Sou fã! E Agora? - Frini Georgakopoulos

20 de setembro de 2016

Título: Sou fã! E agora?
Autora: Frini Georgakopoulos
Editora: Seguinte
Gênero: Interativo/Nacional
Ano: 2016
Páginas: 160
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um livro para fã nenhum botar defeito! Fã que é fã adora conversar, discutir, interagir. Mas nem sempre temos por perto um amigo tão fanático quanto a gente para desabafar. Foi pensando nisso que Frini Georgakopoulos, uma fã de carteirinha, escreveu este livro: um manual de sobrevivência voltado para quem é apaixonado por livros, filmes, séries de TV… Com uma linguagem rápida e divertida, Sou fã! E agora? é uma mistura de artigos breves e atividades interativas que convidam a refletir sobre os motivos para curtirmos tanto as histórias, além de ajudar a descobrir o que fazer com todo esse amor: criar seu próprio cosplay, escrever uma fanfic, organizar um evento, começar um blog ou canal e muito mais!
Resenha: Quem não é fã de nada não vive nesse mundo. Me lembro que em 2006, um tempo que não existia tanta acessibilidade como existe hoje, assisti a um clipe de um famoso grupo feminino e me tornei fã. Seis mulheres, cadeiras, uma barra de ferro, fogo e o Snoop Dogg participando da música. Remete a algo? Foi assim que conheci as Pussycat Dolls, e um amor de fã surgiu ali. E não pensem que era fácil, não! Naquela década o acesso a plataformas como Facebook e interatividade desse modo de hoje não existiam. Passava várias horas no Orkut, na comunidade dedicada ao grupo. Lá tinha aquela interatividade entre quem amava o grupo, formado em 2003 e que encantou pessoas ao redor do mundo todo. E não tinha guerra de fandom, e sim entre os próprios fãs, afinal, sempre tinha aquela coisa de "a minha Doll preferida é a melhor". Até que a Nicole decidiu lançar um álbum solo (Her Name is Nicole, que não deu muito certo e foi arquivado) e uma amiga chegou na escola e me disse: "Lucas, aquela Pussycat Doll lançou uma música". E lá fui eu na caçada até conseguir descobrir o nome da Nicole Scherzinger, tão difícil quanto Georgakopoulos. Google, por favor! Entre muitos trancos, elas lançaram o segundo disco, Doll Domination, e se despediram dos fãs, após alguns desentendimentos internos. O que aconteceu comigo? Fiquei desolado, sem chão, com depressão-pós-fim-de-grupo. Se vocês não são foram fãs de algum grupo como Backstreet Boys, Spice Girls, N'Sync, Destiny Child e afins, não sabem o que a gente sente naquele momento. Ai meu coração! Até que a Nicole lançou um álbum solo e o primeiro single passou em primeiro lugar no Top 10 MTV. Eu s-u-r-t-e-i. Ela até já me respondeu no Twitter. Eu tinha dito pra ela que estava muito chateado por não obter uma resposta dela ali, e toda fofa ela respondeu: no, baby! Happy, happy, happy! Chorei, né?

Surtos de fã à parte, o primeiro livro da Frini Georgakopoulos, que deve ser parente distante da Nicole Prescovia Elikolani Valiente Scherzinger, é um guia divertido e interativo sobre o que é ser fã e como a gente tem alguns surtos - num bom sentido - e lida com isso. Dividido em quatro partes, o leitor encontra textos referentes ao gênero YA, o porquê de amarmos histórias, a teoria dos dois gatinhos (eu adorei isso!), preconceito literário (um grande destaque para esse assunto) e etc.

Cheio de observações muito interessantes e coerentes sobre o mundo de fãs, Frini descreveu em um livro curto tudo que a gente vive nesse mundo, seja literário, cinematográfico, musical e etc. A forma de escrever, leve e descontraída, tornou a leitura muito agradável. Em alguns momentos cheguei a exclamar "É ISSO MESMO!", porque percebi que Georgakopolous é fã de várias séries que eu também sou. Em uma atividade, a autora nos conduz a relembrar os momentos engraçados como fãs, passados juntamente dos amigos, claro, por que ninguém paco mico sozinho. Comecei a lembrar de algo que aconteceu na Bienal do Livro de 2016, bem recente, em que minha amiga protagonizou uma cena bastante memorável com a Audrey Carllan. Até mesmo eu passei um momento super engraçado com a Lucinda Riley.

