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Mestre dos Djinns - P. Djèlí Clark

27 de dezembro de 2023

Título:
 Mestre dos Djinns - Dead Djinn Universe #1
Autor: P. Djèlí Clark
Editora: Suma
Gênero: Fantasia Urbana/Steampunk
Ano: 2023
Páginas: 352
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Cairo, 1912. Fatma el-Sha’arawi é a mais jovem mulher a trabalhar para o Ministério de Alquimia, Encantamentos e Entidades Sobrenaturais. Mas ela certamente não é nenhuma novata, ainda mais depois de ter impedido a destruição do universo no último verão.
Após um assassinato envolvendo os membros da Sociedade Hermética de Al-Jahiz, irmandade secreta dedicada ao homem mais famoso da história, a agente é convocada para investigar o caso. Quarenta anos antes, al-Jahiz abriu o véu que isolava o mundo mágico ― trazendo os djinns, ou gênios, para a realidade humana ― e desapareceu sem deixar vestígios. Agora, o assassino alega ser o próprio al-Jahiz, que voltou para punir a sociedade moderna por suas injustiças sociais.
Na companhia de Hadia, sua nova assistente, e de Siti, sua namorada e devota dos antigos deuses egípcios, Fatma precisará desvendar a identidade do impostor ― se é que ele é mesmo um impostor ― para reestabelecer a paz.

Resenha: Mestre dos Djinns, escrito pelo autor P. Djèlí Clark, se passa na cidade de Cairo de 1912, num Egito alternativo e steampunk que se transformou numa superpotência política, a frente até mesmo de países europeus. Esse destaque do Egito ocorreu há quarenta anos, após o lendário al-Jahiz ter abrido o véu que separava o mundo real do sobrenatural e causado uma revolução mágica. Djinns e outras criaturas fantásticas adentraram o mundo real mas, logo em seguida, al-Jahiz desapareceu sem deixar rastros. Com a presença das criaturas, a magia se tornou parte da realidade e passou a ser algo comum.

Quando um assassinato misterioso envolvendo a aristocracia britânica e os membros da Sociedade Hermética de Al-Jahiz (uma irmandade secreta dedicada a al-Jahiz) acontece, Fatma el-Sha'arawi, uma detetive "bastante experiente" de vinte e poucos anos, entra em cena.
Numa época onde o sufrágio feminino está avançando pelo Egito, Fatma é a mulher mais jovem e uma das poucas a trabalhar no Ministério da Alquimia, Encantamentos e Entidades Sobrenaturais. Agora ela foi designada a investigar esse assassinato que acaba a levando a uma pessoa que alega ser o próprio al-Jahiz. Fatma embarca nessa missão determinada a desmascarar o impostor com a ajuda de Hadia, sua assistente que é super comprometida com o trabalho.

O livro é narrado em terceira pessoa e a escrita do autor é relaticamente boa, porém com ressalvas. Algumas descrições e palavras são floreadas demais, outras carecem de O cenário e a construção de mundo em si é incrível e, apesar de bastante criativo, achei que o enredo e a construção dos personagens estavam com várias falhas que acabaram deixando a história dispersa e com pontos que pareciam só estarem alí pra desviar a atenção do leitor. Uma coisa que dificultou a leitura pra mim foi o excesso de palavras da cultura egípcia, como roupas, comidas ou objetos. Não tenho nada contra a cultura em si, mas pra quem não está acostumado ou não sabe o que são essas coisas descritas pelo autor, ou vai precisar interromper a leitura e ir pesquisar, ou vai ignorar e fingir que sabe, e seja o que Deus quiser. Alguns elementos foram inseridos na intenção de aumentar a tensão e os problemas pra se enfrentar, mas não havia a menor necessidade visto que deixou mais perguntas do que respostas e que, talvez, serão aprofundadas num próximo volume. Outra coisa é que num universo onde as pessoas já se habituaram ao sobrenatural, Fatma - que trabalha no Ministério - não parece enxergar o óbvio algumas vezes, e suas reações diante de algo que ela já deveria estar acostumada e tratar como algo rotineiro, não parecem ser reais.

Fatma, como aquela protagonista que dá a ideia de ser alguém super fodona, competente e habilidosa, não passa de uma abençoada totalmente superficial, arrogante e desatenta que se aproveita das conveniências do enredo e da boa vontade das testemunhas que aparecem em seu caminho pra lhe dizer exatamente o que fazer, e se não fosse isso, ela não chegaria a lugar nenhum, nunca. Sua falta de competencia em várias situações desencadeiam conflitos que, ao meu ver, não deveriam existir. Acho que sua assistente é muita mais profissional do que ela. Não sei se isso foi algo proposital feito pelo autor, mas a impressão que tive era que ele focou mais na sua obsessão por roupas estilosas e relacionamento amoroso pra dar um toque de bom humor (?) do que a missão investigativa que, ao meu ver, era o que importava alí.
Siti, a namorada de Fatma, é uma personagem cheia de camadas e foi uma pena que não foi tão explorada como eu gostaria. Ela tem sua importância no enredo, seja com relação ao mistério como também para o desenvolvimento de Fatma, além de abordagens bem adequadas que criticam temas delicados como racismo e intolerância religiosa.

