Título: Baía da Esperança
Autora: Jojo Moyes
Editora: Bertrand
Gênero: Romance/Drama
Ano: 2015
Páginas: 392
Nota:
★★★★☆
Onde comprar: Saraiva |
Submarino |
Americanas
Sinopse: Quando Mike Dormer parte de Londres para uma cidadezinha litorânea da Austrália, a fim de empreender a construção de um resort de luxo, tudo o que ele tem em mente é mais um contrato milionário. Mas o destino lhe reserva algo diferente.
Baía da Esperança não é um lugar qualquer, e os habitantes do excêntrico, mas decadente, Hotel Silver Bay - a enigmática marinheira Liza McCullen, sua filha de dez anos e tia Kathleen, lendária caçadora de tubarões, além das tripulações de observação de baleias - logo perceberão o apetite predatório do forasteiro Mike.
Assim que os efeitos da megaconstrução começam a impactar a vida das baleias e golfinhos da região, os mundos de Liza e Mike entram em um conflito de dramáticos resultados. Perigos inesperados irão confrontar os habitantes locais, sejam criaturas marinhas ou seres humanos. E Mike será obrigado a responder à pergunta que paira sobre Baía da Esperança: até onde se pode chegar, antes de se acabar destruindo aquilo que se ama?
Resenha: Baía da Esperança foi o quinto livro escrito pela autora britânica
Jojo Moyes. O livro havia sido escrito em 2007 e publicado em 2010 no Brasil pela
Bertrand. Em 2015 foi relançado com novo projeto gráfico e nova revisão.
Ao acompanhar os livros de Jojo, fica bem evidente que todos os que já li até agora focam em questões familiares com um toque de mistério devido a algum grande segredo que um dos personagens escondem por um longo período de tempo, e
Baía da Esperança não foge a esta fórmula.
Esta é uma história sobre uma família composta por três mulheres, Kathleen, Liza e Hannah, e como a vida delas muda com a chegada de Mike Dormer, um empreendedor enviado ao local para analisar a área e suas condições para a construção de um resourt de luxo, e este seria o negócio mais lucrativo de sua carreira. Inicialmente ele se hospeda no pequeno hotel Silver Bay, de Kathleen, como um mero turista e pouco a pouco conhecemos a vida desta senhora acolhedora e de sua sobrinha cautelosa, Liza.
Suas reais intenções logo são reveladas, a megaconstrução começa a impactar na vida marinha da baía e os intereses de Mike e Liza começam a entrar em conflito. Mas a medida que o tempo passa e Mike se familiariza - e se apaixona - pela a vida pacata daquele povo, ele começa a se questionar sobre o que é certo e errado, e até onde sua ambição pode ir se ela for a responsável por acabar com aquilo que se aprendeu a amar...
Tendo o litoral da Austrália como cenário para a trama, posso dizer que fiquei encantada com a habilidade da autora em descrever os locais, os detalhes acerca da pesca local, das baleias, dos golfinhos, do comércio e do trabalho com os turistas e os habitantes. Tudo indica que houve uma pesquisa sobre o cotidiano de uma pequena comunidade que vive do mar e do turismo e como uma construção de grande porte seria prejudicial para a vida marinha.
Foi interessante acompanhar a trajetória de Mike enquanto seu instinto de proteção a favor das mulheres era despertado de forma gradual conforme seu interesse crescia, e pra mim a trama girou em torno disso, como ele mudou e teve a vida transformada por um estilo de vida totalmente diferente do qual ele estava acostumado, uma vida tranquila, sossegada, sem grandes interesses financeiros, longe de modernidades e tecnologia e perto de pessoas que querem paz, levando uma vida simples e que tenha pouco a oferecer (financeiramente falando), mas ainda assim foi algo que o conquistou, que o fez se identificar e refletir sobre seus desejos e intenções, e principalmente sobre quem ele é de verdade e o que quer pra si mesmo. Ele tenta encontrar uma maneira de reparar seus erros ao mesmo tempo em que tenta não revelar coisas que poderiam magoar ainda mais as pessoas que o rodeiam. O problema é que ele deixou uma noiva em Londres quando foi para a baía e seu trabalho é um negócio extremamente valorizado e lucrativo, e seria arriscado ir contra um projeto que já está em prática...