Mas nem tudo é só diversão, não é mesmo? Além das interatividades, o livro proporciona uma reflexão sobre diversos assuntos, como o preconceito literário. Cinquenta Tons de Cinza gerou muita polêmica na época de seu lançamento e junto com isso vieram muitas críticas às leitoras que amavam a história. Mas por que isso? Pessoalmente, não acrescenta nada a mim o que a E.L James se propôs a escrever, mas e se outras pessoas gostam e se identificam? Por gostar da Valesca Popozuda (sim, sou Popofã!), acabei ouvindo coisas como: "Nossa, mas você? Lê tanto, é tão culto e gosta dela?". É preciso conhecer antes de julgar.

Sou fã! E agora? é uma boa pedida para quem é fã, surta, enlouquece com algo e precisava de um livro que expresse tudo isso com palavras e opiniões. Confesso que não sou adepto de obras interativas, como livros de colorir. A diferença é que Frini Georgakopoulos fez um livro de fã para fã.

***

Abaixo, algumas respostas minhas às perguntas interativas do livro:

Do que você é fã há muitos anos, e esse amor nunca mudou? 
Nicole Scherzinger. Apesar de ela ter mudado muito depois que deixou o grupo The Pussycat Dolls, continuo acompanhando a carreira dela.

Qual temas você gostaria de encontrar na literatura jovem adulta? E quais você sente falta que sejam tratados? 
Gravidez na adolescência é algo que nunca vi nesses livros, e acredito que é uma realidade que deva ser discutida. Nos Estados Unidos existe o programa 16 and Pregnant, que retrata a vida de jovens garotas gravidas na adolescência. Seria bacana ver isso na literatura.

Quais histórias vividas por dois gatinhos que conquistaram (e dividiram) seu coração?
Adrian e Dimitri, da Academia de Vampiros. Confesso que sou #TeamAdrian.

Conte quais os destinos literários que você mais gostaria de conhecer ou que te marcaram mais.
Avalon, da série Fadas, escrita por Aprilynne Pike. Além de ser um local sem muitos perigos (eu não gostaria de morrer morto por um strigoi no universo de VA), é um ambiente cheio de magia e cumplicidade.

Conta aí quais vilões que mais te marcaram.
Neferet, da série House of Night. Desejei que ela matasse todos os bonzinhos da trama, porque ela é o exemplo perfeito de como um vilão pode ser mais interessante que os mocinhos.


Por que esta noite é diferente das outras? - Lemony Snicket

19 de setembro de 2016

Título: Por que esta noite é diferente das outras? - Só Perguntas Erradas #4
Autor: Lemony Snicket
Editora: Seguinte
Gênero: Infantojuvenil/Aventura/Mistério
Ano: 2016
Páginas: 288
Nota: ★★★☆☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: O jovem Lemony Snicket começou seu aprendizado em uma organização misteriosa e partiu para Manchado-pelo-mar, uma cidade decadente onde se criavam polvos para a produção de tinta. Sua excêntrica tutora, S. Theodora Markson, foge no meio da noite para pegar o trem rumo à cidade grande. Agora ele precisa investigar por que ela está indo embora sorrateiramente e quem ela precisa encontrar nesse trem. Mas um crime terrível acontece no meio da viagem?
Quem é o culpado?
Quem são os passageiros - bem suspeitos - do trem?
Por que uma parada não programada acontece?
Será que tudo isso faz parte dos planos do vilão Tiro Furado?
Você descobrirá tudo isso no quarto e último volume da série Só Perguntas Erradas. 

Resenha: Depois do roubo da Fera Ressonante, depois de Cleo Knight ter desaparecido, e depois de uma onda de incêndios misteriosos terem acometido Manchado-pelo-mar, o jovem aspirante a detetive, Lemony Snicket, no quarto e último volume da série Só Perguntas Erradas, está de volta para encerrar sua saga cheia de aventuras em companhia de sua tutora S. Theodora para acabar de uma vez por todas com Tiro Furado, aquele vilão inescrupuloso e maligno.

Dessa vez, Lemony segue S. Theodora após tê-la flagrado no meio da noite fugindo sorrateiramente do quarto que compartilhavam, e percebe que todos na cidade estão indo embora de Manchado-pelo-mar, fantasiados e a bordo de uma locomotiva cheia de mistérios. Lemony só precisaria de um plano para descobrir o que está acontecendo, fazendo suas famosas investigações e ainda tentando atrair Tiro Furado para uma armadilha e derrotá-lo de uma vez por todas, mas claro, ele ainda faz as perguntas erradas...