Embora haja muita tensão em cenas mirabolantes e cheias de perigos, as coisas não parecem manter um ritmo padronizado, pois várias situações sofrem reviravoltas mas são resolvidas de formas relativamente simples pra todo o alvoroço apresentado, e a sensação é de desorientação e aleatoriedade. O vilão também é super caricato (e tenho certeza que foi feito assim de propósito) com suas motivações e discursos ridículos enquanto gira o próprio bigode.

Em meio à trama, achei interessante a forma como o autor abordou a questão do espaço e dos direitos que as mulheres começaram a ter numa época onde, embora houvesse um pouco de tolerância, a misoginia ainda tinha muita força, e não só isso, como também o racismo, a xenofobia e o elitismo dos quais ele aproveita pra fazer uma excelente crítica. Fatma representa um pouco desse progresso, principalmente por ela ser lésbica, mas fica evidente que tudo poderia ser melhor, ainda mais se formos considerar que é um universo alternativo e que não precisa seguir a risca a nossa realidade...

Mestre dos Djinns traz uma história com um estilo alternativo e engenhoso bastante interessante de um Egito que ascendeu com a ajuda do sobrenatural. Pra quem gosta de boas contruções de mundo, do estilo steampunk com aquela pegada de magia, suspense, caos e investigações em meio a cultura a mitologia egípcias, e ficou curioso pra acompanhar uma detetive com habilidades duvidosas mas com gosto requintado para ternos, é leitura mais do que indicada.

Voos e Sinos e Misteriosos Destinos - Emma Trevayne

22 de janeiro de 2015

Lido em: Janeiro de 2015
Título: Voos e Sinos e Misteriosos Destinos
Autora: Emma Trevayne
Editora: Seguinte
Gênero: Fantasia/Steampunk/Juvenil
Ano: 2014
Páginas: 306
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Nesta fábula moderna, com gosto das aventuras clássicas que encantam os jovens leitores há tantos anos, conhecemos a história de Jack Foster, um garoto de dez anos que, como qualquer um da sua idade, sonhava viver grandes aventuras. Ele morava em Londres mas estudava em um colégio interno, voltando para casa apenas nas férias, quando ficava completamente entediado.
Mas, um certo dia, Jack atravessa uma porta mágica e, do outro lado, encontra uma cidade ao mesmo tempo muito parecida e muito diferente daquela que conhecia. Em Londinium, apesar de reconhecer as ruas e prédios, ele encontra um cenário steampunk, com engrenagens e fuligem por todos os lados. Por ali era raro encontrar alguém que não tivesse nenhuma parte do corpo feita de metal. E era justamente isso que a Senhora - uma mulher rígida e temperamental que governava a cidade desde sempre - buscava: um filho de carne e osso.
Jack logo descobre que aquele lugar era extremamente perigoso, e que voltar para casa não seria tão fácil quanto tinha sido chegar até ali...

Resenha: Voos e Sinos e Misteriosos Destinos é um steampunk voltado ao publico juvenil escrito pela autora Emma Trevayne e publicado no Brasil pela Seguinte.
A história se passa na Londres vitoriana de 1899. Jack Foster é um garotinho que estuda num colégio interno e por só voltar pra casa durante as férias, é sempre ignorado pelos pais. Em casa, o tédio tomava conta dele, pois sua mãe vivia preocupada em dar festas para as damas da alta sociedade e parecia nem perceber a presença do garoto. Jack tinha como sonho viver uma grande aventura um dia para sair desse tédio. Até que um dia, Lorcan, um homem misterioso, faz uma visita em sua casa a fim de entreter os convidados, mas ele quer levar Jack embora para Londinium, uma Londres num universo paralelo onde Senhora dita as regras como rainha no Império das Nuvens. Lá existem máquinas animadas por mágica, muita fuligem e híbridos de engrenagens e metal, e Lorcan havia sido enviado por ela para buscar Jack, pois Senhora ansiava por uma criança humana para poder criar como filho. Jack, após seguir Lorcan até o Big Ben e entrar numa porta mágica, acaba indo para Londinium em busca de aventura. A princípio, o garoto fica deslumbrado com aquele mundo tão parecido mas ao mesmo tempo tão diferente do seu, mas depois, como tudo pareceu um grande erro, ele quer voltar para casa...

