O Erro - Elle Kennedy

23 de novembro de 2016

Título: O Erro - Amores Improváveis #2
Autora: Elle Kennedy
Editora: Paralela
Gênero: Romance/NA
Ano: 2016
Páginas: 280
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Logan parece viver uma vida de sonhos. Com um talento incrível para jogar hóquei e um charme inato para conquistar mulheres, ele é uma das maiores estrelas da universidade de Briar. Mas por trás do característico sorriso maroto, ele esconde duas grandes angústias – a primeira, estar apaixonado pela namorada de seu melhor amigo. A segunda, saber que sua vida, após a formatura, se tornará um beco sem saída.
Um dia, por acaso, ele conhece Grace, uma garota tão encantadora quanto intrigante. Tudo nela parece ser original e deliciosamente contraditório – tímida, mas ao mesmo tempo vibrante. Doce, mas ao mesmo tempo forte e confiante. A cada encontro, Logan se vê mais e mais envolvido. Mas um grande erro colocará o relacionamento desses dois jovens em risco.
Agora, Logan terá que se esforçar para reconquistar Grace – nem que para isso ele precise amadurecer e encarar de frente as suas questões mais profundas e doloridas.

Resenha: O Erro é o segundo volume da série Amores Improváveis (Off-Campus) escrita pela autora Elle Kennedy. O livro foi publicado no Brasil pelo selo Paralela, da Companhia das Letras.

John Logan faz o tipo irresistível. Lindo, charmoso, engraçado e cheio de piadinhas sarcásticas, ele é um cara cheio de atitude e parece ter a vida perfeita... Mas por tráz de tudo isso, além de enfrentar uma situação difícil e delicada que envolve sua família, ele ainda é apaixonado por Hannah, namorada de Garret, seu companheiro do time de hóquei e melhor amigo. Pra não estragar a amizade, Logan decide sair pra espairecer e parar de pensar em Hannah, mesmo sabendo que poderia ter qualquer garota aos seus pés, e, de forma inusitada, ele conhece Grace, uma garota doce e inteligente que está no primeiro ano da faculdade e, a princípio, planejava continar sendo a garota certinha que sempre foi, seguindo regras e sendo orgulho dos pais. Mas Grace parece estar cansada de não aproveitar sua juventude. Enquanto Ramona, sua melhor amiga, se diverte saindo com os caras e aproveitando as festas da faculdade, Grace foca nos estudos e sente que está perdendo alguma coisa. E por esse motivo ela decide que também vai curtir a vida, e isso acontece quando Logan aparece em seu quarto por engano. Este pequeno engano acabou rendendo aos dois um momento íntimo mas que não terminou como ela pensou... Então, Logan reconhece que deixou a pobre na mão, resolve se redimir e procurá-la outra vez, mas ele comete um erro nada agradável e essa pisada de bola acabou fazendo com que eles se afastassem.
O problema é que depois Logan cai na real e percebe que tem sentimentos por Grace, e ele fará o possível e o impossível pra reconquistá-la e ter uma segunda chance.

Quem leu O Acordo sabe que a simpatia que Logan desperta em qualquer um já é um caso antigo, e embora ele tenha algumas atitudes egoístas e seja inconveniente e arrogantes às vezes, é perfeitamente possível associar isso ao que ele sente, aos problemas que enfrente e esconde dos outros. É difícil ter uma queda pela namorada do melhor amigo, afinal, não escolhemos de quem gostamos, mas lutar contra isso é uma prova de que ele sabe o quão errado isso soa mesmo que isso o deixe destruído. Ele sente vergonha e o desconforto é evidente, mas se entregar à bebida e ficar com todas as garotas que aparecem em sua frente não é o remédio para isso, ele só não se tocou ainda, e nem encontrou alguém que fizesse seu coração balançar...
Ter um pai alcoólatra que só coloca ele e o irmão pra baixo também não é uma situação fácil pra se lidar. Ele precisou aprender a ter responsabilidades muito cedo, a cuidar da oficina do pai e encarar a realidade que o aguarda depois que se formar na faculdade. Mesmo que ele se dedique ao hóquei, ele sabe que terá que abrir mão de fazer disso uma carreira, então ao conhecer sua história de forma geral, Logan é aquele tipo de personagem a ser admirado, não só por ser lindo e irresistível, mas pelo que passou e pelo que ainda passa, mesmo que cometa erros. Isso só prova o quanto ele é real e humano.

