Lido em: Junho de 2013
Título: O Oceano no Fim do Caminho
Autor: Neil Gaiman
Editora: Intrínseca
Gênero: Ficção/Literatura Estrangeira
Ano: 2013
Páginas: 208
Nota:
★★★★☆
Sinopse: Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino.
Ele sabia que os adultos não conseguiriam - e não deveriam - compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.
Resenha: O Oceano no Fim do Caminho é o mais recente livro do autor
Neil Gaiman, e foi lançado no Brasil pela
Intrínseca, simultaneamente com o lançamento da edição estrangeira. O protagonista, que atualmente está na casa dos 40 anos, revive o passado ao voltar para o lugar onde morou aos 7 anos, e a história, então, é contada a partir do seu ponto de vista quando criança. Esse retorno despertou nele lembranças, emoções, medo, sofrimento, e o que estava guardado lá no fundo, vem a tona...
Há 40 anos ele "perdeu" seu quarto pois sua família passava por necessidades e a mãe resolveu alugá-lo já que o dinheiro iria ajudar bastante, e muitas pessoas foram inquilinas até que um deles, um homem misterioso, roubou o carro da família mas num momento de desespero acabou cometendo suicídio. O ato foi tão atroz, que forças malignas foram despertadas e libertadas, e a vida da família começou a mudar sutilmente quando a nova inquilina chegou... Só o menino conseguia perceber o mal e os perigos que havia alí, tentava avisar, mas por ser criança, não era levado a sério, até que ele resolve fugir e buscar a salvação nas 3 mulheres que viviam no fim do caminho, a família Hempstock. E Lettie, a menina de 11 anos, se torna seu refúgio, sua fonte de fé, sua salvação...
É difícil falar sobre mais trechos ou detalhes desse livro sem deixar as pessoas confusas, pois a historia em si, apesar de estar carregada de verdade, é cheia de obscuridade, fantasia, metáforas e muitas vezes, de forma proposital, não faz muito sentido. É necessário ler para viver todas as emoções, às vezes, sem a necessidade de entender, pois são situações que podem ser melhores compreendidas ou absorvidas de acordo com o estado de espírito do leitor ou até mesmo sua própria experiência de vida.
A narrativa é espetacular, cheia de sentimento, fluída, e é possível perceber a inocência e a pureza do menino, e sentir, literalmente, todas as suas emoções, seus medos e desejos. E acredito que essa foi a intenção do autor em não nomeá-lo, pois dessa forma, qualquer um pode se colocar em seu lugar, nas situações que mais se encaixam e pode ser que alguém veja a si próprio em diversas situações vivenciadas pelo menino...
É um livro extremamente bem escrito e bonito, a capa tem tudo a ver com a história, a diagramação é simples, há algumas citações/referências literárias, como As Crônicas de Nárnia e Alice no País das Maravilhas, mas encontrei alguns erros de revisão bobos e na tradução que me chatearam um pouco. Um deles foi o trecho onde o menino fala que eles estavam da sala assistindo ao "filme" Missão Impossível sendo que esse filme não existia há 40 anos atrás! Existia uma série com o mesmo nome e estilo de ação nos anos 60, por isso fiz questão de dar uma espiada no livro em inglês para constatar que o autor em momento algum se refere ao filme. Tom Cruise mal tinha nascido, quem dirá viver um agente secreto... Acho que livros desse nível, principalmente com a preocupação de serem lançados de forma simultânea, devem ser tratados com carinho e atenção mais do que especial, pois tem gente que repara e morre de desgosto por isso...
tipo eu.
Alguns detalhes de outros personagens são pouco explorados, pois como a narrativa é feita em primeira pessoa e pelo ponto de vista do menino, é como se entrássemos na mente dele, vendo tudo pelo seu ponto de vista, com muita inocência e nenhuma maldade. Ah, e os agradecimentos do autor ao final do livro também são super bacanas e dá um quê autobiográfico à história, e isso faz com que fiquemos ainda mais ligados ao "menino".
Enfim, pra finalizar, é uma história mágica cheia de esperança mas ao mesmo tempo sombria e cheia de tristeza, e pude absorver que somos quem somos pelo que vivemos e aprendemos no passado, por isso ele faz toda a diferença nas nossas vidas, e coisas mínimas podem fazer com que as lembranças mais esquecidas venham à tona para que, como num passe de mágica, possamos, de certa forma, reviver tudo outra vez.
Temos medo, segredos, esperança, decepções, muitas vezes somos incompreendidos, nos sentimos sozinhos e deprimidos, e estamos sempre em busca do nosso oceano particular... e ele está ali, no fim do caminho, é só ter coragem para seguir em frente até chegar lá...
Uma leitura obrigatória para todos aqueles que acreditam que, no fim, tudo dá certo... E um recado aos mais sensíveis: preparem os lencinhos. ;)