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Nevasca - Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon

27 de agosto de 2023

Título:
Nevasca
Autoras: Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Jovem Adulto
Ano: 2023
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Sinopse: A quatro dias do Natal, a cidade de Atlanta se vê coberta de neve. E Stevie se vê prestes a perder a namorada para sempre. Afinal, Sola deu um ultimato: se Stevie não compensar o grande erro que cometeu até a meia-noite, o relacionamento das duas terminará de vez.
Stevie nunca foi de fazer grandes gestos românticos, mas dessa vez terá que caprichar. Para isso, ela vai contar com a ajuda de seus amigos, cada um responsável por uma pecinha do grande plano para reconquistar Sola. O que eles não esperavam era ter que lidar com seus próprios sentimentos, romances mal resolvidos, e com a neve que não para de cair.

Resenha: Nevasca reúne contos escritos pelas mesmas autoras de Blackout, que narram histórias de amores mal resolvidos mantendo a mesma abordagem LGBTQIA+ e representatividade negra que caracterizam a antologia anterior. Apesar de terem uma estrutura diferente, Blackout se passa num verão escaldante e tráz histórias que vão se interligar em meio a um apagão em Nova York, Nevasca narra as histórias no inverno, durante uma grande nevasca que ocorre em Atlanta e provoca um enorme caos faltando quatro dias para o Natal.

O livro traz um enredo principal onde Stephanie, ou Stevie, uma adolescente de dezesseis anos e aspirante a cientista, acabou estragando seu namoro com Adesola, ou Sola, quando decidiu fazer um experimento científico com o próprio relacionamento antes de ir para um jantar bastante especial com a família da namorada, e tudo deu errado. Depois do evento fatídico, ela volta pra casa, fica de castigo e sem celular ou qualquer outro meio de comunicação, não consegue responder as mensagens de Sola que, então, resolve lhe dar um ultimato: Stevie tem até a meia-noite para fazer uma reparação significativa para merecer ser desculpada, caso contrário será tarde demais. Então, ela bola um plano e pede ajuda para seu grupo de amigos, Kaz, Porsha, E.R, Jimi e Ava numa tentativa deles ajudarem a consertar as coisas. O problema é que Atlanta foi tomada pela nevasca atípica e pelo caos que veio junto com ela, atrapalhando todo mundo.

A narrativa é feita em primeira pessoa com onze capítulos que trazem o nome da personagem que está contando a situação, onde ela está, a hora e quanto tempo falta para a famigerada meia-noite, como se fosse uma contagem regressiva pra mostrar que o tempo que Stevie tem pra dar jeito no problema está se esgotando. Cada um desses amigos de Stevie também têm suas questões e dilemas relacionados aos seus relacionamentos, que trazem diversidade e representatividade, que são apresentados em seus respectivos capítulos e se alternam com os de Stevie. Os desafios que eles enfrentam devido a nevasca acabam contribuindo pro ar de tensão nas histórias, que vai além dos amores mal resolvidos.

Stevie - ★★☆☆
Sobre os personagens, acho que ou a gente ama ou odeia, e a protagonista Stevie foi a que mais despertou meu revirar de olhos, o que chega a ser até absurdo considerando que a história dela é a principal. Os capítulos destinados à ela (1, 3, 7, 9 e 11) são mais curtos por acrescentar algumas outras informações e lembranças marcantes que vão formando a história, mas é difícil acompanhar uma personagem que lembra um Sheldon Cooper de The Big Bang Theory, especialmente quando ela mesma diz que tem o "gênio difícil". Ela parece não ser capaz de entender o que é estar apaixonada a ponto de querer fazer experimentos científicos pra ter uma resposta, e não sabe bem como demonstrar afeto, mesmo que se esforce, mas a verdade é que só reparei na forma que ela se acha superior, acha que os outros devem ficar a sua disposição pra resolver problemas que ela mesma causou, e tem pouca sensibilidade quando o assunto diz respeito aos sentimentos de Sola, talvez por ela ter muita dificuldade em demonstrar os seus próprios. Nem a forma bonita como ela descreve os detalhes das experiências legais e de tudo o que ela observa na namorada salvou, e nem a conversa com Ern, o irmão de E.R., onde ela expõe tudo o que está entalado e a fazendo sofrer. Eu criei uma imagem super negativa dela como pessoa que inteligência nenhuma supera . A história dela só é razoavelmente aceitável por causa do desfecho, a forma que ela encontra pra se desculpar com Sola é realmente uma gigantesca prova de amor (cafona, não nego, mas o que vale é a intenção), mas os amigos ficaram encarregados de grande parte do serviço.

