Título: Vocação para o Mal - Cormoran Strike #3
Autor: Robert Galbraith
Editora: Rocco
Tradutora: Ryta Vinagre
Gênero: Romance Policial
Ano: 2016
Páginas: 496
Nota:
★★★★☆
Onde comprar: Saraiva |
Submarino |
Americanas
Sinopse: Quando um misterioso pacote é entregue a Robin Ellacott, ela fica horrorizada ao descobrir que contém a perna decepada de uma mulher. Seu chefe, o detetive particular Cormoran Strike, fica menos surpreso, mas não menos alarmado. Há quatro pessoas de seu passado que ele acredita que poderiam ser responsáveis por tal crime – e Strike sabe que qualquer uma delas seria capaz de tamanha brutalidade. Com a polícia concentrada no suspeito que Strike cada vez mais tem certeza de não ser o perpetrador, ele e Robin assumem o problema e investigam os mundos sombrios e percertidos dos três outros homens. Mas vários atos horrendos seguem acontecendo, e o tempo está se esgotando para os dois...
Resenha: Vocação para o Mal é o terceiro volume da série
Cormoran Strike escrito por
Robert Galbraith (pseudônimo de J.K. Rowling. O livro foi lançado pela
Editora Rocco. Como as investigações são pontuais, não é necessário que os livros sejam lidos na ordem de lançamento para que sejam compreendidos, mas recomendo manter a ordem pois assim fica mais fácil nos familiarizarmos com a personalidade dos personagens.
A resenha está livre de
spoilers.
Começamos a história sob o ponto de vista do assassino, que segue e observa Robin Ellacott e seu noivo, ou como ele prefere chamá-la, A Secretária. O assassino nutre um sentimento de vingança por Strike, pois segundo ele, se não fosse pelo detetive seu filho ainda estaria vivo, e ele pagaria por isso...
Logo depois, num dia corriqueiro, Robin recebe um mensageiro e ele lhe entrega um pacote endereçado a ela, mas para seu completo espanto, ao abrí-lo, a moça se depara com uma perna decepada de uma mulher. Strike também fica alarmado com o ocorrido mas não demora a bolar teorias de quem pudesse ser o responsável por tal atrocidade, afinal, no passado ele fez alguns inimigos e todos eles teriam algum motivo para arruiná-lo. Uma das formas mais eficazes para a vingança ser posta em prática seria usar sua assistente para atingí-lo.
Logo a polícia está envolvida nas investigações concentrando seus esforços no suspeito que Strike acredita não ser o culpado, então restam outros três a quem investigar, mas devido ao enorme tempo que se passou desde os últimos contatos, Strike não faz ideia do paradeiro de nenhum deles. Junto com Robin, Strike percorre o Reino Unido a fim de entrevistar pessoas que podem ajudá-los na investigação até que eles descubram quem é o assassino, mas enquanto isso outros atos horrendo continuam a acontecer. Eles vão precisar correr contra o tempo para impedir outras mortes e para salvarem as próprias vidas.
Diferente dos demais,
Vocação para o Mal não parece fazer uma crítica explícita aos podres da sociedade ou do funcionamento de alguma determinada indústria, e desta vez não se trata de um caso onde Strike é contratado por alguém para que possa investigar o ocorrido. Trata-se de uma vingança pessoal e bem elaborada vinda de uma pessoa misteriosa de seu passado que quer atingí-lo através de Robin.
A narrativa não é linear e é feita em terceira pessoa. Alguns capítulos são destinados aos passos do próprio assassino e os demais se alternam entre Strike e Robin. Como sempre, a escrita é única e fluída, as descrições são feitas com perfeição e pois mais que a trama apresente elementos horrendos e cenas pavorosas, há sutileza o suficiente para instigar o leitor, mantendo a curiosidade pela resolução do caso e o convidando a permanecer na leitura até o fim. As pistas são ligeiras, às vezes são praticamente imperceptíveis, e mesmo que haja bastante tensão devido ao teor dos crimes e à mente perversa e doentia do assassino, o leitor não se perde desde que mantenha a atenção constante.
O tema é pesado e pouco explorado na ficção. O autor se aprofundou na acrotomofilia, ou seja, naquelas pessoas que possuem preferência sexual por quem tenha tido alguma parte do corpo amputada, assim como aquelas que têm fetiche por autoflagelação.
Os personagens continuam muito bem explorados e construídos e os protagonistas tiveram mais de si mesmos revelados, afinal, como os suspeitos tiveram uma relação com Strike, essa volta ao passado faz com que seja possível conhecermos sua história mais a fundo e isso o leva a relembrar do que precisou enfrentar, despertando seus fantasmas e o fazendo refletir. Como Robin também está diretamente envolvida, vários fatos sobre ela também vem à tona. A trama atinge um ponto em que a investigação parece ficar em segundo plano para que as relações interpessoais dos protagonistas sejam trabalhadas, e o casamento de Robin, que está se aproximando, assim como suas brigas com Matthew, focam em algo que não diz respeito ao gênero policial propriamente dito, mas servem para intensificar ainda mais a relação entre Robin e Strike. Eu confesso que o vejo mais como um mentor para Robin do que outra coisa e não gostaria que o relacionamento dos dois fosse além da amizade e da parceria profissional que eles têm, independente da química que eles tenham juntos, mas posso dizer que se futuramente esse relacionamento alcançar outro nível, não vai ser surpresa nenhuma pra mim, independente do que será feito com Matt, a quem não nutro simpatia alguma, muito pelo contrário. Torço pra que Robin fique livre desse peso morto o quanto antes...
O trabalho gráfico do livro é simples e muito bem feito. A capa combina com as dos volumes anteriores e, como sempre, remete ao mistério. As páginas são amarelas e a fonte tem um tamanho agradável. Os capítulos são curtos e são iniciados por um trecho de alguma música da banda Blue Öyster Cult e pode ser interessante fazer a ligação desses trechos com o que o capítulo em questão nos reserva.
Embora tenha considerado este livro o melhor da série até então, esse excesso de informações e detalhes sobre as particularidades dos personagens acaba deixando a leitura mais lenta do que eu gostaria, assim como desvia a atenção e atrapalha as suposições do leitor com relação aos crimes. Talvez esse seja o propósito, fazer com que haja outros elementos que desviem nosso foco para dificultar os palpites sobre quem é o assassino, mas acho que se os detalhes fossem apresentados de outra forma, e em menor quantidade, isso não teria sido um problema pra mim na posição de "leitora-investigadora".
De qualquer forma, recomendo muito a leitura da série pra quem gosta do gênero.