Por outro lado, temos Grace. Ela tem um coração de ouro, mesmo que seja meio antissocial e fale pelos cotovelos quando fica nervosa, o que acaba fazendo dela um tipo de alívio cômico na história. Por mais que ela seja dedicada e sua vida seja mais fácil do que a de Logan, ela nunca menospresa os outros ou se sente superior a ninguém. Ela é divertida e tem o pé no chão, não se preocupa em agradar os outros fingindo ser quem não é e, incrivelmente, consegue se manter firme quando as coisas parecem estar desabando sobre sua cabeça. Talvez tudo que tenha passado tenha servido de experiência para sua nova vida, e com isso ela amadurece bastante no decorrer dos acontecimentos.

Eu gostei da química que Grace e Logan passaram a ter. Eles são bons juntos, de todas as maneiras, e mesmo que Logan possa pensar que inicialmente Grace não passe de uma distração, com o passar do tempo ele começa a enxergar o que ela, de fato, representa pra ele, e claro, o leitor se surpreende com um romance que acaba fugindo de clichês.
Às vezes fico com uma impressão meio negativa com a forma que os autores retratam a vida na universidade em livros desse gênero, que sempre gira em torno de "sexo, drogas e rock'n roll". É meio cansativo, confesso, mas acaba sendo um bom pano de fundo para o desenrolar do enredo que talvez seria diferente em outro cenário...

Mantendo o padrão do primeiro livro, as capas combinam entre si e a diagramação é simples e bem feita. Os capítulos são iniciados com o nome do protagonista da vez, os diálogos são apresentados com aspas em vez de travessão, as páginas são amarelas e não percebi erros na revisão.

A autora nos apresentou um romance new adult recheado de toques de muito bom humor e de momentos super calorosos. Essa combinação não decepciona e é impossível não se envolver com essa história que com certeza deixou uma marquinha no meu coração.


O Código da Vinci - Dan Brown

22 de novembro de 2016

Título: O Código da Vinci (Ed. Especial para Jovens)
Autor: Dan Brow
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção/YA
Ano: 2016
Páginas: 312
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Americanas
Sinopse:Um assassinato dentro do Museu do Louvre traz à tona uma sinistra conspiração para revelar um segredo protegido por uma sociedade secreta desde os tempos de Jesus Cristo. Com a ajuda da criptógrafa Sophie Neveu, o professor de Simbologia Robert Langdon segue pistas ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci e se debruça sobre alguns dos maiores mistérios da cultura ocidental – do sorriso da Mona Lisa ao significado do Santo Graal. Mesclando os ingredientes de um envolvente suspense com informações sobre obras de arte, documentos e rituais secretos, O Código Da Vinci consagrou Dan Brown como um dos autores mais brilhantes da atualidade e agora chega em nova versão, especialmente preparada para o público jovem, com fotos coloridas que enriquecem ainda mais o livro.

Resenha: O famoso livro de Dan Brown, O Código da Vinci, agora chega em uma versão para jovens. Nessa aventura, Robert Langdon embarca com Shopie Neveu para desvendar diversos códigos e um segredo sobre o Santo Graal. Se Brown se consagrou como um escritor e vendeu milhares de cópias ao redor do mundo com suas obras mais adultas, essa releitura veio para angariar novos leitores e "simplificar" a trama que envolve segredos milenares que podem mudar o curso da sociedade para sempre.