Narrado em terceira pessoa, a leitura de Voos e Sinos e Misteriosos Destinos é muito fácil e dinâmica, e a construção e os detalhes acerca do mundo steampunk são dados com bastante perfeição. A premissa é muito bacana e fica a ideia no ar de que queremos o que não temos, mas só sabemos se é algo que vale a pena depois da experiência... Jack é muito curioso, e apesar da pouca idade, é corajoso e conquista a simpatia do leitor. Acabamos torcendo para que sua aventura tão almejada, enfim, seja conquistada, mesmo que ele tenha usado a raivinha pela mãe pra fazer o que foi alertado para não fazer. Ele passa a buscar pelo Pássaro, que pode levá-lo de volta a Londres e essa procura é acompanhada de personagens bem divertidos, mas não muito aprofundados, como o Dr. Cataplasma, que é muito inteligente e mostra várias verdades para Jack sobre o Império das Nuvens, e a boneca Beth, feita de engrenagens mas muito alegre.

A história é um pouco rasa, não vou negar, e tem alguns trechos que são mais arrastados, mas com certeza ela brinca com a imaginação do leitor devido ao mundo de metal que é Londinium, principalmente pelo misto que faz com fantasia e magia.
Durante a leitura, cheguei a comparar a história com outras, como Alice no País das Maravilhas, O Mágico de Oz e Coraline devido a vontade que Jack tem de explorar as coisas que despertam a curiosidade dele como forma de compensar a ausência e a falta de atenção dos pais, e até mesmo devido ao universo "sombrio" que ele adentra.
A edição da Seguinte ficou impecável, a capa aveludada com aplicação de verniz no titulo deram um charme todo especial a obra. A diagramação é simples e alguns capítulos possuem ilustrações de alguma cena em particular. No início do livro há também o mapa de Londres seguido pelo de Londinium e a única diferença entre eles é o dirigível e uma engrenagem enorme atrás do parlamento.

Para quem quer uma leitura despretensiosa e divertida para passar o tempo, ou que procura por livros que exploram o universo steampunk, mesclando mistério com fantasia, Voos e Sinos e Misteriosos Destinos é uma boa pedida!

Jardim do Pesadelo - Caitlin Kittredge

7 de junho de 2014

Lido em: Junho de 2014
Título: Jardim do Pesadelo - Código de Ferro #2
Autora: Caitlin Kittredge
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Steampunk/Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2014
Páginas: 432
Nota: ★★★★☆
Sinopse (com muitos spoilers do primeiro livro!): Tudo que Aoife Grayson achou que conhecia sobre o mundo é uma mentira. Seu irmão não está na Casa dos Corvos. Seu melhor amigo não é quem ela pensou que fosse. E não existe coisa alguma chamada necrovírus. Sua mãe não enlouqueceu - ela é simplesmente alérgica ao ferro. Tal como Aoife. Porque Aoife não é uma garota comum. Como o irmão, Conrad, ela é meio humana, meio Raça, da Terra do Espinho.
E agora é uma fugitiva prestes a perceber que a destruição do Engenho de Lovecraft foi apenas o início de um cataclismo.
Seu mundo está se despedaçando... E então os sonhos começam. Neles, uma figura misteriosa lhe diz para ir para o norte, para as geladas desolações do Círculo Ártico, encontrar a Irmandade do Ferro. A Irmandade guarda o segredo que pode trazer a ordem ao mundo novamente: um aparelho conhecido como Relógio do Pesadelo, que só pode ser alcançado em sonhos.
Mas ele pode realmente consertar o que Aoife destruiu? Ou alguém a está usando para reconstruir um mundo de acordo com sua visão sinistra?
Para descobrir, Aoife precisará embarcar numa jornada que certamente seria o fim de qualquer garota comum - e completá-la antes que a terra que ela chama de lar envenene sua mente como envenenou a de sua mãe.

Resenha: Esta resenha tem spoilers do livro anterior!!
Jardim do Pesadelo é o segundo volume da trilogia Código de Ferro escrita pela autora Caitlin Kittredge e lançada pela Editora Rocco. Partindo de onde parou o primeiro volume, Espinho de Ferro, acompanhamos a abertura de um Portal e a fuga de Aoife Grayson pelas Névoas enquanto enfrenta muitos perigos junto com seus amigos Cal, Bethina, Dean e seu irmão Conrad por estarem como "clandestinos" em terras hostis. Agora que ela descobriu que tudo o que acreditava não passava de uma grande mentira, e que ela junto com toda a cidade de Lovecraft estavam sendo enganados e manipulados, as coisas parecem ter saído de controle e estão prestes a ruir.

