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Só Escute - Sarah Dessen

21 de dezembro de 2017

Título: Só Escute
Autora: Sarah Dessen
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2017
Páginas: 352
Nota:★★★★★
Sinopse: Para encarar a verdade, você precisa estar disposta a ouvi-la.
Ano passado, Annabel era a típica “garota que tem tudo” - inclusive era esse o papel que interpretava no comercial de uma loja de departamentos da cidade. Este ano, porém, ela é a garota que não tem nada: não tem mais a amizade de Sophie; não tem uma família feliz desde a descoberta do distúrbio alimentar de uma de suas irmãs; e não tem ninguém com quem passar a hora do almoço na escola. Até conhecer Owen Armstrong.
Alto, misterioso e obcecado por música, Owen é um garoto que vivia se metendo em brigas, mas agora está tentando mudar. Um de seus novos lemas é sempre falar a verdade, não importa qual seja, e jamais guardar ressentimentos.
Será que com a ajuda desse amigo inesperado Annabel vai conseguir encarar a verdade e enfrentar o que aconteceu na noite em que brigou com Sophie?

Resenha: Annabel Greene é a mais nova de três irmãs. As três trabalham como modelos estampando anúncios pela cidade desde crianças, e com pais que se dão tão bem, todos que olham de fora tem a visão de uma família feliz com a vida perfeita.
Mas as coisas nem sempre são o que aparentam ser... No fundo, mesmo que ela tenha tudo o que qualquer pessoa sonharia ter, Annabel quer abandonar essa carreira, mas não o faz para não desagradar a mãe. Desde que perdeu a avó, a mãe concentrou toda a sua atenção no trabalho das filhas como forma de superar o luto, e a garota não quer causar maiores transtornos afrontando ninguém, mesmo que isso signifique abrir mão do que a faz feliz.
Até que algo de muito ruim acontece na festa de final de ano no colégio com Annabel, ruim o bastante para provocar uma enorme trauma na garota, e ela, sempre escondendo seus sentimentos para não "incomodar", não faz nada a respeito e prefere guardar tudo para si mesma. E como se isso já não fosse pesado o suficiente, Annabel está completamente sozinha e sem amigos com quem contar. Até conhecer Owen Armstrong, um garoto da escola bem misterioso, que adora música e faz de tudo para se afastar de confusões, já que antes vivia se metendo em brigas. O lema de Owen é sempre falar a verdade, e nunca guardar rancor dentro de si, e a aproximação dos dois vai fazer com que Annabel permita escutar o próprio coração.

Sarah Dessen se tornou uma das minhas autoras favoritas da vida devido a sua habilidade sem igual de construir histórias familiares viscerais e realistas. Os personagens são gente como a gente, enfrentam problemas e dilemas típicos da vida, e acabam representando conhecidos, amigos, familiares, ou nós mesmos...

Narrado em primeira pessoa, Annabel discorre sobre seu dia a dia e intercala os fatos com alguns flashbacks que ajudam o leitor a não apenas se aproximar mais da personagem, como a conhecer melhor seu núcleo familiar e os motivos que levaram a personagem sempre guardar seus sentimentos e pensamentos para si. Inicialmente a narrativa é lenta de forma a ambientar o leitor naquela realidade, mas quando menos percebemos a história já ganhou o devido ritmo e só queremos continuar lendo sem parar pra saber o que diabos causou aquele trauma em Annabel, e não apenas isso, como também acompanhar a história de Owen e tudo o que ele tem a oferecer e ensinar, tanto para Annabel, quanto para o próprio leitor.

Por mais que ele tenha passado por vários problemas e ainda esteja aprendendo a controlar sua raiva, ele é um grande exemplo de perseverança e força de vontade, mostrando que ter sentimentos negativos é algo que faz parte da vida, mas cabe a nós aprendemos a lidar com isso para que a raiva seja canalizada de uma forma que não afete outras pessoas. E vindo dele, que era uma pessoa bem agressiva, é uma grande lição.

Já Annabel é aquele tipo de personagem que aguenta tudo calada, e o desenvolvimento da história mostra que ela é cheia de camadas e bastante complexa no que diz respeito aos seus sentimentos. Tudo o que ela apresenta ao leitor através de seu ponto de vista é passível de julgamentos, e acho que a pegada da autora foi exatamente aí, pois dessa forma fica a mensagem de que jamais devemos julgar alguém quando não sabemos o que se passa (e geralmente ninguém nunca sabe...).