O Código da Vinci, assim como outros títulos do autor, Robert Langdon é o protagonista e em todas suas aventuras é garantido que haverá muitos mistérios, códigos e segredos a serem desvendados pelo personagem e por quem lê. As histórias, que têm um teor bem adulto, trazem muitos traços de violência e até tortura. Nessa versão revisada, que contém cerca de cento e vinte páginas a menos, muito do que se era "pesado" demais foi retirado, deixando apenas o que era necessário para a compreensão do enredo.

O livro, que tem capítulos bem curtos e diretos, começa com um assassinato e acusações recaindo sobre Langdom. Todos os acontecimentos são detalhados, e a dinâmica dada a narrativa é atraente para o público que está iniciando seus passos na literatura e quer ter contato com uma história escrita por Dan Brown. Os personagens, que são devidamente aprofundados sem tomar o foco da trama para si mesmos, são parte fundamental para o enriquecimento da obra. Robert, um historiador e simbologista que já protagonizou mais aventuras, é, com certeza, merecedor dos fãs que conquistou ao redor do mundo.

Apesar da edição ser voltada ao público jovem e ter sofrido uma "enxugada" em relação à original, o texto não perdeu a essência. Muito dos mistérios e códigos estão presentes na narrativa, que é dinâmica e não abre espaço para que a história se torne entediante. O conteúdo brinca muito bem com hipóteses e "e se isso fosse verdade?". O enredo fala muito sobre Jesus Cristo, Maria Madalena e todos os acontecimentos retratados na Bíblia. Porém, com uma roupagem diferente, Dan Brown colocou dois protagonistas em busca de descobrir segredos que a igreja escondia e isso torna tudo muito empolgante. É possível que, no transcorrer da leitura, qualquer leitor possa se questionar sobre o que sabe de verdade sobre a história de Jesus.

O Código da Vinci, nessa nova versão, é mais do que satisfatória e cumpre o que um leitor jovem pode esperar. Iniciar no mundo da literatura, por vezes, requer o tipo de livro certo que possa despertar em alguém a vontade de continuar se aventurando em páginas e mais páginas. Aqui, temos uma história já conhecida com um teor mais leve, muito indicado para adolescentes. A aventura de Robert Langdon e Sophie Neveu, que já fez e faz muito sucesso entre os adultos, agora pode ser vivida por um público mais seleto e com uma faixa etária mais baixa. A leitura é indicação perfeita, que pode ser o pontapé inicial ideal para o avanço por tramas mais complexas.

O Cisne e o Chacal - J.A. Redmerski

21 de novembro de 2016

Título: O Cisne e o Chacal - Na Companhia de Assassinos #3
Autora: J.A. Redmerski
Editora: Suma de Letras
Gênero: Romance/Suspense/Thriller
Ano: 2016
Páginas: 248
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Fredrik Gustavsson nunca considerou a possibilidade de se apaixonar - certamente nenhuma mulher entenderia seu estilo de vida sombrio e sangrento. Até que encontra Seraphina, uma mulher tão perversa e sedenta de sangue quanto ele. Eles passam dois anos juntos, em uma relação obscura e cheia de luxúria. Então Seraphina desaparece.
Seis anos depois, Fredrik ainda tenta descobrir onde está a mulher que virou seu mundo de cabeça para baixo. Quando está próximo de descobrir seu paradeiro, ele conhece Cassia, a única pessoa capaz de lhe dar a informação que tanto deseja. Mas Cassia está ferida após escapar de um incêndio, e não se lembra de nada. Fredrik não tem escolha a não ser manter a mulher por perto, porém, depois de um ano convivendo com seu jeito delicado e piedoso, ele se descobre em uma batalha interna entre o que sente por Seraphina e o que sente por Cassia. Porque ele sabe que, para manter o amor de uma, a outra deve morrer. 