Kaz - ★★☆☆
A segunda história é narrada por Kaz e eu tive um misto de sensações enquanto lia que só não foi pior do que minha impressão sobre Stevie. Mas não por causa de Kaz, que é super legal, mas por causa de Porsha que faz parte desse círculo de amigos e é a pessoa - e melhor amiga - que Kaz ama em segredo desde sabe-se lá quando, e faz qualquer coisa por ela. Quando Kaz, depois de muita coragem, finalmente decide que chegou a hora de revelar seus sentimentos, Porsha mostra o quanto é fútil. Ela é convidada pra uma grande festa de supostas subcelebridades e, num surto de emoção, arrasta Kaz pro shopping para que ele a ajude a comprar roupas e faz o coitado ficar a sua disposição, até que eles ficam presos por causa da nevasca. Eu juro que fiquei com dó de Kaz por ele gostar dessa menina porque, enquanto ele sempre está alí pra ela e por ela, Porsha não o trata muito bem, não demonstra nenhuma consideração ou interesse pela cultura e pelas tradições que ele segue, e não move um dedo pra acompanhar Kaz em nada que ele precise fazer. Não tenho dúvidas de que ele merecia alguém melhor.

E.R.  - ★★☆☆
Em seguida temos a história de E.R., Savana e Eric, que se passa no Aeroporto Internacional de Atlanta e explora um ciúme meio descabido que Savana sente da parceira (?). Evan-Rose é bissexual e aqui ela está se reencontrando com Savana, ou Van, a namorada/ex/namorada/sei lá exagerada e ciumenta, cujo relacionamento é meio estranho: elas só são namoradas enquanto Van vai pra Atlanta pra estudar, e nas férias de verão, quando ela volta pra casa em Maryland, elas ficam solteiras de novo, e como esse namoro (se é que podemos chamar assim) vai ficar bastante abalado quando E.R. recebe uma ligação de Eric, que ela conheceu durante o verão enquanto as duas estavam ~solteiras~, e que está preso no mesmo aeroporto que elas, e mesmo que o envolvimento deles tenha sido somente emocional e nada demais tenha rolado, alí estava a receita perfeita para o desastre, ou será que não?
Evan-Rose tem muita dificuldade em falar sobre o que sente e nem teve coragem de assumir sua sexualidade para sua família. A fixação dela por Savana é meio doentia, tanto que ela parece aceitar algumas situações nada a ver só pra não contrarir a dondoca, e ela parece não conseguir se impor quando precisa ser sincera ou dizer um simples não. Achei ela chata, achei a namorada dela mais chata ainda, e Eric é o único personagem que gostei no meio desse bolo. Não consegui enxergar nada de romântico nessa história, só vi uma pessoa mais desapegada que gosta de curtir (mas que parece estar em conflito com si mesma) e outra possessiva e aparecida que tornou a história tão bagunçada quanto estranha, até mesmo porque no meio dessa confusão existe a tarefa que deve ser feita pra ajudar Stevie mas que parece não se encaixar direito. Obs.: Tenho certeza que essa foi escrita por Nic Stone.

Sola - ★★☆☆
O capítulo 5 é narrado por Sola e, nele, o leitor vai conhecer como é a dinâmica familiar dela assim como os detalhes do que aconteceu quando Stevie foi até a sua casa e ocasionou o rompimento ente as duas. Esse capítulo mostra como a briga que levou ao término do namoro com Stevie começou e um pouco da personalidade de Sola, que apesar de ser mais romântica, é bastante exigente (o que leva o leitor a compeender o motivo do ultimato).