Lisa é reservada e protege a filha para que nada possa atingí-la. Por causa do passado, ela não deixa que ninguém se aproxime o bastante para que haja maiores sentimentos e aproveita a vida com passeios de barco, aprecia a paisagem e os animais no mar. Hannah sabe que a mãe tem problemas, mas apesar de inteligente, não pode fazer muito por ela. Kathleen é uma mulher de setenta e seis anos que ficou conhecida aos dezessete por capturar um enorme tubarão, mas hoje é uma senhora amável que tem papel fundamental quando o assunto é ajudar Liza e Hannah.
Um ponto que gostei é a alusão que a autora faz à maternidade, fazendo com que Liza se torne uma personagem bastante humana em sua tentativa de ser uma mãe perfeita. Liza possui segredos complexos que foram os responsáveis por moldar sua vida e a de sua filha também, de certa forma. E quando as coisas começam a vir à tona, é impossível não ser fisgado, como o próprio Mike foi.
Foi bem interessante acompanhar o quão significativo foi a ideia da vida marinha ser afetada de forma negativa pelo resourt e isso inclusive foi responsável por enriquecer a trama e torná-la admirável e com uma carga de sentimentalismo ainda maior.
Narrado em primeira pessoa onde os pontos de vista dos personagens são alternados, posso dizer que este é um livro que aborda o tema familiar de forma tocante e profunda. A história começa devagar e pra mim só engatou e fluiu lá pela página 80, mas a narrativa em primeira pessoa não me convenceu e me incomodou bastante. Os capítulos destinados a Hannah, por exemplo, não soaram nada convincentes pois a menina tem apenas dez anos de idade mas em momento algum demonstrava qualquer ar infantil ou inocente através de sua narrativa. Seu vocabulário rico e complexo, repleto de palavras "difíceis" que uma garota dessa idade jamais usaria, não a diferenciava dos demais personagens, e posso dizer que se os capítulos não trouxessem o nome do personagem cujo ponto de vista seria trabalhado, seria possível acreditar que se tratasse de um único protagonista a narrar toda a história já que não há características distintas na forma de falar ou narrar os acontecimentos. Pra mim isso é um ponto falho pois numa história com vários personagens, se todos parecem iguais ao se expressarem, qual é a graça em conhecer cada um deles se não possuem particularidades no que diz respeito ao próprio intelecto? O que os diferencia um dos outros são seus feitos e seus desejos, mas pra mim isso não basta. Se a narrativa é feita em primeira pessoa, o mínimo que se espera é que cada um tenha sua maneira de falar, pensar e enxergar o mundo e em Baía da Esperança isso parece não existir já que todos falam da mesma forma, e se limitam a um único vocabulário. Talvez a narrativa em terceira pessoa funcionasse melhor nesse caso. Pelo menos eu não ficaria com a impressão de estar concentrada em uma única cabeça quando na verdade se tratam de vários personagens.
Acredito que algumas pontas soltas deveriam ter sido melhor amarradas. A história de Liza e seus desacertos ficaram em aberto e esperava mais aprofundamento nestes pontos.
Devido a história ter vários narradores, senti falta de um desfecho para todos aqueles que deram voz à história, mas alguns ficaram de fora de forma inexplicável e não entendi o que aconteceu.
De forma geral e apesar de achar muito lenta e previsível em um determinado ponto, eu gostei da história e da forma como foi construída (desde que se ignore a questão da narrativa). Não é meu livro favorito da autora, mas conseguiu me arrancar suspiros pelo contexto.
Jojo Moyes convida o leitor a embarcar nessa simples e pacata vida de Baía da Esperança a fim de descobrir o destino desses personagens que são responsaveis por causar diversos tipos de emoções em quem tem o prazer de ler. Não se trata de uma simples história de pessoas que despertam sentimentos umas nas outras, mas mostra como segredos e mentiras interferem na vida e como ações impensadas podem magoar quem não deveria sofrer. Mas acima de tudo, uma história que mostra que a esperança nunca deve morrer quando queremos algo que parece estar longe de se alcançar.