Nos livros anteriores é possível acompanhar um progresso no que diz respeito ao amadurecimento e ao aprendizado de Snicket, assim como na complexidade dos mistérios que ele deve resolver, e neste volume senti que as coisas ficaram um pouco estagnadas e sem maiores emoções.
Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista do protagonista, temos o humor ácido e típico do autor e algumas situações que parecem ser previsíveis de forma proposital, tudo isso mesclado à ingenuidade e a inteligência do protagonista, e posso dizer que essa fórmula é totalmente funcional nessa série. Acompanhar Lemony seguindo sua intuição, que sempre conflita com o que sua tutora pensa, é muito divertido. Snicket pode ser inocente, mas é esperto, inteligente, sarcástico e seu bom humor chega a ser contagiante.

Se comparado aos livros anteriores, talvez para dar foco no desfecho e na descoberta da identidade do vilão, os personagens não foram tão bem desenvolvidos, a interação entre eles foi bastante sucinta e algumas perguntas não tiveram respostas realmente satisfatórias, mas vindo desse autor, não esperava menos e isso não foi um ponto negativo pra mim. O que me incomodou um pouco foi o enredo que parece ter dado voltas desnecessárias para se chegar ao mesmo lugar, como se tivesse mudado o estilo de ser conduzido e ficasse oscilando, e mesmo sendo composto pelos fiéis 13 capítulos, parece ter sido muito mais curto do que os anteriores. O que parece é que os capítulos não se alinham perfeitamente por ter acontecimentos distintos e isolados que fragmentam a trama. Talvez isso tenha alguma relação com as inseguranças de Lemony ao lidar com sua grande investigação final, mas não senti muita conexão com todos os elementos de forma geral. Ao final fiquei com a impressão de que o livro foi feito às pressas mas, ao mesmo tempo, enrolando o máximo possível com informações repetidas ou ireelevantes, e o tempo dedicado a descobrir a identidade de Tiro Furado foi uma forma de prender o leitor à história mesmo que eu já tivesse adivinhado quem era no terceiro volume. Também senti curiosidade por saber um pouco mais dos outros personagens, mas não houve aprofundamento sobre eles.

A capa segue o padrão dos livros anteriores e traz elementos que compõe a história. A parte interna é estampada, os capítulos são iniciados com ilustrações peculiares do ilustrador Seth, que manteve o mesmo estilo de mistério, com personagens nas sombras e Snicket ainda com o rosto oculto por seu quepe. As páginas são amarelas, a fonte é grande e a diagramação de forma geral é uma graça.

Em suma, a série inteira (e o volume extra) é uma ótima pedida para leitores que buscam por uma aventura despretenciosa, engraçada e muito divertida. Snicket é carismático, tem um vocabulário bastante rico e ainda cumpre com seu papel de exímio investigador mirim.


O Acordo - Elle Kennedy

18 de setembro de 2016

Título: O Acordo - Amores Improváveis #1
Autora: Elle Kennedy
Editora: Paralela
Gênero: Romance/NA
Ano: 2016
Páginas: 360
Nota: ★★★★★
Sinopse: Hannah Wells finalmente encontrou alguém que a interessasse. Mas, embora seja autoconfiante em vários outros aspectos da vida, carrega nas costas uma bagagem e tanto quando o assunto é sexo e sedução. Não vai ter jeito: ela vai ter que sair da zona de conforto. Mesmo que isso signifique dar aulas particulares para o infantil, irritante e convencido capitão do time de hóquei, em troca de um encontro de mentirinha.
Tudo o que Garrett Graham quer é se formar para poder jogar hóquei profissional. Mas suas notas cada vez mais baixas estão ameaçando arruinar tudo aquilo pelo qual tanto se dedicou. Se ajudar uma garota linda e sarcástica a fazer ciúmes em outro cara puder garantir sua vaga no time, ele topa. Mas o que era apenas uma troca de favores entre dois opostos acaba se tornando uma amizade inesperada. Até que um beijo faz com que Hannah e Garret precisem repensar os termos de seu acordo.
Resenha: O Acordo é o primeiro volume da série Amores Improváveis (Off-Campus) escrita pela autora canadense Elle Kennedy. O livro foi publicado no Brasil pelo selo Paralela, da Companhia das Letras.