Jordyn - ★★
Depois conhecemos a história de Jordyn (ou Jordan) e Omari que, por um mal entendido ocorrido há um ano, mantém uma amizade meio estranha e cheia de alfinetadas. Omari está acompanhando Jordyn para uma apresentação de sua irmã - e melhor amiga de Sola - Jimi. Jimi pede para Jordyn aproveitar a viagem e levar alguns itens para ajudar Stevie nesse plano mirabolante, mas por causa da nevasca, o trânsito não move 1 centímetro e eles ficam presos dentro do carro. Alí, eles aproveitam pra resolver não só o mal entendido que houve entre eles mas, numa conversa mais profunda, tentam entender um pouco mais sobre as emoções de Jordyn com relação à sua mãe biológica que abandonou ela, as irmãs e o pai das meninas há quase 10 anos. Essa história, apesar de não se aprofundar tanto na vida dos personagens por ser curta, abordou de uma forma bastante satisfatória a química do casal e os conflitos emocionais de Jordyn com relação à mãe, e sua resistência às tentativas de aproximação dela (que remetem bastante a problemas de ansiedade). Ela tenta esconder seus sentimentos pra parecer forte, mas é inegável que ela fica abalada e tem uma necessidade enorme de resolver isso pra poder seguir em paz sem esse "peso". Penso que é a personagem com a carga dramática mais forte das histórias.
"... Não consigo imaginar como você se sente. Mas de uma coisa eu sei: às vezes as pessoas machucam quem amam, e isso diz mais sobre elas mesmas do que sobre o outro. Elas que são o problema. Dizem coisas que no fundo não querem dizer ou não dizem o suficiente. Elas podem não ter a intenção de machucar, mas só isso não basta quando os sentimentos de alguém estão em jogo. Ainda assim é preciso encontrar uma forma de consertar as coisas."

Jimi
 - ★★
O capítulo 8 tráz a história de Jimi (Jamila), melhor amiga de Sola e irmã do meio de Jordyn. Jimi é vocalista e guitarrista de uma banda chamada Rescuing Midnight, mas a banda está carregada de tensão e conflitos de interesses, pois Jimi odeia músicas românticas e os garotos que compõe o trio, Kennedy e Rakeem, acham isso uma completo absurdo e começam a evitá-la. Jimi está no Fox Theatre sozinha, sem saber se os garotos vão aparecer pra gravarem a música que poderia ajudar Stevie e Sola a voltarem, esperando Jordyn aparecer, e se sentindo culpada por ter causado esse climão, até que encontra Téo, um garoto com quem ela estudou no ensino fundamental e que agora é conhecido por seu nome artístico "Lil Kinsey". Depois que ele sumiu da escola sem dar notícias, ele se tornou um rapper bem famoso. E ele é o motivo de Jimi odiar músicas românticas...
Eu gostei bastante desse conto em particular pois ele fala muito sobre o sentimento de abandono, o que isso pode causar e como as pessoas lidam com isso, mesmo que rejeitem a afeição alheia como meio de defesa (se você não se envolve, então não se decepciona), pra tentarem seguir em frente. Embora o tema possa ser um gatilho pra várias pessoas, a forma como a autora aborda e desenvolve a história é bastante sensível pois Jimi e Téo acabam compartilhando memórias e se reconcetam através da música, o que é super legal.

Ava e Mason - ★★★ 
Esse conto em particular tráz os pontos de vista de Ava e Mason de forma alternada, onde, após se encontrarem no Aquário onde Ava tem um trabalho voluntário, relembram os motivos que os levaram a terminar o namoro. E em meio a essas lembranças, a maioria com desentendimentos bobos, eles começam a refletir sobre a "validade" dos relacionamentos quando precisam ir pra faculdade e eles vão se "separar". Acho que o conflito central dessa história é bastante realista pois trata de um dilema muito comum nos jovens que estão dando esse passo na vida (principalmente nos EUA onde eles saem de casa pra estudar e ficam longe por vários meses). Além disso, a história também aborda a ideia dos filhos seguirem por um caminho que não querem ou não gostam para superar as expectativas dos pais, e a forma como isso é exposto é tão sensível, ainda mais quando se tem apoio de quem se ama, que é impossível segurar as lágrimas.
Outro ponto bem bacana é o pano de fundo da história que remete a ciência e à vida marinha. A descrição da água azul, dos peixes nadando através do acrílico enquanto eles conversam e vão se entendendo é a coisa mais linda e perfeita de se acompanhar.
Tenho quase certeza que esse foi escrito pela Nicola Yoon e foi o único, assim como o conto dela em Blackout, que levou 5 estrelas e, de quebra, ainda me fez chorar, emocionada.

