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Jonathan Strange & Mr. Norrell - Susanna Clarke

25 de agosto de 2015

Título: Jonathan Strange & Mr. Norrell
Autora: Susanna Clarke
Editora: Seguinte
Gênero: Fantasia
Ano: 2005/2015
Páginas: 824
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em 1806, a maioria da população britânica acreditava que a magia estava perdida há muito tempo - até que o sábio Mr. Norrell revela seus poderes, tornando-se célebre e influente. Ele abandona a reclusão e parte para Londres, onde colabora com o governo no combate a Napoleão Bonaparte e coloca em prática seu plano de controlar todo o conhecimento mágico do país.
Tudo corre bem até que Jonathan Strange, um jovem nobre e impetuoso, descobre que também possui talentos mágicos. Ele é recebido por Norrell como seu discípulo, mas logo os dois começam a se desentender… e essa rixa pode colocar em risco toda a Inglaterra.

Resenha: Jonathan Strange & Mr. Norrell levou dez anos para ser escrito pela autora inglesa Susanna Clarke. O livro já havia sido publicado em 2005 mas este ano a Seguinte lançou sua segunda edição incluindo um prefácio escrito por Neil Gaiman em 2009 em que ele conta como conheceu a autora e como foi sua experiência com a leitura de seu livro. A história do livro foi adaptada para a televisão pela BBC.

A história começa se passando no condado de York, Inglaterra, no século XIX e nada vai muito além da realidade da época. O país é próspero, os cidadãos são perfeitos cavalheiros e todos acreditavam que a magia havia se perdido há muito, muito tempo... Os próprios magos dotados de magia não ousavam usar seus poderes para nada e acreditavam que a magia era algo a ser somente estudado. A ideia do uso da magia chega a ser ofensiva, principalmente por existir quem afirme possuir esse dom e que faria uso dele quando na verdade não passa de um completo farsante.
Tudo começa quando Mr. Segundus foi aceito na Sociedade dos magos de York e logo começou a questionar sobre o uso da magia e por que não se podia mais praticá-la na Inglaterra. Mr. Honeyfoot também tem os mesmos questionamentos mas os magos mais velhos acham que a magia deve permanecer "morta".

Mas rumores de que existia um mago solitário, mas muito especial, em Hurtfew Abbey que dedicava a vida a estudar magia, e tal informação logo despertou a atenção de Mr. Segundus e Mr. Honeyfoot que decidiram fazer uma visita a ele. Chegando lá, os dois ficam impressionados com a incrível coleção de livros e manuscritos sobre magia e de magia de Mr. Norrel e ao perguntarem sobre o uso dela, descobrem que ele só não concordava que a magia não deveria ficar estagnada como também assume aos dois magos ser praticante dela. Logo seu conhecimento e habilidades não deveriam ficar isolados e apresentá-lo aos outros seria o ideal para que revessem o conceito de magia esquecida implantado na Inglaterra. Mr. Norrell aceita sair de sua reclusão e revela seus poderes, mesmo que muitos tenham acreditado que se tratava de mais um farsante. mas ao provar suas habilidades, ele se torna respeitável e muito influente, passando inclusive a ajudar o governo no combate contra Napoleão Bonaparte.

Longe dalí, Jonathan Strange, um jovem nobre que acabara se herdar o império do pai, também descobre possuir o dom da magia. Seu pai havia morrido e ele partiu numa viagem pretendendo se casar. No caminho ele conhece Mr. Norrell e acaba se tornando seu discípulo.
Assim, acompanhamos uma história incrível e cheia de surpresas onde Gilbert Norrell e Jonathan Strange trouxeram a magia de volta à Inglaterra, assim como as consequências para tal decisão...

Misturando ficção e fatos históricos, Jonathan Strange & Mr. Norrell foi baseado em uma extensa pesquisa sobre a história da magia inglesa fazendo um misto de mitologia fantástica de Tolkien com a comédia de costumes de Jane Austen, e ainda utilizando de referências de outras obras como As Crônicas de Nárnia, Harry Potter e de outros autores de renome no mundo da literatura, como Charles Dickens e Anne Radcliffe.
O universo é bastante coerente e foi trabalhado com uma profundidade sem igual, que não só sustenta a narrativa e os diálogos dos personagens mas abre um leque de oportunidades para explorações ainda maiores e que podem ir mais além.

Norrell é um homem reservado, cauteloso, arrogante, egoísta e inseguro, além de um bibliófilo. Ele é um exímio colecionador de livros e, talvez, o maior leitor ávido que já viveu. Ele criou seu próprio sistema de magia moderna e se tornou um cavalheiro respeitável pelo seu feito. O que parece é que ele deseja a magia somente para si e com a ajuda de seu ajudante, Childermass, ele consegue provar que possui a habilidade e se torna obsessivo. Quando ele conhece Vinculus, um mago pobre que trabalha nas ruas de Londres, as coisas acabam mudando pois ele não se submete as vontades de Mr. Norrel e ainda dita uma profecia que mudaria o destino de todo o país.

