A Paz Dura Pouco, de Chinua Achebe (Tradução de Rubens Figueiredo)
Nos anos 1950, a Nigéria vive os últimos tempos da ocupação britânica dividida entre as promessas da modernidade e os vínculos étnicos que compõem o tecido social africano. Nesse contexto, o jovem Obi Okonkwo recebe uma bolsa para estudar em Londres. Lá, abandona a faculdade de direito para se dedicar ao estudo da língua inglesa, e sonha libertar sua terra da inércia cultural, da exploração e do racismo dos estrangeiros, mas também dos vícios e favorecimentos mediados por laços familiares e tribais africanos. Ao retornar, sua terra natal se revela, porém, diferente da imagem guardada na memória. Obi consegue um emprego no governo e se depara com a tentação das ofertas de suborno ou favores sexuais que permeiam todas as instâncias de administração pública. Aos poucos, o rapaz se enreda em dívidas, contraria as convicções familiares, debate-se com acontecimentos dramáticos no romance com a mulher que conheceu em Londres e se vê confrontado pela decepção dos que viam nele uma personalidade proeminente com um futuro brilhante.
O homem é um grande faisão no mundo, de Herta Müller (Tradução de Tercio Redondo)
Na Romênia do ditador Ceausescu, em meados da década de 1980, a família de etnia alemã Windisch aguarda uma autorização para emigrar para o Ocidente. À medida que mais e mais vizinhos romeno-alemães deixam o país, a família ainda continua a esperar — a vida e o tempo parecem não sair do lugar. É apenas quando a filha Amalie se vende para conseguir permissão de saída, que a família toda irá receber os documentos tão desejados. Nesta brevíssima narrativa, Herta Müller acompanha com poesia a trajetória estagnada mas sem repouso dessa aldeia de sobreviventes da Segunda Guerra, sempre com seu olhar crítico ante uma realidade marcada pelo sofrimento e pelo medo que resultam de um governo opressivo.
Sobre a História, de Eric Hobsbawm (Tradução de Cid Knipel Moreira)
Nesta coleção de ensaios, Eric Hobsbawm reflete sobre prática e teoria da disciplina que fez sua fama como um dos maiores historiadores contemporâneos. Com a costumeira clareza de estilo, o autor põe em questão o papel do historiador, a indefinição das identidades nacionais na Europa, o legado de Marx e do Manifesto Comunista, a noção de progresso, os pontos de contato entre história e economia. Mais uma vez, brilha.
Ilíada, de Homero (Tradução e prefácio de Frederico Lourenço)
Considerado o primeiro livro da literatura europeia, o mais antigo dos épicos homéricos narra a tragédia de Aquiles, herói grego da Guerra de Troia que, depois de se retirar da batalha por um desentendimento com um de seus aliados, ao ver seu fiel escudeiro assassinado pelo inimigo, volta ao combate em um impulso de fúria cega cujo fim só pode ser a própria morte. Apesar de concentrar quase toda a ação do poema em um único episódio, Homero lança mão na Ilíada de um sofisticado mecanismo narrativo, capaz de apresentar um leque de eventos e personagens tão amplo e irresistível que sobre ele foi construída boa parte da tradição literária ocidental. Esta edição em verso, com tradução do helenista português Frederico Lourenço, é acompanhada de textos introdutórios, uma lista das principais personagens e alianças bélicas, e mapas que ajudam o leitor a compreender a complexa geografia homérica.
Senhora, de José de Alencar
Publicado em 1875, Senhora é uma história de abandono, vingança e reparação. Apaixonada por Fernando Seixas, frequentador dos altos círculos da corte, mas incapaz de sustentar sua vida de luxo, Aurélia é trocada por uma noiva com um dote de trinta contos de réis. Em uma reviravolta do destino, porém, acaba herdeira de uma grande fortuna e, de forma anônima e por uma quantia de cem contos de réis, consegue atrair Seixas de volta para si, apenas para humilhá-lo por seu caráter venal e submisso. Com sua narrativa concentrada na vida ociosa das classes abastadas e sua existência parasitária em torno da corte imperial, Senhora retrata um momento de transformação da sociedade brasileira: os valores patriarcais foram sendo substituídos pela visão de mundo de uma burguesia que parecia regida, acima de tudo, pelo dinheiro. Esta edição traz uma introdução de Antonio Dimas, professor titular de literatura brasileira na USP.