Uma coisa que não curti muito durante a leitura foram os nomes ou apelidos das personagens. A maioria deles é difícil de pronunciar pra quem não está acostumado, principalmente os nomes nigerianos que aparecem no capítulo de Sola, e acabaram travando a leitura a ponto de eu começar a pular os nomes ou só ler a primeira letra porque não tive paciência pra ir pesquisar a pronúncia de todos eles.
Acho que pelo livro ser das mesmas autoras que tem uma conexão muito boa pra escreverem juntas e, apesar de não ser uma série nem nada, ter o mesmo padrão de histórias curtas, a editora poderia ter mantido o título original em inglês. Acho que ficaria muito mais legal a combinação dos títulos "Blackout" e "Whiteout" do que "Blackout" e "Nevasca". Pelo menos com os nomes originais dá pra associar um com o outro fazendo esse contraste entre preto e branco relacionados ao escuro do apagão e ao branco da neve.
Um ponto curioso é que, embora no final do livro haja dicas, as autoras não informam nos capítulos quem escreveu o que alí.

Nevasca é um livro bastante agradável e vai, sim, dar aquele quentinho no coração, mesmo que algumas histórias sejam bem melhores que outras. Apesar de eu achar que as atitudes e pensamentos não condizem muito com as idades dos personagens, as histórias retratam as questões do amor juvenil, as descobertas, a amizade e os dilemas adolescentes, principalmente aqueles relacionados à orientação sexual e à ideia das histórias apresentarem personagens jovens, negros e com aspirações de vida bem bacanas de uma forma bem sensível e bonita.

Fumaça Branca - Tiffany D. Jackson

13 de dezembro de 2022

Título:
Fumaça Branca
Autora: Tiffany D. Jackson
Editora: Seguinte
Gênero: Suspense/Terrror
Ano: 2022
Páginas: 320
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Mari não vê a hora de recomeçar. Prestes a se mudar com a família para uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos, tudo o que a garota quer é esquecer dos traumas e acreditar que o futuro lhe reserva algo melhor.
Porém, assim que chega a Cedarville, Mari nota que o lugar é um pouco estranho. Os vizinhos aparentam esconder algum segredo, e a casa onde a família vai morar ― uma construção antiga, enorme e suntuosa ― parece não receber bem os novos habitantes. Quando coisas incomuns começam a acontecer, como luzes que se apagam do nada e objetos que desaparecem, Mari se vê envolvida em uma perigosa teia de mistérios.
Mas talvez seja tudo fruto da sua imaginação. Afinal, se o pior já ficou para trás, nada mais pode dar errado…
Ou pode ?

Resenha: Marigold Anderson é uma adolescente que precisa de um novo rumo pra sua vida depois de sofrer uma overdose. Ela desenvolveu um trauma após uma infestação de percevejos e além de ter compulsão por limpeza, ela sofre de alguns transtornos psicológicos e, mesmo que tenha vontade de ficar limpa de qualquer tipo de droga depois daquele episódio, ela acredita que fumar maconha é o melhor remédio para tratar seu alto grau de ansiedade. Mari se muda com a família (sua mãe, seus irmãos, seu padrastro e a filha dele) para Cedarville, uma cidadezinha interiorana, para esse recomeço.
A fundação Sterling, num processo de gentrificação urbana, oferece uma casa histórica em reforma para a família de Mari desde que um membro da família contribua para a cidade de forma artística (a mãe de Mari é escritora), mas algo parece estar bem errado com a casa e com o bairro em si. As coisas somem, as luzes se apagam sozinhas, o porão trancado (onde eles são proibidos de ir) exala um cheiro de morte, os pedreiros fogem a partir de um determinado horário, os vizinhos são super desconfiados e estranhos, a cidade tem um histórico de violência assustador, e tudo isso deixa Mari muito intrigada. Mas a mudança era necessária, ou pelo menos é o que Marigold vem repetindo pra si mesma como parte do seu processo de cura. O que importa é que a família está confiante de que agora as coisas irão dar certo, e ignoram as coisas estranham que cercam o lugar. 