Resenha: O Cisne e o Chacal é o terceiro volume da série Na companhia de Assassinos, escrita pela autora J.A. Redmerski e publicado no Brasil pela Suma de Letras.

Pra quem acompanhou os livros anteriores, com certeza ficou intrigado com Fredrik Gustavsson, o "interrogador" que torturava e matava suas vítimas a sangue frio e sem remorso algum. A ideia de ele ter tido um relacionamento e um passado diferente do presente em que vive me deixou muito curiosa acerca de sua história, assim como sua esposa "desaparecida", Seraphina, que conseguia ser ainda mais perversa e sanguinária do que Fredrik.
Seis anos se passaram desde a traição e o sumiço dela, e Fredrik ainda tenta encontrá-la por acreditar que ambos ainda possuem assuntos inacabados, mas próximo de descobrir o que buscava, ele conhece Cassia, uma mulher que parece ser a única capaz de lhe dar as informações das quais precisa. Cassia parece saber sobre Seraphina mas, devido a amnésia que sofre, não se lembra qual é a conexão que tem com ela nem nada sobre seu passado. Por isso Fredrik a mantém prisioneira há um ano, na esperança de que ela, um dia, recupere a memória e lhe diga o que ele quer saber, mas o convívio os tornou muito próximos, colocando o coração do assassino em cheque quando ele passa a questionar sobre seus sentimentos por essas duas mulheres que fazem parte de sua vida...

A história segue por essa linha, com Fredrik convivendo com Cassia, que sofre da dita síndrome de Estocolmo (a vítima se apaixona pelo seu sequetrador), ao mesmo tempo em que trabalha em alguns casos da Nova Ordem da qual Victor é o líder. Izabel também marca presença e tem um papel importante a desempenhar no enredo, assim como outros personagens já conhecidos nos livros anteriores. Mas mesmo que haja esta familiaridade e o leitor pense que sabe o que está acontecendo e qual o rumo a história irá levar, a autora cria reviravoltas que nos deixam de cabelo em pé, no bom e no mau sentido da coisa.

Fredrik não é o mocinho da história. O trabalho dele já deixa isso bem claro. Ele não só tortura as pessoas em busca de informações, mas ele aprecia o sofrimento que causa. Talvez a ideia de torturar somente quem seja culpado e livrar inocentes possa amenizar um pouco seu caréter duvidoso, mas ainda assim ele não deixa de ser um anti-herói sádico e que mexe com os sentimentos do leitor das formas mais inimagináveis possíveis. Como é possível ter alguma simpatia por alguém assim? Ele não deveria ser sempre odiado por fazer as coisas que faz? Claro que Fredrik tem um passado sombrio e perturbador e isso pode servir como justificativa para tentarmos entender o monstro que habita dentro dele, mas algumas coisas relacionadas ao relacionamento que ele cultiva com Cassia me deixaram bastante perplexa. Embora seja ficção, é impossível não sentir um incômodo enorme ao acompanhar Fredrik alegando a inocência de Cassia o tempo todo, se sentindo culpado por manter a pobre coitada sob cativeiro mas usando e abusando dela como bem entende. E ela se apegar e se apaixonar a ele, por mais que haja explicações para o comportameto doentio dos dois e o final reserve algo bombástico, não foi algo que consegui aceitar com tanta naturalidade assim... É difícil sentir alguma simpatia por uma personagem tão frágil e delicada como Cassia se submetendo aos caprichos de um maníaco, e mais difícil ainda é engolir Fredrik sendo tão machista como ele é.