Aoife está preocupada em ter deixado sua mãe para trás e resolve que deve voltar para Lovecraft para buscá-la e salvá-la de todo aquele caos que a cidade se tornou. E em meio a busca, o grupo é levado a quem ela menos esperava encontrar: Archie, seu pai que passou a vida inteira ausente. Aoife precisa lidar com a ideia de uma figura paterna e até com a companheira dele, Valentina. Ela também começa a ter sonhos em que recebe orientações misteriosas sobre qual caminho seguir para encontrar a Irmandade do Ferro e a única coisa que poderia salvar o mundo da destruição seria um aparelho misterioso que só pode ser obtido através de sonhos. Se lamentando e tomando a culpa de todos os erros para si, e sem pensar nas consequências de suas decisões, como sempre, Aoife se deixa levar nessa aventura cheia de perigos, reviravoltas e surpresas nada agradáveis...

Narrada em primeira pessoa pelo ponto de vista de Aoife, a história segue no mesmo ritmo do primeiro volume no que diz respeito a descrição de cenários e dos personagens. Como a trama se passa praticamente durante a fuga, os cenários mudam com frequência devido a viagem (adorei as cenas que se passaram no dirigível) e senti falta de descrições que envolvem toda aquela sujeira, graxa e os mecanismos das engenhocas de Lovecraft. Dessa vez tudo é muito frio e cinzento mas ainda assim com uma riqueza de detalhes de tirar o fôlego.

Podemos conhecer melhor o irmão de Aoife e vou assumir que não gostei nada do rapaz. Irritante, arrogante e dono da razão, Conrad está longe da ideia que faço de um irmão. Como Dean enxergava esse caráter no rapaz, os dois viviam discutindo, afinal, Dean estava alí ao lado de Aoife para o que desse e viesse, não importando se ela estivesse certa ou errada. Fiquei um pouco impaciente com Aoife pois a leitura consegue prender e ser bastante fluída, mas quando ela começava a se lamentar... OMG... Batia aquela preguiça...

Draven... O que falar desse vilão sem escrúpulos? Ele é um dos piores vilões que já me deparei...
Bethina e Cal estão progredindo aos poucos na questão da afinidade e de um possível relacionamento e achei a evolução deles bem bacana apesar de não terem sido muito aprofundados.
Uma coisa que não curti foi o motivo pelo qual Archie se afastou dos filhos e o sentimento de vazio que deixou em Aoife. Não pela descrição e situação criadas pela autora que pode fazer com que várias pessoas se coloquem no lugar de Aoife, mas pelo comportamento, pela escolha injusta, pelo caráter de quem deveria estar presente mas preferiu outra pessoa e outro caminho...

Muito da história se resume a um amontoado de perseguições, capturas e fugas de uma forma repetitiva até que o final foi se aproximando, as coisas foram ficando cada vez mais tensas, e o improvável acontece deixando o leitor desesperado pela continuação e torcendo para que Aoife tenha sucesso na nova "missão" que tomou para si. O final é simplesmente surpreendente e a continuação para saber o desfecho de tudo, pra mim, será leitura obrigatória.

Se comparado a Espinho de Ferro, pude perceber que a autora deu uma importância muito maior para sentimentos e emoções dos personagens os tornando bastante próximos da realidade. Mas considerando a trama, achei que, devido ao modo como tudo começou, a mudança me deixou com a impressão de que a autora teve uma ideia que não foi tão bem desenvolvida pra ir em frente e mudou o rumo das coisas fazendo com que tudo que pensávamos que existia não passou de ilusão e a vontade de sabermos um pouco mais daquele primeiro cenário realmente ficou só como vontade. Não sei se o terceiro livro as coisas vão voltar, quem sabe foi proposital, vai saber...

A capa, seguindo o estilo do livro anterior é linda, diagramação, revisão, tamanho da fonte e parte impressa no geral são perfeitas.
Pra todos aqueles que curtem uma história cheia de ação, personagens fortes, cenários steampunk bastante misteriosos e sombrios e fantasia com um toque distópico vão adorar embarcar nesse mundo incrível!