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Marigold, Fumaça Branca é um livro de suspense com cenas que causam desconforto e até revolta, pois além das cenas que deveriam ser assustadoras que se passam dentro da casa, os acontecimentos fora dela são absurdos e abordam temas pesados como uso de drogas, fanatismo religioso, racismo e outros mistérios que demonstram claramente que algo de muito errado vem acontecendo alí.

A escrita da autora é boa no que diz respeito aos mistérios e acontecimentos, mas além de não conseguir visualizar os detalhes do cenário e da casa propriamente dita por falta de melhores descrições, não consegui me conectar muito com a leitura pois todas as coisas estranhas que acontecem parecem ter o propósito de afastar o leitor em vez de manter a curiosidade dele, mesmo que haja temas importantes a serem discutidos sobre a sociedade num geral. Achei que o ritmo da história oscila bastante e não mantém um padrão de acontecimentos, principalmente porque termina de forma abrupta e deixa o leitor sem respostas (e sem acreditar). Eu não sei se a experiência com livros de terror mais assustadores pode ter comprometido minha experiência com a leitura deste, mas fiquei com aquela sensação de que, apesar da história trazer aquela atmosfera sobrenatural, não era realmente assustadora o suficiente, só desconfortável. É como se a autora quisesse misturar os traumas da protagonista com o uso de drogas a ponto dela não saber o que é realidade e fantasia, e como a narrativa é em primeira pessoa, não sabemos se podemos confiar na palavra dela. Por um lado isso é muito interessante pois ficamos tentando decifrar as coisas junto com Mari, mas a quantidade de coisas acontecendo ao mesmo tempo acaba trazendo mais confusão do que entendimento.

Mari é totalmente paranoica com a questão dos percevejos e de limpeza, o que é doentio, e em meio a narrativa sempre há uma nota dela fazendo alguma observação sobre eles, mostrando o quanto esse "tique" causa incômodo e pavor tanto nela quanto no leitor.

A dinâmica da família de Mari era interessante, pelo menos inicialmente quando eles se mudam com um propósito, mas depois as coisas começam a ficar estranhas, os problemas vão aparecendo e o único sentimento que tive foi uma grande antipatia por todos eles, mesmo que a vontade deles fosse de recomeçar.

A autora fala muito sobre a questão da revitalização e habitação do bairro, a criminalização de drogas e a prisão em massa das pessoas, e como as pessoas podem ser cruéis quando são beneficiadas de alguma forma, e de outro lado ela fala sobre esse lado sombrio dos fantasmas que tornam a casa "mal-assombrada", e fiquei com aquela sensação de que a autora quis abordar mais temas do que a história comporta, e no final nenhum deles teve o devido aprofundamento. Não achei que o aspecto sobrenatural combinou com as questões sociais levantadas aqui. Imagino que possa ser um livro pra quem tem curiosidade pelo gênero de terror e suspense, que incomode, mas não queira nada muito apavorante ou cheio de reviravoltas.

Blackout - Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon

15 de dezembro de 2021

Título:
 Blackou
t - O Amor Também Brilha no Escuro
Autoras: Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Jovem adulto
Ano: 2021
Páginas: 272
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Uma onda de calor causa um apagão em Nova York. Multidões se formam nas ruas, o metrô para de funcionar e o trânsito fica congestionado. Conforme o sol se põe e a escuridão toma conta da cidade, seis jovens casais veem outro tipo de eletricidade surgir no ar… Um primeiro encontro ao acaso. Amigos de longa data. Ex-namorados ressentidos. Duas garotas feitas uma para a outra. Dois garotos escondidos sob máscaras. Um namoro repleto de dúvidas. Quando as luzes se apagam, os sentimentos se acendem. Relacionamentos se transformam, o amor desperta e novas possibilidades surgem ― até que a noite atinge seu ápice numa festa a céu aberto no Brooklyn.
Neste romance envolvente e apaixonante, composto de seis histórias interligadas, as aclamadas autoras Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon celebram o amor entre adolescentes negros e nos dão esperança mesmo quando já não há mais luz.

