Autora: Shirley Jackson
Editora: Suma de Letras
Gênero: Mistério
Ano: 2017
Páginas: 200
Nota:★★★★☆
Sinopse: Merricat Blackwood vive com a irmã Constance e o tio Julian. Há algum tempo existiam sete membros na família Blackwood, até que uma dose fatal de arsênico colocada no pote de açúcar matou quase todos. Acusada e posteriormente inocentada pelas mortes, Constance volta para a casa da família, onde Merricat a protege da hostilidade dos habitantes da cidade. Os três vivem isolados e felizes, até que o primo Charles resolve fazer uma visita que quebra o frágil equilíbrio encontrado pelas irmãs Blakcwood. Merricat é a única que pressente o iminente perigo desse distúrbio, e fará o que for necessário para proteger Constance. Sempre vivemos no castelo leva o leitor a um labirinto sombrio de medo e suspense, um livro perturbador e perverso, onde o isolamento e a neurose são trabalhados com maestria por Shirley Jackson.
Resenha: Os Blackwood são uma família endinheirada e bem esquisita, e nunca foram bem vistos no vilarejo onde moram. Cochichos e fofocas sempre rodearam esta família peculiar, mas as coisas pioraram quando a filha mais velha, Constance, foi acusada de matar quase toda a família envenenada. Constance foi inocentada mais tarde, mas deixou de sair de casa, passou a sofrer de agorafobia, e quem ficou responsável por ir até a cidade para fazer compras da casa foi Merricat, a irmã de dezoito anos, já que Tio Julian não sai de casa por ser paraplégico e esclerosado. E toda semana, quando Merricat vai até a cidade para fazer compras ou visitar a biblioteca, ela ouve várias ofensas de todo tipo de gente maldosa que vive na cidade, e seu ódio é tanto que o mínimo que ela deseja para todos eles é a morte. Ela só quer viver feliz com seu gato, sua irmã e seu tio sem que nada nem ninguém atrapalhe.
Até que um dia, o primo Charles aparece na residência, quebrando aquele frágil equilíbrio que resistiu a tanta hostilidade, e ele logo começa a ditar ordens. Merricat, pressentindo o perigo e convencida de que ele está acabando com a alegria de todos, vai fazer qualquer coisa para defender a irmã.
A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista fantasioso, imaturo e nem um pouco confiável de Merricat. Embora ela tenha dezoito anos, a impressão que fica é que se trata de uma criança de cinco anos de idade contando o que está acontecendo sem que tenha um pingo de credibilidade.
Merricat é cheia de manias absurdas e irritantes, vive sonhando acordada, e seu único intuito é o de manter a harmonia na casa a qualquer custo.
Parte da narrativa é feita por tio Julian, que vai contar o que aconteceu com a família, mas as lembranças dele são tão confiáveis quanto as da protagonista. Assim vamos acompanhando a rotina da família que precisa ser mantida a qualquer custo, o quanto Merricat odeia e amaldiçoa cada morador do vilarejo, o quanto se preocupa com a irmã, suas desconfianças com a presença do primo Charles, suas simpatias e rituais de proteção para cuidar da casa e da família e afastar as outras pessoas de suas vidas, e a dúvida que todos tem: Quem matou os Blackwood?
Há alguns pontos questionáveis, como por exemplo, a reação das pessoas diante de algo feito por Merricat quando anteriormente ela só estava pensando em fazer algo, ou a ideia dela passar um tempo na biblioteca mas nunca estar lendo nada, ou até elementos sobrenaturais que parecem estar alí sem um sentido maior. Já o mistério que cerca a história, e os dramas que as meninas vivem por causa da tragédia e também por serem consideradas diferentes é, sim, interessante. Por esse ponto vemos um pouco do lado de quem se sente rejeitado e excluído da sociedade, por mais maluca que essa pessoa seja.
Como o livro é fininho, não é possível contar muito mais sem que spoilers sejam dados, mas posso dizer que a autora soube, sim, inserir boas doses de terror na história com intenção de causar incômodo e perturbação, mas a ideia do amor entre irmãs estar alí, fazendo com que elas tirem forças sabe-se lá de onde para cuidarem uma da outra já que não podem contar com mais ninguém, é simplesmente adorável. Até onde alguém vai para proteger e manter próximo quem se ama?
O fato dos personagens terem comportamentos estranhos, dificilmente vão conquistar a simpatia dos leitores, mas talvez a boa ideia de Shirley Jackson tenha sido exatamente essa, fugir de estereótipos de mocinhos e vilões para trazer personagens irritantemente interessantes.
Pra quem gosta de narrativas poéticas e diferentes, com toques de terror, mistério e humor negro, é leitura mais do que indicada.