E quando Jonathan entra em cena se revelando alguém com talento natural para a magia as coisas nunca mais serão as mesmas. Ele também ouve a mesma profecia de Vinculus e decide ir atrás de Norrel. Jonathan Strange é o contrário do mago. Mesmo que ele se torne aprendiz de Mr. Norrell, ele é imprudente mas sempre está aberto aos conhecimentos e práticas que pode aprender. Ele inclusive luta na guerra contra Napoleão para restaurar a magia se tornando indispensável para os interesses do país enquanto Mr. Norrell fica enfurnado em sua biblioteca. O contraste entre a personalidade dos dois é algo que fica evidente de forma constante.
Por isso, fica claro que a Inglaterra admira muito mais o jovem Jonathan por sua coragem e audácia, mas o destino está escrito, e a magia só poderia retornar com a ajuda dos dois magos, lado a lado. O interessante é que eles iniciam suas jornadas como tutor e aprendiz, mas acabam como iguais e isso acaba ameaçando o que eles representam para o povo.


Mesmo que a obra seja um tijolo de mais de 800 páginas e letras miúdas, a narrativa mesclada ao excelente desenvolvimento da história faz com que a leitura seja feita de forma bastante rápida, mas eu particularmente preferi ler aos poucos de forma a absorver melhor a história. Exitem vários núcleos onde vários personagens são apresentados e trabalhados, todos importantes e bem construídos, mas não vou me aprofundar neles pra não tornar a resenha mais extensa do que já está, sorry. Só recomendo que a atenção ao se dedicar à leitura seja exclusiva pois qualquer distração vai fazer com que o leitor se perca. Também é importante se atentar as datas indicadas no início dos capítulos assim como nas explicações que a autora deixou nas notas de rodapé, que são fictícias mas baseadas em explicações acerca do universo onde a trama se passa ou até mencionando livros que ela inventou e que fazem parte da história, o que, convenhamos, é brilhante!
As notas de rodapé fazem a história ter um toque didático, dando uma sensação de realidade e fazendo refletir sobre toda aquela fantasia. Algumas notas são enormes, algumas ocupam uma página inteira praticamente, mas acredito terem sido bastante eficientes ao explicar mais sobre a história desse mundo incrível sem que os próprios personagens precisem explicar tudo através de seus diálogos.

Até a divisão sobre livros de e sobre magia é interessante, pois enquanto um trata das teorias, o outro conta a história dela.
O livro é dividido em três partes. Começa de forma mais introdutória falando sobre Mr. Norrel e seus propósitos (o que pode ser um pouco cansativo, confesso), seguido pela entrada de Jonathan (o que dá um novo gás a leitura) e fica mais sombrio ao se aproximar do fim quando o tão falado John Uskglass, um rei antigo e respeitado por magos da atualidade devido aos seus conhecimentos mágicos e contribuições sobre a questão é devidamente apresentado. Sua presença é bastante importante e se faz a partir das menções que os demais personagens fazem sobre ele, pois até então ele não fazia parte dela "fisicamente" falando.
A diagramação é simples mas as várias ilustrações do livro contribuem para a riqueza da história.

O ritmo da leitura se mantém constante e linear apesar de o início ser mais lento e alguns capítulos ou cenas parecem não terem muita importância, mas a medida que a leitura avança, é possível constatar que tudo foi planejado nos mínimos detalhes e que tudo que acontece é essencial para a história. Pode parecer cansativo, mas não consegui ver um ponto negativo nisso.
O estilo de escrita da autora é envolvente e gostoso de acompanhar. Ela foi capaz de fazer descrições detalhadas que conseguem revelar com maestria a atmosfera mágica que existe no contexto

A autora nos apresenta um mundo monótono, repleto de pessoas sem afinidade pela magia mas surpreende ao revelar os encantos que esse mundo esconde. A ideia de adentrar numa história onde existe um vislumbre de um mundo como o nosso, mas muito mais empolgante, rico e melhor é genial. O universo criado pela autora chega a ser bastante crível e é perfeitamente possível considerar que tudo aquilo realmente existiu. Por mais que ela aborde magia e fantasia, a história tem um teor voltado ao público mais adulto devido a sua complexidade. O final deixa possibilidades para uma continuação e espero que a autora considere essa ideia para que os leitores possam ser presenteados com um pouco mais do que ela criou.

Ao final, fica claro que só é possível tornar o mundo melhor quando as pessoas cedem e abrem mão do egoísmo, trabalhando juntas e pensando no bem maior.
Com certeza é uma leitura mais do que obrigatória aos fãs da literatura fantástica.