Hannah Wells é uma das melhores alunas da Universidade Briar. Mesmo tendo tirado nota máxima numa prova de Ética Filosófica onde 70% dos alunos foram mal, o que realmente lhe interessa no momento é Justin Kohl, mas ele mal sabe quem ela é...
Na mesma faculdade, Garret Graham, capitão do time e muito mulherengo, só pensa em se formar para jogar hóquei profissional, mas por ter feito parte dos 70% que foram mal na prova e ter as piores notas da faculdade, seus planos estão fadados ao fracasso. Se ele não melhorar suas notas estará fora do time.
Eis que o destino coloca os dois lado a lado, Garret insiste (e insiste muito) para que Hannah o ajude a melhorar suas notas e em troca ele iria ajudá-la a chamar atenção de Justin. E com esse acordo firmado, temos a premissa da história que se desenrola de forma muito cativante sendo impossível largar.

A narrativa é bastante leve e descontraída e é feita em primeira pessoa. Os capítulos são alternados entre Hannah e Garret, logo é possível que o leitor fique bem próximo e a par de seus pensamentos e sentimentos.
Hannah é relutante e resiste bastante aos encantos de Garret... Tudo começa na base da amizade e permanece assim por um bom tempo até que alguma coisa aconteça e as faíscas comecem a aparecer... As coisas não surgiram do além e nem aconteceram instantaneamente do dia pra noite, pulando etapas e ultrapassando as barreiras da realidade, então pude aproveitar, gostar e acreditar nesse relacionamento que foi sendo construído aos poucos. Eles formam um casal ótimo, cheio de química e que tem tudo para dar certo, mostrando que nem sempre aquilo que admiramos ou idealizamos em alguém é algo que realmente vale o esforço... A medida que o tempo passa, as primeiras impressões que ambos tinham um do outro começam a ser descontruídas. Hannah pensava que Garret só queria saber de mulherada e esporte, e por ser tão arrogante nunca teria nada a oferecer quando o assunto fosse sentimentos verdadeiros, mas a convivência acaba fazendo com que ela perceba que Garret é bem diferente do que aparenta ser, e Hannah passa a notá-lo com outros olhos... Ele é dedicado e é impossível não admirá-lo pelo carinho e pela forma como ele se entrega a Hannah como nunca havia feito com ninguém.
Hannah não se destaca apenas pela inteligência. Ela é bem humorada, espirituosa e pé no chão. Mesmo tendo passado por uma situação terrível no passado, ela levantou a cabeça, fez - e ainda faz - de tudo para superar o trauma que vivei.
Cada um deles possuem virtudes distintas, mas também carregam problemas pessoais e traumas que intensificam a carga dramática da história fazendo com que eles se admirem e se ajudem de forma recíproca. E o que era amizade acaba se transformando em algo mais intenso, mais sério e mais bonito.

Eu sei que livros New Adult parecem sempre ter a mesma base... Jovens universitários que sofreram alguma tragédia pessoal ou traumas no passado que juntos superam os problemas e tudo mais. É clichê, é previsível, mas quando uma história, que tem elementos pesados e difíceis, é contada de forma natural e sutil, a experiência com a leitura se torna diferente e muito mais satisfatória, principalmente quando os personagens são bem construídos com a dose perfeita de cada elemento para que a trama funcione bem.

A capa é bonitinha e condiz bem com a proposta do livro. Ela tem uma camada de verniz na "foto" dos personagens enquanto o restante é fosco. As páginas são amarelas, é fonte é razoavelmente pequena e a revisão está ótima. Seguindo o padrão da Paralela, que costuma manter as características da diagramação do livro original em inglês, os diálogos são apresentados com aspas em vez de travessão, e, por já estar acostumada com o estilo da maioria dos livros publicados através desse selo, não vejo problemas nisso.

Enfim... Pra quem gosta livros sobre jovens que buscam pela superação, com uma história bem desenvolvida protagonizada por personagens imperfeitos mas ao mesmo tempo adoráveis, e de quebra ainda ler sobre algo que faz refletir, principalmente sobre julgarmos alguém sem conhecer bem essa pessoa, é leitura mais do que indicada. Ansiosa pelo segundo volume, O Erro.