Resenha: Blackout é uma antologia de contos que falam sobre histórias de amor e autodescoberta, cheias de representações negras e LGBTQI+.
Era uma sexta-feira, Nova York estava passando por uma onda de calor insuportável e isso acaba causando um grande apagão na cidade. O metrô pára, o trânsito fica congestionado, e a multidão começa a tomar conta das ruas. Embora a cidade esteja no escuro, uma energia diferente vai começar a surgir entre esses casais...

O livro é dividido em seis contos, todos narrados em primeira pessoa, mas há um conto maior, "A Longa Caminhada", escrito pela autora Tiffany D. Jackson, que foi dividido em cinco atos pra intercalar os outros. Eu tive mais facilidade em juntar essas partes do primeiro conto para ler direto e os demais não interrompessem e nem atrapalhassem na fluidez.
Os contos funcionam como capítulos, eles tem o título, o nome da autora, o local e o horário onde os personagens estão enquanto estão enfrentando o apagão, e sempre há menção a uma festa onde conhecem alguém em comum que vai estar lá, ou estão tentando chegar lá. Por serem curtos, não há tanto aprofundamento nas histórias, mas sempre aparece aquela frase de efeito clichê (e algumas não fazem o menor sentido). Alguns tem informações suficientes, abordando bem a situação e a personalidade dos personagens, outras dão aquela sensação de quero mais porque foram construídos de uma forma que é impossível não sentir empatia e se apegar, outros nem tanto quanto eu gostaria.

A Longa Caminhada, traz os personagens Tammi Wright e Kareem Murphy. A história começa com Tammi indo para uma entrevista de estágio que ela queria muito fazer, mas ao chegar lá, se depara com Kareem, seu ex namorado de quem ela ainda guarda muitas mágoas, principalmente porque, aparentemente, ele tem outra namorada. Acontece que houve um erro no disparo de emails da empresa, a vaga era pra uma pessoa só, mas os dois foram chamados. Quando a responsável iria verificar o que houve pra ver de quem era a vaga, ocorre o apagão e eles são despachados pra voltarem na semana seguinte. Eles tentam chegar ao metrô no Central Park, Tammi quer pegar o metrô ir pra casa e Kareem precisa chegar a tempo em uma festa onde ele seria o DJ, os dois esperando que até lá a energia já tenha voltado. O problema é que Tammi não tem dinheiro pra chegar ao centro, e Kareem como está sem celular pra poder se comunicar com os outros pra avisar se está tudo bem ou não, precisa usar o telefone de Tammi, então um acaba ficando "dependente" do outro enquanto eles partem a pé no meio da confusão da cidade.

Esse é um conto que vai abordar como a falta de comunicação e interpretação são fatores prejudiciais para um relacionamento, assim como mostra que, mesmo que tarde, ainda é possível tentar reparar os erros se houver espaço para uma boa conversa, desde que alguém esteja disposto a ceder em vez de se achar dona da razão. Não gostei muito da Tammi porque ela me pareceu um tanto tóxica, irritante e imatura com a ideia de que suas suposições sem fundamento correspondem com a realidade, e as conversas dela com Kareem mostram muito bem isso, mas adorei o rapaz com seu amor por música, com seu jeito descolado e protetor, e como ele se preocupa com aqueles que quer bem.
Nota: ★★★☆☆

Sem Máscara, de Nic Stone, é o segundo conto escrito por Nic Stone, e aqui temos JJ Harding e Tremaine Wright que se conhecem desde a infância. O tempo foi passando, JJ começou a jogar basquete, andar com os caras descolados do time da escola e ficar rodeado de garotas bonitas, e Tremaine era aquele que sofria bullying com esses caras. Depois de muito tempo sem se verem, JJ, que no tempo presente estava no metrô, percebe que Tremaine entra no mesmo vagão onde ele estava, e é quando tudo se apaga, o metrô para e as pessoas ficam bem incomodadas estando presas no escuro e naquele calor infernal. JJ fica hesitante em ir falar com Tremaine, então ele começa a lembrar de quando se conheceram e de alguns eventos que ocorreram nesse período, incluindo um "baile de máscaras".

