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Glória e Ruína - Tracy Banghart

11 de setembro de 2019

Título: Glória e Ruína - Graça e Fúria #2
Autora: Tracy Banghart
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Fantasia/Distopia
Ano: 2019
Páginas: 312
Nota:★★★★★
Sinopse: Na continuação de Graça e Fúria, Serina e Nomi Tessaro vão dar início a uma revolução que vai mudar a vida de todas as mulheres de seu país. As irmãs Serina e Nomi Tessaro nunca imaginaram que acabariam em lugares tão distintos: Serina em uma ilha-prisão, Monte Ruína; Nomi no palácio de Bellaqua, como uma graça, à disposição do príncipe herdeiro do reino. Depois de sofrer uma grande traição, Nomi também é mandada para a ilha e, ao chegar lá, para sua surpresa, encontra Serina à frente de uma rebelião das prisioneiras contra os guardas.
Agora as irmãs têm um objetivo em comum: mudar o funcionamento de toda a sociedade. Além disso, elas sabem que Renzo, gêmeo de Nomi, está em perigo. Relutantes, elas se separam mais uma vez, e Nomi retorna à capital, enquanto Serina permanece em Monte Ruína para garantir que todas as mulheres encontrem um lugar seguro para viver. Só que nada sai como o planejado ― e as duas vão ter de enfrentar os seus maiores medos para mudar o país de uma vez por todas.

Resenha: Fechando a duologia Graça e Fúria, a jornada cheia de altos e baixos das irmãs Tessaro chega ao fim. Por ser uma continuação, a resenha pode ter spoilers do volume anterior!

Serina havia sido enviada para a prisão de Monte-Ruína, enquanto Nomi servia como Graça do príncipe herdeiro no palácio de Bellaqua. Mas, depois de presenciar um assassinato e descobrir que havia sido traída por Asa, Nomi, junto com o príncipe Malachi, é enviada para a mesma prisão onde sua irmã se encontrava. Porém, ao chegar lá, Nomi percebeu Serina já não era mais a mesma. Além de diferente, ela também estava a frente de uma grande rebelião contra os guardas. Juntas, Serina e Nomi passaram a ter um novo objetivo: mudar a sociedade e fazer do país um lugar seguro e digno para as mulheres.

Narrado em terceira pessoa com capítulos alternados entre Serina e Nomi, a história vai se desenrolando num ritmo lento mas muito gostoso de se acompanhar. Mas mesmo que o final tenha sido previsível, eu ainda me emocionei bastante com os acontecimentos e a evolução dessas irmãs. Eu só não posso dizer que a luta das duas teve equilíbrio, porque senão eu seria injusta.

Serina cresceu ainda mais depois de tudo o que passou, e após adquirir mais experiência, acabou se tornando uma guerreira, líder de uma grande revolução, super badass. E seu comportamento teve um contraste muito grande se comparado a Nomi, pois por mais que ela tenha tido um papel importante no final das contas, durante a história ela viajou com Malachi pra chegar de um ponto a outro enquanto o trabalho duro já estava sendo feito por Serina.

Ainda assim eu gostei muito da essência da história em si, da temática envolvendo o feminismo, o poder feminino em geral, e a lutra contra a opressão que as mulheres sofrem nas mãos de homens e do tirano maligno que governa tudo. Assim, a ideia de mudar a sociedade acabou deixando as coisas muito unilaterais, dividindo a sociedade de Viridia entre homens maus, e mulheres que não querem mais abaixar a cabeça para eles. Então por mais que as personagens sejam todas fodonas, prontas para derrubar o machismo, o patriarcado e a opressão, ainda fiquei com a sensação de que faltava mais camadas, mais informações sobre a história do reino e sobre as rainhas destemidas do passado, e também a reação das outras nações diante do problema em Viridia, Muito da história, por mais que eu tenha me empolgado devido ao tema, me pareceu meio superficial, principalmente alguns relacionamentos amorosos. Havia um respeito incrível entre os personagens e aquela ideia da mocinha que fica a espera de um herói para salva-la não existe. As mulheres realmente lutam e não esperam por homem nenhum. O trabalho é feito em conjunto e isso é admirável, mas ainda senti que falou mais aprofundamento no arco de Nomi e Malachi. Já Serina e as prisioneiras foram um enorme exemplo de sobrevivência e superação. Elas lutam com garra, se importam e se preocupam umas com as outras, e isso faz com que qualquer personagem tenha sua devida importância a ponto de nos importarmos com elas, e se algo de ruim acontece, mesmo que seja alguém com um papel menor, é possível lamentar por ela.