No final das contas preferi considerar que são personagens suscetíveis a todo tipo de erro se considerarmos o contexto da história, a vida que tiveram antes e o caminho que seguiram independente de boas ou más escolhas. Isso não os tornam perfeitos, muito pelo contrário, são fatores que influenciam (mesmo que não justifiquem) suas atitudes e por esse motivo, por mais que eu não tenha aceitado muito bem a situação de forma geral e sentido repulsa muitas vezes, eu gostei e me envolvi com a história pois, querendo ou não, ela mexe com a gente. Não digo que achei melhor do que a história de Victor e Sarai/Izabel, mas foi um ótimo acréscimo à série e com certeza vou continuar acompanhando os próximos volumes.

A edição da Suma de Letras é um capricho só. A capa manteve a textura áspera e os mesmos tons de preto e branco com detalhes em vermelho, as páginas são amarelas, não percebi erros na revisão e de forma geral o trabalho está impecável.

Pra quem procura fugir de clichês românticos e quer ler algo mais dark e violento, a série é mais do que recomendada.

Azeitona - Bruno Miranda

20 de novembro de 2016

Título: Azeitona
Autor: Bruno Miranda
Editora: Outro Planeta/Planeta de Livros
Gênero: Romance
Ano: 2016
Páginas: 352
Nota: ★★★☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Ian e Emília não trocaram mais que duas palavras desde que começaram a estudar juntos, mas é o nome dela que vem à mente dele quando precisa de uma parceira para um plano mirabolante: participar de um reality show sobre casais adolescentes que vão ser pais. Isso em troca de um cachê capaz de resolver todos os seus problemas.
Ian tem dezesseis anos e foi criado pela irmã, Iris, que precisou abrir mão de oportunidades na vida para cuidar dele. Agora, quando ela finalmente vai conseguir se formar na faculdade, ele se sente na obrigação de retribuir de alguma maneira.
Emília, aos dezessete anos, não quer retribuir nada a ninguém – pelo contrário, seu sonho é sair de casa o quanto antes para não discutir mais com a mãe, com quem sempre teve uma relação conturbada.
O fato de que eles não são um casal nem têm planos de ter um bebê de verdade parece apenas um detalhe. Mas a vida reserva surpresas, nem sempre boas, para quem acredita que é fácil inventar a própria história.
O romance de estreia de Bruno Miranda, criador do canal Bubarim, no Youtube, é uma história divertida e tocante sobre relacionamentos familiares.

Resenha: Muitas editoras vêm apostando na literatura nacional, mais precisamente em livros de youtubers, que dão lucros e geram certo buzz. Muito das vendas dessas obras se pode não se dar pelo interesse pela literatura em si, mas pelo anseio do público por adquirir um produto que tenha o nome de algum ídolo impresso nele.

Bruno Miranda, Youtuber do canal Bubarim, teve seu primeiro livro publicado pela editora Planeta. O título, Azeitona, pode brevemente lembrar Melancia de Marian Keyes. Enquanto a obra da escritora remete ao tamanho enorme da barriga da protagonista, na história de Ian e Emília, o fruto da oliveira faz uma alusão ao tamanho do pequeno feto que se desenvolve na barriga no início de uma gravidez. No enredo, Ian convida Emília para embarcar numa aventura: participar do reality show Novos Pais. No programa, em que casais adolescentes são mostrados na árdua jornada da gravidez precoce, um bom cachê é dado a cada participante. Visando esse montante de dinheiro, os dois driblam a produção, inventam mil mentiras sobre uma falsa gestão e se metem em muita confusão. Mas mentiras têm pernas curtas.

Este enredo já parece uma bagunça por si só. A ideia de retratar como tema central a gravidez na adolescência pode ser delicado. Atualmente, muitas e muitas jovens engravidam precocemente e é claro que isso não é fácil. Em Azeitona, um livro que aborda um tema feminino escrito por um homem, tudo pareceu perdido demais. No começo da trama, no qual os personagens são "jogados" numa situação, fica evidente que é o enredo não vai caminhar para algo muito crível.