Espinho de Ferro - Caitlin Kittredge

26 de maio de 2014

Lido em: Maio de 2014
Título: Espinho de Ferro - Código de Ferro #1
Autora: Caitlin Kittredge
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Tradutor: Chico Lopes
Gênero: Steampunk/Fantasia/YA
Ano: 2012
Páginas: 516
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Na cidade de Lovecraft, os fiscais governam e um grande engenho gira sobre suas ruas, esmagando qualquer resistência a sua ordem para tudo moer. O necrovírus é responsabilizado pela epidemia de loucura em Lovecraft, pelas estranhas lúgubres criaturas que vagam pelas ruas dentro da noite e por tudo o que os fiscais julgam herético ou nascido na crença, na magia e na feitiçaria. E, para Aoife Grayson, o tempo está se esgotando dia após dia.
A família de Aoife é única, no pior sentido. A mãe e o irmão mais velho, Conrad, ficaram loucos ao completar dezesseis anos. E agora, tutelada pelo Estado na proximidade dos próprios dezesseis anos, Aoife está tentando fingir que seu destino pode ser diferente.
Seu futuro parece triste. Até que um dia ela recebe uma carta que diz apenas:
Encontre o alfabeto da bruxa.
Salve sua vida.
Aoife sabe que a carta é de Conrad, mas a última vez que viu seu irmão foi no dia em que ele perdeu a razão e atacou-a antes de fugir dos fiscais. Será que ele está curado em algum lugar e avisando-a para fugir enquanto lhe for possível - ou é apenas a mensagem de um louco perambulando a esmo?
Para salvar a própria vida, Aoife precisa encontrar o irmão. E, para fazer isso, ela deve deixar Lovecraft e se aventurar num mundo de heréticos e piratas do ar, criaturas da noite e sombrios segredos de família... Antes que o ponteiro do relógio gire para baixo e ela também sucumba aos necrovírus.

Resenha: Espinho de Ferro é o primeiro volume da trilogia Código de Ferro, escrita pela autora Caitlin Kittredge e publicado no Brasil pela Editora Rocco.

A história parece se passar nos anos 50, na cidade movida a vapor e éter de Lovecraft. O necrovírus é algo que ameaça as pessoas, pois é responsável pela existência de monstros sobrenaturais e outros seres terríveis, como vampiros que habitam os esgotos, noitibós, fantasmas, corvos mecânicos e outros piores que existem alí. E, nesse cenário bastante dark e pós guerra, conhecemos Aoife Grayson (esse é um nome irlandês cuja pronúncia é "Ee-fah" ou "Ifa"), uma jovem de 15 anos numa visita que faz à mãe. O problema é que o histórico da família dela não é um dos melhores... Sua mãe se encontra internada num manicômio, seu irmão num surto de loucura fugiu após atacá-la, seu pai é um completo desconhecido... Esses fatores foram suficientes para que o Estado se tornasse tutor de Aoife e a colocasse em uma escola de engenharia mecânica. Assim, caso não ficasse louca, quem sabe poderia ter uma carreira na área que tanto se interessa... E enquanto leva a vida receosa pelo necrovirus, mas cercada por máquinas e engrenagens, aprendendo e se dedicando a consertar engenhocas e pondo a mão na graxa, algo imprevisível acontece...

Aoife recebe uma carta e tudo indica que é de seu irmão... Sem saber se a carta foi escrita num momento de insanidade de Conrad ou se é alguma pista que ele deixou para que ela siga, Aoife decide sair de Lovecraft em direção a Arkham para descobrir o que puder sobre sua família. Seu melhor amigo, Cal, a acompanha a fim de protegê-la e ajudá-la no que for preciso. Dean entra em cena para guiá-los até Arkham, e a mansão de Graystone, a casa do pai da garota, está cheia de segredos dos quais ela irá se surpreender. Lá ela conhece Bethina, a empregada que se encontra apavorada depois de acontecimentos assustadores alí que envolveram Conrad. Os perigos e as criaturas apavorantes que existem nos arredores ameaçam a vida de Aoife e de seus amigos, e ela deve encontrar respostas antes de completar 16 anos. E as descobertas que ela faz em Graystone, é algo que Aoife jamais esperava...

Durante a leitura, os detalhes ricamente construídos do cenário e dos elementos dão a impressão de que é tudo muito sujo e velho, como se tudo fosse contaminado e as pessoas vivessem em condições precárias sempre sendo vigiados por algo a espreita. Esse ar sombrio é simplesmente fantástico. O mundo dividido entre racionalistas e heréticos também foi muito bem trabalhado, principalmente porque heréticos são considerados um problemas por acreditarem em magia, como se isso fosse sinal de loucura ou coisa do tipo.

Aoife é a típica adolescente que não se agrada da situação em que se encontra, e mesmo se sentindo frustrada e se lamentar pela sua condição, se mantém estagnada naquela vida, esperando a loucura chegar. Até que a tal carta aparece e ela resolve arregaçar as mangas e ir embora, de repente. Ela é corajosa, não se deixa influenciar por nada nem ninguém e o que me fez admirá-la muito é ela ter uma imensa paixão por livros! Então no meio de tantos mistérios e intrigas, ela descobre que tem o "Dom".

