitura, mas são frases que eu li e reli pra conferir se estavam mesmo certas por estarem estranhas como "Alice achou que ele estivesse prestes atacá-la." (pág. 96) Faltou um "a" alí depois do "prestes", não? Me deparei com um trecho (no fim da pág. 49) onde Alice saía correndo pra pegar um transmissor de rádio que havia sido jogado e caído a centímetros dela. Se estava a centímetros ela não poderia ter dado um único passo? Como é possível alguém sair correndo por centímetros de distância? Não sei se isso foi erro na tradução ou na adaptação, mas coisas assim, mesmo que bobas, me incomodam durante a leitura porque fico só pensando naquilo enquanto leio e acabo me distraindo.

Alice no País das Armadilhas é um misto de Resident Evil The Walking Dead e eu gostei bastante da história, tanto pelo tema abordado quanto pela mensagem que passa sobre criarmos uma resistência e termos preconceitos sobre coisas que estão além da nossa compreensão, afinal, nem sempre o que pensamos corresponde à realidade e nem sempre quem acreditamos ser o vilão, realmente é, da mesma forma que nem sempre quem diz nos proteger quer o nosso bem...
Pra quem quer acompanhar uma heroína destemida em busca de algo que dará esperança de uma vida melhor ao povo, recomendo.
                   

Escola de Vilões - Jen Calonita

13 de outubro de 2015

Título: Escola de Vilões - Escola de Vilões #1
Autora: Jen Calonita
Editora: Única
Gênero: Fantasia/Releitura/Juvenil
Ano: 2015
Páginas: 192
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Gilly não se considera exatamente uma garota má... Porém, quando se tem cinco irmãos e irmãs mais novos, é preciso ser criativo para ajudar nas despesas. Ela é uma ladra muito boa, e disso tem certeza e pode se gabar. Até ser pega.
Depois de roubar uma presilha, é sentenciada a passar três meses no Reformatório de Contos de Fadas – no qual os professores são aqueles antigos vilões que já conhecemos, como o grande Lobo Mau e a malvada Madrasta da Cinderela. Quando, porém, ela faz amizade com alguns estudantes, como Jax e Kayla, aprende que esse reformatório vai muito além de sua missão heroica. Há uma batalha ganhando forma e Gilly precisa descobrir: os vilões podem realmente mudar?
Descubra o Lado B dos contos de fadas.  

Resenha: Escola de Vilões é o primeiro livro da série homônima da autora Jen Calonita. O livro foi publicado no Brasil pela Única Editora.
Há cinco anos atrás, Encantadópolis estava praticamente tomada por vilões. Os cidadãos mal podiam dormir com medo de tanta maldade que pairava pelo ar. Maças envenenadas, maldição do sono eterno e afins perturbavam a tranquilidade do povo. Mas depois que Cinderela se casou com o príncipe, tudo mudou! Flora, a madrasta dela, ficou em maus lençóis quando Cinderela decidiu levar a público todas as humilhações que passou com a megera. Enfim, ela reconheceu o quanto foi perversa ao fazer de Cinderela uma escrava, além de tentar enganar o príncipe para que ele se casasse com uma de suas filhas. Se Flora não mudasse de vida, continuaria sendo alvejada por rabanetes podres e jamais poderia viver em paz no reino. E por esse motivo o Reformatório de Contos de Fadas nasceu. O RCF é um programa criado por Flora para recuperar vilões da vida do mal, educando e transformando criaturas ou pessoas perversas em cidadãos que colaboram com a sociedade. E por causa desse programa o crime atingiu os menores índices de todos os tempos.

E em meio a esse cenário, conhecemos Gilly Cobbler, uma menina de doze anos que não leva nenhuma vida de luxo, muito pelo contrário. Seu pai era o sapateiro de Encantadópolis, mas, depois que a fada madrinha começou a fazer sapatinhos de cristal para as princesas - copiando a ideia dele e levando o crédito -, as coisas começaram a ficar difíceis para a família já que as encomendas parecem ter chegado ao fim... Gilly ajudava em casa cometendo pequenos furtos, pois só assim conseguia levar comida para alimentar os cinco irmãos e irmãs mais novos. Ela tinha muita experiência e por muito tempo obteve sucesso, mas ao ser pega pela terceira vez, não teve escapatória... Seus pais receberam uma notificação da própria Flora e o destino da garota era ir pro RCF. Lá ela se depara com ex-vilões reformados que agora são professores da Escola. Mas será que eles realmente mudaram e são dignos de confiança?
Quando Gilly faz amizade com Jax e Kayla, ela descobre que algumas coisas estranhas e que vão muito além do que imaginou, e claro, vai investigar...