Na Estrada Jellicoe - Melina Marchetta

17 de setembro de 2016

Título: Na Estrada Jellicoe
Autora: Melina Marchetta
Editora: Seguinte
Gênero: YA
Ano: 2016
Páginas: 296
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: A pequena cidade de Jellicoe, na Austrália, vive uma guerra territorial travada entre três grupos: os estudantes do internato, os adolescentes da cidade e os alunos de uma escola militar que acampa na região uma vez por ano. Taylor é líder de um dos dormitórios do internato e foi escolhida para representar seus colegas nessa disputa. Mas a garota não precisa apenas liderar negociações: ela vai ter que enfrentar seu passado misterioso e criar coragem para finalmente tentar compreender por que foi abandonada pela mãe na estrada Jellicoe quando era criança. Hannah, a única adulta em quem Taylor confia e que poderia ajudar, desaparece repentinamente - e a pista sobre seu paradeiro é um manuscrito que narra a história de cinco crianças que viveram em Jellicoe dezoito anos atrás...
Resenha: Dez anos após a publicação original da autora Melina Marchetta, o livro Na Estrada de Jellicoe foi lançado no Brasil pelo selo Seguinte, da Companhia das Letras.

Taylor Markham foi abandonada pela mãe em uma loja de conveniência aos onze anos, e ao ser resgatada por Hannah, foi levada para um internato onde ela passou a viver. Seis anos se passaram desde então, Taylor está com dezessete anos e seu maior dsejo é saber mais sobre o passado, quer reencontrar a mãe e descobrir tudo o que aconteceu, mas Hannah não parece disposta a dar informações a ela e, pra piorar a situação, desaparece misteriosamente. Até que Taylor encontra um manuscrito que Hannah escreveu, narrando a história de cinco crianças que cresceram em Jellicoe há dezoito anos, e ao que tudo indica, a história dessas crianças parece estar ligada diretamente à dela.

Enquanto Taylor tenta resolver esse mistério, ela precisa liderar os alunos da Escola Jellicoe. Essa Escola se divide em casas, cada casa tem seu líder, e Taylor é a líder de todas elas. Existe um costume em que os estudantes disputam territórios entrando em guerras, e Taylor acredita que pode diminuir a rivalidade entre os Cadetes, os Citadinhos e a Escola Jellicoe, embora alguns achem que ela já não serve mais para liderar nada. Essas competições não tem muitos limites e tudo o que poderia ser considerado sujo e perigoso acontece sem que os professores saibam.
Com o desaparecimento de Hannah e uma guerra surgindo entre as escolas, Taylor precisará de ajuda para derrotar o inimigo enquanto tenta entender seu passado que entra em conflito por estar distante pela falta de respostas, mas que ao mesmo tempo está tão perto.

A história é ambientada na Autrália. A narrativa é feita em primeira pessoa quando o ponto de vista é de Taylor, e em terceira ao abrangir os demais persongens de seu círculo de amigos. Ela é peculiar, fragmentada e, aparentemente, incompreensível (já que inicialmente tudo é muito desconexo e confuso) e são necessárias algumas boas dezenas de páginas para descobrir o que faz parte do presente ou do passado, o que é alguma coisa que Taylor está lendo ou o que não passa de devaneio... Uma coisa que não me agrada é insistir na leitura procurando motivos que justifiquem essa característica "incômoda" no texto e não encontrar nenhum que seja plausível ou convincente, mas no caso desse livro em particular, essa confusão funciona. É como se o leitor se deparasse com peças de um quebra-cabeças e, ao encaixá-las, encontrasse uma história cheia de significado, intensa, profunda e muito comovente. Então, vale persistir na leitura. A recompensa final será gratificante e mais do que satisfatória.

Melina Marchetta construiu uma história emocionante, notável, inspiradora e foi responsável por mexer comigo de uma forma praticamente indescritível. A escrita da autora é sutil e fluída, com toques de bom humor através de diálogos inteligentes para equilibrar com os temas mais delicados.
O que importa é que nessa busca de taylor pelo passado, ela amadurece e consegue entender que não deve se prender somente ao que já passou, mas ao presente. E esse crescimento acabou desconstruindo os conceitos iniciais que tive ao seu respeito. Ela era egoísta, travava mal os outros ao seu redor mas sua mudança é marcante o que mais emociona.