Cal é o melhor amigo dela, único que parece não se importar que a loucura pode afetá-la mas sempre a contradiz quando ela diz que descobre algo novo. Ele é protetor mas muito irritante e tem um papel especial e bastante surpreendente na trama, o que explica seu comportamento. E a partir da descoberta do segredo que ele guarda, ele se torna um personagem muito mais interessante...
Dean faz o estilo bad boy, misterioso, cheio de charme carregando aquele isqueiro por aí, e um tipo de interesse amoroso começa a surgir entre ele e Aoife. Com certeza foi o personagem que mais gostei na história. O romance surge como faíscas, mas apesar de estar visível, não é o foco principal da história.

Os demais personagens também foram muito bem construídos, desde Bethina até o prefeito Draven, que não mede esforços para conseguir o que quer, influenciando as pessoas a denunciarem quem quer que seja que possa estar fazendo algo considerado errado ou ilegal, mandando matar quem considera uma ameaça pelo motivo mais fútil que seja, e ainda perseguindo Aoife e sua família de forma obsessiva e sem uma explicação maior para isso.

Espinho de Ferro é um livro bem sombrio e bem complexo no que diz respeito aos elementos inseridos e a mitologia que a autora criou. Apesar de a leitura ser bastante fluida e empolgante, não é um livro para se ler de uma vez, correndo, pois são muitos, muitos detalhes que devem ser absorvidos aos poucos para serem melhor compreendidos. E justamente pela mistura de tantos elementos, senti que a história tomou um rumo beeeeem diferente de onde partiu, como se todo aquele steampunk tão aprofundado no começo fosse deixado de lado para dar lugar a fantasia envolvendo magia e bruxaria e tudo o que antes parecia seguir por um caminho, foi para outro totalmente nada a ver, o que me deixou confusa quanto a intenção da autora, pois pra mim, foi como se ela tivesse unido duas histórias diferentes. A história ainda tem um toque de distopia com a ideia de um governo que condena e castiga todos aqueles que acreditam e/ou praticam magia.

A edição da editora está ótima. A capa remete bem à história, mostrando corvos, dando destaque a cor marrom lembrando a sujeira do cenário e as características físicas da protagonista. A diagramação é simples, os capítulos tem em média 20 páginas e as folhas são amareladas.

O final deixa um gancho pro próximo livro, Jardim do Pesadelo, e surpreende muito deixando o leitor ansioso para continuar acompanhando os próximos acontecimentos. Lovecraft está para cair, nem tudo é o que parece, e para Aoife, o que resta é saber se seu Dom irá ajudá-la em sua nova tarefa num mundo novo e mais perigoso e fantástico do que nunca...

Metamorfose? - Gail Carriger

10 de maio de 2014

Lido em: Abril de 2014
Título: Metamorfose? - O Protetorado da Sombrinha #2
Autora: Gail Carriger
Editora: Valentina
Gênero: Steampunk/Sobrenatural/Romance
Ano: 2013
Páginas: 320
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Nesta deliciosa e maldita sequência da série iniciada com Alma?, Alexia Tarabotti se encontra envolvida, só pra variar, em um mistério sobrenatural.
Alexia Maccon, a esposa do Conde de Woolsey, é arrancada do sono cedo demais, no meio da tarde, porque o marido, que deveria estar dormindo como qualquer lobisomem normal, está aos berros. Dali a pouco, ele desaparece – deixando a cargo dela um regimento de soldados sobrenaturais acampados no jardim, vários fantasmas exorcizados e uma Rainha Vitória indignada.
Mas Lady Maccon conta com sua fiel sombrinha, seus artigos da última moda e seu arsenal de respostas mordazes. Mesmo quando suas investigações a levam à Escócia, o cafundó do Judas onde abundam abomináveis coletes, ela está preparada e acaba provocando uma verdadeira reviravolta na dinâmica da alcateia, como só uma preternatural é capaz de fazer.
Talvez até encontre tempo para procurar seu imprevisível marido. Mas apenas se... lhe der vontade.

Resenha: Metamorfose? é a sequência de Alma? na série O Protetorado da Sombrinha, escrita por Gail Carriger e lançada no Brasil pela Editora Valentina e podemos continuar acompanhando Alexia, uma preternatural cujos poderes neutralizam poderes de outros seres sobrenaturais. Agora, Alexia é conhecida como Lady Maccon, pois enfim saiu de seu status de solteirona encalhada e se casou com Lorde Maccon, um lobisomem alfa que comanda o Departamento de Arquivos Sobrenaturais (DAS) e que não admite que a esposa durma vestida mantendo as chamas desse casamento sempre "acesas", e que os conservadores da época vitoriana se danem. Além disso, também é muhjah da rainha e extraordinária arma secreta preternatural da Grã-Bretanha!