Ian e Emília são personagens que não agradam nem desagradam. Eles estão ali para cumprir um papel, como fica claro desde o início: dar vida à ideia do reality show. Esse programa, que poderia ser considerado a escória da televisão brasileira se existisse de verdade, é o centro de toda bagunça. Catarina, que é uma das produtoras, é caricata demais e parece ter sido retirada de algum filme B americano. Os outros personagens, como o casal protagonista e os demais integrantes do show, não fazem muita diferença no conteúdo. É impossível enxergar Ian e Emília de verdade, por exemplo. Ele, que perdeu os pais cedo e é criado pela irmã, não vive grandes dilemas e a motivação inicial que o leva a fazer parte de Novos Pais é vazia. Emília, que caiu de paraquedas na situação, aceita tudo de bom grado. Num todo, o grande questionamento é: por que tanta exposição numa etapa da vida que é tão delicada para uma mulher?

A narrativa de Bruno Miranda felizmente é algo positivo a respeito de Azeitona. Segundo o próprio, com a ajuda de uma boa editora, o livro saiu do que seria muitos "franzindo o cenho". O texto não traz um traço pessoal muito marcante, mas é bem escrito, apesar de algumas faltas no que diz respeito a estrutura dos diálogos, que se atropelam por vezes. A leitura se assemelhou a de outros YA's internacionais, como se ele tivesse seguido uma estrutura ou se inspirado.

Gravidez na adolescência não é fácil. Azeitona não obteve total êxito em apresentar o tema e suas nuances. Quando um autor se propõe a escrever algo, espera-se que o leitor creia naquilo que será lido e isso é o que não ocorre na estreia de Bruno. Mostrar uma mãe chamando a filha de desgraçada por causa de uma gestação não é nada legal. O tema não foi abordado da maneira mais coerente. Por vezes, a história se mostrou desconexa e sem uma estrutura bem definida. O livro começa com uma trama despretensiosa que, mesmo com falhas, consegue despertar certo interesse por ser inusitado. No desenvolvimento, e próximo do final, dramalhões desnecessários e a tentativa de passar certos ensinamentos através de frases inspiradoras não funcionaram. O desfecho, que tem uma carga de emoção forte, é a evidência de que estava ali somente para seguir algum padrão de lições através de sofrimento. No mais, seria interessante ter mais humor na aventura de Ian e Emília, já que o enredo era um prato cheio para isso.

Placebo Junkies - J.C. Carleson

19 de novembro de 2016

Título: Placebo Junkies
Autor: J.C. Carleson
Editora: Fábrica 231/Rocco
Tradutor: Edmundo Barreiros
Gênero: Drama
Ano: 2016
Páginas: 304
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Americanas
Sinopse: Audie é uma jovem como qualquer outra, mas encontrou uma forma incomum de descolar uns trocados: ela serve de cobaia para a indústria farmacêutica. Neste irreverente romance, J.C. Carleson, ex-agente da CIA, mergulha no universo pouco conhecido, mas muito impressionante, dos voluntários em série de testes farmacológicos. Na tradição de Trainspotting e Drugstore Cowboy, doses cavalares de humor negro disputam espaço na trama com o drama de jovens que vivem no limite. No caso de Audie, ela precisa juntar dinheiro para oferecer a Dylan, seu namorado que tem uma doença terminal, uma festa de aniversário de 18 anos inesquecível. “Não há ganho sem dor”, ela repete, em meio aos efeitos colaterais das substâncias e procedimentos a que está sujeita e aos esquemas para lidar com eles. Mostrando as entranhas de um mundo desconhecido da maioria das pessoas, Placebo Junkies arrancou elogios da crítica com sua narrativa original e completamente viciante.