Os personagens secundários são marcantes, únicos, trazem momentos de tensão ou alívio e todos têm sua devida importância no enredo. Mesmo que a passagem de alguns deles são se extenda muito, os amigos de Taylor e tudo que acontece têm um propósito maior e vão fazer alguma diferença em seu futuro e em sua vida de forma geral. Alguns inclusive passam por uma série de eventos trágicos mas, embora seja algo que nos deixa sensibilizados, não chega a ser apelativo pois a carga dramática se dá na medida certa, sem grandes excessos para forçar nossas emoções.
Confesso que existem temas delicados e difíceis, como crimes, violência, segredos, traumas, culpa, e etc, mas ao meu ver, Na Estrada Jellicoe é sobre a perda e estar perdido, sobre arrependimentos amargos, mas, ao mesmo tempo, sobre estar próximo de uma redenção sem que ela ainda não tenha sido realmente aceita.

A capa é meio "rústica" não só na ilustração, mas na textura também, e é muito bonita. As páginas são amarelas, a diagramação é simples e a revisão está impecável.

Em suma, é um livro intenso e trágico, mas muito bonito e que com certeza vai emocionar e até arrancar algumas lágrimas dos mais sensíveis...

A Profecia do Pássaro de Fogo - Melissa Grey

16 de setembro de 2016

Título: A Profecia do Pássaro de Fogo - Echo #1
Autora: Melissa Grey
Editora: Seguinte
Gênero: Urban Fantasy
Ano: 2016
Páginas: 356
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: No subterrâneo de lugares onde é muito difícil chegar, duas antigas raças travam uma guerra milenar: os Avicen, pessoas com penas no lugar de cabelos e pelos; e os Drakharin, que têm escamas sobre a pele. Ambas possuem magia correndo nas veias, o que os esconde de todos os humanos menos de uma adolescente chamada Echo. Echo conheceu os Avicen quando era criança, e desde então eles são sua única família. A pedido de sua tutora, a garota começa uma jornada em busca do pássaro de fogo, uma entidade mítica que, segundo uma velha profecia, é a única forma de acabar com a guerra de vez. Mas Echo precisa encontrar o pássaro antes dos Drakharin, ou então os Avicen podem desaparecer para sempre

Resenha: Os Avicen e os Drakharin são duas raças de seres mágicos que travaram uma guerra há milhares de anos, e, nos tempos presentes, sem serem vistos, ainda vivem entre os humanos numa realidade paralela onde transitam entre os mundos. Os Avicen são criaturas humanóides com penas onde deveriam estar cabelos e pelos, enquanto os Drakharin são guerreiros que possuem escamas e se parecem com dragões. Eles sempre foram dotados de magia, mas aos poucos ela está se esvaindo de suas mãos, o que acaba sendo motivo para que uma nova guerra seja desencadeada entre eles. De um lado os Avicen só enxergam a brutalidade dos Drakharin, e do outro, os Drakharin culpam os Avince pela perda do poder que tinham.

Nesse cenário, Ala, uma Avicen, encontra Echo, uma garotinha humana órfã com incrível habilidade de furtar coisas, numa biblioteca de Nova York. Echo, sozinha, havia feito da biblioteca seu lar, e Ala frequentava a biblioteca em busca de paz. Até Ala levar a garotinha ao Ninho para viver com os Avicen, se tornando sua tutora e ensinando o que podia para ela, mesmo que o povo não tenha gostado nada dessa ideia. Dez anos se passaram desde então, Echo sabe a verdade sobre as duas raças e descobre que há esperança de paz. Para que a guerra acabe, ela deve partir numa jornada em que deve encontrar o Pássaro de Fogo, uma entidade mítica capaz de fazer com que essa guerra chegue ao fim, e sendo humana ninguém desconfiaria de seus propósitos. Mas os Drakharin também buscam pelo Pássaro, e cabe a Echo, com a devida ajuda, encontrá-lo primeiro, caso contrário os Avicen poderão desaparecer...

Narrado em terceira pessoa, o foco principal é da protagonista, Echo, mas também podemos acompanhar os demais personagens, como Caius, Ivy, Dorian, Jasper, etc...
Echo se sente deslocada, muitos a observam e questionam a presença dela no Ninho, mas ainda assim ela não se deixa intimidar. Enquanto ela vive esta realidade, Caius, o Príncipe Dragão dos Drakharin, tenta manter a paz entre as raças, mas a oposição é grande. Sua irmã comanda o exército Drakharin e seu único objetivo é destruir os Avicen, não importa como ou o quê faça. Esses fatos dão um ar de ação bastante interessante à trama.
Quando o destino une Echo e Caius, a busca pela profecia tem início, eles devem trabalhar juntos percorrendo o mundo atrás de pistas e maiories informações, e em meio a desconfianças e sentimentos controversos, pois Caius está escondendo informações valiosas sobre a verdade, eles devem decidir no que, ou em quem, acreditar... Revelações são feitas a medida que eles progridem, mas os perigos aumentam cada vez mais...