E tudo começa mesmo quando Lady Maccon é acordada pelo marido em meio a muita gritaria até que percebe que alguma coisa de muito errada estava acontecendo... Algo estava fazendo com que os seres sobrenaturais perdessem seus poderes e se tornando reles humanos imprestáveis. Obviamente, Alexia não poderia ficar de fora para descobrir o que de fato seria essa "praga de humanização" para tentar resolver o problema em questão, e sendo tão esperta e inteligente, começa a investigar. Até que ela resolve ir atrás de Lorde Maccon que some sem dar satisfações e acaba indo para a Escócia, pois acredita que lá terá as respostas que procura. E partindo de dirigível para a Escócia com a irmã Felicity e a amiga Ivy em seu encalço, Lady Maccon começa com as investigações. Ainda na viagem conhece Madame Lefoux, uma inventora francesa com um modo peculiar de se vestir e que parece guardar muitos segredos e que de quebra ainda criou uma sombrinha nova para Alexia cheia de "novidades". Alexia além de ter que aturar suas companheiras de viagem, também começa a se deparar com muitos mistérios, segredos e acontecimentos suspeitos, o que a deixa desconfiada de tudo e de todos, principalmente quando tudo indica que alguém a bordo parece a querer morta...

Assim como em "Alma?", Alexia continua sendo sarcástica, abusada e sem se preocupar com a etiqueta ou em medir as palavras, característica pouco comum entre as mulheres da época que sempre eram recatadas e respeitosas. E junto com o marido, Alexia está praticamente impagável, ainda mais pelo fato da química entre o casal ser perfeita e ela ser irônica a ponto de não se importar com o que podem pensar dela.

A história segue com um suspense cujos fatos vão sendo descobertos na medida certa. Há descrições hilárias sobre diversos assuntos que parecem não fazer sentido, mas que colaboram para a narrativa bem humorada e única da autora, que consegue manter o foco sustentando o mistério da praga mas ao mesmo tempo abre brechas para outras subtramas alfinetando assuntos discutíveis e/ou polêmicos sempre que possível e com muita classe e bom humor. O cenário do mundo steampunk é o melhor: ricamente construído e super interessante com todas as parafernálias modernas e cheias de utilidades. Alguns personagens são incluídos na trama e isso colaborou para que o leitor possa conhecer um pouco mais da alcateia e o passado de Lorde Maccon, mas senti falta da presença de personagens marcantes que vieram no primeiro livro, como o Floote, o mordomo, e Lorde Akeldama, o vampiro afeminado.

Os capítulos são longos demais e isso me incomoda um pouco, pois fico com aquela impressão de leitura longa e arrastada, por mais bacana que a história seja. Uma coisa que deveria existir nesses livros são ilustrações para mostrar todas as engenhocas/equipamentos/projetos descritos em tantos detalhes aos leitores.

O final também é inesperado e é impossível não se sentir curioso pela continuação.
Pena que a continuação (Blameless) ainda não tem previsão de lançamento por aqui, pois é o tipo de história que deveria ser lida na sequência, sem pausa.
Recomendo a leitura de "Metamorfose?" para todos aqueles que curtem uma história sobrenatural requintada, única e com um humor ácido, com personagens admiráveis e com o toque infalível do gênero steampunk que dão um charme todo especial e original à série.

Alma? - Gail Carriger

13 de abril de 2013

Lido em: Abril de 2013
Título: Alma? - O Protetorado da Sombrinha #1
Autora: Gail Carriger
Editora: Valentina
Gênero: Steampunk/Sobrenatural/Romance
Ano: 2013
Páginas: 308
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Alexia Tarabotti enfrenta uma série de atribulações sociais, quiproquós e saias justas (embora compridíssimas) em plena sociedade vitoriana. Em primeiro lugar, ela não tem alma. Em segundo, é solteirona e filha de italiano. Em terceiro, acaba sendo atacada sem a menor educação por um vampiro, o que foge a todas as regras de etiqueta.
E agora? Pelo visto, tudo vai de mal a pior, pois a srta. Tarabotti mata sem querer o vampiro ― ocasião em que a Rainha Vitória envia o assustador Lorde Maccon (temperamental, bagunceiro, lindo de morrer e lobisomem) para investigar o ocorrido.
Com vampiros inesperados aparecendo e os esperados desaparecendo, todos parecem achar que a srta. Tarabotti é a responsável. Será que ela conseguirá descobrir o que realmente está acontecendo na alta sociedade londrina? Será que seu dom de sem alma para anular poderes sobrenaturais acabará se revelando útil ou apenas constrangedor? No fim das contas, quem é o verdadeiro inimigo, e... será que vai ter torta de melado?