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Gilly, Escola de Vilões tem um ritmo bastante agradável e fluído. Ver os acontecimentos através da garota e acompanhar seus pensamentos e progressos foi algo bastante legal. A leitura é fácil e a ideia de uma escola para corrigir e educar prováveis futuros vilões é brilhante. Vemos vilões clássicos, como o Lobo Mau de Chapeuzinho Vermelho, que se tornou o professor Xavier Lobão; a Rainha Má de Branca de Neve, agora conhecida como professora Harlow; Gottie, que sequestrou Rapunzel, entre outros famosos no mesmo lugar e misturados com um bando de delinquentes juvenis em processo de recuperação.

Um ponto que achei muito bacana no livro é a questão que por mais encantado e feliz que um reino possa parecer, há aqueles que vivem na miséria e não têm apoio do "sistema". A desigualdade social é mostrada de forma bem realista. Enquanto Gilly mora na vila com a família num casebre frio e minúsculo, as princesas moram em castelos e palácios nas colinas usando e abusando de riquezas e luxo.
Gilly não é má, muito pelo contrário. Por mais que seja atrevida, ela é uma menina ótima, feliz com o pouco que tem, preocupada com o bem estar dos irmãos, cheia de coragem e que precisou recorrer aos furtos para ajudar ainda que tal comportamento não seja correto e nem aprovado pelos pais. Ela odeia a nobreza por acreditar que a culpa por ela e a família viverem na miséria é deles, e não aceita que o pai tenha levado tanto prejuízo depois de ter a ideia roubada e ninguém fazer nada contra o oportunismo da fada madrinha, Cinderela inclusive aprovou o ocorrido!
"Eu só pego de gente que pode perder coisas. Os nobres decididamente podem perder algumas bugigangas.  Assim como o padeiro, cujo negócio está prosperando e que trata mal a minha mãe toda vez que ela passa para ver se tem pão dormindo em promoção. Os nobres são parte do motivo para que a gente viva nesse casebre lotado, então, não me sinto mal em tirar deles."
- Pág. 21
Então, ainda que roubar seja errado, Gilly o faz por uma questão de sobrevivência, pela família ter sido prejudicada quando seu sustento fora roubado por alguém que, na teoria, deveria ser honesta. Logo, a sequência de roubos que ela comete vêm da necessidade que ela acredita ter, mas com o decorrer dos acontecimentos, ela passa a perceber a linha tênue que está entre o bem e o mal e começa a descobrir que nem sempre o que vem pelo caminho mais fácil é o melhor. É um grande desenvolvimento de caráter, por mais que ela seja uma pré adolescente, e em meio a possíveis vilões, ela aprende o que é ser uma heroína.
Jax foi o  personagem que se tornou meu favorito. Ele é um ladrão, arruaceiro e intragável, mas no quesito companheirismo, é imbatível.
Só achei que para a pouca idade dos personagens, muitas vezes eles pensavam ou agiam como se fossem bem mais velhos e isso acabou me incomodando um pouco.

Os demais personagens são muito bem construídos e a forma como a autora apresentou e moldou os clássicos é perfeita. Cada um deles agora tem funções específicas, como os Anões que se tornaram policiais e usam suas picaretas como "armas".
Outro ponto que gostei bastante foi o fato de que ainda que exista magia, ela não é usada para corrigir tudo ou facilitar a vida de ninguém com um simples balançar de varinha. Todos precisam batalhar duro pois pois são cobrados para darem o seu melhor, e nada menos do que isso.

Com relação a parte física, a capa se manteve fiel à original e é muito chamativa e bonita. A diagramação é bacana, pois os "pergaminhos" que aparecem no decorrer da história são os responsáveis por algum aviso importante ao mesmo tempo em que apresenta e descreve algum personagem ou ainda fala de alguma situação que aconteceu a fim de ambientar o leitor à história.
Os capítulos são numerados e possuem títulos e sempre são iniciados com um pequeno ornamento. As páginas são amarelas e encontrei alguns erros de revisão mas nada que comprometa a leitura.

É um livro mais voltado ao público infanto juvenil, até mesmo pela forma leve e bem humorada como é escrito, mas leitores de qualquer idade e que gostem de releituras dos contos vão adorar.
Escola de Vilões é um livro divertido, espirituoso, cheio de ação, mistério e magia e com uma variedade de contos e personagens que se misturam de forma adorável, principalmente por incluir os vilões. Com certeza a história faz com que o leitor reflita sobre a definição de bem e mal e o significado da amizade verdadeira. Recomendo!