A história toca em temas atuais e delicados sem rodeios, mostrando o cotidiano de forma natural, com problemas reais e a forma que todos estão lidando com isso. Uma das irmãs de Annabel sofre de anorexia, e esse é mais um tema grave que a autora tratou de abordar com clareza e com o peso suficiente para comover e fazer refletir, mas ainda com a devida sensibilidade.
Acredito que o que mais me comoveu durante a leitura desse livro foi a ideia de que, na maioria das vezes, a maior ajuda que alguém pode dar a uma pessoa que se sente isolada e está cheia de problemas é ouvi-la. Sem interrupções, sem julgamentos... Só ouvir e nada mais. Ás vezes é tudo o que alguém precisa pra se sentir melhor.

Só Escute é um livro sensível, que emociona, que faz refletir e que enaltece o poder de se ter um ombro amigo quando o mundo parece ter nos dado as costas.

Uma Canção de Ninar - Sarah Dessen

12 de novembro de 2016

Título: Uma Canção de Ninar
Autora: Sarah Dessen
Editora: Seguinte
Gênero: YA
Ano: 2016
Páginas: 352
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Remy não acredita no amor. Sempre que um cara com quem está saindo se aproxima demais, ela se afasta, antes que fique sério ou ela se machuque. Tanta desilusão não é para menos: ela cresceu assistindo os fracassos dos relacionamentos de sua mãe, que já vai para o quinto casamento. Então como Dexter consegue fazer a garota quebrar esse padrão, se envolvendo pra valer? Ele é tudo que ela odeia: impulsivo, desajeitado e, o pior de tudo, membro de uma banda, como o pai de Remy — que abandonou a família antes do nascimento da filha, deixando para trás apenas uma música de sucesso sobre ela. Remy queria apenas viver um último namoro de verão antes de partir para a faculdade, mas parece estar começando a entender aquele sentimento irracional de que falam as canções de amor.

Resenha: Remy é uma adolescente cujas experiências pessoais só reforçaram sua teoria de que o amor é um sentimento que não vale o investimento e nem o esforço. Acompanhar de perto todos os relacionamentos fracassados de sua mãe, que está prestes a se casar pela quinta vez, é mais um fator que faz com que a garota tenha deixado de ter fé em relacionamentos. Mas, é difícil culpá-la por pensar dessa forma já que ela cresceu sem a presença do pai e nenhuma figura paterna que sua mãe arranjasse iria substituí-lo.

Diante de regras que ela mesma bolou, Remy quer aproveitar sua vida adolescente com relacionamentos rápidos, estipulando um tempo curto e pulando fora, de forma que ela não se envolvesse e nem se apegasse a ninguém. Pra ela, esse era o jeito mais seguro de se proteger e evitar maiores sofrimentos. E agora que Remy terminou o ensino médio e pode aproveitar as férias antes de ir para a Universidade de Stanford, ela irá conciliar seu tempo organizando o casamento da mãe, uma escritora de renome, com algo que ela não planejou... Remy não esperava conhecer Dexter, um garoto inconveniente e nada perfeito, vocalista da banda Truth Squad, que acaba transformando sua vida como ela jamais imaginou.

Narrado em primeira pessoa e com um ritmo bastante suave, vamos acompanhando uma trama que, apesar de parecer previsível a princípio, é retratada com bastante realidade, e os acontecimentos graduais tornam tudo muito natural, principalmente por trazer um tema relevante com personagens cujas personalidades são tão distintas. O rumo que a história ganha surpreende de forma muito positiva, não só pela escrita fácil, bem humorada e descontraída ou pelos diálogos bem bolados e divertidos, mas por apresentar uma protagonista que, a partir das próprias experiências e das chances que ela permite dar a si mesma, muda e amadurece por si só.

Remy é inteligente, centrada, independente e bem madura para a pouca idade, e tais características não se dão apenas por suas experiências ou por seu ceticismo com relação ao amor, mas devido ao relacionamento que tem com a mãe. Aqui houve um tipo de "inversão de papéis" e é a mãe quem depende da filha pra organizar a própria vida. Diante disso, foi compreensível que Remy tenha usado de alguns artifícios para proteger a si mesma, mas isso não significa que ela tenha despertado minha simpatia já que na maioria das vezes seu comportamento é bastante egoísta. Ela é fechada e seus sentimentos não são tão aprofundados assim a ponto de explicar por A + B o motivo de ela fazer certos tipos de escolhas. Mas, pelo menos seu envolvimento com Dexter fez com que ela refletisse sobre seus sentimentos, questionando a si mesma se vale a pena dar o braço a torcer a ponto de, pela primeira vez, ter um pouco de esperança no amor.

