Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Sci-fi/Jovem adulto
Ano: 2022
Páginas: 400
Nota:★★★★☆
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Sinopse: Aos vinte e três anos, August Landry tem uma visão bastante cética sobre a vida. Quando se muda para Nova York e passa a dividir apartamento com as pessoas mais excêntricas — e encantadoras — que já conheceu, tudo o que quer é construir um futuro sólido e sem surpresas, diferente da vida que teve ao lado da mãe.
Até que Jane aparece. No vagão do metrô, em um dia que tinha tudo para ser um fracasso, August dá de cara com uma garota de jaqueta de couro e jeans rasgado sorrindo para ela. As duas passam a se encontrar o tempo todo e logo se envolvem, mas há um pequeno detalhe: Jane pertence, na verdade, aos anos 1970 e está perdida no tempo — mais especificamente naquela linha de metrô, de onde nunca consegue sair.
August fará de tudo para ajudá-la, mas para isso terá que confrontar o próprio passado — e, de uma vez por todas, começar a acreditar que o impossível às vezes pode se tornar realidade.
Resenha: August é uma garota de vinte e três anos que ainda não se encontrou e nem encontrou um lugar que ela considere como um verdadeiro lar. Enquanto viveu com a mãe, que sempre pareceu um tanto obcecada em desvendar o caso do desaparecimento do seu irmão nos anos 70, August ficou em segundo plano e passou por várias atribulações. Ela nunca teve amigos, sempre viveu beirando a pobreza, e praticamente não tinha rumo.
Agora ela está decidida a mudar, e quando August chega em Nova York para terminar sua graduação, e se muda para um apartamento depois de ter visto um anúncio um tanto duvidoso, ela sente que aquele poderia ser o lugar pra ela chamar de lar. E os responsáveis por isso serão seus novos e despirocados colegas de quarto: Niko, trans, latino e aquele jovem místico irritantemente perceptivo; Myla, engenheira elétrica, negra, queer, filha adotiva e artista; Wes, judeu, tatuador e queer; e seu vizinho e drag queen, Isaiah.
No primeiro dia de aula, August está tendo um dia de merda. Ela pega a linha Q do metrô, alguém derruba café em sua roupa, e quem a salva da vergonha, sem hesitar, é Jane Su, uma garota asiática que lhe oferece um lenço vermelho pra esconder o estrago. Depois de ter o dia salvo, August não consegue parar de pensar em Jane, em como ela é linda, popular, super animada e prestativa, e como seu estilão dos anos 70 é bacana. Ninguém que tenha conhecido Jane se esquece dela.
Quando August começa a encontrar com Jane todos os dias, na mesma linha Q e no mesmo vagão, sua atração e seu interesse aumentam, mas a desconfiança de que há algo de errado com Jane também, afinal, ela sempre aparece do nada, do mesmo jeito, e simplesmente não pode sair do metrô. Teorias de que ela estaria presa numa espécie de lapso temporal há mais de 40 anos começam a surgir enquanto August debate o caso com os amigos, e, se aproveitando dos conhecimentos sobre desaparecimentos que aprendeu observando a mãe, e com a ajuda de Myla, Niko, Wes e Isaias, ela decide investigar e ajudar Jane.
Agora cabe a August descobrir quem é Jane, por que ela não se lembra do seu passado, e por que ela está presa no tempo. E pela investigação, vale tudo...
Narrado em terceira pessoa, o livro tem uma pegada super atual e despojada, o que combina perfeitamente com os personagens e seus estilos de vida, descrições e detalhes muito bem construídos, além de ter várias figuras de linguagem nos diálogos. Os capítulos são bem longos e se iniciam com alguma notícia, com algum bilhete e afins.
Apesar da história trazer personagens caóticos, excêntricos, incríveis e com a melhor representatividade não só LGBTQIA+, mas também sobre raça, espiritualidade e aparência que foge dos padrões sociais que já vi num livro até o momento, e apesar do mistério August quer desvendar ter aquela pegada de ficção científica meio sobrenatural, achei que a leitura demorou um pouco pra engatar e acabou sendo cansativa em alguns pontos (e os capítulos enormes contribuem muito pra isso), e só melhorou e me emocionou quando foi terminando. A investigação parecia não ter fim, e as explicações para o fenômeno não pareciam fazer muito sentido, e por mais que a química entre August e Jane fosse uma coisa absurda de intensa (tudo pela investigação), eu fiquei com aquela sensação de que Jane, mesmo sendo do passado, estava há anos luz de distância pela sua personalidade cativante e por todas as experiências de vida que ela teve até ficar presa no metrô.
É aquele tipo de história onde as envolvidas são o total oposto uma da outra, mas uma acaba sendo responsável por salvar a outra de qual seja a situação que enfrentem: August é cética, descrente, insegura e fechada para sentimentos no início, é a pessoa inexperiente que parece não ter muito a oferecer. Jane, que é a sapatão sonho de consumo de todas as sáficas da face da Terra, é divertida, se joga, vive a vida como se não houvesse amanhã, mas carrega um passado triste e complicado que acabou sendo esquecido quando ela ficou presa no tempo e no metrô sabe-se lá por qual motivo. E por mais que elas sejam conduzidas de uma forma que evidencie descobertas e experiências que surpreendem e aquecem o coração, a história não me convenceu pelo romance em si (pode ser impressão minha, mas durante uma parte considerável da história ele me soa um tanto unilateral e August parece ser muito dependente de Jane), mas sim pelos personagens secundários e como eles tiveram um papel super relevante para August, para ajudar a encaminhar as coisas até onde chegaram, e principalmente para August perceber que ela não só encontrou um lar, mas também uma verdadeira - e maluca - família. August, que passou a vida inteira com aquele sentimento de solidão e não pertencimento, se pegou rodeada de pessoas incríveis que, em meio a brunches com panquecas no meio da noite, um cachorro super fofo, sessões espíritas fracassadas e falidas, e espetáculos com as drags mais fabulosas de Nova York, lhe ofereceram algo que ela jamais teve: amizade, acolhimento e cumplicidade, e isso pra mim supera qualquer história de amor, por mais que ela quebre barreiras e transforme os corações mais vazios ou perdidos.
A autora incluiu várias referências musicais ilustres que rendem uma excelente trilha sonora à história, e ainda presta uma verdadeira homenagem à luta por igualdade que a comunidade LGBTQIA+ e seus ativistas tiveram desde décadas atrás, e o quanto as perdas trágicas pelo caminho foram dolorosas.
Enfim, pra fechar o mês do orgulho, super indico a leitura.