Autora: Jen Calonita
Editora: Única
Gênero: Fantasia/Releitura/Juvenil
Ano: 2015
Páginas: 192
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Gilly não se considera exatamente uma garota má... Porém, quando se tem cinco irmãos e irmãs mais novos, é preciso ser criativo para ajudar nas despesas. Ela é uma ladra muito boa, e disso tem certeza e pode se gabar. Até ser pega.
Depois de roubar uma presilha, é sentenciada a passar três meses no Reformatório de Contos de Fadas – no qual os professores são aqueles antigos vilões que já conhecemos, como o grande Lobo Mau e a malvada Madrasta da Cinderela. Quando, porém, ela faz amizade com alguns estudantes, como Jax e Kayla, aprende que esse reformatório vai muito além de sua missão heroica. Há uma batalha ganhando forma e Gilly precisa descobrir: os vilões podem realmente mudar?
Descubra o Lado B dos contos de fadas.
Resenha: Escola de Vilões é o primeiro livro da série homônima da autora Jen Calonita. O livro foi publicado no Brasil pela Única Editora.
Há cinco anos atrás, Encantadópolis estava praticamente tomada por vilões. Os cidadãos mal podiam dormir com medo de tanta maldade que pairava pelo ar. Maças envenenadas, maldição do sono eterno e afins perturbavam a tranquilidade do povo. Mas depois que Cinderela se casou com o príncipe, tudo mudou! Flora, a madrasta dela, ficou em maus lençóis quando Cinderela decidiu levar a público todas as humilhações que passou com a megera. Enfim, ela reconheceu o quanto foi perversa ao fazer de Cinderela uma escrava, além de tentar enganar o príncipe para que ele se casasse com uma de suas filhas. Se Flora não mudasse de vida, continuaria sendo alvejada por rabanetes podres e jamais poderia viver em paz no reino. E por esse motivo o Reformatório de Contos de Fadas nasceu. O RCF é um programa criado por Flora para recuperar vilões da vida do mal, educando e transformando criaturas ou pessoas perversas em cidadãos que colaboram com a sociedade. E por causa desse programa o crime atingiu os menores índices de todos os tempos.
E em meio a esse cenário, conhecemos Gilly Cobbler, uma menina de doze anos que não leva nenhuma vida de luxo, muito pelo contrário. Seu pai era o sapateiro de Encantadópolis, mas, depois que a fada madrinha começou a fazer sapatinhos de cristal para as princesas - copiando a ideia dele e levando o crédito -, as coisas começaram a ficar difíceis para a família já que as encomendas parecem ter chegado ao fim... Gilly ajudava em casa cometendo pequenos furtos, pois só assim conseguia levar comida para alimentar os cinco irmãos e irmãs mais novos. Ela tinha muita experiência e por muito tempo obteve sucesso, mas ao ser pega pela terceira vez, não teve escapatória... Seus pais receberam uma notificação da própria Flora e o destino da garota era ir pro RCF. Lá ela se depara com ex-vilões reformados que agora são professores da Escola. Mas será que eles realmente mudaram e são dignos de confiança?
Quando Gilly faz amizade com Jax e Kayla, ela descobre que algumas coisas estranhas e que vão muito além do que imaginou, e claro, vai investigar...
Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Gilly, Escola de Vilões tem um ritmo bastante agradável e fluído. Ver os acontecimentos através da garota e acompanhar seus pensamentos e progressos foi algo bastante legal. A leitura é fácil e a ideia de uma escola para corrigir e educar prováveis futuros vilões é brilhante. Vemos vilões clássicos, como o Lobo Mau de Chapeuzinho Vermelho, que se tornou o professor Xavier Lobão; a Rainha Má de Branca de Neve, agora conhecida como professora Harlow; Gottie, que sequestrou Rapunzel, entre outros famosos no mesmo lugar e misturados com um bando de delinquentes juvenis em processo de recuperação.