Resenha: Alma? é um romance estilo Steampunk que se passa da Inglaterra vitoriana do século XIX, em meio a fantasmas, vampiros, lobisomens e todos os tipos de parafernálias a vapor, e traz como protagonista a Srta. Alexia Tarabotti, uma moça que, sempre acompanhada de sua fiel sombrinha, tenta se esquivar da sociedade evitando envergonhar a família por ser descendente do falecido pai italiano (para seu infortúnio e desgosto), ter herdado todas as características dele, como seu protuberante nariz, e aos 26 anos de idade, ser considerada uma solteirona encalhada por ainda não ter encontrado alguém digno de ser seu marido naquela cidade e sentir que há uma lacuna em sua vida que ainda não foi preenchida por algo que ela desconhece mas sente falta... E como se tudo isso não bastasse, Alexia ainda tem um "dom" muito interessante... Ela é uma preternatural, cuja espécie nomeada pelo DAS (sigla para Departamento de Arquivos Sobrenaturais, um tipo de setor do governo que mantém esses seres na linha), está entre o natural e o sobrenatural: nasceu totalmente sem alma e consegue neutralizar os poderes dos seres sobrenaturais que estão a solta e que só existem devido a abundância de almas que os humanos que estão perambulando por aí possuem. Essa condição é conhecida pelos seres sobrenaturais, que inclusive a temem, mas é mantida em segredo dos humanos, pois seria muito inconveniente e constrangedor sair por aí falando que não possui alma, mesmo que os humanos saibam da existência dos seres sobrenaturais e alguns até consentem em fornecer sangue para os vampiros necessitados...

E a história começa quando a srta. Tarabotti se vê presente em uma festa e é atacada sem consentimento por um vampiro desprovido de informações a respeito de sua condição, e acaba sendo espetado por sua sombrinha e morto sem um pingo de dignidade. Esse comportamento só pode significar uma coisa: algo está errado. Principalmente quando outros vampiros e lobisomens começam a desaparecer misteriosamente, o que leva o DAS a considerar que investigações devam ser realizadas com a ajuda da Srta. Tarabotti e sua inseparável sombrinha, claro.
E durante essa jornada, a Srta Tarabotti, em companhia de Lorde Maccon, o lobisomem que comanda o DAS, parte em busca de respostas, pois não é comum que vampiros saiam de suas colmeias para atacarem qualquer um, quebrando as regras impostas. E logo de imediato, fica muito evidente que esses dois possuem uma química praticamente perfeita, o que pode ser a salvação de Alexia para seu grande problema...

O mundo que a autora criou pra servir como pano de fundo para "Alma?" é brilhante e genial, e a própria narrativa, carregada de palavras nada usuais e até mesmo arcaicas, combina perfeitamente com a época em que a história se passa. Para quem não sabe, o gênero Steampunk traz histórias que se passam em épocas passadas, mas trazendo a tecnologia já bem avançada, e mesmo que difícil de acreditar que realmente existiram, as explicações são bem convincentes, o que torna tudo bastante crível. Vide os filmes "De Volta Para o Futuro", "A Máquina do Tempo", "As Loucas Aventuras de James West" e afins...

Termos desconhecidos foram muito bem detalhados, todos os personagens foram muito bem construídos, desde a própria Alexia, passando por Floote, o mordomo que está sempre a disposição dela e Lorde Akeldama, um vampiro mui afeminado e muito querido.
Gostei da diagramação, a revisão está impecável, as paginas amareladas contribuem para a leitura e a fonte tem um tamanho agradável. A capa também condiz com a descrição da personagem e retrata uma Londres misteriosa, que parece acobertar segredos...

Mesmo com o humor negro e típico dos ingleses e a escrita super refinada da autora (que até resolvi satirizar nessa resenha mesmo pra dar uma descontraída de leve), o livro não superou minhas expectativas. A história é muito boa e original, sim, mas achei que os capítulos se estenderam muito e não sou fã de capítulos muito grandes, pois fico com aquela sensação de que não posso dar uma pausa quando quero. Alma? não foi um livro que me prendeu. Li mas não fiquei necessitada de continuar devorando cada página incessantemente e até demorei pra ler mais do que o normal, pois lia e parecia que não saia do lugar. Acho que cada um absorve a leitura de um jeito diferente e talvez o momento da vida possa ter alguma influência, não sei... Muitos irão gostar bastante e aproveitar melhor, pois é um livro que vale a pena ser lido, com certeza. Eu gostei, mas nada que tenha me feito ficar empolgada.

O livro é o primeiro de uma série, e eu pretendo, sim, continuar lendo, pois Alexia é sarcástica, ácida e às vezes não se dá o devido valor, e até cheguei a me identificar com ela. Espero que quando eu tiver a oportunidade de ler os outros livros que ainda serão lançados, eu fique mais animada com a leitura.