Resenha: Audie e a amiga Charlotte levam uma vida nada convencional no que diz respeito ao "emprego" incomum que têm: elas são cobaias humanas, se voluntariam para se submeterem aos mais diversos procedimentos médicos e testes de medicamentos experimentais, e recebem por cada um deles.
Audie planeja juntar dinheiro para realizar uma viagem rumo a um paraíso tropical em comemoração ao aniversário do namorado, Dylan, que tem câncer e está em estágio terminal, e quando Charlotte propõe que elas se inscrevam em todos os testes que virem pela frente, independente do quão perigoso possam ser, Audie topa.
E a partir daí, vamos acompanhando os bastidores da jornada das meninas pelo universo farmacológico, os procedimentos médicos e seus terríveis efeitos colaterais.

A história é narrada em primeira pessoa pelo ponto de vista de Audie. Eu gostei do estilo de escrita e da forma como a história foi contada, e a linguagem vulgar e cheia de palavreados, assim como o humor negro que colaboram para que o leitor fique mais próximo do estilo de vida peculiar e da personalidade dos personagens. Ficamos por dentro da sujeira que há por trás desse universo das cobaias, mas também temos aquela impressão de que vai haver uma luz no fim do túnel. Talvez não seja um livro que vá ser bem aceito por qualquer tipo de leitor justamente pelo tema delicado, pela vida dos personagens e pelo horror que é saber como tal indústria funciona e o que fazem com as pessoas, e ver isso pelos olhos de garotas adolescentes chega a ser doloroso. Mas ao mesmo tempo me peguei pensando que por mais trágico que seja, talvez sirva pra abrir os olhos das pessoas para ver o outro lado da história. Não são somente os animais que sofrem com tais testes... As pessoas também... E aquele creme mágico que serve pra tirar todas as rugas da cara de alguma dondoca pode ter acabado com a vida de algumas pessoas antes de ser reformulado e aprovado para entrar no mercado...

Enfim, Audie tem uma voz muito vívida, mesmo que, às vezes, se encontre em um estado de torpor sem igual. Às vezes ela não soa muito confiável, mas ela faz com que a história seja contada de uma forma cativante e desoladora ao mesmo tempo, o que faz do livro algo simplesmente brilhante e que vai mexer com nossos sentidos.

Não senti muita confiança no relacionamento de Audie com Dylan... A impressão que tive foi que ela faz de tudo por ele mas a coisa toda não é recíproca. Ela vive dizendo o quanto ele é fofo mas as descrições dela pra ausência e falta de interesse dele não parecem ser notadas, e me perguntei se isso é devido ao amor cego que ela sente por ele, ou se pode ser algum tipo de efeito colateral que impede que ela enxergue as coisas com a razão em vez do coração. E isso se extende pelo círculo de amizade dela, pois as coisas vão acontecendo, pois mais trágicas que possam ser, ela fala sobre, divaga, mas ao mesmo tempo não parece se importar muito. Ela é uma boa menina, mas trata tudo com uma frieza e um calculismo que chegam a assustar. A amizade entre ela e Charlotte é um exemplo disso, pois não parece que são amigas que se amam e se respeitam, mas sim que levam a amizade por interesse e conveniência.

Não digo que Placebo Junkies seja um livro totalmente único pois ele tem aquela pegada trash do livro Transpotting, que alguns já devem conhecer, mas posso dizer que a história é bastante diferente e original à sua maneira, prende e é muito empolgante, tanto por trazer uma trama devastadora e cheia de reviravoltas, quanto por ser brilhante em vários aspectos trazendo reflexões que nos fazem questionar a realidade. Até onde uma pessoa é capaz de ir para arriscar sua vida, sua integridade física e emocional por dinheiro?