Os personagens secundários foram os responsáveis pelo toque de bom humor na história além de torná-la mais dinâmica, seja devido as relações que possuem ou quanto aos diálogos que têm.
Ivy é uma aprendiz de Curandeira e, além de ser a irmã postiça de Echo, é sua melhor amiga. É tímida e reservada, mas sempre disposta a ajudar Echo em caso de necessidades.
Rowan é amigo de infância de Echo, e eles se tornaram namorados com o passar do tempo. Eles tem um relacionamento muito bonito e especial mas devido a sua ingenuidade, fica dividido entre seu povo e sobre como Echo é vista por eles, sem saber pra qual lado ir ao certo. Quando Caius entra em cena a impressão que fica é de um triângulo amoroso (mais um u_u) à vista, mas não vou dar detalhes sobre isso pra não estragar o que pode ser uma surpresa.
Temos ainda mais personagens conflitantes, com atitudes suspeitas mas que enriquecem a história, como Dorian, um soldado leal a Caius que nutre sentimentos bastante contraditórios, e Jasper, um Avicen solitário que demonstra interesse no Pássaro.

A construção de mundo e os cenários são muito interessantes e ricos. Devido à trama ser ambientada num mundo e submundo modernos com o elemento de fantasia embutido, A Profecia do Pássaro de Fogo pode ser considerado uma fantasia urbana e, embora não seja tão original quanto pareça, a história, como um todo, é divertida e bastante funcional, com personagens interessantes, camadas que colaboram no desenvolvimento e subtramas que intrigam o leitor. As descrições que a autora faz são muito reais, a escrita é envolvente e fluída, as viagens que os personagens fazem também acabam levando o leitor a lugares incríveis.

Com relação a parte gráfica, a capa condiz perfeitamente com a proposta do livro, as cores combinam muito bem e o título em alto-relevo demonstra bastante capricho. As páginas são amarelas, a diagramação é simples, os capítulos são curtos e a revisão não deixa a desejar.

O final é bastante fechado mas ainda fica aquela curiosidade no ar sobre os próximos acontecimentos, então só me resta esperar pelo próximo volume para poder acompanhar os novos passos de Echo e seus amigos.

A Garota no Trem - Paula Hawkins

15 de setembro de 2016

Título: A Garota no Trem
Autora: Paula Hawkins
Editora: Record
Gênero: Suspense/Thriller
Ano: 2015
Páginas: 376
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um thriller psicológico que vai mudar para sempre a maneira como você observa a vida das pessoas ao seu redor.
Todas as manhãs, Rachel pega o trem das 8h04 de Ashbury para Londres. O arrastar trepidante pelos trilhos faz parte de sua rotina. O percurso, que ela conhece de cor, é um hipnotizante passeio de galpões, caixas dágua, pontes e aconchegantes casas.
Em determinado trecho, o trem para no sinal vermelho. E é de lá que Rachel observa diariamente a casa de número 15. Obcecada com seus belos habitantes a quem chama de Jess e Jason , Rachel é capaz de descrever o que imagina ser a vida perfeita do jovem casal. Até testemunhar uma cena chocante, segundos antes de o trem dar um solavanco e seguir viagem. Poucos dias depois, ela descobre que Jess na verdade Megan está desaparecida. Sem conseguir se manter alheia à situação, ela vai à polícia e conta o que viu. E acaba não só participando diretamente do desenrolar dos acontecimentos, mas também da vida de todos os envolvidos.
Uma narrativa extremamente inteligente e repleta de reviravoltas, A garota No Trem é um thriller digno de Hitchcock a ser compulsivamente devorado.

Resenha: A Garota no Trem traz ao leitor a vida de Rachel, uma mulher na casa dos 30 anos com problemas alcoólicos, um ex-marido que não a suporta mais, sem família e dividindo o apertamento com uma colega que já não aguenta suas bebedeiras. Todos os dias ela pega o trem de Ashbury para Londres, pontualmente as 8h04. É numa parada diária que a mulher observa um casal na varanda de uma casa, ambos aparentemente felizes, e ela acaba se afeiçoando a eles. Por algum motivo, ela se sente parte daquilo, daquela vida que não é dela. Mas tudo parece virar de cabeça para baixo quando Jess, a parceira de Jason, que na verdade são Megan e Scott, desaparece. Testemunha de uma cena estranha, ela vai até a polícia contar o que viu. Mas quem poderá confiar numa mulher que beira a insanidade e sofre de problemas com a bebida?