Eu gostei muito da ideia das mulheres, finalmente, estarem no comando de alguma coisa num país onde elas não tinham direitos e só obrigações de servir os homens, e por mais que o enredo que envolve esse universo gire em torno de um patriarcado opressor, ainda existem alguns poucos homens que não se corromperam com isso, logo eles tem papeis importantes nessa jornada em busca da liberdade e da igualdade que as mulheres tanto querem - e precisam.

Posso dizer que o livro encerra o ciclo de forma bem satisfatória, embora tenha sido muito corrido da metade até o desfecho, com algumas conveniências e tudo mais. Mas no mais, gostei da forma como o empoderamento feminino foi abordado e trabalhado, gostei da ideia de que não se pode generalizar quando o assunto é machismo, pois a realidade é que nem todos os homens são completos pedaços de lixo, e fiquei admirada pelo relacionamento entre as irmãs, que se preocupam em se proteger de forma recíproca sem que uma pareça tão mais frágil que outra. Elas só lutam de formas diferentes.

Graça e Fúria - Tracy Banghart

7 de novembro de 2018

Título: Graça e Fúria - Graça e Fúria #1
Autora: Tracy Banghart
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Fantasia/Distopia
Ano: 2018
Páginas: 304
Nota:★★★★★
Sinopse: Em Viridia, as mulheres não têm direitos. Em vez de rainhas, os governantes escolhem periodicamente três graças — jovens que viveriam ao seu dispor. Serina Tessaro treinou a vida inteira para se tornar uma graça, mas é Nomi, sua irmã mais nova, quem acaba sendo escolhida pelo herdeiro. Nomi nunca aceitou as regras que lhe eram impostas e aprendeu a ler, apesar de a leitura ser proibida para as mulheres. Seu fascínio por livros a levou a roubar um exemplar da biblioteca real — mas é Serina quem acaba sendo pega com ele nas mãos. Como punição, a garota é enviada a uma ilha que serve de prisão para mulheres rebeldes. Agora, Serina e Nomi estão presas a destinos que nunca desejaram — e farão de tudo para se reencontrar.

Resenha: Serina e Nomi Tessaro são irmãs que vivem em Viridia, governada pelo Superior através de uma monarquia, onde as mulheres não têm direitos e estão destinadas à completa submissão. As mulheres vivem para seus maridos e filhos, são proibidas de ler, de estudar, só podem trabalhar em indústrias, não podem cortar os cabelos e, principalmente, nunca podem ir contra essa realidade que foi imposta a elas. Elas não têm voz.
Serina é a irmã mais velha, tem dezessete anos, e foi treinada desde que se entende por gente para ser uma Graça, uma das várias mulheres do Superior de Viridia. Ele mantém algo bem semelhante a um harém, cheio de Graças para o servir como e quando ele quiser. Agora, pela primeira vez, o herdeiro do trono irá escolher três Graças, e o maior sonho de Serina é ser uma das escolhidas. Pra ela, ser uma Graça é uma benção, uma chance de fugir da vida miserável que tem pra viver no luxo do palácio, e uma forma de dar uma vida digna e confortável à sua família.
Por outro lado, Nomi, de quinze anos, é mais rebelde, não aceita a ideia de um mundo onde as mulheres devem se calar, e muito menos aceita a possibilidade de ver sua irmã presa a uma vida onde será submissa, subjugada, e escrava de um homem pra sempre.

Assim, quando Serina foi escolhida como representante de sua cidade para ir até o castelo na capital a fim de participar do baile do herdeiro, ela leva Nomi como sua aia, mas ao chegar lá, a irmã mais nova, sem querer, acaba enfrentando Malachi, o dito herdeiro. Com isso, Nomi foi notada, e o herdeiro a escolhe como uma de suas Graças em vez de Serina. A escolha dele foi totalmente inesperada. Nomi, que odiava a ideia da irmã se tornar uma Graça, ficou louca da vida ao se tornar uma, e Serina, além de preocupada com a irmã, se sentiu magoada por ter sido rejeitada depois de se dedicar a vida toda para ser uma das Graças do Superior. E como se não bastasse que tudo tivesse saído fora de controle, as irmãs ainda são pegas com um livro, e por desrespeitarem as regras, afinal, as mulheres são proibidas de ler, seriam castigadas. Serina, que nem sabia ler, numa tentativa de proteger Nomi, assume a culpa, e então é enviada para uma prisão numa ilha controlada por homens. A partir daí, as duas protagonistas, agora separadas pela distância, tentam lidar com os problemas para se adaptarem a uma vida que elas nunca desejaram para si mesmas.