Em contrapartida, Dexter é aquele tipo de personagem que arranca suspiros e que, mesmo tendo passado por experiências semelhantes às de Remy, fez de tudo para não se abalar. Ele é bem humorado e segue seus sonhos, fazendo o que gosta em nome da felicidade. Quando ele descobre um pouco da filosofia de Remy, ele tenta desconstruir essa visão distorcida que ela tem. Por mais que eles sejam o oposto um do outro, fica claro que a conexão que eles passam a ter e intensa e verdadeira.

A abordagem no que diz respeito a amizade é algo muito bonito de se acompanhar e as questões familiares, típicas da autora, além de interessantes, colaboram para moldar não só a personalidade dos personagens, mas tentar entendê-los como pessoas a partir da criação que tiveram e as consequências disso. A mãe de Remy, mesmo não sendo o melhor exemplo de uma mãe tradicional já que vive focada em seus livros, é romântica e acredita piamente no amor, mesmo que seus casamentos tenham chegado ao fim. É melhor arriscar, sentir e viver uma experiência, mesmo que temporária, do que não ter experimentado. A vida é feita de momentos e nada melhor do que aproveitar cada um deles. Por essa linha de raciocínio ela parece ser uma pessoa de mente aberta e feliz, mas ela falhou em vários aspectos como mãe e a impressão final é que ela tem outras prioridades à frente dos filhos. Ela amadurece, claro, mas não é algo imediato. Até lá alguns problemas, que poderiam ter sido evitados se ela agisse diferente, acontecem.

Com relação a parte física, só tenho elogios. A capa é uma graça, a diagramação é simples, a revisão e tradução estão ótimas e as páginas são amarelas.
O título do livro se refere ao nome de uma música deixada pelo pai de Remy antes que ele partisse, e ela odeia a música não só pelo sucesso que ela fez, mas pela letra da música causar nela uma enorme mágoa.

Em suma, pra quem gosta de romances jovens adultos com abordagem familiar e com a descoberta do amor, principalmente o do amor próprio, de uma forma nada convencional mas bastante realista, vai gostar bastante.

Os Bons Segredos - Sarah Dessen

30 de agosto de 2015

Título: Os Bons Segredos
Autora: Sarah Dessen
Editora: Seguinte
Gênero: YA
Ano: 2015
Páginas: 408
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva
Sinopse: Sydney sempre se sentiu invisível, já que Peyton, seu irmão mais velho, era o foco da atenção da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paralítico, e vai para a prisão. Sydney parece ser a única a responsabilizá-lo, ao contrário de seus pais, que enxergam o filho como vítima.
Para fugir do clima insuportável em casa, certa tarde Sydney entra numa pizzaria ao acaso. Lá conhece Layla, filha do dono do restaurante, e a amizade entre as duas é instantânea. Logo Sydney se vê contando à garota segredos que ninguém mais sabe, e encontra entre a família dela um espaço onde todos a enxergam e a aceitam como é.
Os bons segredos é o romance mais profundo de Sarah Dessen, uma das maiores referências do gênero jovem adulto nos Estados Unidos. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, ela conta a história de uma jovem que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho.

Resenha: Os Bons Segredos, escrito pela autora Sarah Dessen e publicado no Brasil pela Seguinte, conta a história de Sydney, uma adolescente que se sente invisível e até rejeitada dentro da própria casa devido aos seus pais darem atenção somente ao irmão dela, Peyton. Ele sempre foi o centro das atenções, sempre foi exemplo de bom filho, sempre desejado pelas garotas e Sydney vivia à sua sombra. Mas Peyton se transformou em um garoto problema, ao começar a andar com certos tipos de pessoas, começou a se envolver com drogas, bebida, invadia casas, cometia furtos e não se importava com nada. Até que numa madrugada ele dirigiu bêbado e atropelou David Ibarra, deixando o garoto paraplégico. Ele foi responsabilizado pelo acidente e acabou sendo preso, mas seus pais preferiram tratar o filho como se a vítima fosse ele. Somente Sydney parecia enxergar que o irmão era um desajustado assim como a gravidade da situação, e ainda começou a se sentir culpada pela tragédia que limitou a vida de David. Ela queria pedir desculpas, saber como ele estava por ficar preocupada, mas nunca teve coragem de ir até a casa dele. Sidney mudou de escola mas ainda sentia que era mera espectadora de tudo que vivia, sem ter espaço ou vez, já que a mãe passou a viver em função de Peyton e o pai ficou totalmente passivo em meio a situação.
A fim de fugir do clima tenso de casa, ela entra numa pizzaria ao acaso e conhece Layla, a filha do dono do restaurante. A amizade que surge entre as duas é imediata, ainda que elas sejam bem diferentes uma da outra, e Sydney sente que ter espaço e não ficar em segundo plano é algo que pode ajudá-la a seguir em frente, a ter voz e ter controle sobre sua vida. Ela encontrou alguém com quem pudesse conversar abertamente e contar seus segredos que seriam, enfim, ouvidos.