O primeiro livro de Paula Hawkins, lançado em 2015, foi comparado a Garota Exemplar (2013, Intrínseca), sucesso de Gillian Flynn. Se em uma obra o leitor conhece Amy, uma mulher um tanto peculiar e um casamento que sofre seus últimos suspiros, Rachel Watson, a protagonista de A Garota no Trem, é um pouco diferente da esposa de Nick. O primeiro aspecto notável nela é a fragilidade emocional. Ela é instável, maluca e sem nenhum senso do que está ocorrendo a sua volta, por conta da bebida. Isso tudo pode ser decisivo para quem lê conseguir criar total empatia por ela, mas o contrário também é possível. Ela carrega uma bagagem de vida que é uma verdadeira tragédia. O desaparecimento de Megan, que Watson mal conhecia, faz com que ela sinta a necessidade estranha em ajudar, e acaba piorando toda a situação, o que chega a ser engraçado. Ao mesmo tempo que pensamentos do tipo "por que ela simplesmente não para de se enrolar nessa investigação?" surgem, o desejo é que ela supere seus medos e consiga fazer algo bom. No mais, Rachel é digna de toda torcida, mesmo que algumas atitudes sejam um tanto inconsequentes.

Megan, ou Jess, como Rachel gostava de chamá-la, num primeiro momento se mostra totalmente estável e segura de si, mas com o avançar da leitura, a mulher começa a mostrar traços de fragilidade tantos quantos os de Watson. Apesar do ar de sofrimento que a ronda, ela jamais deixa se abater e gosta de manter tudo sob controle, o que se mostra infrutífero devido a seu desaparecimento. Já Anna, a "outra", que teve um caso com o ex-marido de Rachel, Tom, só mostra algo digno de atenção no final da trama. Ela, que não sente nenhum remorso em ter tido um romance com alguém casado, provoca antipatia desde o início, mas ao fim consegue exibir algo que evidencia que elas três têm algo em comum.
"Quem disse que fazer o que o coração manda é uma coisa boa? É puro egocentrismo, um egoísmo de querer tudo. O ódio me inunda por dentro. Se eu visse aquela mulher agora, (...) cuspiria na cara dela. Eu arrancaria seus olhos a unha."
- Pág. 44
Paula Hawkins explorou muito bem que homens muitas vezes abusam de mulheres não somente de forma sexual, mas psicológica também. Por mais que todas as três personagens tivessem personalidades distintas e histórias de vida diferentes, elas conseguem mostrar semelhanças de alguma maneira. Rachel, que pode ser considerada somente uma bêbada fraca, trouxe à tona uma verdade: nenhum problema psicológico surge do nada e ninguém que sofre disso é culpado. Megan, que passa uma imagem um tanto negativa sobre si mesma, evidenciou que jamais devemos julgar alguém sem saber o que se passa por trás. E Anna, que aparentemente não tem nada de positivo, no final consegue angariar alguns pontos a seu favor.

A estrutura do livro, que é feita por datas e períodos, torna a leitura fluída e interessante. A narrativa de Paula é por vezes sentimentalista e empática, e em outros momentos é mordaz e carrega um humor ácido muito bom. Mostrando o ponto de vista das personagens em primeira pessoa, Hawkins criou uma protagonista que teria tudo para ser tornar enfadonha, mas seus problemas se tornaram um bom atrativo.

A Garota no Trem reúne elementos dignos para uma boa história: suspense, problemas psicológicos, um desaparecimento misterioso, a busca pela verdade e três protagonistas bem construídas. O final é surpreendente e a solução para o desaparecimento de Megan, que para alguns pode parecer previsível, consegue se tornar o ponto alto da trama. Há uma pequena ressalva no que diz respeito ao personagem Scott, que fica sem um desfecho. No quesito investigação policial, a autora perde pontos, pois faltou um trabalho mais acerca do papel dos investigadores no caso. No mais, a estreia de Paula Hawkins foi ótima e ter seus direitos comprados para uma adaptação nos cinemas foi mais que merecido.