Um ponto que achei muito bacana no livro é a questão que por mais encantado e feliz que um reino possa parecer, há aqueles que vivem na miséria e não têm apoio do "sistema". A desigualdade social é mostrada de forma bem realista. Enquanto Gilly mora na vila com a família num casebre frio e minúsculo, as princesas moram em castelos e palácios nas colinas usando e abusando de riquezas e luxo.
Gilly não é má, muito pelo contrário. Por mais que seja atrevida, ela é uma menina ótima, feliz com o pouco que tem, preocupada com o bem estar dos irmãos, cheia de coragem e que precisou recorrer aos furtos para ajudar ainda que tal comportamento não seja correto e nem aprovado pelos pais. Ela odeia a nobreza por acreditar que a culpa por ela e a família viverem na miséria é deles, e não aceita que o pai tenha levado tanto prejuízo depois de ter a ideia roubada e ninguém fazer nada contra o oportunismo da fada madrinha, Cinderela inclusive aprovou o ocorrido!
"Eu só pego de gente que pode perder coisas. Os nobres decididamente podem perder algumas bugigangas. Assim como o padeiro, cujo negócio está prosperando e que trata mal a minha mãe toda vez que ela passa para ver se tem pão dormindo em promoção. Os nobres são parte do motivo para que a gente viva nesse casebre lotado, então, não me sinto mal em tirar deles."Então, ainda que roubar seja errado, Gilly o faz por uma questão de sobrevivência, pela família ter sido prejudicada quando seu sustento fora roubado por alguém que, na teoria, deveria ser honesta. Logo, a sequência de roubos que ela comete vêm da necessidade que ela acredita ter, mas com o decorrer dos acontecimentos, ela passa a perceber a linha tênue que está entre o bem e o mal e começa a descobrir que nem sempre o que vem pelo caminho mais fácil é o melhor. É um grande desenvolvimento de caráter, por mais que ela seja uma pré adolescente, e em meio a possíveis vilões, ela aprende o que é ser uma heroína.
- Pág. 21
Jax foi o personagem que se tornou meu favorito. Ele é um ladrão, arruaceiro e intragável, mas no quesito companheirismo, é imbatível.
Só achei que para a pouca idade dos personagens, muitas vezes eles pensavam ou agiam como se fossem bem mais velhos e isso acabou me incomodando um pouco.
Os demais personagens são muito bem construídos e a forma como a autora apresentou e moldou os clássicos é perfeita. Cada um deles agora tem funções específicas, como os Anões que se tornaram policiais e usam suas picaretas como "armas".
Outro ponto que gostei bastante foi o fato de que ainda que exista magia, ela não é usada para corrigir tudo ou facilitar a vida de ninguém com um simples balançar de varinha. Todos precisam batalhar duro pois pois são cobrados para darem o seu melhor, e nada menos do que isso.
Com relação a parte física, a capa se manteve fiel à original e é muito chamativa e bonita. A diagramação é bacana, pois os "pergaminhos" que aparecem no decorrer da história são os responsáveis por algum aviso importante ao mesmo tempo em que apresenta e descreve algum personagem ou ainda fala de alguma situação que aconteceu a fim de ambientar o leitor à história.
Os capítulos são numerados e possuem títulos e sempre são iniciados com um pequeno ornamento. As páginas são amarelas e encontrei alguns erros de revisão mas nada que comprometa a leitura.
É um livro mais voltado ao público infanto juvenil, até mesmo pela forma leve e bem humorada como é escrito, mas leitores de qualquer idade e que gostem de releituras dos contos vão adorar.
Escola de Vilões é um livro divertido, espirituoso, cheio de ação, mistério e magia e com uma variedade de contos e personagens que se misturam de forma adorável, principalmente por incluir os vilões. Com certeza a história faz com que o leitor reflita sobre a definição de bem e mal e o significado da amizade verdadeira. Recomendo!