Aqui temos um conto sobre autoconhecimento e a descoberta sobre a bissexualidade. A autora também tenta abordar algumas discussões sociais importantes, como a amamentação em público, por exemplo, mas achei que não se encaixou muito bem quando essa visão veio de JJ, porque ele é aquele tipo de pessoa que não toma frente de nada, ele sempre fica em cima do muro e parece travar quando precisa agir, como se estivesse perdido. O conto em si é praticamente um relato de JJ se descobrindo como bissexual, qual foi o papel de Tremaine nisso e o que acontece nesse reencontro no metrô. Às vezes fiquei com a impressão de que JJ é um super covarde, mas, pensando melhor, pude perceber que na verdade ele representa muito bem as pessoas que ainda tem dificuldades de se assumir e também se sentem perdidas e muito confusas com seus sentimentos e novas experiências.
Nota: ★★★☆☆

Feitas para se encaixar, escrito por Ashley Woodfolk, começa com Nella Jackson apagando um pequeno incêndio causado por velas na Althea House, uma casa de repouso pra idosos onde seu avô Ike vive. Por causa do apagão na cidade, a tão falada Joss Williams, que frequenta a Althea House uma vez por semana com seu cão terapeuta Ziggy, foi chamada nessa sexta-feira em caráter de urgência pra auxiliar os idosos nessa escuridão. E é assim que Nella, depois de tanto ouvir seu avô falar dela, conhece Joss. A atração de Nella por Joss é praticamente instantânea, e a medida que elas recebem uma "missão" de procurar uma foto que o avô disse ter perdido pela casa, elas começam a se aproximar, começam a falar de experiências que já tiveram, e vemos o quanto elas combinam muito bem.

Não vou dizer que o conto é lésbico por envolver duas mulheres, até mesmo porque enquanto vemos Nella trocar mensagens com alguém que seria sua "ex não-namorada", Joss fala de uma experiência com alguém "não binárie e queer" (sim, aqui a gente vê o uso do pronome neutro pra se referir a esse relacionamento que Joss teve), mas se trata dessa aproximação e da química que elas claramente têm.
Eu gostei desse conto de forma geral pela forma como as meninas se conheceram e foram se envolvendo aos poucos, só não curti a estrutura dele pois acabou me soando confuso devido a forma como as coisas foram apresentadas (tanto que tive que ler duas vezes pra entender), além da quantidade de nomes de personagens secundários que, embora a gente saiba que seja dos moradores da casa, não fazemos ideia de quem são e o que fazem exatamente, com exceção de uns três deles. Parece que a autora vai jogando nomes e espera que o leitor adivinhe quem é quem.
Nota: ★★☆☆

Todas as grandes histórias de amor… e pó, de Dhonielle Clayton, é o terceiro conto do livro onde Lana Beauvais-Simmons e Tristán Nestrepo ficam presos numa biblioteca durante o apagão. Eles são melhores amigos desde a infância, e enquanto Tristán faz o estilo popular, dono de podcast e tal, Lana é mais reservada, mais dedicada aos estudos e está tentando arrumar um jeito de contar pra Tristán que o ama antes de sua viajem pra Paris, mesmo que ele seja bem festeiro e viva mostrando pra ela as mensagens e curtidas que ele recebe de várias garotas.