Winter - Marissa Meyer

18 de novembro de 2016

Título: Winter - As Crônicas Lunares #4
Autora: Marissa Meyer
Editora: Joves Leitores/Rocco
Gênero: Distopia/Juvenil/ Ficção
Ano: 2016
Páginas: 688
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Americanas
Sinopse: Depois de Cinder, Scarlet e Cress, inspirados, respectivamente, nas histórias de Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Rapunzel, Marissa Meyer entrega a eles o último capítulo da série, em que reconta a história de Branca de Neve com tintas distópicas. Na trama, a princesa Winter vive subjugada por sua madrasta, Levana, que inveja sua beleza e não aprova os sentimentos da jovem pelo amigo de infância e belo guarda real Jacin. Mas Winter não é tão frágil quanto parece, e, junto com a ciborgue Cinder e seus aliados, a jovem princesa é capaz de iniciar uma revolução e vencer uma guerra que já está em andamento há muito tempo. Será que Cinder, Scarlet, Cress e Winter podem derrotar Levana e encontrar seus finais felizes?

Resenha: No quarto e último volume da série Crônicas Lunares, Marissa Meyer traz ao leitor uma releitura distópica baseada no conto de fadas de Branca de Neve, e, dessa vez, Winter é a personagem principal.

A história se passa pouco tempo após as reviravoltas em Cress, em que Scarlet é levada para Luna se tornando escrava, e só continuou viva por causa da proteção de Winter, e Cinder sequestra Kai para provar seus motivos para seguir com sua revolução e retomar o trono de Luna, se aproveitando do que Levana usou para controlar o povo contra ela mesma: o glamour.

Winter é a linda princesa de Luna, amada por todos os súditos do reino e a rainha Levana é sua madrasta. Levana inveja a beleza de Winter, e odeia que o povo a admire quando ela não possui sangue real. Winter reprimiu seu poder lunar. Ela fez uma promessa de que nunca usaria o glamour para manipular as pessoas e por isso é a protegida de Jacin, um dos guardas do palácio. Porém, por ela não usar seus poderes, eles começam a afetá-la mentalmente de forma negativa: Winter é louca e constantemente sofre de alucinações. Sua loucura a impede de dar uma chance ao amor que sente por Jacin, enquanto ele acredita que ele não a merece por ela ser da realeza. Eles não nutrem somente uma relação muito forte de amizade e companheirismo, mas também um amor secreto que não poderia vir à tona para que Levana não pudesse usar isso contra os dois.
Quando Winter descobre sobre os planos de Cinder, ela decide se juntar ao grupo para ajudar a tripulação da Rampion na revolução...

Narrado em terceira pessoa e trazendo vários pontos de vistas diferentes, Winter traz o desfecho perfeito para uma história revolucionária envolvendo a busca pela libertação de dois povos que se encontram nas garras de uma rainha tirana. Se trata de uma guerra travada contra a opressão, em prol da liberdade, rumo ao felizes para sempre.
A maior qualidade da série é manter a fluidez e um ritmo constante, e dessa forma a conclusão é que em momento algum a autora se perdeu na própria trama, nenhum dos livros são inúteis, tudo o que acontece é importante e todos os personagens representam papéis fundamentais para o desenrolar da história até seu final. Eles são únicos! Uma mecânica habilidosa e um imperador, uma camponesa armada e um soldado destemido, uma hacker e um contrabandista, uma princesa louca e um guarda humilde, e uma andróide hilária e inteligente. Um time de personalidades que aparentemente não tem nada em comum, mas que juntos fizeram toda a diferença.

Há romance, sim, mas este acaba ficando em segundo plano diante da grandeza da guerra iminente.
As subtramas que envolvem cada personagem, e cada casal que se formou ao longo da série, são inteligentes e funcionam como um complemento valioso dentro do enredo em geral.

A capa é linda demais, a mais bonita entre as quatro, e os detalhes também não ficam atrás. O título é prateado e a aplicação em verniz sobre a ilustração dão um toque mais do que especial ao livro. A diagramação é simples, as páginas são amarelas, a fonte segue o mesmo padrão dos outros livros e não encontrei erros de revisão.

Assim como nos livros anteriores, eu pude me envolver com tudo o que a autora criou, desde a ambientação, a escrita viciante, os personagens memoráveis e a conclusão épica! É uma das melhores séries que tive o prazer de acompanhar.