O livro é narrado em primeira pessoa de forma lenta e sem grandes reviravoltas ou revelações, mas com muita sensibilidade e emoção. A escrita é muito boa e flui de forma linear, mas devido a demora nos acontecimentos a leitura pode ser um pouco cansativa e não prender logo de cara e esse foi o único ponto que não gostei muito nessa história, ainda que tenha me identificado bastante com ela.
A autora ainda espalha comida por todo o livro e é impossível ler sem ficar com fome, sério! A família de Layla é dona da pizzaria e Sydney ama pirulitos e batata frita. É possível até termos uma visão nova sobre comer essas gordices sem peso na consciência pela forma como as meninas encaram essas delicias que proporcionam pequenos prazeres na vida da gente.

Os temas abordados pela autora, a forma como ela construiu os personagens, cheio de falhas e defeitos, fizeram com que todos fossem muito humanos e reais. Senti como se eu estivesse lendo uma história sobre a vida de alguém que conheço, mas com toques intensos de sensibilidade e descrições perfeitas sobre todo e qualquer tipo de sentimentos vindos de uma pessoa que não tem voz e nem vez.
Consegui me colocar na situação de Sydney em vários momentos pois sei exatamente como funciona a mente dos familiares ao ficarem "cegos" quando o assunto é defender um filho que chega ao fundo do poço. É triste ver uma mãe com a alma partida fazendo de tudo para apoiar o filho por amor a ele, mas mais triste ainda é essa mãe usar da negação para mascarar a gravidade do fato, mesmo que de forma inconsciente. A mãe de Sydney é assim, mas quantas mães não fazem a mesma coisa? Ela age como se Peyton continuasse sendo um exemplo, como se o culpado pelo acidente tivesse sido o pobre David pois ele não devia estar andando por aí às 2hs da manhã. É mais fácil canalizar as frustrações ou jogar a culpa na vítima para não assumir ou justificar os próprios erros, ou ainda os erros de quem se ama. Sempre que Sydney tenta tocar no assunto é cortada e ignorada, e nunca tem a atenção que deveria pois a vida da mãe, e agora mais do que nunca, continua girando em torno de seu filho favorito.

A história retrata uma garota que, independente de ser uma boa filha ou do que faça, não tem méritos e nem o devido valor reconhecido, e por ser sozinha, não tinha com quem contar ou desabafar, até encontrar Layla...
Layla é super alto-astral e a amizade das duas é algo que todos os amigos do mundo deveriam cultivar. Elas possuem um laço bem forte e é possível perceber que a amizade, quando é verdadeira, ultrapassa barreiras. E tenha em mãos algo gostoso para comer em companhia de uma amiga assim e pronto: Melhores momentos ever estarão garantidos.
Há romance no livro, sim, mas ele não é o que ganha o maior destaque na história. Ele se desenvolve aos poucos e por não ser aquela coisa instantânea é gostoso de acompanhar e de acreditar que é de verdade. O foco é em Sydney e como ela passa a lidar com seus problemas de forma geral e o que aprende com isso. Ela tem momentos ruins e sofre, mas também tem momentos bons e felizes e o destaque vai para seu próprio crescimento pessoal.

A capa desse livro é linda e consegui interpretar um significado muito bonito: Um carrossel cujos cavalos se soltaram das cordas que os prendiam naquele círculo sem fim, partindo rumo a liberdade. Imagem mais apropriada não poderia ter. Ainda podemos acompanhar uma cena com o carrossel na história e ela é linda de viver.

Pra quem procura por um romance voltado ao público jovem adulto que aborda um drama verdadeiro e que pode fazer parte da vida de qualquer um, sob uma escrita sensível e bastante convincente, recomendo Os Bons Segredos. É aquele tipo de livro que mostra a atmosfera familiar como ela realmente é, tanto o lado ruim quanto o bom, e se tornou memorável pra mim por mostrar uma história linda e que deve ser levada como exemplo de vida a todos aqueles que, por algum momento, se sentiram invisíveis mas que ainda sonham em encontrarem a si mesmos, independente dos obstáculos que existam..