O livro é narrado em terceira pessoa com alternância entre os pontos de vista de Serina e Nomi. A sensação é a de estar lendo dois livros com histórias diferentes que se passam no mesmo universo. A capa do livro inclusive combina muito bem com essa ideia de duas histórias num único livro ao trazer uma irmã na frente e a outra atrás.



Embora a história tenha seus clichês e traga elementos bem parecidos com os de outros livros, a forma como a autora conduz a trama é muito interessante. No começo ficamos com aquela ideia de um sistema machista e opressor que inferioriza as mulheres, que Serina, sendo submissa, já tinha se conformado com a situação e que passaria seus dias se lamentando pela chance perdida, e que Nomi seria o estopim para uma grande revolução, mas as coisas não seguem esse rumo. Quando Serina é presa, ela começa a abrir mão de tudo aquilo que aprendeu a ser e acreditar, e passa por uma enorme transformação envolvendo coragem, empoderamento e feminismo, e seu desenvolvimento e amadurecimento é um dos melhores que pude acompanhar. Literalmente ela passa de Graça para fúria. Ao contrário de Nomi, que começa a aprender a se tornar uma Graça, e embora rebelde, é impulsiva e nunca, nunca mesmo, pensa nas consequências de seus atos ou como as pessoas poderão ser afetadas com isso. Lá no fundo ela até pode acreditar que as besteiras que faz são certas, mas, num determinado ponto, as coisas passam tanto do limite que a vontade é de entrar na história pra dar um basta naquilo.

Como nem tudo pode ser um mar de rosas, eu tive, sim, um problema com as protagonistas. Mesmo que elas tenham sido apresentadas como sendo opostos uma da outra, e a narrativa seja alternada entre elas, senti que suas "vozes" e suas atitudes eram muito, muito parecidas. A pegada feminista da história é clara, e acho muito importante que o tema seja abordado, principalmente nos dias de hoje, para mostrar que as mulheres podem lutar contra os absurdos e os abusos do machismo e do patriarcado, mas sempre que elas precisam fazer alguma escolha ou tomar uma decisão importante, tomam as piores possíveis, prejudicando elas mesmas e quem está ao redor delas, sem de importar com as consequências, desde que a ideia de estarem se "rebelando" se fortalecesse, principalmente do que diz respeito a Nomi.
O romance que surge não me convenceu e não poderia ser mais óbvio que não é algo que vai prestar. Acho que romance deve ser algo meio que obrigatório nessas histórias, mesmo que não faça muito sentido estar alí.

Mas, tirando esse fato, achei muito importante a forma como a autora abordou as questões que envolvem esse universo, e a ideia de como os homens detém o poder e subjugam as mulheres por MEDO do que elas são capazes de fazer e que podem ter a mesma força que qualquer um deles. E mesmo que eles tentem oprimir todas elas, fica bem claro que as mulheres ainda têm poder, têm força, basta que se unam pra isso. O foco da autora é a luta pela liberdade e a resistência contra esse sistema terrível.

Acho que já deu pra perceber que o tema é interessante, não deixa de ser atual, e a leitura é bem gostosa e flui num piscar de olhos. Muitos temas são até bem pesados, e a forma como a autora escreveu tudo com bastante sutileza acabou amenizando a situação, o que foi um ponto positivo levando em consideração que se trata de um jovem adulto. Em muitos momentos fiquei revoltada com algumas cenas, e o ritmo cheio de reviravoltas, ação e muita intriga é responsável por manter o leitor preso à leitura como se não houvesse amanhã.

Acho que, mesmo com algumas pequenas inconsistências, a leitura de Graça e Fúria deveria ser obrigatória para servir de porta de entrada para esse tema. As mulheres são fortes e precisam, sim, lutar por espaço.