Antes de tudo, acho válido destacar que há várias notas de rodapé pra expor o pensamento "verdadeiro" de Lana acerca de algumas frases ditas no diálogo com Tristan, e eu confesso não ser nada fã desse recurso por motivo de "interrupção constante" que me faz perder o foco, então deixei pra ler tudo depois do conto.
Eu fiquei um pouco irritada com esse lance de Lana gostar de alguém que, a princípio, só a via como amiga, cheio de contatinhos e etc. É meio triste nutrir sentimentos por uma pessoa, ficar guardando isso pra si (as notas de rodapé mostram bem isso), e ainda ficar triste ou sem saber como agir porque essa pessoa vive a vida (já que ele não tem como adivinhar os pensamentos da outra), e como os dois sempre fazem apostas pra qualquer coisa como forma de brincadeira, essa foi a forma de Lana por tudo pra fora. Mas posso dizer que eu adorei esse conto, amei a forma sensível como foi muito bem escrito, com todos os detalhes poéticos, e ainda com uma biblioteca como pano de fundo.
Nota: ★★★★☆

Sem dormir até o Brooklyn, de Angie Thomas, se passa num ônibus de turismo que estava levando uma turma de alunos numa excursão e fica parado no trânsito por causa do apagão. Kayla namora Tre’Shawn, mas tem uma queda por Micah, e alí, no meio dos dois, ela acaba tendo uma epifania depois de bater um papo no escuro com o motorista do ônibus.

Essa é uma história de um "não-triangulo-amoroso" (?). Isso porque o interesse de Kayla por Micah é recíproco, mas não há traição "física". Kayla sabe o quanto é escroto ficar se derretendo por outro cara enquanto namora com Tre, mas ela não consegue controlar esse impulso. E essa confusão toda pra que? Pra gente chegar a conclusão que é um conto sobre autodescoberta e amor próprio. Mesmo que a autora escreva bem e de uma forma bem fluída, achei essa "jornada" de autodescoberta um tanto mal executada.
Nota: ★★☆☆☆

Seymour & Grace, escrito por Nicola Yoon, encerra a antologia trazendo a história de Seymor, um motorista de aplicativo, e Grace, uma passageira jamaicana que está há dois anos em Nova York estudando. Grace está tentando chegar na famigerada festa de que todos falam nos contos anteriores para encontrar com a amiga e tentar reatar com seu ex namorado que também está lá, mas o congestionamento por causa do apagão não está facilitando as coisas. Ouvir o motorista escutando um podcast filosófico sobre a parábola do Navio de Teseu não está ajudando muito, mas o que ela não imaginava era que no final isso faria muito sentido. O clima está meio desconfortável entre os dois, Seymor parece não ter muita noção, a gasolina do carro acaba no meio do caminho, e ele se oferece para acompanhar Grace até a festa a pé. Ela fica um tanto resistente no início, mas acaba aceitando, e eles vão conversando e se conhecendo um pouco mais durante o caminho.

Esse conto foi o melhor pra mim. Ele intercala os pontos de vista de Seymor e de Grace, então podemos saber o que se passa na cabeça de cada um durante esse momento que eles passam juntos, e é impossível não se encantar por toda a simplicidade de Seymor, ou admirar Grace por ser uma jovem tão decidida. A história se concentra e traz reflexões sobre o senso de identidade, sobre as mudanças pelas quais passamos com o tempo, e sobre como essas mudanças interferem no convívio e nos relacionamentos. Grace percebe que o motorista de aplicativo está longe de ser só mais um cara sem noção, e a conexão que surgiu alí mostra que quando suas pessoas são capazes de se enxergar além das aparências, não se deve ignorar a oportunidade de se conhecerem melhor.
Nota: ★★★★★

Enfim, Blackout pra mim foi um livro mediano, que abordou as temáticas escolhidas na maioria das vezes de uma forma um tanto pobre e com termos que ainda não entendi, como por exemplo,"amor negro". Qual a diferença desse amor para os outros amores quando nada nos contos fez alguma referência ou criou situações que explicassem isso melhor? Acho que as vezes não basta somente a representatividade de cor ou gênero, pois se um livro é escrito com um propósito que nao serve pra nada, principalmente quando a mesma história pode ser contada com qualquer outro personagem no lugar dos que estão ali sem que haja diferença, a sensação final é de perda de tempo. Senti falta de situações que tivessem algum impacto maior pra justificar toda a propaganda, que me envolvesse e realmente me ensinasse algo que ainda não sei, mas não foi o caso.